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domingo, 3 de junho de 2012

A terceira é a mais feliz de todas as idades



Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo /
A partir dos 60 anos, as pessoas sentem menos estresse, preocupação e tristeza. Sensação de dever cumprido traz tranquilidade.
Um ditado africano compara a morte de um ancião ao incêndio de uma biblioteca. Em pequenas tribos desprovidas de livros e educação formal, a relevância do conhecimento adquirido ao longo da vida é ainda mais essencial e os membros do clã anseiam chegar a essa etapa da vida.
Já uma popular anedota norte-americana mostra um idoso refletindo: “Ninguém me disse que todos aqueles anos a mais viriam apenas no final”, lamenta-se. Em uma sociedade que valoriza juventude, beleza e vigor físico, a construção social em torno da velhice costuma associar esta faixa etária a perdas, isolamento e decrepitude.
Escritor por acaso, alegre por natureza
O curitibano Gabriel Kali­­novski (foto), de 77 anos, se de­­fine como o único escritor por acaso do mundo, desinvestindo de compromisso sua principal ocupação des­­de a aposentadoria, obtida no início dos anos 1990. An­­tes disso, construiu uma car­­reira que teve como ponto alto os 26 anos como representante de vendas em uma empresa de equipamentos para contabilidade, mas que começou na pré-adolescência, como sapateiro. Nesse meio tempo,­­ tentou­­ ser­­ cantor lírico, mas um pro­­blema na garganta interrompeu o sonho.
Criou três filhos, que já forma­ram suas próprias famílias. Quando eram pequenos, Gabriel costumava contar historinhas até que dormissem em seu colo. Quando o repertório tradicional acabou, passou a inventar as próprias narrativas. Percebendo que eram eficientes com aquela pequena plateia, transferiu-as para o papel. Hoje tem cinco livros editados, a maior parte com recursos próprios. “Eu me divirto.” (OT)
Inclusão produtiva
Expectativa de vida maior revaloriza o papel social do idoso
A inversão da pirâmide etária é um fenômeno global. A população tem se tornado mais idosa na maioria dos países, variando apenas o estágio desse envelhecimento. Ao mesmo tempo, a expectativa de vida cresceu vigorosamente ao longo do último século. O resultado é uma porcentagem maior das populações chegando à terceira idade e ali permanecendo por até 30 ou 40 anos.
Com isso, as nações se deparam com o desafio de incluir esse contingente como força benéfica, com capacidade de participar ativamente do processo de construção e melhoria da sociedade, e ao mesmo tempo respeitando a chegada do período de descanso. Esse processo de revalorização do papel do idoso é apontado como criador de felicidade para essa faixa etária. “Com políticas públicas orientadas para o idoso, ele passa a se sentir integrante do tecido social”, destaca Rita Khater, professora de Psicologia Social na PUC-Campinas. Ela avalia que a atenção dada a essa questão aumentou bastante nas últimas duas décadas, trazendo à cultura nacional um novo entendimento sobre o que seja a velhice.
“Melhorar a condição do idoso vai ter um impacto na vida psíquica dele, com ganho de autoestima e otimismo”, relaciona Cloves Amorim, professor do curso de Psicologia da PUCPR. A expectativa é que o processo estimule os futuros idosos a se planejarem. “Ninguém se questiona sobre o que vai fazer quando se aposentar. Ainda existe a concepção de que a terceira idade não é uma vida, e sim uma sobrevida, aponta Rita. (OT)
Universidade da Maturidade
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) lançou na última segunda-feira a Universidade Aberta da Maturidade. Trata-se de um projeto de extensão voltado a pessoas com mais de 55 anos que oferecerá atividades variadas que vão de cursos e oficinas até visitas coordenadas e palestras. Os temas abordados envolvem Direito e Saúde do Idoso, Inclusão Digital, Atividades Corporais, Meio Ambiente e Gerontologia. As inscrições podem ser feitas na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, localizada no Prédio Histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade, até o próximo dia 10, em horário comercial. As inscrições, bem como as atividades, são gratuitas. Para mais informações, o telefone é (41) 3310-2601.
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O que o faz mais feliz na terceira idade? Ver os filhos criados ou estar aposentado depois de tantos anos de trabalho?
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Mas uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup nos Estados Unidos entre 2010 e 2011 revela que a distância que separa o espírito africano do modo de vida ocidental não chega a ser o equivalente a um Oceano Atlântico. Após entrevistar mais de 500 mil pessoas por telefone, o instituto chegou a uma conclusão que surpreendeu até os cientistas sociais que trabalharam no processo: a terceira é a mais feliz de todas as idades.
Isso ocorre devido à tranquilidade característica dessa fase da vida. Entrevistados com mais de 60 anos declararam ter menos estresse, raiva, preocupação e tristeza. Essas emoções negativas diminuem ainda mais ao longo dos anos, ao ponto de o índice de bem-estar aos 70 empatar com o registrado aos 18 e seguir subindo pelos anos seguintes.
E isso pouco tem a ver com clubes de dança ou excursões para o litoral. A psicóloga norte-americana Laura Carstensen, diretora do Centro de Longevidade da Universidade Stanford e autora do livro A Long Bright Future (Um Futuro Longo e Brilhante, sem tradução no Brasil), aponta que a terceira idade possibilita um modo de vida menos permeável a frustrações. As pessoas tendem a viver para o momento, saber o que é importante para si e fazer investimentos seguros, tanto financeiros quanto afetivos.
A juventude, ao contrário, é a idade da experimentação. Ao arriscar, expandir horizontes e conhecer novas pessoas, a decepção – e possível angústia advinda do processo – é sempre um resultado possível. “Nós passamos tempo com pessoas de quem não gostamos porque talvez possa ser interessante. E sempre existe o amanhã”, argumenta a autora.
Rita Khater, professora de Psicologia Social na Pontifícia Universidade Ca­­tólica de Campinas (PUC-Campinas) e especialista em questões de maturidade, sentencia: “a sabedoria gera felicidade”. A pesquisadora explica que o acúmulo de experiências torna o indivíduo mais competente para produzir a própria felicidade, ao ter uma percepção mais exata sobre o valor dos elementos presentes em seu cotidiano. “Ele interpreta a vida de uma maneira mais serenas, e faz escolhas com uma autoconfiança maior”, analisa.
Estudos do Instituto Max Planck, da Alemanha, salientam que a aposentadoria cria satisfação e alívio. A sensação de dever cumprido permite desfrutar de prazeres sem culpa. “Ele passa a ter mais tempo e possibilidade de autorrealização, dedicando-se à música, pintura, filosofia ou teologia”, exemplifica Cloves Amorim, professor do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e orientador do Curso da Terceira Idade da instituição.
Melhoria da renda reinventa a velhice
Os fatores de felicidade na velhice estão atrelados às boas condições econômicas e de­­ saúde. Por causa disso, a pes­­quisa do Instituto Gallup – feita exclusivamente com ci­­dadãos norte-americanos – corre o risco de estar distante da realidade brasileira. Entretanto, um outro es­­tudo, este realizado pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, mostra que o Brasil caminha para ter um modelo de proteção econômica ao idoso mais justo.
Segundo esse levantamento, as transferências de renda têm elevado o padrão de vida dessa faixa etária. As pensões atreladas ao salário mínimo, por exemplo, tiveram um ganho real de mais de 100% em uma década. “Praticamente todos os idosos do Brasil têm alguma cobertura. Em uma família de baixa renda, ele deixa de ser um fardo e se torna provedor”, diz o economista João Saboia, coordenador da pesquisa para o Brasil e professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como não tendem a fazer poupança, exceto em casos de comportamento arraigado, injetam esse dinheiro no consumo, seja de forma direta ou por meio de doações aos familiares.
Atividade física
O cuidado com a saúde­­ também se tornou uma preocupação para esse grupo. “Exis­­tem mais opções de atividade física e a procura tem se intensificado”, percebe Ro­­secler Vendruscolo, professo­­ra de Educação Física da Uni­­versidade Federal do Para­­ná e especialista em atividade física e envelhecimento. “São pessoas bem ativas, esclarecidas, com vontade de aprender para se manter aptas às outras atividades do dia a dia”.

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