Planeta Anderson: Flua como o vento e a água

Walter Alves / Gazeta do Povo

Dragões de proteção fazem parte da decoração do ambiente partir da filosofia milenar chinesa

ESPECIAL

Flua como o vento e a água

Quem harmoniza o ambiente pode também equilibrar a si mesmo. Eis um dos princípios do feng shui, filosofia de origem chinesa que busca aproveitar da melhor forma a energia vital “chi”, presente em tudo.

Na prática

Mapeando o ambiente com o curioso baguá

Especialistas no feng shui acreditam que é possível potencializar energias e bloquear interferências negativas do ambiente. Uma forma de fazer isso é usando o baguá (ou pakua). O instrumento, composto por oito trigramas (caracteres simbólicos) e direções, é posicionado sobre a planta de uma casa ou cômodo para localizar oito setores da vida: trabalho (norte), espiritualidade, família, prosperidade, sucesso, relacionamentos, criatividade e amigos.

A depender da escola de feng shui, o baguá é posicionado alinhando o seu norte à entrada da casa ou pode ser alinhado ao norte magnético com o luo pan, uma complexa bússola que delimita os setores com mais precisão. Todo esse ritual, é claro, precisa ser feito por um consultor de feng shui.

A ativação dos setores é feita com reposicionamentos espaciais e inclusão ou remoção de objetos, buscando um equilíbrio entre os polos de energia yin e yang e os cinco elementos caros para os chineses: fogo, terra, metal, madeira e água.

Como usar o baguá em sua residência:

1. Coloque o instrumento sobre o centro de um rascunho ou planta de sua casa. O norte geográfico da casa deve coincidir com o norte do baguá.

2. Cada cômodo da casa deverá representar uma aspiração que está no instrumento.

3. Depois de identificados os lados correspondentes a cada lugar da casa, observe quais as características que o cômodo deve apresentar para as aspirações da vida funcionarem positivamente.

4. Caso a aspiração que você queira ativar coincidir com o banheiro, deixe de usá-lo, pois é mau sinal. A cozinha também diminui a potencialidade da aspiração desejada.

5. Se a casa não tiver formato quadrado, ou seja, se estiver faltando algum ângulo para conferir com o baguá, pode-se colocar um espelho no local mais próximo e construir o ângulo. Pode-se também ampliar a casa.

6. Se sua casa tiver mais que um andar, é preciso que se siga os passos acima em cada andar.

Melhore o chi

O feng shui envolve estudos aprofundados sobre as pessoas e os ambientes, mas há recomendações gerais que qualquer um pode experimentar:

• Para certas escolas de feng shui, ter, por exemplo, uma imagem de montanha atrás da mesa de trabalho atrai segurança. Sendo assim, observe o seu entorno. Os símbolos ao seu redor transmitem boas sensações? Caso não, retire-os do ambiente.

• Libere espaço para a boa circulação do chi (energia) mantendo a casa limpa e organizada. Livre-se de objetos e móveis que não são usados.

• Por em prática a filosofia não é encher a casa de badulaques. Elementos tais como espelhos, plantas, símbolos, cristais, sinos e fontes são usados de maneira estudada para harmonizar o ambiente. O caráter decorativo é secundário.

• Em casa, experimente mudar, pelo menos anualmente, a disposição de objetos e móveis de modo que o novo arranjo traga uma sensação de bem-estar. Para a filosofia milenar, a posição da cama, por exemplo, influencia bastante. Há quem diga que a cabeceira não deve estar encostada em uma parede divisória com o banheiro, pois a energia da pessoa seria drenada pelo fluxo de água.

Jardim em harmonia

Bernadete Brandão / Divulgação

Para o feng shui, um jardim não pode ser criado de maneira aleatória ou baseado apenas em questões estéticas. “O melhor jardim não é necessariamente o que mais chama a atenção”, observa a ecodesigner especialista no assunto, Bernadete Brandão. Ela destaca a importância de se criar ambientes equilibrados com os cinco elementos (água, fogo, terra, metal e madeira) e que sejam adequados às identidades das pessoas e do próprio terreno. A definição sobre o tipo de planta e o melhor posicionamento é feita com um estudo particular de cada caso, frisa a especialista. Porém, há dicas gerais que podem ser seguidas para que a energia flua melhor:

- Mantenha o jardim limpo e cuidado.

- Pare, sinta e reflita: você se sente feliz, irritado ou triste com seu jardim? Nos dois últimos casos, é sinal de que você precisa mudá-lo urgentemente.

- Um bom jardim não deve ser nem pobre demais e nem excessivo em diversidade. Se ele gera stress é prova de que há um mau feng shui.

- Evite ter fontes subterrâneas ao fundo do terreno, especialmente se forem poluídas. É uma condição extremamente desfavorável para o feng shui.

- Perceba se os elementos do jardim refletem o momento que você vive. Os jardins também precisam ser readequados anualmente.

O significado do termo chinês feng shui é bastante sugestivo: vento e água. Assim como esses dois elementos vitais são capazes de contornar obstáculos com facilidade, o praticante dessa filosofia almeja ter uma boa fluidez de energia (chi, em chinês), que a tudo circunda. Colocar forças positivas em movimento, através de alterações no ambiente e em si mesmo, é o desafio dessa maneira oriental de entender a vida.

“O feng shui ajuda a estabelecer uma harmonia externa e interna, e é importante não confundi-lo com um tipo de decoração ou religião”, frisa a arquiteta de interiores e consultora da filosofia Sonia Mori. A origem desse conhecimento milenar se baseia na observação. “Os antigos chineses tentavam explicar, por exemplo, por que, em uma mesma região, uma plantação podia ser mais fértil do que outra.”

A professora de ginástica Sueli Hissatomi, que adota a prática milenar em casa e na sua academia, também explica o assunto com simplicidade: “É como na circulação sanguínea. Se o colesterol impede a circulação, o corpo fica comprometido. O que a prática faz é mais ou menos desobstruir a circulação”.

Abertura e equilíbrio

Por ter mais de 4 mil anos de tradição, é natural que iniciantes se sintam perdidos entre tantos saberes do feng shui, que relaciona, entre outros, conceitos provenientes do I-Ching e da astrologia chinesa. Há inclusive diferentes escolas, como a da forma, a do chapéu preto e a da bússola, que o interpretam e o aplicam de maneira particular.

Mas, de modo geral, todo feng shui busca abrir caminhos e promover o equilíbrio do indivíduo e do seu meio. Dessa forma, alguém que tenha uma residência organizada, limpa e com o mínimo de objetos supérfluos, aplica alguns princípios mesmo que não saiba.

“Em uma casa, por exemplo, é importante ter um centro livre para que a energia flua. Também não se deve reter objetos sem uso. Se você doa uma roupa velha, aí sim você abre espaço no armário para uma nova”, diz Sonia. Ela recomenda que cada ambiente seja readaptado no mínimo a cada ano. “Todo ano você está numa vibração diferente. Concluiu coisas, mudou perspectivas e o entorno precisa mudar”, completa.

Veterinária e entusiasta do assunto, Rosana Moraes observa que o praticante da filosofia exercita a autopercepção e tende a se tornar mais crítico em relação à composição de um ambiente. “Você aprende a importância sutil de vários símbolos, que podem nos influenciar. Ao mesmo tempo, é comum iniciantes ficarem ansiosos com tanta informação. Mas se a pessoa está em dúvida com algo, o principal é ter bom senso e perceber se as coisas estão fluindo ou não”, conclui.

Não é magia, mas ajuda

Hugo Harada / Gazeta do Povo

Sueli Hissatomi levou a harmonia da filosofia milenar para sua academia de práticas meditativas

Feng shui “não é magia”, faz questão de lembrar a professora Sueli Hissatomi. “Para que as coisas deem certo na vida, é preciso correr atrás. Mas ele ajuda a direcionar energias”, afirma Sueli. Ela acredita que os princípios do feng shui contribuíram para que ela e o marido Bruno encontrassem com mais facilidade, no início do ano, uma nova sede para a Academia Paramitta, da qual são donos e que oferece aulas de atividades físicas e práticas meditativas. “Eu fiz algumas coisas, como alinhar o palco em que dava aula em relação aos pontos cardeais e também mudei a posição da recepção. Daí em diante, eu e meu marido encontramos um novo espaço com muita rapidez.”

Na nova sede, no Mercês, com a orientação de um especialista, ela aplicou o feng shui novamente, posicionando estrategicamente elementos, tais como o sino dos ventos (que estimula a fluência energética) e uma fonte de água com seis níveis (que transmite acolhimento e atrai abundância material). “Muitas pessoas que nem conhecem o feng shui dizem que se sentem bem na academia e têm uma sensação de paz. É prova de que ele faz efeito.”

Transformação para o bem

Ao mudar a cama de lugar, alinhando-a para o oeste, posição mais favorável ao seu signo, a veterinária Rosana Moraes não imaginava os efeitos que iria ter. “Eu e meu marido chegamos a passar por uma crise. Mas superamos, e depois o relacionamento entrou em um nível muito mais profundo”, diz ela, que a partir daí buscou entender melhor o feng shui por meio de um curso sobre a linha da filosofia que utiliza a bússola (luo pan), feito na Malásia.

Rosana destaca que o feng shui pode ser aplicado em quase qualquer lugar, até mesmo dentro do carro. No seu caso, um símbolo do mantra Om no retrovisor lhe traz bastante positividade. “É possível pendurar objetos que tragam proteção e boas energias. Escolher a cor do carro mais adequada também faz diferença. Vale também melhorar a numerologia da placa, acrescentando com um adesivo mais um numerozinho”.

Walter Alves / Gazeta do Povo

Rosana Moraes mudou a localização da cama e garante que a alteração indicada pelo feng shui melhorou seu casamento

Tranquilidade para tomar decisões

O empresário Milton Sato se considera cético. Mas deu uma chance ao feng shui após uma recomendação de um amigo, que obteve resultados positivos. Em agosto ele fez as primeiras modificações em sua casa. Em setembro já sentiu efeitos. “Eu estava numa fase de transição no meu trabalho e as coisas foram se abrindo. Claro que não foi só por causa do feng sui, mas ele me deu tranquilidade.”

As mudanças feitas foram sutis. Por exemplo: um computador saiu da sala e foi para o quarto do filho, enquanto o altar budista que ele e a esposa cultuavam, passou do corredor para a sala. “Com uma taça que minha esposa ganhou, colocamos moedas e outros objetos dourados dentro, transformando a em um símbolo que atrai prosperidade”, conta ele, hoje atentíssimo às influências do ambiente.

Jonathan Campos / Gazeta do Povo