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terça-feira, 25 de junho de 2013

Você se preocupa com avaliações externas de ensino? Como a escola de seu filho usa os índices?

 Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo / A Escola Municipal Madre Antonia duvidou do Ideb e adotou avaliação trimestral própriaA Escola Municipal Madre Antonia duvidou do Ideb e adotou avaliação trimestral própria
AVALIAÇÃO EXTERNA

Faltam ações para aplicar dados

Testes que medem a qualidade educacional devem ser coerentes e justos. Para especialistas, uso e cruzamento de informações ainda precisam evoluir.
Ideb, Enem, Prova e Provinha Brasil, Pisa... As avaliações externas, criadas a partir da década de 1990, carregam a proposta de avaliar a qualidade da educação e identificar o nível de aprendizagem dos alunos. Com a informação coletada, o Ministério e as Secretarias de Educação possuem em mãos subsídios para corrigir falhas, repensar e melhorar práticas pedagógicas. Um passo que não tem sido dado.
Para a comunidade escolar, a efetividade das avaliações, na prática, tem ajudado pouco as instituições por avaliar apenas algumas variáveis e não a educação como um todo. Para o professor Luciano Rocha, especialista em avaliação e aprendizagem, as avaliações externas são limitadoras por fazer um diagnóstico tardio, pouco detalhado e de difícil interpretação por parte do professor.
Muitas siglas
Confira alguns dos principais instrumentos de avaliação externa aplicados nas escolas brasileiras:
Ideb
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é verificado a cada dois anos e procura medir a eficiência da escola pública brasileira a partir de dois critérios: proficiência média dos alunos e porcentual de aprovação escolar.
Enem
Avalia a qualidade do ensino médio brasileiro. Hoje é usado por muitas instituições como ferramenta de seleção para ingresso no ensino superior.
Prova Brasil
Aplicada a cada dois anos ao término de cada ciclo do ensino fundamental e do ensino médio. Avalia habilidades de leitura e resolução de problemas.
Provinha Brasil
Fornece informações sobre o processo de alfabetização dos estudantes matriculados no 2º ano do ensino fundamental. Diagnostica possíveis insuficiências das habilidades de leitura e escrita e subsidia intervenções pedagógicas e na gestão.
Saeb
Avalia alunos do 5º e do 9º anos do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio, nas áreas de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências (ou Física, Química e Biologia para os alunos de nível médio).
Pisa
Produz indicadores de dimensões internacionais sobre a efetividade dos sistemas educacionais.
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“Elas não levam em consideração a infraestrutura da escola, o aspecto motivacional, a formação do professor e o contexto socioeconômico em que a escola está inserida. Tudo isso são fatores que devem ser levados em conta na hora de avaliar uma instituição”, acredita Rocha.
Para ele, quando usadas com o único propósito de classificar e de ranquear escolas ou municípios, as avaliações externas prejudicam as escolas. “Vai causar uma cobrança desleal e desnecessária por parte da sociedade porque ela vai entender que o professor e a escola não estão cumprindo o seu papel por causa de um indicador”, destaca. Já o professor e a escola, sem um feed­back para intervir de forma inteligente, não terão condições de direcionar uma melhoria na prática pedagógica para suprir as necessidades do aluno.
Professor de Educação e Currículo na PUCSP, Fernando José de Almeida também vê a avaliação externa com vários limitadores e com dificuldade de operação. Contudo, Almeida defende que esses testes fazem parte de um ato de democracia e que precisa de mais tempo para chegar à maturidade. “A avaliação externa, no Brasil, tem apenas 17 anos. Ainda é uma adolescente. É um processo de construção que, com o tempo, chegará ao ideal ou perto disso”, defende.
Enem
O professor aponta o Enem como uma grande evolução na história da educação brasileira. “Em apenas dez anos, o Enem mudou o conceito de vestibular e gerou um novo conceito de classificação. Finalmente, o Brasil conseguiu criar uma política de Estado que transcende os partidos políticos e que, a cada ano, torna-se mais harmônica e articulada”, diz.
Ele ainda afirma que é preciso refletir sobre como usar os dados. “Precisamos dar um passo além”, analisa. Para ele, as dificuldades que os alunos apresentam nas avaliações são reflexo da educação brasileira como um todo e não apenas daquela turma de alunos. “Toda avaliação escolar tem por objetivo trazer elementos para novas ações. É preciso decodificar os dados, entendê-los e ver onde está o erro”, diz.
Testes próprios trazem realidade mais próxima
Depois de se sentir lesada com possíveis equívocos no processo de avaliação do Ideb, a Escola Municipal Madre Antonia, de Curitiba, decidiu agir. A diretora Marilis Greca conta que a equipe pedagógico-administrativa da instituição se mobilizou e recorreu a avaliações próprias para provar que o que foi divulgado não era a realidade da escola.
O Ideb foi estudado com profundidade por uma equipe pedagógica, que criou uma avaliação diagnóstica trimestral mais ampla e com uma série de vantagens. Agora, a escola tem acesso à avaliação do aluno em outras competências curriculares e consegue intervir pedagogicamente nas deficiências encontradas no mesmo ano em que a avaliação é feita – não dois anos depois quando o aluno já saiu da escola.
“Fazemos reuniões periódicas e chamamos os pais para verem quais são as dificuldades de seus filhos para que nos ajudem”, explica Marilis.
Desde 2008, Castro usa uma avaliação própria para diagnosticar a qualidade do ensino municipal. O Idec, como é conhecido, é medido duas vezes por ano e indica o desempenho das escolas, turmas e alunos individualmente. “Com os relatórios dessa avaliação conseguimos fazer um acompanhamento mais próximo da realidade das crianças”, diz a coordenadora do Idec, Ana Valéria Vilela Pitthan.
Em Curitiba, para não fazer uma leitura equivocada das avaliações externas, a Secretaria Municipal da Educação criou uma comissão multidisciplinar para entender os instrumentos de pesquisa, os dados obtidos e capacitar pedagogos, diretores e professores para compreender e usar os dados.
“Dessa forma conseguimos planejar melhor, definir políticas educacionais e pensar novas formas de trabalhar. Analisando os microdados, conseguimos buscar soluções e ações mais acertivas”, diz a diretora do Departamento de Ensino Fundamental da secretaria, Waldirene Bellardo.

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