A partir dos 60 anos, as pessoas sentem menos estresse, preocupação e tristeza. Sensação de dever cumprido traz tranquilidade.
Já uma popular anedota norte-americana mostra um idoso refletindo: “Ninguém me disse que todos aqueles anos a mais viriam apenas no final”, lamenta-se. Em uma sociedade que valoriza juventude, beleza e vigor físico, a construção social em torno da velhice costuma associar esta faixa etária a perdas, isolamento e decrepitude.
Escritor por acaso, alegre por natureza
O curitibano Gabriel Kalinovski (foto), de 77 anos, se define como o único escritor por acaso do mundo, desinvestindo de compromisso sua principal ocupação desde a aposentadoria, obtida no início dos anos 1990. Antes disso, construiu uma carreira que teve como ponto alto os 26 anos como representante de vendas em uma empresa de equipamentos para contabilidade, mas que começou na pré-adolescência, como sapateiro. Nesse meio tempo, tentou ser cantor lírico, mas um problema na garganta interrompeu o sonho.
Criou três filhos, que já formaram suas próprias famílias. Quando eram pequenos, Gabriel costumava contar historinhas até que dormissem em seu colo. Quando o repertório tradicional acabou, passou a inventar as próprias narrativas. Percebendo que eram eficientes com aquela pequena plateia, transferiu-as para o papel. Hoje tem cinco livros editados, a maior parte com recursos próprios. “Eu me divirto.” (OT)
Inclusão produtiva
Expectativa de vida maior revaloriza o papel social do idoso
A inversão da pirâmide etária é um fenômeno global. A população tem se tornado mais idosa na maioria dos países, variando apenas o estágio desse envelhecimento. Ao mesmo tempo, a expectativa de vida cresceu vigorosamente ao longo do último século. O resultado é uma porcentagem maior das populações chegando à terceira idade e ali permanecendo por até 30 ou 40 anos.
Com isso, as nações se deparam com o desafio de incluir esse contingente como força benéfica, com capacidade de participar ativamente do processo de construção e melhoria da sociedade, e ao mesmo tempo respeitando a chegada do período de descanso. Esse processo de revalorização do papel do idoso é apontado como criador de felicidade para essa faixa etária. “Com políticas públicas orientadas para o idoso, ele passa a se sentir integrante do tecido social”, destaca Rita Khater, professora de Psicologia Social na PUC-Campinas. Ela avalia que a atenção dada a essa questão aumentou bastante nas últimas duas décadas, trazendo à cultura nacional um novo entendimento sobre o que seja a velhice.
“Melhorar a condição do idoso vai ter um impacto na vida psíquica dele, com ganho de autoestima e otimismo”, relaciona Cloves Amorim, professor do curso de Psicologia da PUCPR. A expectativa é que o processo estimule os futuros idosos a se planejarem. “Ninguém se questiona sobre o que vai fazer quando se aposentar. Ainda existe a concepção de que a terceira idade não é uma vida, e sim uma sobrevida, aponta Rita. (OT)
Universidade da Maturidade
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) lançou na última segunda-feira a Universidade Aberta da Maturidade. Trata-se de um projeto de extensão voltado a pessoas com mais de 55 anos que oferecerá atividades variadas que vão de cursos e oficinas até visitas coordenadas e palestras. Os temas abordados envolvem Direito e Saúde do Idoso, Inclusão Digital, Atividades Corporais, Meio Ambiente e Gerontologia. As inscrições podem ser feitas na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, localizada no Prédio Histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade, até o próximo dia 10, em horário comercial. As inscrições, bem como as atividades, são gratuitas. Para mais informações, o telefone é (41) 3310-2601.
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Mas uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup nos Estados Unidos entre 2010 e 2011 revela que a distância que separa o espírito africano do modo de vida ocidental não chega a ser o equivalente a um Oceano Atlântico. Após entrevistar mais de 500 mil pessoas por telefone, o instituto chegou a uma conclusão que surpreendeu até os cientistas sociais que trabalharam no processo: a terceira é a mais feliz de todas as idades.
Isso ocorre devido à tranquilidade característica dessa fase da vida. Entrevistados com mais de 60 anos declararam ter menos estresse, raiva, preocupação e tristeza. Essas emoções negativas diminuem ainda mais ao longo dos anos, ao ponto de o índice de bem-estar aos 70 empatar com o registrado aos 18 e seguir subindo pelos anos seguintes.
E isso pouco tem a ver com clubes de dança ou excursões para o litoral. A psicóloga norte-americana Laura Carstensen, diretora do Centro de Longevidade da Universidade Stanford e autora do livro A Long Bright Future (Um Futuro Longo e Brilhante, sem tradução no Brasil), aponta que a terceira idade possibilita um modo de vida menos permeável a frustrações. As pessoas tendem a viver para o momento, saber o que é importante para si e fazer investimentos seguros, tanto financeiros quanto afetivos.
A juventude, ao contrário, é a idade da experimentação. Ao arriscar, expandir horizontes e conhecer novas pessoas, a decepção – e possível angústia advinda do processo – é sempre um resultado possível. “Nós passamos tempo com pessoas de quem não gostamos porque talvez possa ser interessante. E sempre existe o amanhã”, argumenta a autora.
Rita Khater, professora de Psicologia Social na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e especialista em questões de maturidade, sentencia: “a sabedoria gera felicidade”. A pesquisadora explica que o acúmulo de experiências torna o indivíduo mais competente para produzir a própria felicidade, ao ter uma percepção mais exata sobre o valor dos elementos presentes em seu cotidiano. “Ele interpreta a vida de uma maneira mais serenas, e faz escolhas com uma autoconfiança maior”, analisa.
Estudos do Instituto Max Planck, da Alemanha, salientam que a aposentadoria cria satisfação e alívio. A sensação de dever cumprido permite desfrutar de prazeres sem culpa. “Ele passa a ter mais tempo e possibilidade de autorrealização, dedicando-se à música, pintura, filosofia ou teologia”, exemplifica Cloves Amorim, professor do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e orientador do Curso da Terceira Idade da instituição.
Melhoria da renda reinventa a velhice
Os fatores de felicidade na velhice estão atrelados às boas condições econômicas e de saúde. Por causa disso, a pesquisa do Instituto Gallup – feita exclusivamente com cidadãos norte-americanos – corre o risco de estar distante da realidade brasileira. Entretanto, um outro estudo, este realizado pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, mostra que o Brasil caminha para ter um modelo de proteção econômica ao idoso mais justo.
Segundo esse levantamento, as transferências de renda têm elevado o padrão de vida dessa faixa etária. As pensões atreladas ao salário mínimo, por exemplo, tiveram um ganho real de mais de 100% em uma década. “Praticamente todos os idosos do Brasil têm alguma cobertura. Em uma família de baixa renda, ele deixa de ser um fardo e se torna provedor”, diz o economista João Saboia, coordenador da pesquisa para o Brasil e professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como não tendem a fazer poupança, exceto em casos de comportamento arraigado, injetam esse dinheiro no consumo, seja de forma direta ou por meio de doações aos familiares.
Atividade física
O cuidado com a saúde também se tornou uma preocupação para esse grupo. “Existem mais opções de atividade física e a procura tem se intensificado”, percebe Rosecler Vendruscolo, professora de Educação Física da Universidade Federal do Paraná e especialista em atividade física e envelhecimento. “São pessoas bem ativas, esclarecidas, com vontade de aprender para se manter aptas às outras atividades do dia a dia”.
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