O sol nasce para todos, mas o Brasil não aproveita
Apesar da grande incidência de luz solar em todo o território brasileiro, uso dessa fonte para eletricidade e aquecimento de água é irrisório. Especialistas dizem que incentivos do governo ainda são insuficientes.
No mercado de aquecimento solar de água, apesar de ocupar a sexta posição do ranking mundial elaborado pela Agência Internacional de Energia, em números absolutos a capacidade brasileira se distancia – e muito – da chinesa, a primeira colocada. Enquanto a China tem capacidade de 117,6 mil megawatts térmicos (MWth, unidade utilizada para medir a potência térmica), o Brasil conta com apenas 4.278 MWth.
Iniciativas
Confira algumas iniciativas para viabilizar o uso de fontes renováveis de energia, em especial a solar:
• Megawatt Solar
A Eletrosul está implantando em sua sede, em Florianópolis, a primeira usina de geração solar com 1 megawatt de potência. O sistema será integrado ao edifício-sede da empresa, usando a área do telhado e dos estacionamentos. A energia será para consumo próprio e o excedente, distribuído na rede elétrica. O projeto tem financiamento do banco alemão KfW e deve entrar em operação até o fim do ano. Outros projetos da estatal preveem a instalação de paineis solares nas coberturas dos estádios do Mineirão, em Belo Horizonte, e de Pituaçu, em Salvador.
• Chamada 13
O projeto estratégico “Arranjos técnicos e comerciais para inserção da geração solar fotovoltaica na matriz energética brasileira” – a “chamada 13” da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – foi lançado no ano passado com objetivo de diversificar a matriz energética brasileira. Dezoito projetos foram selecionados, dois deles do Paraná – estes receberão juntos cerca de R$ 75 milhões. Um envolve a instalação de células de energia solar na Arena da Baixada.
• Compensação de Energia
Resolução publicada pela Aneel em abril permite que qualquer pessoa possa gerar energia de casa usando métodos alternativos (como a energia solar) e, em troca, ganhar créditos na conta de luz. O que não for consumido será “injetado” na rede elétrica. As distribuidoras têm prazo de 240 dias após a publicação da resolução para fazer as adequações necessárias.
• Minha Casa, Minha Vida
A Portaria 325, de 7 de julho de 2011, estabelece que todos os projetos compostos por unidades unifamiliares deverão contemplar sistemas de aquecimento solar.
• Projeto de Lei
Além de estabelecer que imóveis ficam obrigados a ter sistemas de eficiência energética, o Projeto de Lei 005-00245/2007 cria um desconto no IPTU para quem utilizá-los em Curitiba. O projeto ainda está em análise na Câmara Municipal.
No Paraná
De acordo com o professor Eloy Casagrande Jr., da UTFPR, o Paraná tem potencial para aproveitar a energia solar. “Curitiba tem cerca de 1,7 mil horas de sol por ano, o mesmo que as cidades de Santos e São Paulo, por exemplo”, diz. E o mercado local também tem espaço para crescer. Na área de aquecimento solar, por exemplo, apenas quatro nomes em todo o estado figuram na lista de empresas qualificadas pelo Qualisol Brasil, um selo de qualidade fornecido pela Abrava, em parceria com o Inmetro e a Eletrobrás.
“O desenvolvimento de fontes de energia renováveis ocorre de forma mais rápida onde não há outras opções”, explica Lucio Teixeira, diretor de Finanças Corporativas da Ernst & Young Terco. “No Brasil, temos uma oferta muito grande de recursos hídricos, discrepante em relação a outros países. Assim, é natural que se foque nesse tipo de energia”, complementa.
Porém, tão abundante quanto os rios é a presença do sol no país tropical. De acordo com artigo publicado na revista Solar Energy, o local com o pior grau de irradiação no país ainda é 40% superior ao melhor da Alemanha – onde o uso de energia solar é muito mais desenvolvido.
Para desenvolver o mercado, informam os especialistas, ainda faltam incentivos. “Para sermos competitivos, devemos investir em inovação e criar facilidades para pesquisadores e investidores”, analisa Eloy Casagrande Jr., doutor em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente e coordenador do Escritório Verde da UTFPR.
Para Teixeira, três pontos têm de ser considerados para atrair investidores. “O primeiro deles é a tecnologia, que precisa ser disponível. E isso já temos. Depois, é preciso um ambiente de contratação favorável, isto é, o poder público precisa criar mecanismos para incentivar os investimentos – como os leilões do setor elétrico”, continua. Nos últimos meses, o governo aprovou algumas medidas para incentivar o uso de energias renováveis e sistemas de eficiência energética (veja quadro nesta página), mas, para o analista, elas ainda não são suficientes. Por fim, Teixeira destaca que a viabilidade econômico-financeira precisa ser encontrada. Para isso, diz, é necessário o desenvolvimento da indústria nacional, já que a compra de equipamentos brasileiros baratearia financiamentos e tornaria o negócio mais atraente aos olhos dos investidores.
Benefícios
Os benefícios do uso da energia solar envolvem aspectos ambientais e econômicos. “Cada metro quadrado de energia solar evita 56 metros quadrados de área inundada por hidrelétrica”, diz Marcelo Mesquita, gestor do Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Dasol), ligado à Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
Usar aquecimento solar em vez de energia elétrica para a água do banho pode levar a uma economia de cerca de 30% na conta de energia elétrica. Um estudo divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) na última terça-feira revela que a energia elétrica solar já é viável para 15% dos lares brasileiros.
Fábrica chinesa quer abrir 5 mil lojas no país
O número é alto: 5 mil lojas no Brasil nos próximos cinco anos. Equivale a quase uma loja por município – o país tem 5.565 cidades. Supera, as mais de 600 lojas que a rede de fast food McDonald’s tem no país e até o número de franquias do Boticário, o maior franqueador do país, com 3.337 unidades.
O plano foi anunciado durante a Rio+20 por Huang Ming, presidente da Himin Solar, gigante chinesa da área de aquecimento solar. A ação é parte da estratégia de popularizar as climate marts, lojas no estilo de franquia que oferecem produtos ligados à energia solar, com objetivo de tornar as tecnologias mais acessíveis. A previsão é de abrir 50 mil lojas em todo o mundo.
A justificativa é “verde”: “Se houver 50 mil climate marts, a energia renovável vai se espalhar mais amplamente, e haverá esperança para a melhora do clima”, disse Ming na conferência. No mercado brasileiro, a Himin já tem uma parceira, a curitibana Nadezhda, empresa recém-criada pelo empresário Fernando Buffa.
O mercado de aquecimento solar no Brasil cresceu a uma média de 15% nos últimos três anos, de acordo com o Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Dasol). Em 2011, movimentou cerca de US$ 500 milhões. “É importante que haja diversidade”, comenta Marcelo Mesquita, gestor do Dasol, sobre a possível vinda da Himin. “O consumidor tem que ter bons produtos e se uma empresa está se propondo a oferecer isso, é bem vinda.”
Mesquita destaca, porém, que é difícil fazer qualquer análise, uma vez que não se sabe se os planos da empresa serão mesmo concretizados. Se isso ocorrer, a franquia chinesa teria mais lojas que o total de empresas de aquecimento solar hoje existentes no Brasil – são cerca de 2 mil.
A Himin Solar foi criada em 1995 e sua fábrica tem mais de 4 mil funcionários. É Huang Ming o idealizador do Solar Valley, maior base de produção de energia solar do mundo, localizado na China. Ele funciona como uma cidade, com hotéis, fábricas, centros de pesquisa e convenções.
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