Só em Curitiba, existem cerca de 300 mil árvores
CURITIBAÁrvores velhas ameaçam motoristas e pedestres
Queda de galhos e raízes expostas fazem da cobertura vegetal da capital um problema crônico.
O problema vem sendo detectado desde o início da década passada, mas, até agora, teve uma resposta lenta da prefeitura. Em 2006 foi elaborado um plano de arborização da cidade, colocado em prática em 2007. Nesse últimos seis anos foram plantadas 15,5 mil mudas e removidas 5,7 mil árvores velhas. Como, de acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a capital tem 300 mil árvores, seriam necessários 120 anos para que todas as plantas fossem substituídas.
Andrea Greca (@deagreca), que pelo Instagram mandou #jápragazeta.
O temporal de ontem à noite derrubou galhos na Praça Osório, Centro da capital. A foto é da leitora Andrea Greca
Xô, araucária
“São Pedro está é sendo tolerante com as autoridades de Curitiba”, afirma Flávio Zanette, professor da pós-graduação em Produção Vegetal da Universidade Federal do Paraná. “Há várias evidências de que as árvores estão colocando as pessoas em risco”. O pesquisador aposentado e especialista em pinheiros defende uma reformulação completa no paisagismo de Curitiba, inclusive com a remoção de araucárias – a árvore símbolo da cidade e do estado – das áreas mais urbanizadas. “Elas perdem as características e não representam mais a flora nativa. Essas árvores correm sério risco de cair”, alerta. Se dependesse exclusivamente dele, até 2014 a única araucária na região central de Curitiba seria a do cartaz da Copa.
Cortar ou trocar?
O que pode ser feito para que árvores não sejam mais um problema a motoristas e pedestres?
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Vida útil
Esse ritmo precisaria ser, no mínimo, três vezes maior. De acordo com especialistas em botânica, as árvores em ambiente urbano têm vida útil entre 30 e 50 anos, conforme a espécie. “As pessoas ouvem falar de árvores de 500 anos, mas isso só ocorre na floresta. Na cidade, com limitação de espaço no solo, água e nutrientes, a planta tem uma vida útil limitada às condições oferecidas pelo ambiente urbano”, explica o professor de Botânica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Luiz Antônio Acra.
A escolha das espécies e dos locais para o plantio das mudas precisa levar em conta a adaptação com a paisagem urbana. As árvores têm de “caber” no canteiro, com as raízes sobre galerias e tubulação, ao lado de uma calçada e abaixo da fiação elétrica. A peculiaridade de Curitiba é que as árvores da região central foram plantadas nos anos 70. Ou antes, quando a cidade tinha outro porte. “Na rua Silveira Peixoto, no Batel, temos uma alameda de monjoleiros, que são árvores muito altas e cujos galhos caem à toa”, exemplifica Acra.
O plano da prefeitura dá preferência a espécies nativas, como ipê e sibipiruna, mas a própria Secretaria de Meio Ambiente pondera que a escolha leva em conta a integração com a cidade. Sobre as quedas recentes, ela as atribui ao clima atípico. “O Simepar estima ventos de até 70 Km por hora nesses últimos dias, o que é muito acima do normal.”
Inadaptação de espécies afeta pedestres
Um grupo de estudantes de pós-graduação em Engenharia Florestal fez um levantamento de todas as árvores plantadas no Centro de Curitiba. A pesquisa, que rendeu um artigo publicado na revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, comprova os problemas de adaptação apontados pelos professores da área, embora ocorram num porcentual relativamente pequeno dos espécimes.
Os estudantes percorreram todas as ruas do Centro e catalogaram 1.537 exemplares. Além de descobrir quais são as espécies mais comuns, perceberam que há três situações em que a planta prejudica a acessibilidade dos pedestres.
A primeira é quando as raízes saltam da terra e quebram a calçada. Isso aconteceu com 35% dos ligustros – aquelas árvores que produzem cachos de bolinhas verdes. Elas são a espécie mais popular do Centro, responsável por 21% da cobertura. Outro problema é quando o tronco cresce torto e bloqueia a passagem. Isso ocorreu com 37,5% dos hibiscus, 3% da amostra.
Por vezes, a planta bifurca abaixo de 1,80 metro, obrigando o pedestre a se abaixar para poder passar. É uma característica das pitangueiras (100% de ocorrências), mas elas representam apenas 1% das árvores do Centro. O trabalho teve a orientação da professora Daniela Biondi, do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná. “O Centro é um bom objeto de estudos porque é onde se tem o maior número de pessoas andando a pé”, justifica.
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