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domingo, 1 de abril de 2012

Como resgatar o prazer da leitura?


Marcos Labanca/Gazeta do Povo
Marcos Labanca/Gazeta do Povo / O estudante Stênio Fornari, de 14 anos, gosta de ler biografias e baixar livros pela internet: ele leu dez obras no ano passadoO estudante Stênio Fornari, de 14 anos, gosta de ler biografias e baixar livros pela internet: ele leu dez obras no ano passado
COMPORTAMENTO

Pesquisa revela que brasileiros leem cada vez menos. Para especialistas, faltam campanhas de incentivo à leitura para virar esse jogo.

Iniciativas públicas e ONGs tentam aproximar leitores e livros
Por meio de iniciativas públicas e não-governamentais, o país tenta caminhar para superar as dificuldades de leitura. O Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler) é o mais antigo projeto em vigor – completa 20 anos de existência neste ano. São 74 comitês espalhados em todas as regiões do país cuja finalidade é formar mediadores, bibliotecas comunitárias e melhorar a qualidade das bibliotecas existentes.
No Paraná, ano passado, foi lançado o Plano Estadual do Livro. Apesar de ainda não ter se tornado lei, o plano já resultou em ações práticas. São oficinas de criação literária e o projeto Um Escritor na Biblioteca, com nomes da literatura contemporânea – atividades realizadas na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba. No segundo semestre deste ano, estão previstas atividades nas cidades do interior, segundo o governo do estado.
Estímulo ao prazer
Há também ações feitas por universidades e ONGs. Em Foz do Iguaçu, a ONG Guatá – Cultura em Movimento trabalha com o projeto Tirando de Letra, que incentiva a leitura por métodos não-convencionais em escolas, ruas e praças. Mediadores promovem leituras, debates e diálogos entre os participantes. Nas ações, os próprios alunos escolhem as obras a serem lidas e são surpreendidos por exercícios que os aproximam da escrita e da leitura. Histórias são contadas coletivamente e a leitura é mistura à oralidade. O propósito é estimular o prazer da leitura. “É uma troca de conhecimento e experiência não é o ‘saber’ contra a falta de leitura”, diz Silvio Campana, um dos coordenadores do projeto.
“Ler é essencial, é puro conhecimento”
Fabiula Wurmeister, da sucursal
“Como seria bom se todo mundo lesse! Ler é essencial, é puro conhecimento.” A definição é do estudante Stênio Fornari, de 14 anos, do 1.º ano do curso de magistério do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, em Foz do Iguaçu. O hábito da leitura, apesar de ter começado logo cedo, ainda nos primeiros anos de alfabetização, foi deixado de lado no final do ensino fundamental, por falta de estímulo, lembra. Há cerca de dois anos, voltou a ler com frequência.
Entre os livros preferidos, as biografias. “Elas retratam a vida das pessoas. Gosto de saber como as personalidades, principalmente os meus ídolos, viveram e o que fizeram para chegar até onde chegaram. É uma forma de buscar alguns bons exemplos.” Nos livros de literatura ou nos títulos que lê a pedido dos professores, diz colher lições de vida e práticas de cidadania. “Uma delas é sempre ajudar os amigos e ser uma pessoa boa.”
O gosto pela internet o aproximou ainda mais da leitura. “Os dois livros que estou lendo agora baixei da internet. Faço o mesmo quando um professor indica um ou dois capítulos de um livro para discussão em sala de aula. Acabo baixando e lendo o livro todo.” Quando os estudos dão uma folga, aproveita para “ler por prazer”. No ano passado, leu dez livros, bem acima da média nacional.
A influência que recebe na escola e em projetos de incentivo à leitura começa a render frutos em casa. “Estou fazendo com o meu irmão mais novo, de seis anos, o mesmo que meu pai fazia quando eu tinha a idade dele. Sempre que posso, trago algum gibi. Ele lê para mim e, se tem dificuldade, leio para ele. E a gente fica conversando sobre o que lê. É muito gratificante”, comemora.

Metade dos brasileiros declara não ler por falta de tempo e outros 30% dizem não gostar de livros. Os dados, da pesquisa Retratos da Leitura, evidenciam o tamanho do desafio que é estimular esse hábito no Brasil. Para educadores e escritores, o problema é que ler deixou de ser uma prioridade na vida das pessoas.
O índice de leitura do brasileiro (quatro livros por ano em média – dos quais 2,1 livros são lidos inteiros e dois em partes) é baixo se comparado a outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Os franceses leem em média sete livros ao ano, os chilenos 5,4 e os argentinos 4,6. A meta do governo é fazer com que a população leia pelo menos dez obras ao ano.
Poeta e professor aposentado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alcides Buss diz que no Brasil não há leitura como passatempo, ao contrário de outros países. Para ele, o cenário é ainda pior do que o apontado pela pesquisa, que leva em conta livros didáticos e paradidáticos. “Se chegarmos a este patamar de quatro livros ao ano será fantástico”, diz.
Para mudar essa realidade, Buss sugere fazer campanhas nacionais de incentivo à leitura e valorizar os autores brasileiros. “Nos últimos anos, o foco está muito em cima dos best-sellers. Os nossos autores ficaram em segundo plano”, afirma. “Também é preciso baratear o preço dos livros e tornar as bibliotecas mais dinâmicas”, completa.
Professor da Universidade Estadual de Campinas (Uni­camp), Ezequiel Theodoro da Silva considera que o país acumula uma dívida imensa com a promoção da leitura, por isso, hoje há múltiplas e imensas barreiras para os brasileiros lerem mais. “A política atual privilegia muito mais a produção e distribuição de livros, satisfazendo os editores, mas pouco contempla a leitura. Quer dizer, temos livros, mas não mediadores e a infraestrutura de que eles necessitam para formar leitores”, analisa.
Para ele, as bibliotecas brasileiras, com raras exceções, fazem um trabalho muito tímido de divulgação e não atingem as diferentes camadas da população.

Valorização

Envolver a sociedade em campanhas de leitura é um caminho para valorizar o livro, diz a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marta Morais da Costa, que faz parte da Cátedra da Unesco de Leitura. Ela afirma que a leitura é uma responsabilidade da sociedade – escola, família, igreja e empresas. Inúmeras ações precisam ser tomadas para transformar a realidade, inclusive, cobrar leituras de qualidade em concursos públicos e promover mais o livro na mídia.
Carmem Pimentel, coordenadora nacional do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), do governo federal, concorda que o estímulo à leitura precisa partir da família e da escola, mas aponta outro problema: “Os professores não são leitores. Como eles vão estimular os alunos?”.

Veja a análise de mais uma obra do Vestibular da Federal do Paraná - O bom crioulo - Adolfo Caminha


Publicado em 1895, o livro conta a história da paixão homossexual do marinheiro negro Amaro,
 o “bom crioulo”, pelo jovem Aleixo. Os dois se conhecem em uma embarcação e, depois de algumas
 peripécias, ficam juntos. Passa o tempo e Aleixo trai Amaro com uma mulher mais velha, que o seduz.
 Amaro encontra os dois juntos e mata o rapaz.


Sendo um livro naturalista, o texto apresenta sem eufemismos os subúrbios sórdidos do Rio de Janeiro, no final do século XIX. Além do homossexualismo, o livro aborda a vida difícil dos marinheiros dessa época, com trabalho duro e torturas.
Tempo e espaço
A história acontece em dois lugares, na corveta, o barco onde trabalhavam Amaro e Aleixo, e na Rua da Misericórdia, na periferia do Rio de Janeiro.
Ideias importantes
- O livro defende a tese do determinismo. Os personagens não são livres para seguir condições diferentes daquelas em que estão.
- Caminha, com o texto, quer criticar a sociedade da sua época, a qual considerava hipócrita.

Fonte: João Amálio Ribas, professor em Curitiba do Acesso e do Bom Jesus e, em Ponta Grossa, dos colégios Marista e Sagrada Família.

Ministro do STF arquiva ação contra cotas para negros em universidades


Entidade alegava que a lei discriminava estudantes de colégios públicos de outros estados, assim como os candidatos carentes das escolas particulares e os candidatos pobres que não eram negros.

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou nesta semana uma ação contra lei do Rio de Janeiro que instituía cotas para negros em universidades fluminenses. A ação não chegou a ser analisada no mérito e foi descartada por um critério técnico, já que a lei em questão, de 2003, foi substituída por uma mais recente, de 2008.
A ação foi ajuizada em 2004 pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen). A entidade discordava da lei que reservava 45% das vagas em universidades públicas estaduais do Rio para estudantes carentes, sendo 20% para negros, 20% para estudantes da rede pública de ensino estadual e 5% para pessoas com deficiências e integrantes de minorias étnicas.
Segundo a Confenen, a lei discriminava estudantes de colégios públicos de outros estados, assim como os candidatos carentes das escolas particulares e os candidatos pobres que não eram negros. Outro argumento usado para atacar a lei é que apenas a União pode legislar sobre diretrizes e bases para a educação nacional.
Para impedir o julgamento do caso, o Ministério Público sugeriu que as entidades interessadas se engajassem na aprovação de outra norma semelhante para substituí-la. A nova lei foi aprovada em 2008 sem a limitação das vagas para a rede pública do Rio de Janeiro.

Ao arquivar o processo nesta semana, Celso de Mello lembrou que o assunto das cotas não está encerrado, já que há pelo menos outras três ações sobre o mesmo tema no STF. Uma delas, de autoria do DEM, questiona o sistema de cotas aplicado em instituições do país, em especial na Universidade de Brasília (UnB).
Há também o recurso de um estudante do Rio Grande do Sul que se sentiu prejudicado pelo sistema de cotas de seu estado e uma ação de inconstitucionalidade que começou a ser julgada em 2008, mas que teve a análise interrompida por um pedido de vista. Neste processo, a Confenen e o DEM questionam a legalidade do programa Universidade para Todos, sistema de cotas implantado pelo governo federal.
A diversidade de opiniões sobre a efetividade do sistema de cotas no ensino motivou uma série de audiências públicas no STF em março de 2010. Durante três dias, cerca de 40 especialistas da área defenderam os prós e os contras da ação afirmativa.

Para o advogado Humberto Adami, que representou diversas entidades interessadas no processo arquivado nesta semana, a demora de quase uma década no julgamento no STF acabou promovendo o amadurecimento do sistema. “Isso permitiu a evolução da experiência da ação afirmativa para negros no país, sem qualquer interrupção de ordem judicial que paralisasse a experiência que hoje floresce com êxito em mais 150 instituições de ensino no país.”

O agronegócio sobe ao palco



Roberto Custódio/Gazeta do Povo
Roberto Custódio/Gazeta do Povo / Público de meio milhão de pessoas equivale à população total de Londrina e faz da feira o maior evento do ParanáPúblico de meio milhão de pessoas equivale à população total de Londrina e faz da feira o maior evento do Paraná
DEBATES NA FEIRA

ExpoLondrina realiza 40 eventos técnicos a partir da próxima quinta-feira. Discussões que definem futuro do agronegócio devem envolver 15 mil produtores.

Mais que uma festa com shows artísticos e diversão, a ExpoLondrina vem se tornando palco central de discussões do agronegócio paranaense. Somado ao grande público que circula pela feira, um número expressivo de especialistas e representantes do setor produtivo do estado e do país confere debates e atividades técnicas.
Durante dez dias – de 5 a 15 de abril – cerca de 40 eventos técnicos serão realizados dentro do Parque Governador Ney Braga, em Londrina. O campo, sozinho, deve participar com pelo menos 15 mil agricultores, além de palestrantes, técnicos, autoridades e lideranças do setor. Ao todo, meio milhão de pessoas deve visitar a exposição, o equivalente a toda a população de Londrina.
Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Jonathan Campos/Gazeta do Povo / Gustavo Lopes, presidente da Sociedade Rural do ParanáAmpliar imagem
Gustavo Lopes, presidente da Sociedade Rural do Paraná
A partir de discussões que abrangem a história de crises e transformações do agronegócio, a ExpoLondrina semeia e potencializa o futuro do setor que move a economia do Paraná. O café, que até a década de 1970 dominava as lavouras paranaenses, especialmente na Região Norte, pauta uma das principais discussões da feira. Apesar da perda de área e volume de produção após o marcante episódio da geada negra, a cafeicultura trilha novo caminho em meio às lavouras de soja e milho, da pecuária e da cana-de-açúcar. Para isso, o campo tem investido fortemente na cafeicultura com qualidade, por meio de técnicas modernas de cultivo, como o plantio adensado, de secagem e armazenagem.
O trigo, um dos grãos mais importantes para a cadeia alimentar mundial, tanto animal como humana, ganha na ExpoLondrina seu primeiro fórum, que pretende aprofundar as discussões em torno da redução do plantio no estado, ainda maior produtor nacional.
Na pecuária, a ExpoLondrina também é referência para o Brasil. Apresenta um dos julgamentos de raça e genética mais rígidos e respeitados no mercado brasileiro. Só a comercialização em leilões da feira ultrapassa os R$ 20 milhões, praticamente o dobro do valor alcançado em outras feiras tradicionais.
Essa diversificação é o que tem dado força ao homem do campo paranaense. A tendência é que a integração das culturas seja cada vez mais presente no meio rural. Até grãos e gado – que na prática são caça e caçador, os maiores concorrentes do agronegócio em termos de rentabilidade – passam a conviver lado a lado. O desafio, segundo o presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Gustavo Lopes, é sustentar essa dinâmica com “políticas de incentivo, por parte do governo e das entidades de pesquisa”.
“O segredo está em potencializar a integração de culturas. O Paraná tem tudo para fazer isso. Somos abençoados em clima, solo e povo. Também precisamos trabalhar para manter a rentabilidade do produtor e garantir a renovação da população do campo”, avalia Lopes.
Com um custo estimado em R$ 10 milhões, que vai da montagem de infraestrutura até o pagamento de cachês de artistas, a ExpoLondrina mostra que tem condições de superar a marca de faturamento de 2011, apesar de toda a frustração de safra que acometeu o Paraná nesta temporada, por causa da seca. “O crescimento da economia como um todo ajuda a manter as boas expectativas sobre o evento. Acredito que seja possível chegar aos R$ 340 milhões”, projeta o presidente da entidade organizadora do evento. O faturamento de 2011 representou um salto de 73,7% sobre o resultado de 2010, chegando a R$ 337,14 milhões.

Exame permite mapear a sua saúde


Daniel Caron/ Gazeta do Povo / Maria Beatriz Miné Oslaj e o marido CarlosMaria Beatriz Miné Oslaj e o marido Carlos
GENÉTICA

Por 100 dólares é possível descobrir se um paciente corre o risco de desenvolver determinada doença. Problema é o impacto da notícia.

Quem não gostaria de saber sobre o seu futuro? Ou melhor, se é suscetível a sofrer determinada doença? Isso já é possível e por um preço relativamente baixo. Empresas norte-americanas disponibilizam um serviço que vasculha o DNA à procura de genes e mutações ligadas a enfermidades. Por 100 dólares (o equivalente a R$ 180), é possível comprar o pacote mais simples e saber se sua genética tem pré-disposição para alguma doença. O resultado chega até o cliente pelos Correios. No Brasil, o primeiro laboratório a implantar esse tipo de exame está no estado de Minas Gerais, em 2011.
Esse estudo pode ser feito, dependendo do laboratório, com ou sem pedido médico. Geralmente um kit de coleta é enviado à casa do paciente, que recolhe células da boca e as remete para o laboratório. Ao invés de mapear todo o genoma, o teste busca variações específicas no DNA e, a partir delas, calcula o perigo.
Resultado guardado a sete chaves
A família de Maria Beatriz Miné Oslaj (foto), de 54 anos, se submeteu em junho de 2007 a um teste genético no Hospital Albert Einstein, de São Paulo. No ano anterior, ela tinha sido diagnosticada como portadora de Parkinson, uma doença degenerativa que dificulta os movimentos. Ela, o marido Carlos (foto) e os dois filhos fizeram o teste, que fazia parte de um projeto desenvolvido pelo médico que a tratava. “Mas a gente nem quis saber o resultado para não criar uma paranoia na família”, explica Maria Beatriz, que não gosta da denominação “mal de Parkinson”. “É uma doença, não é um mal que vai te matar. As pessoas morrem com Parkinson e nunca de Parkinson”, diz. Hoje, ela toma seis comprimidos por dia e faz academia e massoterapia para controlar a evolução da doença.
Entrevista
“Na prática, exame pelo correio não surte efeito”
Salmo Raskin, doutor em Genética pela Universidade Federal do Paraná e membro da Sociedade Brasileira de Genética Médica.
Teste genético feito pelo correio, sem pedido médico, é válido?
A validade é pequena. Há uma polêmica muito grande em torno disso, mas hoje esses exames não são adequados. Primeiro, são feitos sem pedido médico. Exames genéticos são complexos. É muito difícil apontar em um teste as probabilidades de ter diversas doenças. Hoje os médicos pedem exames para doenças específicas. A ideia dessas empresas é excelente, mas na prática não surte muito efeito. Obesidade, câncer, diabete e outras doenças “mais comuns” ainda não têm sua genética inteira conhecida, o mesmo acontece com o mal de Alzheimer.
Não há embasamento científico?
Não, pelo fato de não existir a genética inteira dessas doenças. Por exemplo: se conhece uma dúzia de genes da diabete, mas não todos. Podem ser 20 ou 300. Assim, os testes não oferecem um risco calculado corretamente sobre as doenças. Não irá contribuir muito para a prevenção. Outro exemplo: um teste vê que uma mulher tem 11% de chance de desenvolver câncer de mama. O que isso significa? Pouca coisa. Toda mulher tem 10% de risco de ter essa doença. Não tem utilidade para o médico nem para o paciente.
Então o ideal é que os exames genéticos sejam pedidos por um médico?
Sim e os testes serão feitos especificamente para determinada doença, já que são exames complexos. Os mais pedidos são exames detalhados para câncer de mama e de intestino, e doenças específicas raras em que há casos na família.
Fiscalização
Algumas empresas do exterior que realizam o exame sem solicitação médica tiveram seus resultados contestados em 2010. Em julho daquele ano, uma agência do governo norte-americano aplicou um teste-surpresa em algumas companhias.
Mas até que ponto essa informação é benéfica? Segundo especialistas em medicina genética, é possível traçar um estilo de vida que faça com que a enfermidade detectada não apareça ou, pelo menos, demore mais a se manifestar. Por outro lado, existe a preocupação sobre o impacto psicológico em quem recebe o exame. Alguns podem surtar, entrar em depressão profunda ou, em casos mais drásticos, até optar pelo suicídio.
Por isso, receber um resultado desse sem apoio médico é inconcebível na opinião dos especialistas, que também condenam o “comércio varejista” do DNA. Para eles, mesmo exames pedidos sob prescrição médica são vistos com receio.
A pesquisadora e profes­­sora do departamento de Ge­­nética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB), Ana Luisa Vilela, defende que os testes genéticos sejam autorizados somente por médicos. Caso contrário, os resultados recebidos em casa podem acarretar em outras doenças. “Além de depressão e ansiedade, a pessoa pode até desenvolver a doença mais cedo. Os testes comprados não são 100% seguros. Os testes são pedidos geralmente para confirmar algum indício de determinada doença”, explica.
Indício
Para Samuel Goldenberg, membro da Sociedade Bra­­sileira de Genética, um resultado positivo não significa necessariamente que a pessoa desenvolverá a doença. É apenas um indício. “Mas as pessoas não pensam assim. Acham que vão ter a enfermidade, por isso a necessidade de um aconselhamento médico profissional no momento do resultado”.
O médico Victor Ferraz, professor de genética da Universidade de São Paulo (USP), salienta que o pedido para o exame é solicitado quando já há uma doença que pode ter ligação genética ou a pessoa tem a possibilidade de apresentar alguma enfermidade pelo histórico familiar. “É essencial dar suporte ao paciente. Sem o aconselhamento genético, os resultados podem ser catastróficos do ponto de vista clínico e psicológico”, alerta.
O projeto Genoma – iniciado em 1990 e apresentado em 2000 – já teve a pretensão de desvendar a causa de doenças graves, como diabete e câncer. Os resultados, porém, não foram aplicados na prática. Mesmo assim, a ciência continua em evolução e já possui um banco de dados de genes ligados ao aparecimento de certas doenças. Resta saber qual a melhor maneira de aplicar esse conhecimento.
Otimismo
Teste genético pode melhorar as formas de tratamento
A genética ainda é considerada um campo incerto pelos profissionais de medicina. Mas existe a certeza de que ela pode, no futuro, melhorar as formas de lidar com doenças. Com um mapa genético detalhado, o tratamento poderá ser aperfeiçoado e a prevenção, ampliada. “Saberíamos exatamente qual ponto tratar. Também poderíamos alertar para possíveis riscos em ter filhos, por exemplo”, afirma o professor da USP Victor Ferraz.
A professora Ana Luisa Vilela, que realiza uma pesquisa na Universidade de Brasília (UnB) em pacientes com trombose, já percebeu as vantagens do tratamento baseado no mapa genético. “Teve um paciente que não respondia aos procedimentos normais. Com o mapa, vimos mudança em alguns genes e readequamos o tratamento.”
Cautela
Para a psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Eliane Schwab, às vezes é preferível nem saber das probabilidades de desenvolver certa doença. “Com uma doença genética a pessoa pode ficar desesperada e depressiva. Muitas vezes é melhor viver sem saber que tem chances de desenvolver certa doença”, afirma.
No entanto, ressalta que os testes podem ser realizados, desde que haja solicitação médica. Mapear os riscos, segundo Eliane, pode fazer com que as pessoas tomem medidas preventivas para não desenvolver determinada enfermidade. “Mas é necessário saber para que você vai fazer o exame, se tem preparo psicológico e se o médico dará apoio emocional, pois pode ser um resultado que mude sua vida”, enfatiza.