Jonathan Campos/Gazeta do Povo
30% dos professores em formação no Brasil cursam graduação a distância
Dentre 1,3 milhão de estudantes de cursos de formação de docentes, mais de 400 mil estão inscritos em cursos de EAD.
Para os especialistas, a oferta desse tipo de ensino influencia na qualificação dos professores no Brasil. “Há dez anos, tínhamos um contingente muito grande de docentes que atuavam nas escolas sem formação adequada para isso, então o governo federal usou a EAD em universidades públicas como forma de incentivar esse pessoal a se graduar”, explica a responsável pela Coordenadoria de Educação a Distância da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Angelita Quevedo.
Formação
Nos cursos de formação de professores a distância, a tendência é que as turmas sejam formadas por pessoas que já têm uma graduação e querem refinar sua formação (docentes que são graduados em uma área e dão aulas em outra, e optam por fazer uma segunda graduação nessa área) ou que já atuam em sala de aula, mas não têm formação para lecionar.
Desempenho
Graduações a distância também passam por avaliação
Todas as instituições que oferecem graduações na modalidade EAD passam por avaliações de desempenho. Como as instituições de ensino federais e particulares respondem ao Ministério da Educação (MEC), os cursos são avaliados frequentemente. Entre as instituições estaduais, os critérios de avaliação são definidos pela secretaria estadual de educação.
A responsável pela Coordenadoria de Educação a distância da PUCSP, Angelita Quevedo, explica que a avaliação tem três partes. Antes do curso, o MEC analisa a proposta, vai até o local para verificar a veracidade das informações e faz um relatório sobre a infraestrutura, a grade curricular e as características da graduação, aprovando-a ou não.
“Depois, quando a primeira turma é formada, a graduação é reavaliada e novas verificações são realizadas periodicamente. A última parte do conceito é dada pelo Enade, exame obrigatório para os alunos. A partir dessas avaliações é dada uma nota de um a cinco, que resulta no conceito do curso.”
Uma das vantagens da EAD para os professores em formação é que eles não precisam sair de onde moram, o que democratiza o acesso e possibilita que docentes de cidades do interior, que não contam com universidades, possam concluir um curso superior.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Maria de Fátima Guerra de Sousa cita que, na UnB, 2 mil professores já foram formados a distância em 13 municípios do Acre em cursos como Pedagogia, Educação Física e Artes Cênicas. “Se não fosse a EAD, imagine a dificuldade para um estudante de Cruzeiro do Sul [cidade no Oeste do Acre] obter um diploma de licenciatura da UnB.”
Para ela, a educação a distância é uma forma de chegar aonde o aluno está e provocar mudanças na comunidade onde vive. “A formação motiva os professores a continuarem estudando e a trabalharem de maneira mais qualificada com seus alunos.”
Qualidade
Segundo a professora da UnB, é mito achar que a EAD não capacita adequadamente os profissionais para atuar nas escolas. “Não é a distância que determina a qualidade de uma graduação, mas vários outros fatores, como o material oferecido, os espaços para discussão com professores e alunos, o embasamento teórico e a oferta de experiências práticas, e isso pode ser suprido por um bom curso a distância”.
Quanto à estrutura dos cursos, a formação a distância mantém as mesmas exigências da presencial. “Há uma legislação que assegura que todos os cursos de licenciatura devem ter 400 horas obrigatórias de estágio dentro de uma escola e isso também vale para os a distância”, explica Angelita.
Além do cumprimento de estágio, o aluno ainda tem a exigência de cumprimento de atividades acadêmicas, realiza provas, faz apresentação de TCC e só termina o curso se atingir a média de notas estabelecida pela instituição. “Todos esses requisitos aumentam o grau de exigência e reforçam a qualidade da formação oferecida.”
EAD concilia formação e trabalho
Depois de fazer uma graduação em Administração, duas pós-graduações – uma delas em Metodologia do Ensino –, e lecionar disciplinas técnicas em escolas estaduais até 2008, o comerciante Carlos Olimpio Borck Neto, de 56 anos, decidiu voltar à universidade em busca de uma formação mais abrangente e hoje é aluno do último período da graduação a distância em Pedagogia do Centro Universitário Uninter. “A Pedagogia foi uma forma de aprender sobre como lecionar, mas, principalmente, refletir e conhecer o cidadão que quero formar na escola. Hoje, me sinto preparado para ser um professor muito melhor”, diz. A opção pelo ensino a distância veio pela possibilidade de conciliar as aulas e o trabalho em sua loja. “Percebi que assim conseguiria me organizar melhor para estudar”, explica.
Crítica
Especialista diz que falta de contato pessoal não é preocupante
Entre as críticas à formação de professores pela EAD um dos argumentos mais recorrentes é que a qualificação desses profissionais seria inconsistente, por não oferecer o contato entre os colegas e a troca de experiências em sala. Para a doutora em Educação e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ana Beatriz Gomes Carvalho, isso não chega a ser um problema. “O que é determinante é ter o embasamento teórico, oferecido pelas aulas, e a prática construída nos estágios durante o curso, além de ter um espaço para discussão e troca de ideias, que podem ser feitas tranquilamente no ambiente virtual.”
O contato com a internet é, segundo ela, um diferencial positivo dos alunos de cursos a distância, que teriam uma formação mais sólida sobre o uso de tecnologia em sala. “Eles são alunos de uma plataforma virtual, sabem lidar com tecnologia e são formados para trabalhar com esse novo ambiente de aprendizagem.”
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