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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Começa hoje a demolição do Ahú



Segunda-feira, 01/10/2012
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Russi trabalhou durante 11 anos na unidade e agora ficou responsável pelo resgate históricoRussi trabalhou durante 11 anos na unidade e agora ficou responsável pelo resgate histórico
FIM DO CÁRCERE

Começa hoje a demolição do Ahú

Presídio centenário, desativado em 2006, será adaptado para receber o novo Fórum Cível da comarca de Curitiba e região metropolitana.
O silêncio impera no local que já serviu para abrigar até 900 presos. As mais de 150 celas guardam nas paredes as lembranças de quem passou pela Prisão Provisória de Curitiba que, embora hoje começa a ser parcialmente demolida, ainda povoa o imaginário popular como Presídio do Ahú. No interior dos cárceres se mantém praticamente intactos os grafites, desenhos nas paredes, as frases extraídas da Bíblia e diversos recortes de revistas. Outras frases clamam por liberdade e citam nomes e lugares que fizeram parte da vida dos presidiários.
O cheiro de urina em alguns cantos do prédio dá indícios de que alguém ainda poderia estar ali. As paredes de quase 40 centímetros de espessura testemunham o ranger das grades ecoar pelos corredores vazios. Nessas celas de aproximadamente 8 metros quadrados podiam caber deitados até nove presos. O banho era gelado. Apenas quem tivesse recomendação médica tinha direito a chuveiro elétrico. Em alguns desses cubículos, o número era limitado a três pessoas.
O pátio destinado ao banho de sol abriga as traves de futsal e as tabelas de basquete. Ao mesmo tempo em que ali era o espaço da recreação dos presos, também era o palco de muitos planos de fuga, consumo de drogas e brigas. A maioria das ‘reuniões’ de presos ocorria ao pé de uma pintura de Jesus Cristo – no canto esquerdo do pátio. “Era ali que a maioria das rebeliões era traçada. Além do consumo de maconha e outras drogas”, conta Félis Russi Filho, que trabalhou por 11 anos como assistente social do presídio do Ahú e hoje é responsável pelo resgate histórico do espaço.
No subsolo do Ahú, um calabouço frio e úmido com cinco solitárias se deteriora com o passar dos anos. Cada solitária de um metro de largura por 1,70 de altura e 1,80 m de comprimento foi cúmplice de sofrimento de inúmeros detentos por cerca de 50 anos – ao menos entre 1925 e 1975. “Esse local não era mais usado há tempos. Muito provavelmente foi utilizado mais fortemente em épocas de regime militar”, conta Russi.
Abandonado, o prédio do presídio – que traçou os primeiros passos dos 104 anos do sistema penitenciário no Paraná – carrega os desgastes do tempo. São rachaduras, problemas de fiação, sujeira e bolor espalhados pelas seis galerias. O prédio inaugurado em 1903, como Hospício Nossa Senhora da Luz, teve suas obras iniciadas em 1896 e funcionou até janeiro de 1907. No ano seguinte deu lugar ao presídio.
Reforma
Desativado desde agosto de 2006, o presídio deve ser revitalizado. Ainda não há um plano efetivo em andamento. A ideia inicial do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) era transformar todos os 67,7 mil metros quadrados em um Centro Judiciário, projeto adiado por falta de recursos. A obra total é orçada, segundo o presidente do TJ, Miguel Kfouri Neto, em R$ 750 milhões. Por isso, o centro deverá ser realizado por etapas.
De acordo com Kfouri, parte das dez edificações anexas ao presídio do Ahú começa a ser demolida hoje. Nessa região, ocupando 15,6 mil metros quadrados, será construído o novo Fórum Cível da comarca da Região Metropolitana de Curitiba. As obras estão estimadas em R$ 14 milhões. A previsão é de que em janeiro estejam concluídas.
“O prédio histórico do Ahú será preservado. O local deve abrigar um museu penitenciário. Estudamos uma parceria público-privada para poder colocar o plano do Centro em ação. A iniciativa privada poderia utilizar parte do terreno para construção de prédios comerciais, por exemplo”, afirma Kfouri.

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VIDA E CIDADANIA | 2:31

Antigo Presídio do Ahú deve virar museu

Abandonado, o centenário prédio permanece intacto. Palco de mortes, sofrimentos e rebeliões, o local aguarda projeto para ser revitalizado.

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