Alunos do 6º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio participam da mostra
Foto: Divulgação/Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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Na aula de física, por exemplo, a cena de um professor auxiliando em uma pesquisa sobre Galileu Galilei seria comum, não fosse o fato de o conteúdo estar ligado às aulas de teatro. O material coletado servirá como base na criação de um roteiro sobre astronomia, em uma situação que se repete sempre que os alunos da escola partem para uma imersão no mundo da próxima peça a entrar em cartaz.
O desenvolvimento da criatividade, da autocrítica e do senso de coletividade são apenas alguns dos benefícios citados por professores sobre a utilização de técnicas do teatro em sala de aula. Além de auxiliar na assimilação de conteúdos, o envolvimento na produção e encenação são capazes de despertar habilidades e direcionar interesses. A diretora do Augusto Laranja, Rosa Costa, recorda o ano de criação do grupo de teatro da instituição, em 1985. "Hoje, são tantos interessados que nem temos vagas para todos", diz.
Divididos de acordo com a faixa etária, os grupos de teatro do colégio lançam mão de adaptações ou abrem espaço à criatividade de seus alunos para a produção de novos roteiros. Entre os temas abordados, é grande o foco nas disciplinas tradicionais. Em 2009, os jovens encenaram uma peça sobre Galileu por conta do Ano Internacional da Astronomia, proposto pela Unesco. Em outras ocasiões, roteiros com foco em química, história e literatura já ganharam os palcos da escola. "Durante os períodos de aula, eles se envolvem em uma pesquisa que vai do roteiro à cenografia e figurino", conta.
Utilizar o teatro para aproximar os alunos do conteúdo escolar é uma boa saída para tornar as aulas mais interessantes, segundo a diretora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), Izabela Brochado. A professora, que também pesquisa as relações entre teatro e educação, diz que, além de um meio para transmissão do conhecimento, a prática deve ser observada como um instrumento de socialização. "Esse é um processo no qual as pessoas se sentem inseridas, ouvidas, partícipes. Não há como fazer teatro sem participar, porque ele exige envolvimento. Para construir algo, é preciso haver diálogo, expressão", afirma. Para a professora, encenar não deve ser o único motivo do envolvimento dos alunos. "É importante participar de todas as etapas do processo", recomenda.
No caso do Augusto Laranja, integrar o grupo de teatro significa se dispor também a montar cenários, projetar iluminação, escolher figurino, divulgar a peça e vender ingressos. O trabalho, segundo Rosa, é motivo de orgulho. "Percebemos que o aluno fica mais seguro, desenvolve a autonomia, aprende a ser mais responsável. Ele fica mais confiante até mesmo na hora da prova e de participar das aulas. Entendemos que esse é um crescimento não apenas como aluno, mas como pessoa. É uma contribuição para sua formação global", avalia.
Mostra dá espaço a adaptações dos alunos
No Colégio Santa Amália, também em São Paulo, as encenações dão base ao estudo da literatura. A Mostra Literária, que ocorre anualmente, reúne adaptações de grandes obras. A produção fica a cargo de alunos do ensino médio, que ensaiam em turno oposto às aulas. Segundo a diretora da instituição, Maria Elisa da Cunha Carneiro Sperling, o foco é voltado às leituras obrigatórias do vestibular. "Desde o ano passado, temos um profissional para ensiná-los a técnica. Eles aprendem sobre adaptação e dramatização. É uma atividade que contribui para o autoconhecimento do aluno", diz.
O sucesso do projeto deu origem a uma nova iniciativa, com início previsto para o final de março, quando alunos poderão participar de um curso de teatro extracurricular. A proposta é aberta da 6ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. "O teatro é uma forma de linguagem que, fora da escola, provavelmente o aluno teria poucas chances de experimentar. É nosso dever facilitar essa aproximação", afirma.
A diretora da Faculdade de Artes da UnB chama a atenção para a necessidade de trabalhar também as técnicas de teatro. Para Izabela, os grupos de extracurriculares e as encenações em sala de aula se tornam alternativas de ensino ainda melhores quando percebem o teatro enquanto linguagem e estudam os conhecimentos ligados à área. "É importante desenvolver a construção da personagem, da iluminação, a cenografia, a sonoplastia, técnicas de interpretação. Em outras formas, o teatro também é eficaz, mas, para que ele seja desenvolvido como arte, é preciso muito estudo, treinamento e leitura", afirma. O resultado desse trabalho, segundo a pesquisadora, é visível. "O teatro desenvolve a expressão verbal e a criatividade, além de encorajar o jovem a se expor diante de um grupo, o que é bastante positivo. As pessoas que têm acesso a esse tipo de expressão costumam ser mais centradas, tranquilas e equilibradas", destaca.
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