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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Malvinas, parte 4: ilhas passam a se chamar Falklands


VOLTAIRE SCHILLING
Exatamente no espaço de tempo que vai da ação americana à ocupação definitiva por parte dos ingleses, isto é, entre 1831 a 1833, os argentinos resolveram restabelecer a soberania sobre as Malvinas. Uma embarcação foi enviada de Buenos Aires com a missão de fundar um presídio na região. Lá chegando, o comandante argentino teve a infelicidade de se deparar com uma poderosa fragata britânica, que o obrigou não só a arriar a bandeira azul e branca criada por Manuel Belgrano como a zarpar imediatamente do local.
Com aquela medida, o almirante Onslow, em nome do rei Guilherme IV, começou, em definitivo, a tomar posse das ilhas, rebatizadas como Falklands (em homenagem ao quinto visconde de Falkland, tesoureiro da esquadra real britânica). Os Estados Unidos não manifestaram maior oposição, desde que seus pesqueiros continuassem tendo os mesmos direitos de antes.
Oficialmente, as ilhas tinham sido argentinas por um período pouco maior do que 10 anos. Todavia, nunca deixaram de estar presentes em quaisquer dos mapas territoriais feitos nos últimos 150 anos como extensão territorial da república argentina.
O impacto da ocupação britânica teve uma reação imediata. Juan Ramón Balcarce, lugar tenente de Rosas que ocupava a governadoria de Buenos Aires, foi obrigado a renunciar ao mandato por não ter feito nada em evitá-la. O país, na verdade, não se encontrava em condições de enfrentar o Império Britânico e retomar o arquipélago. As cisões internas entre federalistas e unitaristas, envolvidos em tradicionais chacinas e fuzilamentos que tanto tipificam a política platina, impediam qualquer ação neste sentido.
Rosas enfrenta os europeus
Chefiando uma confederação de caudilhos, Juan Manoel Rosas não se preocupou com aquelas ilhas austrais. Aliás, propôs aos ingleses, sem sucesso, a permuta por um empréstimo tomado em 1824 e ainda não pago.
Ainda ao longo do exercício do seu regime autoritário, Rosas teve que enfrentar dois bloqueios contra seu porto: um levado a efeito pelos franceses, em 1838, que foi suspenso pelo acordo Aranda-Mackau dois anos depois, e outro pelas esquadras conjuntas de Inglaterra e França, entre 1845 e 1848, sempre na tentativa de virem a controlar a embocadura do rio da Prata.
A Patagônia atlântica e as ilhas Malvinas
Durante o século e meio seguinte, a grande república sul-americana se tornaria virtualmente uma "parte não oficial do Império comercial Britânico", como educadamente classificou-a o historiador H. S. Fern, atuando como uma economia complementar aos interesses ingleses espalhados pelo mundo.
D. M. C. Platt, pesquisador das relações comerciais britânicas com a América Latina, assegurou, por sua vez, que foi somente a partir da segunda metade do século 19 que, de fato, intensificaram-se as procuras europeias por matérias-primas de origem agrícola e pastoril vindas da antiga América Ibérica, mercado que passou a crescer devido a crescente chegada de imigrantes.
A integração com a "economia transatlântica" somente se deu entre 1870 e 1900, sendo que até então os novos países mantiveram uma ligação puramente marginal com os centros econômicos mundiais. (ver D. M. C. Platt - Latin America and British Trade: 1806-1914, pág.3).
O episódio de 1833, a expulsão dos argentinos das ilhas, um território legítimo que haviam herdado do vice-reino espanhol, nunca foi assimilado pela população platina e muito menos pelos ideólogos do nacionalismo argentino.
Era um espinho encravado na garganta do sentimento nacional que 150 anos depois terminou por conduzir à infeliz e desastrada Guerra das Malvinas de 1982, que culminou em nova humilhação nacional.
Bibliografia
Azambuja, Péricles. Falkland ou Malvinas, o arquipélago contestado. Caxias do Sul: EDUCS, 1988.
Ferns, H. S. Gran Bretaña y Argentina en el sigo XIX. Buenos Aires: Solar/Hachette, 1968.
Luna, Felix. Las Invasiones inglesas. Buenos Aires: Editorial taeda, 2006.
Ortiz, Raúl Scalabrini. Política Británica en el Rio de la Plata. Buenos Aires: Editorial Plus Ultra, 1973.
Platt, D. C. Latin America and British Trade: 1806-1914. Londres: Adam & Charles Black, 1972.

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