Em cima de triciclos, alunos da escola Atuação aprendem regras e participam de um circuito no ginásio do colégio para simular o dia a dia dos motoristas
EDUCAÇÃOAtividades direcionadas a crianças e adolescentes apostam na conscientização como forma de mudar comportamentos e garantir o respeito nas vias públicas.
Parte da solução para o trânsito pode estar nas salas de aula, onde projetos direcionados a crianças e adolescentes procuram modificar o comportamento de motoristas e pedestres. Atividades pedagógicas envolvendo todas as disciplinas e a realização de palestras, por exemplo, são algumas das ferramentas encontradas por escolas públicas e particulares do Paraná para tentar melhorar o convívio nas vias urbanas.
Com esse objetivo, alguns colégios realizam parcerias com a Patrulha Escolar da Polícia Militar e com as secretarias municipais de Trânsito. Outros utilizam material didático específico direcionado ao assunto. Segundo a tenente Marília Silva, da Patrulha Escolar Comunitária em Curitiba, ações de prevenção são tratadas como prioridade. “A educação é a melhor forma de prevenir problemas futuros. Crianças bem informadas e que compreendem seus deveres como cidadãs crescem e se tornam adultos responsáveis”, afirma.
Estratégias
Veja o que escola pode fazer para estimular o convívio pacífico no trânsito
• Desenvolver ações como palestras, trabalhos expositivos, grupos de estudo e pesquisas
• Realizar atividades pedagógicas direcionadas à faixa etária dos alunos
• Organizar blitz educativa em parceria com a Patrulha Escolar
• Elaborar panfletos para distribuir aos motoristas
Fonte: Patrulha Escolar
Quando os filhos ensinam os pais
As atividades desenvolvidas nas escolas acabam interferindo nas atitudes dos pais. Com os filhos chamando a atenção sobre o que pode e o que não pode ser realizado no trânsito, a tendência é que pai e mãe se esforcem para dar o exemplo. “Temos muitos relatos de pais de alunos sobre como melhoraram seu comportamento no trânsito por causa de seus filhos, que lhes chamavam a atenção sobre infrações de trânsito cometidas, como não usar cinto de segurança”, conta a tenente Marília Silva, da Patrulha Escolar em Curitiba.
Relatos semelhantes foram ouvidos pela diretora de Políticas Educacionais da Secretaria Estadual de Educação do Paraná, Fernanda Scaciota. “A gente percebe que aos poucos os pais estão acatando o que os filhos aprendem. Já ouvi muitas vezes o aluno pedindo para o pai não furar o sinal vermelho ou então dizendo que criança deve sentar no banco de trás porque ainda não tem idade para ir no banco da frente”.
De acordo com o diretor de Educação da Secretaria de Trânsito de Curitiba, Celso Alves Mariano, a escola é o local mais adequado e indicado para ensinar cidadania aos estudantes. “E a criança é difusora natural de tudo que aprende. Um ‘puxão de orelha’ de um filho tem um poder muito grande para a maioria dos pais mudarem seu comportamento”, ressalta.
Com uma educação bem-sucedida, a expectativa é de que gradativamente os problemas no trânsito, como xingamentos, colisões e uso de bebida alcoólica antes de dirigir, sejam reduzidos. “Mas há uma cultura já impregnada no trânsito e para que essa cultura mude pode levar algum tempo. Talvez a próxima geração já tenha mais consciência”, afirma a assessora pedagógica do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR), Fátima Chueire.
De acordo com ela, é essencial realizar trabalhos voltados a crianças para que as mudanças comportamentais no trânsito possam, aos poucos, se tornar realidade. “As crianças é que podem ajudar a orientar melhor os pais e depois, quando forem adultas, saberão a maneira correta de se portar no tráfego”, avalia.
Exemplos
Há aproximadamente seis anos a equipe pedagógica da escola Atuação, de Curitiba, percebeu que era necessário adotar mecanismos para atenuar os problemas de trânsito existentes nas redondezas da instituição, no bairro Boqueirão. Dessa forma, nasceu um projeto que visa a orientar os alunos do colégio.
Estudantes da pré-escola ao nono ano do ensino fundamental participam de diversos programas ligados ao trânsito. “Cada atividade é direcionada conforme a faixa etária. Para os mais velhos são trabalhos específicos e palestras, por exemplo”, conta a diretora Esther Cristina Pereira. Para os mais novos, é montado no ginásio da escola um circuito, onde alguns alunos andam de triciclo – passando por motoristas – e outros fazem o papel de agentes de trânsito. Neste circuito existe até semáforo e placas de sinalização.
“Atividades lúdicas ajudam a criança a entender melhor como funciona o trânsito e, assim, ela já começa a corrigir as infrações cometidas por seus pais”, explica a diretora.
Desde que o projeto começou, ela percebeu que os pais e demais motoristas estão respeitando mais a sinalização em torno da escola. “No trânsito, falta educação. E sem educação os problemas vão continuar’, salienta.
Professores fazem curso de capacitação
A prefeitura de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, realizou uma parceria com a ONG Criança Segura para capacitar professores da rede municipal sobre cuidados no trânsito. O curso “Criança Segura no Trânsito” deve formar 120 professores da educação infantil e do ensino fundamental em duas turmas no primeiro semestre e mais duas no segundo.
A coordenadora de Educação para o Trânsito do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), Josiane Inácio Arruda, explica que os professores formados pelo curso atuarão como multiplicadores de informações junto aos alunos e à comunidade. “Nosso objetivo é trabalhar a segurança no trânsito como tema transversal e atuar na prevenção de acidentes com os alunos e as famílias”, diz.
Poder de mudança
Segundo profissionais da área, caso atividades como essas não sejam realizadas, as tão aguardadas mudanças no trânsito dificilmente serão postas em prática. A diretora de Políticas Educacionais da Secretaria Estadual de Educação do Paraná, Fernanda Scaciota, afirma que os colégios públicos trabalham em sala de aula com alguns temas específicos de maneira multidisciplinar – como é o caso do trânsito. “Todas as disciplinas podem trabalhar o tema e as escolas podem ofertar algumas palestras e exposições sobre o assunto. É por meio da educação que poderemos melhorar vários dos problemas que hoje enfrentamos”, diz.
Seguindo o mesmo raciocínio, o diretor de Educação da Secretaria de Trânsito de Curitiba, Celso Alves Mariano, considera que a educação tem um alto poder de mudar a realidade do trânsito. “Isso pelo simples fato de que quase todas as infrações estão ligadas à falta de educação. Qualquer acidente pode ser evitado se o cidadão, por exemplo, tiver consciência de que deve respeitar os limites de velocidade ou que não pode ultrapassar em locais proibidos”, enfatiza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário