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Professor de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino - Governo do Paraná

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Exemplos de amor ao Magistério.


Em Curitiba, 35,7% das escolas da rede pública estão localizadas em áreas carentes, com renda familiar de até R$ 700 por pessoa, segundo o IBGE. Além da rotina normal de aulas – que nem sempre é fácil –, professores desses colégios têm de conviver com problemas de uma realidade comum a ambientes mais pobres: violência, tráfico de drogas, ausência dos pais na educação dos filhos e crianças que, muitas vezes, nem sequer têm o que comer em casa. Esses são alguns dos obstáculos que persistem mesmo diante de políticas públicas e que colocam à prova o amor de professores à profissão. Mas, é comum encontrar aqueles que estão dispostos a fazer mais do que o ofício exige, como comprar material escolar e comida para os alunos com dinheiro do próprio bolso. Conheça abaixo as histórias de três mulheres que abraçaram o magistério como causa de vida

Uma pitada de maternidade e carinho
Aos 34 anos, Adriana Al­ves (foto) deixou de ser dona de casa para virar professora. Hoje, depois de sete anos de profissão, aprendeu na prática que, para dar certo, é preciso ter em sala de aula a mesma atenção, preocupação e o carinho que tem em casa, com os filhos.
Pode parecer simples e até um pouco abstrato, mas ela – que fez opção por sempre trabalhar em escola pública – acredita que em muitos casos só cumprir o papel de professor não basta. É necessário ter também função de mãe.
Quando começou no ensino básico, pegou turmas com crianças de 3 anos, muitas ainda em fase de alfabetização. Por serem de regiões carentes, era quase rotina irem à escola sem caderno, lápis, borracha ou qualquer material.
Cobrança
Antes de perceber que isso ocorria, cobrava das crianças os utensílios que faltavam. A resposta que ouvia era sempre a mesma: “Professora, minha mãe não tem dinheiro”. Então, para resolver de vez o problema, antes de ir para a escola, passava em uma papelaria e comprava 30 lápis, cadernos e borrachas.
Muito mais do que dar o material, ela considera que também é preciso atenção. Grande parte dos pais não sabe nem se o filho está na aula; não tem qualquer envolvimento com a rotina escolar.
Por isso, Adriana tem cum­­prido esse duplo papel, apesar de receber muitos conselhos de colegas mais velhos. “Os que estão há tempo na profissão me avisaram que eu não posso fazer isso porque, senão, vai ser sempre assim. Em todo colégio que eu for existirão crianças precisando e eu nunca conseguirei dar conta de todas.”
Solidariedade também conta para educar
Envolver pais e professores não é tarefa fácil, principalmente quando a escola fica em uma região de risco. Apesar da dificuldade, a professora Edumeia Coelho da Silva (foto), 39 anos, encarou o problema de frente e mudou essa realidade. Na direção de um colégio no Pinheirinho, ela percebeu que famílias e escola tinham uma relação inadequada para promover um bom aprendizado. Edumeia adotou uma tática nada convencional e que deu certo: mobilizou os professores e levou-os para conhecer a casa de cada aluno. O objetivo era fazer com que os colegas conhecessem e entendessem a realidade daquelas crianças – muitas vindas de áreas de invasão – e adotassem uma postura mais solidária em sala de aula.
A solidariedade que a professora espalhou também foi empregada em casos que marcaram a sua carreira. Em um deles, Edumeia fez um trabalho de formiguinha para convencer os pais de um aluno de que a criança precisava de acompanhamento para tratar problemas psicológicos e comportamentais graves. Em outras situações, ela fez com que jovens envolvidos com drogas passassem a gostar da escola. “Um deles não tinha o menor interesse em estudar. Me aproximei e, com carinho e atenção, consegui que ele mudasse um pouco. Até o pai dele veio me agradecer e contar que agora o garoto até falava da escola, coisa que nunca tinha feito.”
A professora ainda cumpriu diversas vezes um papel que seria do governo. Levou comida e roupa para as famílias dos alunos. Mesmo que tivesse de usar seu salário, ia lá e ajudava. Com 22 anos de profissão, não sabe ser diferente. “Acredito que não temos de esperar vir ajuda do poder público. Temos que ir lá e fazer.”
“É isso que me faz bem e não pretendo mudar”
Daniella Gallas Mariath Costa (foto), 29 anos, entrou no magistério ao acaso, mas firmou com ele uma grande relação de amor. Graduada em Química, a ideia era fazer bacharelado, mas, ainda na graduação, percebeu o gosto pela docência. O que faz dela uma professora especial é o trabalho que desenvolve com alunos com deficiência física.
Mesmo sem experiência na área, foi indicada pela diretora do colégio onde trabalha, o Poty Lazzarotto, para dar aulas na Associação dos Deficientes Físicos do Paraná. “Quando me falaram que eu ia para lá, a primeira coisa que perguntei é se eles não iam morrer. Eu tinha muito medo da perda, pois sabia que ia me apegar”, conta.
Lá, ela faz mais do que ensinar jovens e adultos. Virou amiga deles. Escuta problemas, medos e histórias de quem está boa parte do tempo entre clínicas médicas e de fisioterapia. O envolvimento é tanto que, mesmo com um salário curto, chegou a emprestar dinheiro para um aluno comprar remédio e deu um maiô para outra que precisava fazer natação. E a ajuda não para por aí. Quase todo dia, Daniella e outras duas professoras compram guloseimas para o lanche da tarde dos alunos.
Foram as três que, no ano passado, organizaram a formatura das turmas da escola. Essas pequenas coisas – que para os alunos são enormes – dão a Daniella força e vontade para atuar em uma área que exige mais persistência e dedicação do que o normal. “Eu caí lá por acaso, mas descobri que é isso que me faz bem e por isso não pretendo mudar de área. Pelo contrário, agora quero fazer um mestrado em Educação Especial”, diz.

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