Ações ambientais foram incorporadas em Itaipu bem depois do início do funcionamento
ENERGIAA firme opção pelas hidrelétricas
Além das 12 grandes usinas em construção e das 11 já autorizadas, duas centenas de pequenas centrais e 40 usinas de grande porte devem ser implantadas no Brasil até 2019.
Proporcionalmente à quantidade de energia produzida, as hidrelétricas geram o menor impacto ambiental. Contudo, os danos não são irrelevantes. Uma recente reportagem da rede de televisão BBC, de Londres, mostra que as hidrelétricas são as obras de engenharia que mais alteram a face do planeta. O ambientalista Pedro Bara, que analisa projetos de desenvolvimento na Região Amazônica para a ONG WWF Brasil, concorda e apresenta dados: os reservatórios já existentes ocupam 0,5% do território nacional – 1 em cada 200 quilômetros quadrados.
Itaipu teve pouca cobrança ambiental
Construída na década de 70, as obras da usina hidrelétrica de Itaipu não passaram nem perto das gigantescas cobranças ambientais que cercam as construções mais recentes. Superintendente interino de Meio Ambiente da Itaipu, João José Passini conta que o que naquela época a exigência mais relevante do Código Florestal era manter 200 metros de mata ciliar no entorno do lago artificial. Como a área inundada era basicamente de lavouras e pastagens, foi necessário plantar 25 milhões de mudas nas margens do lago. Como metade da água consumida pela população de Foz do Iguaçu vem do reservatório da usina, foi necessário também se preocupar com a qualidade da água. A retirada de galhos que podiam apodrecer no fundo do lago foi uma das iniciativas.
Muitos dos projetos desenvolvidos pela Itaipu são bem posteriores ao início do funcionamento da usina, na década de 80. É o caso da escada para peixes, que serve como substituto dos obstáculos naturais enfrentados durante a piracema. A estrutura só foi instalada no final daquela década. Atualmente, as usinas que são construídas já precisam estabelecer os projetos de saída. Passini relata que técnicos ambientais de Itaipu têm auxiliado no planejamento de outras usinas, como a Belo Monte. Ele reconhece que a pressão popular é capaz de alterar substancialmente os projetos. “Corre o risco de a usina não ser aprovada se não estiver bem calçada em propostas para diminuir o impacto ambiental”, comenta. (KB)
Escolha acertada
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As usinas hidrelétricas produzem 66% da energia elétrica usada no Brasil, segundo informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Bara acredita que a melhor opção para o país seria diversificar as fontes de energia. Ele avalia que hoje o sistema é muito dependente das hidrelétricas. “Não dá para colocar todos os ovos em uma só cesta. Se não chove por muito tempo, corremos os risco de ficar sem energia”, diz. Defensor da energia solar, ele acredita que esta seria uma opção mais bem distribuída e poderia ser gerada bem perto do local de uso. Já a energia elétrica precisa de longas redes de transmissão. “A produção solar é socialmente legal porque faz com que a sociedade participe da solução. E há a possibilidade de vender o excedente produzido: quando saio de férias posso repassar ao sistema a energia que será produzida na minha casa e que não será utilizada”, explica.
Menos conservação
Apesar de alternativas existirem, o governo está disposto a alguns sacrifícios para seguir o plano de apostar em hidrelétricas. No início do ano, quatro unidades de conservação ambiental (áreas naturais já protegidas por lei) foram reduzidas para que projetos de usinas prosseguissem na bacia do Rio Tapajós, que corta os estados de Mato Grosso e Pará. O governo brasileiro pretende continuar investindo em hidrelétricas. Além das 12 grandes usinas em construção e das 11 já autorizadas, são projetadas duas centenas de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e mais 40 usinas de grande porte, com vistas a serem implantadas até 2019. A Aneel, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Ministério do Meio Ambiente foram procurados pela reportagem da Gazeta do Povo nos últimos dois dias, mas não comentaram o assunto.
Pressão altera projeto inicial de Belo Monte
Alvo de ferrenhas críticas, o projeto de construção da usina de Belo Monte, no Pará, é muito diferente da ideia original apresentada há quase duas décadas – quando a construção esteve perto de ser iniciada. A hidrelétrica é um exemplo do que a pressão por soluções menos impactantes pode fazer. Todo o projeto foi radicalmente alterado, diminuindo o tamanho previsto para o reservatório e a potência, por exemplo. “Reconheço que o setor elétrico evoluiu”, diz o ambientalista Pedro Bara, da ONG WWF Brasil. No caso de Belo Monte, o desenho foi modificado para fugir de territórios indígenas. Bara também cita a pressão que foi exercida sobre o projeto do Rio Madeira. “O governo negou por muito tempo que haveria concentração de sedimento na represa. Por fim, acabou contratando uma consultoria internacional e assumiu o problema”, reforça.
Ricardo Krauskopf Neto, que é engenheiro da Itaipu Binacional, destaca que a análise que determina se um empreendimento é ambientalmente impactante passa pela avaliação do seu projeto: uma termoelétrica desenvolvida tendo como ponto de partida um excelente projeto pode ser melhor do que uma hidrelétrica feita a partir de um projeto ruim. “A avaliação de cada fonte de energia deve ser feita sob o ponto de vista da sustentabilidade dos bons projetos, considerando a dimensão ambiental, mas também devem ser avaliadas as dimensões social e econômica. Sob a ótica da sustentabilidade, não existe dúvida: as hidrelétricas bem projetadas, construídas e operadas são a fonte de energia mais sustentável que temos atualmente”, diz ele.
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