O sono é um estado da vida da pessoa extremamente importante devido às funções que desempenha e, se é cronicamente abalado, traz problemas sérios.
Sonolência em excesso pode não ser o único prejuízo para o seu filho se ele não dorme bem à noite. Estudos conduzidos por pesquisadores na área da medicina do sono mostram que dormir bem auxilia na atenção, no comportamento e, inclusive, no bom desempenho intelectual. É o caso de uma pesquisa realizada por cientistas do Canadá, que relacionou crianças em idade escolar com sonos curtos a performances fracas nos testes de Quociente de Inteligência (QI) respondidos por elas.
Tempo necessário
O sono das crianças não é igual ao sono dos adultos. Para elas, até os 5 anos de idade, cochilos alternados ao longo do dia são absolutamente normais, garante o coordenador do Centro de Clínicas Pediátricas do Hospital Universitário de Brasília (UnB), João da Costa Pimentel Filho. Mas você sabe qual é média do tempo de sono necessário em cada uma das faixas etárias da criança? Confira:
• Recém-nascida até os 3 meses: 16 horas.
• 4 meses: 14 a 15 horas.
• 6 meses: 13 a 14 horas.
• 1 a 3 anos: 12 horas.
• 3 a 6 anos: 11 horas.
• 7 a 12 anos: 9 a 10 horas.
• Certas crianças precisam de mais ou menos tempo.
Fonte: Márcia Lurdes de Cácia, pediatra e integrante do Núcleo permanente de Estudos sobre o Sono da SBP.
É difícil detectar problemas de sono
Garantir que a criança esteja preparada para conseguir realizar as atividades cotidianas com boa condição física e mental requer muito mais do que prestar atenção em como ela se porta durante o dia. Segundo o coordenador do Centro de Clínicas Pediátricas do Hospital Universitário de Brasília (UnB), João da Costa Pimentel Filho, “não se pode avaliar a saúde da criança só pelo estado de vigília dela, pois, na verdade, os problemas do sono são muito mais intensos e mais difíceis de serem descobertos”.
Para o neurocientista e coordenador do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Fernando Mazzilli Louzada, um dos grandes inimigos do bom sono infantil, e consequentemente do bom desempenho escolar, são as doenças respiratórias. “Elas aumentam o número de despertares, fazem com que a criança acorde muito. Nesse caso, não é mais a quantidade de sono que deve ser avaliada, mas a qualidade”, relata.
O otorrinolaringologista e presidente da Comissão de Eventos e Cursos da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, Marco César Jorge dos Santos, explica que problemas do trato respiratório são responsáveis pelo aumento da amígdala e da adenoide, o que pode ocasionar roncos e apneia do sono, afetando diretamente o descanso da criança. Além disso, ele também acrescenta que esses problemas acarretam a diminuição da secreção do hormônio do crescimento, o que impede o desenvolvimento adequado da estatura.
Devido a tantas complicações, a saúde das crianças não pode ser deixada de lado quando o assunto é sono. “Os pais devem ficar alerta às alterações para comunicar o médico, que deve estar treinado para avaliar e orientar a família para garantir que essa criança não venha a apresentar outros problemas no futuro”, finaliza Pimentel Filho.
O estudo acompanhou 39 crianças com idades entre 7 e 11 anos durante quatro noites consecutivas para determinar a quantidade de sono semanal delas, e os resultados foram certeiros: aquelas habituadas a dormir mais longamente tiveram melhores resultados nos exames de medição de QI e na apresentação de competências e performances acadêmicas.
Mesmo que os pesquisadores, em suas conclusões, assumam que a pesquisa tenha limitações pelo fato de a amostra de participantes ter sido relativamente pequena e de que a investigação deveria ter ser ocorrido por mais tempo, o coordenador do Centro de Clínicas Pediátricas do Hospital Universitário de Brasília (UnB), João da Costa Pimentel Filho, diz que a associação entre a qualidade do sono da criança e o desempenho dela na escola faz sentido. De acordo com ele, na literatura, já está provado que existe mesmo essa relação. “O sono é um estado da vida da pessoa extremamente importante devido às funções que desempenha e, se é cronicamente abalado, traz problemas sérios. Nas crianças pode resultar em problemas na aprendizagem”, explica.
Sintomas
Se o seu filho tem muito sono durante o dia, irrita-se com facilidade, muda de humor repentinamente, fique alerta: esses são os sintomas mais evidentes de que a criança pode estar tendo problemas durante o sono, de acordo com o neurocientista e coordenador do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Fernando Mazzilli Louzada. Algumas vezes, no entanto, o cansaço pode dar lugar à hiperatividade, pois a privação do sono também dificulta o autocontrole, o que faz com que a criança fique mais impulsiva durante o dia.
Descobrir quais fatores estão impedindo que a criança tenha uma noite de sono adequada exige várias avaliações. Porém, segundo Louzada, antes de tomar alguma decisão, é necessário perceber se ela realmente está com dificuldades para ter um sono tranquilo ou se está sendo privada dessa condição pelo excesso de atividades.
Por isso, crianças que precisam acordar no início da manhã e que têm atividades contínuas ao longo do dia devem ter o sono equilibrado, ou seja, para acordar cedo é preciso dormir cedo. De acordo com Pimentel Filho, a rotina de sono deve ser condicionada pela família, e dormir na hora certa é importante em todas as fases da vida da criança. “Os pais precisam saber controlar isso, principalmente com aquelas crianças que têm falta de limites, querem ficar brincando. A falta de limites pode gerar um sono não regulado, repercutir seriamente no aprendizado e até mesmo na vida adulta”, diz.
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