Páginas

Quem sou eu

Minha foto
Professor de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino - Governo do Paraná

domingo, 6 de maio de 2012

Universidade multinacional tem até cota para estrangeiros


Na imagem, um grupo de estudantes colombianos com reitor da universidade, Hélgio Trindade. Foto: Divulgação
Na imagem, um grupo de estudantes colombianos com reitor da universidade, Hélgio Trindade
Foto: Divulgação


Aulas ministradas em mais de um idioma e com alunos e professores de diferentes nacionalidades são as principais características de instituições que promovem a integração entre os países da América Latina a partir da educação. É o caso da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), instituto transnacional que busca a convivência multicultural e o desenvolvimento solidário dos países latino-americanos.
Localizada em Foz do Iguaçu (PR), na região Trinacional (fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai), a Unila tem, por determinação, metade do quadro de estudantes formado por brasileiros, com a outra metade sendo preenchida por alunos provenientes das demais nações da América Latina. A mesma regra vale para o corpo docente, selecionado por meio de concurso público e aberto a profissionais estrangeiros.
As aulas na instituição são ministradas em português e espanhol. Para lidar com o bilinguismo, muitos professores frequentam aulas de língua estrangeira oferecidas pela própria universidade. Além disso, a Unila busca valorizar os idiomas indígenas da região. Há atividades curriculares e extracurriculares sobre o guarani, além de projetos que envolvem línguas bolivianas e peruanas.
A questão da integração latino-americana está presente também no conteúdo dos cursos oferecidos pelo instituto. "Há disciplinas voltadas à discussão e reflexão dessa integração, que abrange as mais diversas esferas como economia, sociologia, política, relações externas, cultura e antropologia. Elas ficam agrupadas no que chamamos Módulo Unila, e a proposta é de que as turmas desse módulo sejam compostas por alunos de diferentes cursos, o que ainda não acontece", explica Nilson Araújo de Souza, professor de Ciências Econômicas da Unila.
Criada em janeiro de 2010, a universidade tem cerca de 1,2 mil alunos. Além dos brasileiros, há estudantes da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador e El Salvador. A Unila disponibiliza 16 cursos, e a meta é que esse número seja ampliado para 30 graduações. Entre os mais procurados, conforme o último processo seletivo, estão Engenharia de Energias Renováveis, Engenharia Civil de Infraestrutura, Relações Internacionais e Integração e Ciências Biológicas - Ecologia e Biodiversidade.
A seleção de alunos brasileiros ocorre a partir da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que permite acesso a estudantes de todas as regiões do Brasil. De acordo com levantamento realizado em 2011, há alunos oriundos de 21 estados e do Distrito Federal. No caso de acadêmicos estrangeiros, são firmados acordos com os ministérios de educação nacionais, que ficam responsáveis pelo processo seletivo, obedecendo a critérios como ter idade superior a 18 anos e não ter outras graduações.
Escola virtual para desenvolver economia digital
Além das instituições tradicionais, com aulas presenciais, existem também aquelas que dispõem de cursos on-line igualmente focadas em América-Latina. No final do ano passado, por exemplo, foi lançada a Escola Virtual do Mercosul, uma rede de formação e capacitação virtual sobre temas relacionados à sociedade da informação e comércio eletrônico. O objetivo é desenvolver a economia digital e promover a integração econômica dos países pertencentes ao bloco, mas também entre nações da União Europeia, que apoia a iniciativa. Com aulas ministradas em português e espanhol, os cursos são voltados para micro, pequenos e médio empresários, centros de pesquisas e organizações, dos setores privado e público, e atores da sociedade civil.

sábado, 5 de maio de 2012

As 10 companhias que controlam basicamente tudo o que consumimos

http://www.mdig.com.br/


As 10 companhias que controlam basicamente tudo o que consumimos
O que ridiculamente nos vendem como um exercício existencial de livre arbítrio, dentro do qual temos a radiante autonomia para decidir se vamos lavar nosso cabelo com um produto da L'Oreal ou com um da Pantene, se vamos começar nosso dia com bolachas da Nestlé ou com sucrilhos da Kelloggs, ou inclusive para escolher se vamos celebrar nossa decadência gastronômica com uma pizza ao final do dia, na verdade é que esta virtual liberdade está delimitada à colossal gama de produtos que derramam no mercado apenas dez grandes companhias.


As 10 companhias que controlam basicamente tudo o que consumimos

Vivemos em uma época na qual é quase possível definir nossa identidade a partir dos produtos que consumimos. No entanto e de acordo com o parágrafo anterior, há dois fenômenos particularmente significativos na construção da sociedade contemporânea. Por um lado o fato de que o mercado, ou melhor dito a mercadotecnia, conseguiu penetrar no grau mais íntimo de nossa existência, o da auto-percepção. Que a maioria das pessoas, de forma consciente ou inconsciente, assuma como principal diferenciador o grupo de objetos que nos rodeia e em conseqüência das marcas que respaldam estes produtos, nos indica que no momento de perceber nossa própria identidade, dificilmente desassociamos nossa vida de nossos hábitos de consumo.

O seguinte fenômeno refere-se a esta liberdade simulada que nos sugerem as grandes corporações, um cenário repleto de logotipos, paletas de cores, slogans, e construções coletivas em torno das marcas. E se analisarmos objetivamente, não só não estamos gozando de uma liberdade -pois a margem de uma identidade social para além do que consumimos é mínima- senão que nem sequer existe uma diversidade real, pois aquelas pequenas marcas que pretendiam oferecer "algo diferente", são absorvidas pelos grandes conglomerados comerciais.

Este infográfico que ilustra esta nota, que pode ser consultado em um formato muito maior dentro deste link ou simplesmente clicando sobre a imagem, nos sugere que a Coca Cola, Pepsico, Kelloggs, Nestlé, Johnson & Johnson, P&G, Mars, Unilever e General Mills, possuem dezenas de marcas que impregnam a cotidianidade de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Curiosamente este mesmo fenômeno, o monopólio de praticamente todas as opções dentro do mercado por parte de monumentais corporações, replica-se em outros itens, por exemplo o dos meios de comunicação ou no caso dos bancos, um setor que nos últimos anos reduziu pelo menos em uns 30% as empresas controladoras depois de múltiplas fusões nas quais as maiores entidades corporativas terminaram engolindo as menores. E o que dizer das cervejas no nosso país? Os tomadores das principais marcas não podem nem mais gozar um à cara do outro já que quase todos tomam o mesmo "mijo" (17 marcas) da Ambev.

Um bom exercício, depois de analisar este infográfico, seria analisar a espetacular dispersão de marcas e produtos que buscam te consagrar como um ser pseudolivre na próxima vez que for fazer compras. Mais que sobretudo é bom recordar que nossa identidade não é definida pelas bifurcações virtuais que protagonizam Microsoft-Apple, Coca Cola-Pepsi, ou Phebo-Palmolive, senão que esta vai configurando-se pela forma que recebe, processa e compartilha informação que resultam de suas experiências pessoais.

Bebês dão pistas sobre as origens do conhecimento


The New York Times / Elizabeth Spelke, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Desenvolvimento da Universidade de HarvardElizabeth Spelke, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Desenvolvimento da Universidade de Harvard
PSICOLOGIA

Pesquisadora de Harvard realiza experimentos para descobrir o que o ser humano já nasce sabendo e chega a conclusões impressionantes.

Sentada numa sala de monitoramento alegre e apinhada no Laboratório de Estudos sobre Desenvolvimento da Universidade de Harvard, Elizabeth S. Spelke, professora de psicologia e uma pesquisadora proeminente da lista de ingredientes básicos sobre os quais se constrói todo o conhecimento humano, lança um olhar cheio de expectativa, enquanto seus alunos preparam uma menina de 8 meses de idade, de cabelo escuro e enrolado e cheia de energia, para a tarefa onerosa de ver desenhos animados.
O objetivo dos pesquisadores, como em meia dúzia de outros projetos semelhantes no laboratório, era explorar o que as crianças pareciam compreender sobre grupos e expectativas sociais.
Cognição
Para Elizabeth Spelke, linguagem humana é “ingrediente secreto”
Mais recentemente, Elizabeth Spelke e outros colegas começaram a identificar algumas das configurações básicas da inteligência social infantil. Katherine D. Kinzler, agora da Universidade de Chicago, e Kristin Shutts, agora da Universidade de Wisconsin, descobriram que bebês com apenas algumas semanas de vida demonstram um gosto evidente por pessoas que usam padrões de fala aos quais os bebês já foram expostos, e isso inclui sotaques regionais, entonação e erres carregados (ou não).
Na orientação dos primeiros aprendizados sociais, o sotaque é mais forte do que a raça. Um bebê americano branco preferiria aceitar comida de um adulto negro falante de inglês do que de um parisiense branco, e uma criança de 5 anos preferiria fazer amizade com uma criança de outra raça que soasse como uma criança local, do que com uma da mesma raça com sotaque estrangeiro.
Elizabeth propôs que a linguagem humana seja o ingrediente secreto, o catalisador cognitivo que permite que nossos módulos numéricos, arquitetônicos e sociais juntem forças, troquem ideias e nos levem a horizontes distantes. “O que é especial sobre a linguagem é seu produtivo poder combinatório”, ela disse. “Podemos usá-la para combinar qualquer coisa com qualquer coisa”.
Ela aponta para o fato de que as crianças começam a integrar o que elas sabem sobre o formato do ambiente, seu senso de direção, com o que sabem sobre os pontos de referência – cognição de objetos – justo na idade em que começam a dominar a linguagem espacial e palavras como “direita” e “esquerda”. Ela reconhece, porém, que suas ideias sobre a linguagem como o consolidador central da inteligência humana ainda não foram provadas e permanecem um objeto de disputa.
Mesmo antes do processo começar, o objeto de pesquisa de quase 6 quilos deixou bastante claro o escopo de seu cérebro social. Ela acompanhava as conversas, encarava quem chegava e queimava nossos olhares adultos com o brilho de seu sorriso. Elizabeth, que veio à sua posição de proeminência por delinear como as crianças aprendem sobre objetos, números e território, balançou a cabeça num gesto de assombro e autoironia.
Elizabeth Spelke, de 62 anos, é alta e magra e divide seu longo cabelo no meio, como uma aluna universitária. Quando fala, ela se inclina para frente e planta os braços nas coxas, com as mãos uma na outra, parecendo, ao mesmo tempo, profundamente envolvida e pronta para partir.
“Quando as pessoas perguntam a Liz, ‘O que você faz?’, ela lhes responde, ‘Eu estudo bebês’”, disse Steven Pinker, colega professor de Harvard e autor de Como a Mente Funciona (Companhia das Letras), entre outros livros. “É engraçadinho, mas ela dá a impressão de que faz pouco caso”.
O que Elizabeth está fazendo mesmo, segundo Pinker, é o que os filósofos Descartes, Kant e Locke tentaram fazer. “Ela está tentando identificar as categorias fundamentais do conhecimento humano’.”
Elizabeth estuda bebês não por eles serem bonitinhos, mas porque são a base de tudo. “Eu sempre fui fascinada por questões de cognição humana e organização da mente humana”, ela disse, “e o porquê de sermos bons com algumas tarefas e ruins com outras”.
Elizabeth é pioneira em utilizar o olhar dos bebês como uma chave para sua mente – isto é, identificar as expectativas inerentes de bebês com até uma semana ou duas de idade, medindo quanto tempo eles encaram uma cena na qual essas assunções são desafiadas ou frustradas. “Mais do que qualquer cientista que eu conheço, Liz combina a perspicácia teórica com um gênio experimental”, disse a colega Susan Carey.
De acordo com o laboratório de Elizabeth Spelke, os bebês em geral sabem, antes de completarem 1 ano de idade, o que é um objeto: uma unidade física distinta, em que todas as partes se movem mais ou menos como uma só e com alguma independência dos outros objetos.
“Se eu esticar a mão e pegar o canto de um livro, eu espero que o resto do livro venha junto, mas não um pedaço da mesa”, disse Phil Kellman, o primeiro aluno de pós-graduação de Elizabeth, agora na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
“O sistema visual vem equipado para dividir uma cena nas unidades funcionais de que nós precisamos para a sobrevivência”, disse Kellman. Se você perguntasse a um bebê se o seu saco com quatro laranjas lhe põe além do limite para o caixa rápido do mercado, ele diria, “Você pega o saco, as partes ficam juntas, logo é um item só, então, entre na fila”.
Os bebês também sabem que os objetos não podem atravessar limites sólidos ou ocupar a mesma posição que outros objetos, e que os objetos em geral viajam pelo espaço numa trajetória contínua. Se você alegasse ter inventado uma teletransportador como o de Jornada nas Estrelas, um bebê não iria acreditar.
O laboratório de Elizabeth descobriu ainda que crianças pequenas não são boas em utilizar pontos de referência ou a decoração para se orientar. Só depois dos 5 ou 6 anos que elas começam a otimizar suas estratégias de busca com pistas como “Ela escondeu meu brinquedo num canto cuja parede à esquerda é vermelha em vez de branca”.

O caipira criado por Monteiro Lobato


Experiência do escritor com a roça o levou a inventar em 1914 o personagem Jeca Tatu, um caipira preguiçoso que mais tarde se tornou representante do povo sofrido.

Presente em diversas obras de José Bento Monteiro Lobato, o famoso personagem Jeca Tatu dificilmente desperta no autor somente ira ou complacência. O incômodo do escritor com a figura de um homem pobre que vive no Vale do Rio Paraíba do Sul e não se interessa por buscar conhecimento ou melhorar de vida tem, como pano de fundo, uma certa afeição. Em 2012, ano do centenário do cineasta que levou Jeca para a telona (Amácio Mazzaroppi), o primeiro registro do personagem completa 98 anos.
No artigo Velha Praga, publicado em 1914 no jornal O Estado de S. Paulo, Jeca Tatu aparece pela primeira vez nos escritos de Lobato. Sem poupar “acidez”, o escritor fala do seu assombro com a figura do caboclo, a quem ele define como “parasita da terra”. “À medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele [o caboclo, ou jeca] refugindo [recuando] em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão, a [espingarda] picapau e o isqueiro, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna [preguiçoso]. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se”, salienta Lobato no artigo.
Turismo
Fazenda onde viveu escritor está aberta à visitação
A Fazenda São José do Buquira, onde viveu o escritor, está aberta à visitação. Ela fica na cidade de Monteiro Lobato (SP), nas proximidades de São José dos Campos e Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira. Ao chegar à cidade de Monteiro Lobato, pela rodovia SP-050, é preciso pegar a “Estrada do Livro”, cujos oito quilômetros levam da cidade até a fazenda, onde há um museu sobre a vida do literato. O local fica aberto, todos os dias, das 9 às 17 h e a entrada custa R$ 5 por pessoa. O visitante ainda pode almoçar no local, mas a reserva deve ser feita com, no mínimo, dois dias de antecedência. O valor é de R$ 35 por pessoa. Mais informações: (12) 9711-2748.
Mudança
Evolução do Jeca: quando o preconceito dá lugar à análise social
O sociólogo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Pedro Bodê de Moraes, que também analisou a figura do Jeca Tatu na obra de Monteiro Lobato, afirma que o próprio escritor deu uma contribuição para que o personagem atingisse o apreço do público em suas outras representações, inclusive na versão cinematográfica e mais ingênua proposta por Mazzaroppi. “Ao conhecer melhor a realidade do povo caipira, Lobato vai revelando a realidade dura que atrapalha o desenvolvimento deles e da região onde vivem”, explica.
Segundo ele, algo parecido aconteceu com Euclides da Cunha ao escrever Os sertões. O sociólogo explica que, ao contrário do caso de Lobato, o preconceito contra o povo sertanejo não vinha do escritor, e sim das elites. “Só quando ele vai até a região de Canudos, acompanhar de perto o conflito que se vivia por lá, é que os demais brasileiros percebem o sofrimento a que aquele povo era submetido, suas condições precárias de vida”, recorda.
Moraes também afirma que o Jeca, ao longo da obra de Lobato, vai amadurecendo e acaba se tornando o “Zé Brasil”, que dá nome a um folheto publicado em 1947, um ano antes da morte do autor. As características ainda são as mesmas do personagem original, mas Lobato mostra uma visão ainda mais complacente, destacando a dureza do dia dia do brasileiro caipira e uma visão afinada com o comunismo, especialmente com a figura de Luís Carlos Prestes.
A inspiração provém da vivência, desde a infância, no ambiente das fazendas da família: São José do Buquira (do avô do escritor, Visconde de Tremembé, na cidade de Monteiro Lobato, estado de São Paulo) e Paraíso (do pai, em Taubaté, também em São Paulo). É justamente nessa segunda propriedade rural que Lobato se depara com o “verdadeiro” Jeca, como lembra o sociólogo Márcio Malta, pesquisador da obra do autor brasileiro. Ele conta que Lobato, ainda menino, conheceu uma senhora, “nhá” Gertrudes, que sempre falava muito bem de um neto, a quem chamava Jeca. Após estimular a curiosidade de quem ouvia as histórias sobre o rapaz, ela levou o garoto até a fazenda Paraíso, para que os moradores pudessem conhecê-lo.
“O próprio escritor define esse rapaz, Jeca, como um homem magro, mas ao mesmo tempo barrigudo e desajeitado. Mesmas características apresentadas pelo seu personagem”, relata Malta. Ele afirma que o posicionamento polêmico de Lobato fez com que, por um bom tempo, o escritor fosse perseguido e visto com maus olhos. “As obras dele só podem ser analisadas se for considerado o contexto em que aparecem e as relações com as outras, anteriores ou posteriores”, destaca.
O sociólogo lembra que o “Jeca Tatu” reaparece em 1918, no livro Urupês, ainda acompanhado por uma visão bastante dura contra o caboclo do Vale do Paraíba. “O cenário muda em 1924, apenas seis anos depois, com o lançamento do livro Jeca Tatuzinho, em que Lobato começa a mostrar sua afeição pela figura do jeca, que passa a ser visto por ele como vítima de uma sociedade e de um governo desinteressados no desenvolvimento desse povo pobre e faminto. Ele toca muito, por sinal, na questão da fome, sem deixar de tecer duras críticas às classes mais abastadas”, afirma Malta.
A caricatura da caricatura
Além de analisar a obra de Lobato, o sociólogo Márcio Malta, que também é cartunista profissional, analisou as charges do Jeca Tatu publicadas da extinta revista Careta, que parou de circular em 1960. No trabalho intitulado Jeca na Careta – Charges e Identidade Nacional, ele relata que as primeiras representações na publicação aparecem em 1919 (um ano depois do lançamento de Urupês), por ocasião do lançamento da candidatura à Presidência da República de Rui Barbosa, que havia citado o Jeca Tatu em seus comícios como um representante do povo sofrido.
Segundo Malta, apesar de abordarem outras temáticas, as charges, na maioria das vezes, retratam a pobreza do Jeca. “Mesmo sendo uma figura de características particulares, como a vestimenta simples, o jeitão do ‘homem da roça’, é interessante notar que as charges retratam, por meio do Jeca Tatu, os sentimentos de todos os brasileiros, não apenas do caipira. O Jeca só atinge esse status de representante do povo porque o povo o aceita, identifica-se com ele”, avalia.

Nas ondas da superação


Eles usam a internet para enfrentar doenças graves e compartilhar experiências, mesmo quando elas não são das melhores.

“Olá. Eu me chamo Bi­­­­anca Gomes de Sou­­­za, e meu apelido é Pokemini. Nasci no dia 13 de junho de 1991 em São Paulo. Meu time do coração é o Santos Futebol Clube. Gosto de conversar, ficar na internet, gravar vídeos, fazer novas amizades, sair com os (as) amigos(as), jogar videogame, aprender coisas novas. Minha músicas preferidas são as do cantor americano Coffey Anderson.”
É assim que Bianca, ou melhor, Pokemini, se apresenta. Desde janeiro desde ano, a garota mantém um canal no YouTube (www.youtube.com/user/Bia130691) onde conta de forma bem humorada seu dia a dia ao lado de um companheiro bem indesejável: o câncer.
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal / Bianca Gomes de Souza: canal aberto no YouTube para falar sobre o seu câncer+ ampliar imagem
Bianca Gomes de Souza: canal aberto no YouTube para falar sobre o seu câncer
Ela descobriu que tem um tumor ósseo no quadril quando tinha 19 anos, depois de mais de três meses de exames e idas ao hospital. Hoje, passada a fase mais difícil do tratamento, resolveu usar a internet para contar como é, enfim, enfrentar essa barra.
Muito comunicativa, Pokemini conta que desde que começou o tratamento e passou a frequentar o GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) gostava de conversar e tentar animar outros pacientes, compartilhando suas experiências com eles. Logo em seguida pensou em usar a internet para falar sobre o câncer. “Acho muito útil contar para as outras pessoas o que estou passando. Nunca tinha visto algo assim no YouTube e resolvi tentar passar dicas para quem está mais triste ou desmotivado”, conta ela.
Hoje já são mais de 20 vídeos em que ela fala sobre quimioterapia, família, namoro, jogos, filmes e outros assuntos típicos de quem é jovem. Seu alvo são tanto pessoas que enfrentam o mesmo problema quanto aqueles que buscam mais informações sobre a doença. Para responder as dúvidas dos internautas, ela criou até um espaço chamado “Ask Poke”, no final de cada um dos vídeos.
“Para mim, falar sobre câncer em publico é tranquilo, pois vejo a vida de outra forma hoje. Sei que há pessoas que não têm a doença, mas que gostariam de saber o que fazer se tiverem alguém próximo nessa situação”, explica. Até agora, mais de 13 mil pessoas já assistiram os vídeos de Pokemini.
Apelido
Bianca virou Pokemini por causa das amigas Popis (Regina), Chochô (Michele), Píh (Lílian) e Nani (Mariane). Como ela era a única sem um apelido estranho, as meninas resolveram inventar um. Depois de muita discussão, elas concluíram que Bianca parecia um Pokemon, por ser sempre alegre e elétrica. Ser chamada de Pokemini é hoje um motivo de orgulho para a garota. “Se você procurar na net, você vai me encontrar com muita facilidade. Só eu tenho esse nome”, brinca.
É justamente nos amigos e na família que a garota encontra motivação para enfrentar o câncer. E através da internet ela vê o seu círculo de amizades aumentar cada vez mais. O tratamento contra o câncer realmente deixa as pessoas mais fracas, desanimadas ou mesmo irritadas, querendo se isolar. Por isso, o contato com outras pessoas, mesmo através do mundo virtual, é muito importante. “Os comentários da Gale­­­ra da Pokemini são ótimos, eles sempre me apoiam e querem mais vídeos. Isso me motiva muito a continuar. Sempre interajo com quem fala comigo de alguma forma, mas ainda acho pouco, gostaria que mais pessoas co­­­­nhe­­­cessem o trabalho”, conta.
Em agosto, ela deve voltar a estudar Admi­nistração, curso que precisou ser trancado devido ao tratamento. Mas o vlog deve continuar, com força total.
Doenças graves afetam muitos jovens
É um erro pensar que doenças graves, como o câncer, afetam apenas adultos. Só para se ter ideia, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a principal causa de morte por doença na faixa etária entre 1 e 19 anos é o câncer. Entre os 10 e 18 anos, ele é responsável por 6,7% do total de mortes por doença. O câncer de mama, por exemplo, atinge 10% mais mulheres com menos de 34 anos do que no passado.
Normalmente, o diagnóstico da doença demora porque os sintomas de alguns tipos de câncer são confundidos com outras doenças, diminuindo as chances de recuperação. Além disso, nos jovens, os tumores costumam se desenvolver mais rápido do que nos adultos, o que dificulta ainda mais o tratamento.
Maus hábitos e alimentação inadequada, cada vez mais comuns na infância e adolescência, podem ser alguns dos fatores que explicariam o aumento no número de jovens com a doença. Hoje eles exageram e consomem praticamente todos os dias comidas que possuem alta quantidade de gordura e açúcar. Fumar e beber, hábitos comuns entre muitos jovens, são outros fatores de risco.
Contato, só virtual
Outra garota que encontrou na net uma força a mais para superar uma doença grave foi a psicóloga curitibana Verônica Stasiak, de 24 anos. Desde criança ela sofria com problemas respiratórios graves, tendo passado até longos períodos respirando com a ajuda de aparelhos. Foi só em 2009 que ela teve o diagnóstico: fibrose cística, doença de origem genética, que afeta principalmente o sistema respiratório. A doença ainda não tem cura, mas pode ser tratada.
Quando descobriu qual era o problema, Verônica ficou aliviada por finalmente saber o que tinha, mas também ficou indignada com a demora dos médicos em fazer o diagnóstico. Se tivesse sido diagnosticada mais cedo, poderia ter evitado o agravamento da doença. “Minha mãe me disse que se tivesse ideia que meus problemas respiratórios poderiam ser sinal de fibrose cística, eu não teria chegado naquele estágio. Aí eu percebi que não era justo que as pessoas não tivessem essas informações”, conta Verônica.
Foi exatamente essa percepção que levou a garota a criar um grupo na internet chamado Unidos pela Vida FC (unidospelavidafc.com.br). Funcionando inicialmente como um blog, o grupo logo transformou-se em um instituto de divulgação sobre a fibrose cística e um grande ponto de encontro para pacientes e pessoas próximas.
Hoje, dois anos depois de formado, o Unidos pela Vida já levou informação a mais de 4 mil pessoas. Nas redes de relacionamento, o instituto mantém comunidades no Facebook, Orkut, que possuem mais de 3 mil participantes. São pacientes, familiares e pessoas comuns que se interessam pelo assunto e formam uma verdadeira rede virtual de apoio.
No caso da fibrose cística, o contato virtual é ainda mais importante porque os pacientes não podem se encontrar pessoalmente devido ao risco da chamada contaminação cruzada. Se eles se encontrarem, podem desenvolver infecções graves. “As pessoas acabam ficando isoladas porque não podem se encontrar. Mas com o mundo virtual esse problema acaba porque as pessoas podem ficar em contato praticamente durante todo o dia, trocando informações e conversando, mesmo quando estão internadas”, conta Verônica.
Mais leve
Compartilhar para sofrer menos
Dizem que a felicidade só é de verdade quando é compartilhada. Pois um outro dito também deveria ser lembrado, principalmente quando a situação não é das melhores: “qualquer sofrimento compartilhado fica mais leve.”
Quem afirma é Regina Célia Veiga, psicóloga e professora da Faculdade Pequeno Príncipe. “Na medida em que essas pessoas traduzem em vídeos ou blogs essas experiências, há uma diminuição do sofrimento porque há o compartilhamento disso”, defende.
De acordo com Regina, esse tipo de atitude acaba favorecendo até mesmo a relação do paciente com a própria doença, já que esses jovens que expõem seus problemas e falam sobre eles. Por fim, acabam sentindo que há mais gente dando apoio. Mesmo que pela internet.
“É uma espécie de compartilhamento, mas com uma função mais nobre”, diz a psicóloga.
Outro ponto que é levado em conta é a sensação de pertencimento, que normalmente acaba sendo muito requisitada nessa fase da vida. “O adolescente precisa se sentir parte de um grupo, é uma necessidade. Se há algum problema, com uma doença grave, a tendência é que ele se sinta um objeto diferente daquele grupo do qual deveria pertencer. Então, no momento em que ele relata sua situação e interage com outros, acaba criando um vínculo de pertencimento”, diz Célia.
A psicóloga ainda afirma que não há contraindicações para a utilização da internet nesses casos. Mas também lembra que o bom senso é requisito fundamental. Em qualquer situação.