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sábado, 28 de abril de 2012

Metade dos brasileiros tem pouca ou nenhuma vivência escolar


Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo / Maria do Rosário (à dir.) é professora de Biologia, mas a irmã Aparecida nunca foi à escola

Existem no Brasil 81,3 milhões de pessoas com 10 anos ou mais que nunca tiveram instrução escolar ou não conseguiram completar o ensino fundamental.

Ainda existem no Brasil 81,3 milhões de pessoas com 10 anos de idade ou mais que nunca tiveram instrução escolar ou que não conseguiram completar o ensino fundamental, o que equivale a 50% da população. Os dados estão no Censo Demográfico de 2010 e foram divulgados ontem. O levantamento também mostrou que 18,7 milhões de pessoas (10% do total) nunca tiveram a oportunidade de pisar em uma escola ou creche.
As informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Es­­tatística (IBGE) são um resumo do que ocorre com a educação no país: ela vive de extremos. Enquanto de 2000 para 2010 o Brasil teve um ganho considerável na taxa de conclusão do ensino superior – de 4,4% para 8,3% da população – ainda há um porcentual muito maior de indivíduos que dificilmente conseguem chegar à escola ou, quando chegam, desistem dos estudos.
Necessidades especiais
Número de pessoas com deficiência aumenta 10% entre 2000 e 2010
Em dez anos, o número de pessoas que declararam ter algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, motora ou mental, aumentou dez pontos porcentuais. Em 2000, essa população representava 14% dos brasileiros e, em 2010, passou para 24% do total de habitantes.
A maior deficiência é a visual: 35,7 milhões de brasileiros dizem não enxergar direito (18% do total). A segunda maior é a motora (7% da população) e a terceira é a auditiva, que atinge 5% dos habitantes.
“Esse grande aumento pode ter relação com a conceituação do que é ter deficiência visual ou ser cego”, alerta o oftalmologista Carlos Augusto Moreira Júnior, responsável pelo Serviço de Retina do Hospital de Olhos do Paraná. Moreira lembra que a Organização Mundial da Saúde está preocupada com a saúde visual porque, se hoje existem no mundo 45 milhões de cegos, o número pode subior para 70 milhões em 2020. “Isso se deve, sobretudo, ao aumento da expectativa de vida. Quanto mais velhas as pessoas, maiores as chances de elas desenvolveram doenças oculares”, explica.
Calcanhar de Aquiles
Apesar de a frequência escolar de crianças entre 7 e 14 anos ser obrigatória, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, o Brasil ainda tem 966 mil crianças e adolescentes nessa faixa etária fora da escola. Os dados sobre o ensino médio também são preocupantes: na faixa de 15 a 17 anos, 16,7% dos brasileiros não iam à escola em 2010.
Mortalidade infantil cai 50% na última década
A taxa de mortalidade infantil teve redução recorde na última década e chegou a 15,6 mortes de bebês de até 1 ano de idade por mil nascidos vivos, segundo dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice é 47,5% menor que os 29,7 por mil registrados em 2000. De 1960 (131 mortes por mil nascidos vivos) a 2010, a redução foi de 88%.
O Paraná é um exemplo desses dados opostos. Da Re­­gião Sul, é o estado com o maior porcentual de pessoas com 10 anos ou mais que nunca frequentaram uma sala de aula ou não terminaram o fundamental: são 4,3 milhões (49% do total da população). Por outro lado, também é a unidade da federação do Sul com mais pessoas que concluíram o ensino superior, 869,6 mil (10%).
A família de Maria do Ro­­sário dos Santos, 55 anos, é o retrato fiel dessas disparidades. Dos oito irmãos, apenas ela e outros dois conseguiram concluir a graduação – e viraram professores. Mas, enquanto ensina os outros sobre Biologia, Maria do Rosário tem na própria casa irmãos como Aparecida, que nunca conseguiram ler e escrever.
A falta de oportunidades faz com que Aparecida tenha até dificuldades para identificar as linhas de ônibus de Curitiba. “Nossa família trabalhava em uma fazenda no interiorzão do Paraná. Não tínhamos renda para ir para a cidade estudar. Eu consegui com a ajuda de outras pessoas. Um dos meus irmãos estudou porque começou a dirigir um carro para o fazendeiro, sem carteira de motorista mesmo, e teve mais contato com a sociedade”, resume Maria do Rosário.
Zona rural
O acesso à educação no campo é outro problema grave do Paraná, segundo o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. “Vimos recentemente que o transporte dos alunos do estado é feito pelos municípios, ao custo de R$ 50 milhões. O dinheiro poderia ser empregado na construção de escolas no campo”, analisa.
A professora da Uni­ver­­sidade Federal do Paraná (UFPR) Araci Asinelli, doutora em Educação, reforça que não só aqui, como no Brasil inteiro, a distribuição das escolas pelo território é desigual. “Antigamente se estudava longe de casa porque as crianças iam a pé ou de bicicleta. Com o aumento da violência, as famílias têm preferido deixar os filhos em casa quando a escola fica muito distante”, explica.
Araci afirma ainda que não viu nos últimos anos novas escolas serem construídas no Paraná. “Mas ao mesmo tempo nosso governador na época [2010], para tentar melhorar a segurança, sugeriu a criação de celas modulares para presos. Questiono por que não trocar as celas por salas modulares e levar o ensino para os bairros mais vulneráveis?”, critica.
4,4 milhões estudam em outra cidade
Diariamente, 4,4 milhões de brasileiros precisam sair da cidade onde moram para estudar. Só no estado de São Paulo, 1,1 milhão de pessoas fazem este movimento. O número é grande também em Minas Gerais (432 mil) e no Rio de Janeiro (334 mil). Em termos proporcionais, no entanto, Santa Catarina é o estado que tem o maior índice de alunos que estudam fora da cidade onde residem: eles representam 10% da população de estudantes ou 184 mil pessoas. Já entre os alunos do Paraná, 7% fazem esse deslocamento todos os dias.
Os números do estado colocados em um mapa (veja nesta página) mostram que o movimento mais intenso no Paraná está nas regiões Norte, Oeste e Sudoeste – há ainda uma concentração em Curitiba e região metropolitana. A cidade de Almirante Tamandaré, na RMC, tem a maior taxa paranaense de alunos que estudam fora: 28% da população. Pinhais e Campo Magro, também na região metropolitana, têm índices de 25,5% e 22,8%, respectivamente.
“O Paraná tem um grande número de universidades que foram divididas em cidades polos. São elas que concentram a movimentação das cidades menores e vizinhas. É só perceber no horário de entrada de aula quantas vans de outros municípios levam esses estudantes até esses polos”, cita a professora e doutora em Educação Araci Asinelli. 

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