Faculdade Unyleya
Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa
Anderson Luiz Ferreira da Silva
A Importância da Família no Processo de
Ensino-Aprendizagem
Almirante Tamandaré
2016
Faculdade Unyleya
Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa
Anderson Luiz Ferreira da Silva
A Importância da Família no Processo de
Ensino-Aprendizagem
Trabalho de Conclusão de Curso à
Faculdade Unyleia como parte integrante
do conjunto de tarefas avaliativas da
disciplina
Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa.
Karla Alessandra Spinola Costa da Silva
Almirante Tamandaré
2016
Anderson Luiz Ferreira da Silva
A Importância da Família no Processo de
Ensino-Aprendizagem
Monografia apresentada à Universidade
Unyleia como exigência parcial à obtenção do título
de Especialista em Metodologia
do Ensino de Língua Portuguesa.
Karla Alessandra Spinola Costa da Silva
Aprovado pelos membros da banca examinadora em ___/___/___, com menção
___ (_____________)
Banca Examinadora
__________________________
__________________________
Almirante Tamandaré
2016
Dedicatória
Dedico
este trabalho a todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta para
conclusão do mesmo e em especial à minha Família, Esposa Angela Maria Ferreira
da Silva e meus filhos Adryelle, André e Andressa.
Agradecimento
Agradeço a
todos meus familiares, colegas de trabalho e a Faculdade Unyleya por me
auxiliarem na elaboração deste Trabalho que poderá contribuir muito para o
crescimento de qualidade nas Escolas num modo geral.
Epígrafe
"O
analfabeto do século XXI não será aquele que não sabe ler e escrever, mas
aquele que não consegue aprender, desaprender e aprender novamente".
Alvin Tofler
Resumo
A pesquisa objetivou investigar
a importância e a influencia da família no desempenho escolar dos filhos. Tendo
em vista que é durante o processo de alfabetização que a relação escola e
família se destacam. Uma vez que os fatores relativos à vida extraescolar dos
alunos impactam no aprendizado a organização escolar precisa ser cuidadosamente
planejada, organizada e implementada para informar aos pais sobre a vida
escolar de seus filhos.
Pudemos constatar que quando os
pais participam da educação de seus filhos eles aprendem mais e melhor, com o
apoio da família se sentem motivados, seguros, estimulados com vontade de
aprender. Com o estabelecimento dos vínculos de parceria entre os educadores e
os pais o aprendizado se torna mais significativo e eficiente.
Palavras chaves: aprendizagem, famílias, educador, escola.
Resume
The search aimed investigate the importance and
influence of family school performance of children. Given that and during in
the process of literacy that relationship between school and home stands out. The
factors related to life outside school impact on student learning and school
organization needs to be carefully planned, organized and implemented to inform
parents about the school life of their children .I found that when parents
participate in their children`s education they learn more and better, with the
support of then feel motivated, stimulated insurance willing to learn .And
along with the teacher learning becomes more efficient and significant.
Keywords: learning, family, teacher, school.
Introdução……………..........................................................................................9
Tema....................................................................................................................11
Problema.............................................................................................................11
Justificativa..........................................................................................................12
Objetivos.........................................................................................................
...13
Revisão da Literatura.........................................................................................
14
Metodologia........................................................................................................16
Fundamentação Teórica.....................................................................................17
Cap. 1. A participação da
Família na Educação Escolar.....................................17
1.1.
Escola Sem Conflito – Parceria com
os Pais...................................19
1.2.
Família – Responsável pelos
Limites...............................................21
1.2.1. Família
– A difícil arte de Educar............................................22
1.3.
Direitos e Deveres...........................................................................23
Cap. 2. Escola –
Instituição Necessária para a Transformação......................... 25
2.1. A Relação Família e Escola ................................................................28
2.2. A Relação entre a Família e a
Trajetória Escolar das Crianças............31
Cap. 3. Refletindo Sobre a
Família e sua Historicidade........................................37
3.1. Família Imaginada e Família Real –
Localizando o Conflito.................41
Cap. 4. Família e Escola
......................................................................................44
4.1. As Novas Formações Familiares e
sua Importância no Desenvolvimento
Da
Criança.............................................................................................50
Conclusão
.............................................................................................................59
Referencial Bibliográfico.........................................................................................60
INTRODUÇÃO
A participação dos pais na
aprendizagem escolar é necessária? É, um exemplo é que, antes a família era cúmplice
da escola; hoje, é promotora de seus erros e falhas. Quem é o maior
prejudicado? O aluno.
Hoje, se não houver maturidade e
visão pedagógica por parte da escola, as reuniões com pais viram arenas, onde a
escola fica na defensiva e os pais fazem sua catarse de erros pedagógicos e
parentais do passado. Quem é o maior prejudicado? O aluno. Escola e Família
esquecem que essa vida é uma passagem e que nosso papel só se enriquece se
temos como objetivo compartilhar, dividir e contribuir para que outros vivam
melhor, principalmente aqueles com quem convivemos e amamos.
Sempre se acredita que o mais
forte e amadurecido abrirá a porta da liberdade e da conscientização.
Acredita-se que a Escola pode dar o primeiro passo, pela própria base de
formação da qual é portadora. Sabemos que os pais exercem extrema influência,
mais do que eles próprios imaginam.
Educar demanda uma grande
responsabilidade. "A educação começa no berço", dizem. Na verdade, a
educação começa ainda no útero.
Sabe-se através de pesquisas recentes
que a criança ouve "ruídos" do mundo externo e sabe distinguir a voz
do pai e da mãe. Sendo assim, no berço, começa a aprender as relações
interpessoais.
Por vários motivos (falta de tempo
por ambos terem que trabalhar), os pais colocam seus filhos cada vez mais cedo
na escola e delegam seu papel de primeiro educador à escola. No livro do Paulo
Freire "Professora sim, Tia não", Paulo Freire tenta resgatar o
verdadeiro papel da escola. Ser Professor (a) é muito mais do que ser babá ou
substituto dos pais. Educar é muito mais que ensinar boas maneiras, ler e
escrever. É criar consciência crítica e formar um cidadão em cada um de seus
alunos.
Nos dias de hoje as Escolas
enfrentam uma situação comum, nas mais diversas instituições de Ensino, que é o
distanciamento das famílias no acompanhamento de seus filhos no desenvolvimento
escolar do Ensino Básico. Quase sempre as reuniões convocadas pelas Escolas têm
um número de pais muito baixo das expectativas esperadas, e isso interfere no
desempenho dos alunos em sala de aula. Aparentemente não é o que os pais acham,
eles imaginam que a Escola consegue se virar sozinha, com sua equipe pedagógica
e professores, talvez eles nem tenham consciência do quão importante é sua
presença na Escola.
O vínculo que a família adquire
com a Escola é muito importante, pois a Escola se torna um prolongamento da sua
casa e assim seus filhos terão uma visão diferenciada e terá um maior respeito
pela instituição e comunidade escolar, melhorando o relacionamento e assim
consequentemente uma melhor qualidade e desempenho Escolar. Família: conjunto
de parentes por consanguinidade ou por afinidade; descendência, linhagem, estirpe;
conjunto de pessoas da mesma seita, fé, sistema, profissão, etc. Esse é o
significado de família o qual o dicionário Aurélio nos mostra. É notório que no
ambiente familiar as pessoas também se unam por amor, situação financeira e
pela sobrevivência. A família sempre nos foi apresentada como instância
formadora e socializadora da criança. Battagliaapud (NOBRE 1987) conceitua a
família dizendo que a família pode também ser Considerada como:
Um sistema aberto em permanente
interação com seu meio ambiente interno e/ou externo, organizado de maneira
estável, não rígida, em função de suas necessidades básicas e de um modo
peculiar e compartilhado de ler e ordenar a realidade, construindo uma história
e tecendo um conjunto de códigos (normas de convivências, regras ou acordos
relacionais, crenças ou mitos familiares) que lhe dão singularidade. NOBRE,
(1987, p.118-119).
Esclarecer a importância da
Família no Processo de Ensino-Aprendizagem. É deixar claro que hoje as famílias
estão com novas formações e isso não deve interferir negativamente na
participação da vida escolar dos filhos. Uma Escola que têm participação
efetiva dos pais é mais alegre, cuidada, bonita, e o mais importante de tudo
tem um melhor desempenho dos alunos no que se refere à qualidade e conhecimento.
Assim, alertar a família da sua importância e
influência no Processo de Ensino-Aprendizagem; Mostrar às Famílias o quão
importante é sua participação no Processo de Ensino-Aprendizagem; Comprovar a
importância da participação familiar no Processo de Ensino-Aprendizagem.
Nos dias atuais percebemos que a
escola reclama da ausência da família para acompanhar a criança no seu
desenvolvimento escolar da falta de limites dos pais aos filhos, da dificuldade
de transmitir uma boa educação. E não há presente maior para os pais do que
assistir ao desdobramento da personalidade dos filhos ver sua beleza brilhar no
mundo e saber que sua contribuição é essencial.
Tema:
A Importância da Família no
Processo de Ensino-Aprendizagem
Problema:
Como se dá a participação da
Família no Processo de Ensino-Aprendizagem?
Justificativa
Nos dias de hoje as Escolas
enfrentam uma situação comum, nas mais diversas instituições de Ensino, que é o
distanciamento das famílias no acompanhamento de seus filhos no desenvolvimento
escolar do Ensino Básico. Quase sempre as reuniões convocadas pelas Escolas têm
um número de pais muito baixo das expectativas esperadas, e isso interfere no
desempenho dos alunos em sala de aula. Aparentemente não é o que os pais acham,
eles imaginam que a Escola consegue se virar sozinha, com sua equipe pedagógica
e professores, talvez eles nem tenham consciência do quão importante é sua
presença na Escola.
O vínculo que a família adquire
com a Escola é muito importante, pois a Escola se torna um prolongamento da sua
casa e assim seus filhos terão uma visão diferenciada e terá um maior respeito
pela instituição e comunidade escolar, melhorando o relacionamento e assim
consequentemente uma melhor qualidade e desempenho Escolar. Família: conjunto
de parentes por consanguinidade ou por afinidade; descendência, linhagem, estirpe;
conjunto de pessoas da mesma seita, fé, sistema, profissão, etc. Esse é o
significado de família o qual o dicionário Aurélio nos mostra. É notório que no
ambiente familiar, as pessoas também se unam, por amor, situação financeira e
pela sobrevivência. A família sempre nos foi apresentada como instância
formadora e socializadora da criança. Battagliaapud (NOBRE 1987) conceitua a
família dizendo que a família pode também ser Considerada como:
Um sistema aberto em permanente
interação com seu meio ambiente interno
e/ou externo, organizado de maneira estável, não rígida, em função de suas
necessidades básicas e de um modo peculiar e compartilhado de ler e ordenar a
realidade, construindo uma história e tecendo um conjunto de códigos (normas de
convivências, regras ou acordos relacionais, crenças ou mitos familiares) que
lhe dão singularidade. NOBRE, (1987, p.118-119).
É importante deixar claro que hoje
as famílias estão com novas formações e isso não deve interferir negativamente
na participação da vida escolar dos filhos. Uma Escola que têm participação
efetiva dos pais é mais alegre, cuidada, bonita, e o mais importante de tudo
tem um melhor desempenho dos alunos no que se refere à qualidade e
conhecimento.
OBJETIVOS:
Objetivo
geral:
Esclarecer a importância da
Família no Processo de Ensino-Aprendizagem.
Objetivos
específicos:
- Alertar a família da sua
importância e influência no Processo de Ensino- Aprendizagem;
- Mostrar às Famílias o quão
importante é sua participação no Processo de Ensino-Aprendizagem;
- Comprovar a importância da
participação familiar no Processo de Ensino-Aprendizagem.
REVISÃO
DE LITERATURA
A presente pesquisa tem como
objetivo colaborar com a discussão e reflexão sobre a interação da família com
a escola, sem ter a pretensão de esgotar o assunto. Abordam questões com o
significado do conceito de família, sua função social e os modelos nos quais se
nos apresentam diferentes momentos da história. Mudanças ocorridas no âmbito,
socioeconômico e político, nos últimos 20 anos, têm um rebatimento importante
sobre a família brasileira.
Na década de 90, temos a aprovação
de leis nacionais e elaboração de diretrizes do ministério da Educação, cujos
conteúdos evidenciam a importância da participação da família na escola e o
significado de participação. Será possível planejar e executar o processo de
educação escolar independente da questão familiar? Como trazer a família para
participar do processo ensino-aprendizagem na escola? O que fazer quando a
família não colabora? E quando a escola não colabora? Essas questões merecem um
tratamento cuidadoso, que leves em conta aspectos sócias, culturais e legais,
que não serão aqui abordados, sem que possamos aprofundá-las. Ao longo da
história brasileira a família veio passando por transformações importantes que
se relacionam com o contexto sócio-econômico-político do país. No âmbito legal,
a Constituição Brasileira de 1988, aborda a questão da família nos artigos 5º,
7º, 201, 208 e 226 a 230. Trazendo algumas inovações (artigo 226) como um novo
conceito de família: união estável entre o homem e a mulher (§ 3º) e a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (§4º).
E ainda reconhecem Nos últimos
vinte anos, várias mudanças ocorridas no plano sócio-político-econômicos
relacionados ao processo de globalização da economia capitalista vêm
interferindo na dinâmica e estrutura familiar e possibilitando mudanças em seu
padrão tradicional de organização. Trata-se, pois, de um processo contraditório
que, ao mesmo tempo em que abala o sentimento de segurança das pessoas, com a
falta dou diminuição da solidariedade familiar, proporciona também a
possibilidade de emancipação de segmentos tradicionalmente aprisionados no
espaço restritivo de muitas sociedades conjugais opressoras.
Com ele, também, os papéis sociais
atribuídos diferenciadamente ao homem e a mulher tendem a desaparecer não só no
lar, mas também no trabalho, na rua, no lazer e em outras esferas da atividade
humana. PEREIRA (1995).
Segundo KALOUSTIAN (1988), a
família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção
integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou
da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos
e, sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus
componentes.
GOKHALE (1980) acrescenta que a
família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é
também o centro da vida social. A educação, bem sucedida da criança na família
é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo
quando for adulto. Evidenciado, no nosso tipo de organização social, o papel
crucial da família quanto à proteção, afetividade e educação, onde buscar
fundamentação para a relação educação escola/família? O dever da família com o
processo da escolaridade e a importância da sua presença no contexto escolar é
publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do Ministério
da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:
Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e 55;
Política Nacional de Educação
Especial, que adota como umas de suas diretrizes gerais: adotar mecanismos que
oportunizem a participação efetiva da família no desenvolvimento global do
aluno. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigo 1º, 2º, 6º e
12;
Plano Nacional de Educação
Aprovado pela (Lei nº 10172/2007), que define como uma de suas diretrizes a
implantação de conselhos escolares e outras formas de participação da
comunidade escolar (composta também pela família) e local na melhoria do
funcionamento das instituições de educação e no enriquecimento das
oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos.
Esta é uma relação permeada pelos
mais diversos fatores: o sofrimento dos pais por afastarem seus filhos de si
mesmos; os desejos de que a escola lhes ofereça o melhor, em todos os aspectos;
a necessidade da garantia dos melhores cuidados, os ciúmes que sentem os pais
ao dividirem os filhos com os professores, o medo do fracasso escolar, as
projeções dos próprios fracassos compensados através dos filhos.
METODOLOGIA
Nos dias atuais percebemos que a
escola reclama da ausência da família para acompanhar a criança no seu
desenvolvimento escolar da falta de limites dos pais aos filhos, da dificuldade
de transmitir uma boa educação. E não há presente maior para os pais do que
assistir ao desdobramento da personalidade dos filhos ver sua beleza brilhar no
mundo e saber que sua contribuição é essencial.
Para explicar essa preocupação dos
professores com a ausência da família na escola selecionam-se meios de
investigar a influência dos pais na educação dos filhos através de
bibliografias sobre o assunto, com a finalidade de descobrir o que tanto aflige
os professores com essa ausência vem acarretando no âmbito escolar.
Estas leituras se valem de
diversos autores que abordam o tema com a intenção de fundamentar a pesquisa.
Aplicar-se-á trechos das obras
lidas para professores do Ensino Fundamental e do médio e para alguns alunos e
ou pais dos alunos. É importante enfatizar que as leituras contribuirão com uma
importante fonte de coleta de dados. Após as leituras poder-se-á reunir o grupo
(Comunidade escolar) para uma mesa de debates a diretoria e coordenadora onde
será explicado o objetivo do trabalho e solicitação da contribuição das
famílias no Processo Ensino Aprendizado para que as Escolas cheguem a
excelência educacional. A intenção da tese é focalizar a influência dos pais na
aprendizagem escolar.
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
CAPÍTULO
1
A
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
A parceria entre familiares e as
instituições de ensino seja a educação formal ou a técnica, é concretizada
quando ambos estão unidos em um único objetivo, formar cidadãos conscientes da
sociedade em que habitam, com valores éticos e morais e com uma perspectiva de
um futuro promissor. A família pode participar de várias maneiras na vida
educacional do estudante.
Segundo Freitas, Maimoni &
Siqueira, (1994) e de Maimoni & Miranda, (1999), elas podem: acompanhar
tarefas e trabalhos escolares, verificar se o filho fez as atividades
solicitadas pelo professor, estabelecer horário de estudo, informar-se sobre
matérias e provas, entre outras. Há vários modelos de famílias, não existe
somente um tipo de família na sociedade brasileira, mas existem singularidades
entre elas.
É possível afirmar que cada
família possui sua identidade e estão em constante evolução, constituídas com o
intuito básico de prover a subsistência de seus integrantes. Por meio do desenvolvimento
tecnológico, não somente máquinas foram modificadas, a sociedade também passa
por transformações no estilo de vida e as relações que estabelecemos com nossos
semelhantes. O mundo virtual que é a nova maneira de interação e relacionamento
entre as pessoas, em que em questão de segundos há o processo de comunicação
com outros indivíduos que estão a milhares de quilômetros de distância,
ocupando o tempo que antes poderia ser utilizado com uma conversa ou atividades
que poderiam interagir e unir os membros da família.
Segundo Ackerman (1986, p. 17), “o
momento histórico em que nos encontramos, tem alterado a configuração da vida
familiar e tem abalado os padrões estabelecidos de Indivíduo, Família e
Sociedade. [...] Seres humanos e relações humanas foram lançados em um estado
de turbulência, enquanto a máquina cresce muito, à frente da sabedoria do homem
sobre si mesmo. A redução do espaço e a intimidade forçada entre as pessoas
vivendo em culturas em conflito exigem um novo entendimento, uma nova visão das
relações do homem com o homem e do homem com a sociedade”. A saída da mãe para
o mercado de trabalho, que é a figura central na educação de seus filhos, é um
dos fatores que tem abalado a relação entre mãe e filho, as relações de amor,
confiança, segurança, relacionamento social são construídas no decorrer do
cotidiano, em um determinado tempo histórico e um delimitado espaço físico. A
nova mãe da sociedade, que trabalha e possui grandes responsabilidades, muitas
vezes não dispõe do tempo necessário para estabelecer uma relação com seu filho
e educá-lo. Em relação às perspectivas da família com relação à escola com seus
filhos encontram-se várias ideias de que a instituição escolar “eduque” o filho
naquilo que a família não se julga capaz e que ele seja preparado para obter
êxito profissional e financeiro. A família não é o único canal pelo qual se
pode tratar a questão da socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito
privilegiado, uma vez que este tende a ser o primeiro grupo responsável pela
tarefa socializadora. A família constitui uma das mediações entre o homem e a
sociedade. Sob este prisma, a família não só interioriza aspectos ideológicos
dominantes na sociedade, como projeta, ainda, em outros grupos os modelos de
relação criados e recriados dentro do próprio grupo. (CARVALHO, 2006).
A formação dos professores quanto
aos valores éticos e o desenvolvimento da moralidade como também padrões de
comportamento muitas vezes é apontada pela família como responsabilidade apenas
da escola, segundo Di Santo (2006), em seu artigo Família e Escola: uma relação
de ajuda relata que atualmente, a família tem passado para a escola a
responsabilidade de instruir e educar seus filhos inserindo-os na sociedade.
Logo, deve haver um estreitamento das relações entre família e escola em busca
de uma qualificação com mais qualidade, evitando uma confusa transferência de
responsabilidades entre ambas as partes para alcançar um bom desenvolvimento
saudável dos educandos. O primeiro passa para a interação positiva entre a escola
e a comunidade é, sem dúvida, o conhecimento da própria comunidade por parte da
escola. Para um considerável afunilamento desta relação, seria necessária toda
a comunidade escolar, não somente educadores ou gestores, analisar instrumentos
que facilitassem o intercâmbio entre as partes, favorecendo uma relação de
confiança e respeito para com os envolvidos. Uma das funções da escola é buscar
uma aproximação com as famílias de seus alunos, pois enquanto instituição pode
promover atividades como: interação e apoio com diversos profissionais como
psicólogos, fazer visitas aos familiares, reuniões de pais e mestre com maior
frequência, bem como a realização de trabalhos técnicos com a participação dos
familiares para que estes possam conhecer os conteúdos que seus filhos estão
desenvolvendo nas diversas atividades curriculares, proporcionando ligação
entre escola família - professores. O papel a ser exercido pela escola e pelos
pais, em se tratando de uma sociedade que passa por mudanças constantes, é a
busca de novas formas e caminhos para alcançar êxito na formação de valores,
pois muitos dos valores considerados essenciais pela humanidade estão sendo
abalados, por isso a importância de um lugar em que os filhos e estudantes
possam se sentir seguros e confiantes no seu próprio potencial e a escola pode
ser este ambiente quando estiver bem estruturado e apoiado pela família. Em
entrevista concedida a Marcia Pimentel e falando sobre o papel da família na
aprendizagem da criança, a pesquisadora Cynthia Paes de Carvalho, que foi
professora do ensino básico durante 15 anos, fala que o papel da família não
pode ser, definitivamente, o mesmo de escola. ‘Ensinar os conteúdos das
matérias é papel e obrigação dos professores, que não podem pressupor que os
responsáveis tenham tempo para ensinar, ou conheçam os assuntos que estão sendo
dados em sala de aula’.
1.1
ESCOLA SEM CONFLITO – PARCERIA COM OS PAIS
Durante cerca de dois séculos,
família e escola viveram umas verdadeiras luas de mel. O que a escola pensava
era o que os pais pensavam. O que a escola determinava ou afirmava, fosse a
termos de tarefas, atribuições e até mesmo de sansões, era endossado e
confirmado pela família. Dessa forma, crianças e jovens sentiam, nas figuras de
autoridade que as cercavam e orientavam coesão e homogeneidade. Com isso, o
poder educacional dessas duas instituições se alicerçava e alimentava-se
mutuamente. Especialmente com isso, as novas gerações adquiriram seus valores e
seus saberes (intelectuais e morais) sem maiores problemas. De repente, o que
se observa? Que já não existe essa harmonia, esse clima de confiança. Os pais
parecem estar todo o tempo, com um pé atrás, supervisionando o que a escola
faz, desconfiando de professores, diretores e equipes pedagógicas. É como se de
repente tivesse perdido o encantamento, essa relação de confiança tão benéfica
para nossos filhos. Por sua vez, a escola se sente também atemorizada,
insegura, com sua autoestima abalada. O mais comum é esses pais adotarem duas
atitudes. A primeira, de desconfiança: parte deles parece ter perdido
totalmente a fé no trabalho docente. Vivem indo à escola questionando,
reclamando, ameaçando por qualquer motivo, acreditando sempre que a escola
errou ou não agiu adequadamente com seus filhos: ora é o professor tal que
passou muito trabalho, deixando as crianças assoberbadas; ora é fulano que não
passa tarefas suficientes, sobrando às crianças tempo excessivo para a rua,
para o playground, para a TV, internet e etc., assim segue a sucessão de
reclamações. O segundo grupo de pais é aquele que, depois de matricular os
filhos, aprece considerar sua missão terminada e daí em diante entrega à escola
toda e qualquer problemática relacionada à educação. De uma maneira geral,
esses são pais ausentes, que não comparecem a reuniões quando convidados ou
que, quando chamados para entrevistas ou reflexões conjuntas, nunca podem ir.
Ambas as atitudes em nada contribuem para o crescimento intelectual e afetivo
de nossas crianças. No entanto, são formas de agir que ocorrem com bastante frequência,
criando uma amargura crescente por parte dos docentes ao perceberem que não são
mais vistos com o mesmo grau de confiabilidade e como os parceiros ideais de
outrora. Por sua vez, os pais também se sentem a cada dia mais inseguros quanto
ao que esperar e como agir em relação a escola dos filhos, agregando mais um
fator dentre os inúmeros que incrementam a tensão diária dos pais modernos. Em
seu livro Escola Sem Conflito, Tânia Zagury cita que dependendo da forma que os
pais agem eles podem colaborar ou derrubar os objetivos da escola. Em sã
consciência, nenhum pai saudável age visando a ser um empecilho ao bom
resultado escolar. Ocorre que às vezes, inconscientemente, pensando estar
agindo da melhor forma, pode-se, de fato, estar causando problemas ao filho. As
formas mais comuns são: superproteção dos pais; acreditar no filho sem que
antes ouça alguém da escola; interferir nos problemas normais da vida e
convivência do aluno com a escola sem deixar que o aluno lute por seus
direitos; os pais ficam muito mobilizados emocionalmente quando seus filhos
contam algo. É bem verdade que todos nós desejamos um mundo melhor para nossos
filhos, mas precisamos começar dando, nós próprios, o exemplo. Isso só se faz
na pratica, exercendo a cidadania, regulando nossa vida e nossas atitudes
perante as regras que exigimos que os outros utilizem. Ações como essas,
ajudarão aos filhos a pensarem que faça o que fizer, podem errar á vontade e
sem se responsabilizar por nada, que papai e mamãe aparecerão para tirá-los da encrenca.
Já está provado que essa visão distorcida da realidade pode ser o caminho para
a marginalização.
1.2
FAMÍLIA – RESPONSÁVEL PELOS LIMITES
A chegada do século XXI era o
almejo da humanidade. Não sabíamos que chegaríamos a ele, mas ele chegou a nós.
As crianças que viveram as décadas anteriores são os homens do nosso presente,
e questionamos suas posições entre a educação, saúde, a fé, a solidariedade e a
família, sendo o papel desta última o grande questionamento na sociedade atual.
Como tem sido a estruturação familiar hoje em dia? Qual o papel da família na
formação do individuo? Que educação de base as crianças deste século estão
tendo em casa, onde muitas famílias acreditam estar à salvação ou o remédio
para sanar a dor dessas crianças abandonadas pelo limite? Hoje, o excesso de
razão tem feito com que os pais não tenham a convicção da correção. Psicólogos
desse novo século trazem em suas teorias o trauma da correção, afirmando que
ela, em muitos casos, pode impedir o desenvolvimento da independência da
criança, tornando-a insegura. Os pais passam a questionar sobre o momento certo
para tal correção acontecer e se perdem no mundo de regras.
Quem transforma, hoje, as crianças
em verdadeiros vencedores? Quem são os heróis e exemplos dessas crianças, que
clamam por socorro? Quando essas crianças, na escola, batem em um colega ou
cometem pequenas infrações, será que elas não estão gritando para serem vistas
ou ouvidas e esperam que alguém diga: “Basta”? Infelizmente chegamos a um
momento em que deixamos a educação ser fanada por passeios em shoppings, no
Google, Face book e outros sites que substituem os pais, sites estes que tem
sido o livro de ética entre as crianças e os adolescentes do mundo atual. Surge
então a pergunta: “o que os pais têm a dizer”? Peca-se quando se permite que os
meios de comunicação dialoguem mais com os filhos do que os próprios pais,
pois, na maioria do tempo, estes estão simultaneamente presentes e ausentes.
Será que o limite e a repreensão agora não evitarão problemas maiores no
futuro? Estuda-se tanto para criar estratégias educativas relacionadas ao
limite da criança, porém, no exato momento de colocá-las em prática não se
consegue. Houve décadas na nossa história que foram de suma importância: as
décadas de 1960 e 1970 até meados dos anos 1980. Mas essas décadas foram
responsáveis pelo dilaceramento da família. No auge das transformações sociais,
quando a principal regra era quebrar as regras impostas pela ditadura militar,
a família foi dilacerada. Ganharam-se algumas coisas, mas se 8 perderam os
filhos. Os filhos daquela época são os pais e avós de hoje. Houve uma mudança
de comportamento e uma inversão de respeito e valores. Tudo o que era uma regra
familiar, como pedir a benção ou informar para onde se está indo aos pais,
transformou-se em algo retrógrado. O não que era para ser dito ao autoritarismo
da ditadura passou a ser dito aos pais.
A mudança na moda, a aceitação dos excluídos,
a nivelação social, os hippies, o topless, as drogas, tudo isso transformou a
atitude e o comportamento dos filhos. Infelizmente não entenderam que a
liberdade pela qual lutavam era a liberdade do respeito ao outro. O não é tão
importante na imposição do limite como o dar de mamar, que cria a defesa
imunológica. O não de hoje com certeza fará um adulto forte no futuro. Aprender
a receber um não ensinará a criança que a vida nem sempre lhe dirá um sim,
evitando frustrações. Aprender a receber um não é aprender a dizê-lo também. A
criança que aprende a receber um não também o dirá às drogas, ao álcool, ao
sexo prematuro; dirá não aos pequenos furtos, à desonestidade, à falta de
respeito, à mentira. Dirá não a tudo que tentar substituir os pais.
1.2.1
FAMÍLIA – A DIFÍCIL ARTE DE EDUCAR
Longe de se tratar de um simples
problema, passível de solução natural, a educação dos filhos é um desafio cujas
bases são culturais. Os pais precisam admitir que também são humanos e seus
recursos emocionais, limitados. Dificuldades e crises familiares são
inevitáveis. Por acreditarem que os filhos encontrarão o próprio rumo, alguns
pais abrem mão de sua autoridade. Temem o rótulo de “careta”, e acham que as
crianças não podem ser tolhidas nas suas reações para se tornarem adultos
livres, sem traumas. Adultos que, quando crianças não tiveram limites,
mostram-se indecisos, inseguros, incapazes de persistir e lidam muito mal com
perdas e frustrações. Aprendem a manipular e mentir, como forma de obter aquilo
que desejam. Apresentam dificuldade em assumir responsabilidades, em manter o
que prometem. Pais ásperos cobram com agressividade comportamentos que fogem da
sua expectativa, mostram baixa manifestação de afeto, são incapazes de
reconhecimento e elogio. Seus filhos acabam por apresentar baixa estima, sentem-se
culpados, buscam esconder o medo dos desafios, ora mostrando conduta obediente
e passiva, ora rebelando-se e mostrando explosões emocionais sem motivo
aparente. nove Pais e filhos têm todo o direito de expressar irritação, medo e
raiva. Nem por isso podem bater atirar ou quebrar objetos quando estão
furiosos. Se os filhos vêm os pais discutindo, mas resolvendo os problemas,
podem aprender importante lição. As pequenas insatisfações podem ajudar a lidar
com outras, maiores, que a vida certamente trará. Os filhos precisam aprender
que podem ter raiva, mas não precisam odiar nem fazer comentários maldosos. Um
irmão pode sentir raiva do outro, mas os adultos não podem permitir que se
agridam fisicamente, briguem de forma violenta. Sentimentos e desejos são legítimos
e aceitáveis, mas muitos comportamentos não podem ser tolerados nem
estimulados. Essas crianças aprendem a se acalmar, concentrar-se no problema,
recuperar-se das frustrações. Na educação dos filhos, o grande desafio é
aprender a focar os problemas, sem agredir a personalidade do filho,
equilibrando atividade e firmeza. Comportamentos indesejados devem ser
desestimulados, mas as emoções não podem se sufocadas, reprimindo a ação sem
censurar os sentimentos. Se no passado os sentimentos eram vistos como prova de
fragilidade emocional, hoje não se pode negar que homens e mulheres,
independentemente do sexo, idade ou situação socioeconômica experimentam raiva,
medo e afeto. Os pais não fogem desta regra, e nem sempre sabem lidar de forma
afetiva com as emoções. Equilibrar afeto e limite parece ser o maior dos
desafios. O comportamento e postura dos pais quanto ao afeto e limite trazem
consequências muito importantes na educação e formação do caráter dos filhos.
1.3
DIREITOS E DEVERES
O art. 226, da Constituição da
República Federativa do Brasil (1988) diz que: “a família, base da sociedade,
tem especial proteção do Estado”. O art. 19, da Lei 8.069/90 dos Direitos
Fundamentais, diz que “toda criança ou adolescente tem direito de ser criado e educado
no seio de sua família e excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de entorpecentes”. Conforme se pode perceber na legislação, a
família é o que há de mais importante na vida da pessoa e, por essa razão,
todos os esforços devem ser feitos para proteger a família. Já O Estatuto da
Criança e do Adolescente, muito sabiamente, consagra em seu artigo 19 que toda
criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua
família. E digo que é sábia essa norma porque penso que os pais são os
principais educadores de seus filhos. E isso é assim porque existe uma relação
natural entre paternidade e educação. A paternidade consiste em transmitir a
vida a um novo ser. A educação é ajudar a cada filho a crescer como pessoa, o
que implica em proporcionar-lhes meios para adquirir e desenvolver as virtudes,
tais como a sinceridade, a generosidade, a obediência, honestidade, lealdade,
amizade, bondade, solidariedade, dentre muitas outras. Em tempos em que a
família está se transformando e grande parte das mulheres não tem mais tempo de
acompanhar integralmente os passos de seus filhos, qual seria realmente o papel
da família em relação a escola?
Para Içami Tiba O estudo é
essencial; portanto, os filhos têm obrigação de estudar. Caso não o façam,
terão sempre que arcar com as consequências de sua indisciplina, que deverão
ser previamente estabelecidas pelos pais. Só poderão brincar depois de estudar,
por exemplo. No que é essencial, os pais deverão dedicar mais tempo para
acompanhar de perto se o combinado está sendo levado em consideração. Os filhos
precisam entender que tem a responsabilidade de estudar e que os pais os estão
ajudando a cumprir um dever que faz parte da brincadeira da vida. Hoje, os
grandes responsáveis pela educação dos jovens – na família e na escola – não
estão sabendo cumprir bem seu papel. É a falência da autoridade dos pais em
casa, do professor em sala de aula, do orientador na escola. Dentro da família,
os pais são os maiores responsáveis pelos seus filhos e sempre respondem por
seus herdeiros, pelo menos até atingirem a maioridade. Todavia, no período
anterior à maioridade, os filhos já passam por diversas experiências e
responsabilidades, principalmente no período escolar. Neste período, a
participação constante dos pais e o acompanhamento intensivo do ensino de seu
filho são imprescindíveis para que a educação atinja os objetivos. A família e
a escola têm um papel muito importante no desenvolvimento mental, psicomotor,
social e afetivo do ser humano. Se a criança recebe uma boa educação obviamente
será bem sucedida e vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu
comportamento produtivo quando adulto, nesse contexto a família é a influência
mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter do cidadão.
Cabe aos pais perante a instituição escolar seguir algumas funções para que
venha favorecer o aprendizado de seu filho, se de fato querem que seus filhos
se tornem um bom estudante e futuramente um cidadão produtivo: - Prestar a
colaboração que lhes for exigida por parte dos professores para tornar mais
coerente e eficaz a atuação escolar, tanto no campo acadêmico estrito como no
mais amplo das atitudes e dos hábitos de comportamento que pretende fomentar
como parte do projeto educacional da escola. - Manter contatos periódicos com
os professores para ter conhecimento constante do processo educativo realizado
na escola. - Manifestar interesse pelas atividades que os filhos realizam na
escola, como expressão de sua preocupação pela atuação da instituição e de seu
apoio a ela. Dando a devida importância à escola e essa “assistência”, os pais
não estarão contribuindo apenas para um bom desempenho do professor em seu
trabalho, como também demonstrarão aos filhos, que têm interesse na vida
escolar e que dão valor no conhecimento e novas habilidades que desenvolve.
Esses fatores trarão muitos benefícios a todas as pessoas envolvidas no sistema
escolar. A participação da família, dos pais pode ser ainda maior, pois existem
Conselhos de classe, Associação de Pais e Mestres e muitos outros projetos,
eventos, festas e atividades em que os pais podem estar inseridos. Os pais
precisam dar o suporte necessário para que a escola possa fazer a sua parte e
deixar a sociedade, de uma maneira geral, satisfeita com os resultados obtidos
com essa parceria.
CAPÍTULO
2
ESCOLA
– INSTITUIÇÃO NECESSÁRIA PARA TRANSFORMAÇÃO
Mais do que as famílias a escola
tem buscado dialogar, aproximar, criar vínculos das pessoas entre si e delas
com a escola. Os encontros nos finais de semana acabam incorporando um tom de
informalidade que ajuda as pessoas a redefinirem no trabalho cotidiano os
papéis rigidamente definidos pela burocracia do sistema. Pode-se dizer que, até
o fim da Segunda Guerra, predominou no cenário brasileiro e mundial um modelo
de escola de tendência aristocrática caracterizado pela dificuldade de acesso e
de trajeto em seu interior. Portanto um modelo fechado e, em muitos aspectos,
semelhante aos hospícios e presídios, principais modelos totais de
enquadramento das pessoas a um modelo de sociedade. No início dos anos 50, a
escola de educação básica foi sacudida por demandas antes não presentes com tão
grande intensidade, a escola passa a ser democratizada. A escola até então
reservada a uma elite, tem de abrir a todos os interessados porque o acesso à
escola passou a ser o primeiro indicador de uma sociedade democrática. 17
Muitos autores se mostram preocupados e aborda a questão da gestão democrática
como solução para todos os problemas do atual sistema de ensino. Acredita-se
que a escola é um caminho, mas não o fim, que de nada adianta saber o que
fazer, sem saber, o como fazer. A participação da comunidade escolar deve ser
ativa nas ações, mas não podemos transformar os meios em objetivos. Todos
desejam uma escola mais democrática e participativa que prepare os alunos para
a cidadania e isso pode ser construído pelos que dirigem a escola e por toda a
comunidade escolar.
Libâneo, 2000, p. 7-13 afirma que:
[...] Os educadores são unânimes em reconhecer o impacto das atuais
transformações econômicas, políticas, sociais e culturais na educação e no
ensino, levando a uma reavaliação do papel da escola e dos professores.
Entretanto, por mais que a escola básica seja afetada nas suas funções, na sua
estrutura organizacional, nos seus conteúdos e métodos, ela mantém-se como
instituição necessária à democratização da sociedade [...] Percebemos que a
escola e seus responsáveis estão interessados na formação cultural e científica
para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação
autônoma, crítica e construtiva com a cultura em suas varias manifestações,
como o fortalecimento da sociedade civil, das entidades, das organizações e
movimentos sociais.
Libâneo (2000 pág. 9) Diz que:
“Não dizemos mais que a escola é a mola das transformações sociais. Não é,
sozinha. As tarefas de construção de uma democracia econômica e política
pertencem a várias esferas de atuação da sociedade, e a escola é apenas uma
delas. Mas a escola tem um papel insubstituível quando se trata de preparação
das novas gerações para enfrentamento das exigências postas pela sociedade
moderna ou pós-industrial, como dizem outros. Por sua vez, o fortalecimento das
lutas sociais, a conquista da cidadania, dependem de ampliar, cada vez mais, o
número de pessoas que possam participar das decisões primordiais que dizem
respeito aos seus interesses. A escola tem, pois, o compromisso de reduzir a
distância entre a ciência cada vez mais complexa e a cultura de base produzida
no cotidiano, e a provida pela escolarização. Junto a isso tem, também, o
compromisso de ajudar os alunos a tornarem-se sujeitos pensantes, capazes de
construir elementos categorias de compreensão e apropriação crítica da
realidade. Diante de tais exigências a escola mais do que nunca deverá está
preparada para fazer a diferença buscando uma educação que valorize o
conhecimento do aluno, fortalecendo uma melhor relação entre o processo ensino
aprendizagem em que diretores, equipe pedagógica, professores, funcionários,
alunos e pais devem estar envolvidos, oferecendo serviços de qualidade. Os
objetivos da instituição podem ser esses, mas será necessário explicitar que
essa escola não busca alcançar prioritariamente objetivos cognitivos. Embora
essas formas de ver a organização escolar possuam méritos, quando acentuam ora
os aspectos técnicos e gerenciais, ora os participativos, ora os sociais e
culturais, elas tendem a confundir objetivos e meios democráticos e participativos,
são meios, não fins. Na educação, a escola sempre teve um papel fundamental, e
hoje, além da função de ensinar para a cidadania e para o trabalho, tem também
que passar os valores fundamentais para a vida do indivíduo, sendo que esse
papel também deveria ser de comprometimento familiar. Com o tempo, foram sendo
atribuídas mais funções às escolas, Atualmente, as práticas educativas podem
ser definidas como o conjunto de atividades sociais por meio das quais os
grupos humanos ajudam seus membros a assimilar a experiência organizada
culturalmente e a se transformar em agentes de criação cultural. Desempenham um
papel fundamental na definição dos caminhos do desenvolvimento individual,
promovendo-o, orientando-o e dando-lhe conteúdo. O desenvolvimento escolar
recebe grande influência da sociedade, mas nem sempre participa e dá suporte à
educação, o que torna muito difícil a qualidade da educação. É relevante que a
sociedade dê subsídios à escola e que esta tenha o total apoio e participação
da família do educando. As transformações que estão ocorrendo dentro dos
valores da família e da sociedade fazem com que a escola perca o controle sobre
a maneira adequada que se deve educar, sendo que muitos fatores estão
influenciando na educação, e fazendo com que o trabalho da escola torne-se mais
complexo ainda e a sociedade passando-lhe atribuições que antes eram de
competência familiar. Com todas essas mudanças, fica difícil chegar num acordo
da função escolar. Ensinar educando ou educar ensinando? Diante desses fatos a
escola vem sofrendo cada vez mais influências e cobranças da sociedade, a qual
nem sempre auxilia para o bom desenvolvimento escolar da criança.
2.1
A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA
Atualmente, a relação família
escola tem sido alvo de discussões de teóricos da educação e, também, dos
diversos segmentos da sociedade, que apostam nessa relação, como um dos fatores
que deverão garantir o sucesso dos alunos em suas trajetórias escolares.
Geralmente, os professores reconhecem que a participação da família no acompanhamento
dos seus filhos/tutelados em suas vidas escolares é extremamente importante
para o bom desempenho dos alunos. Não obstante, quase sempre, essa expectativa
em relação à família transforma-se em acusação, delegando aos pais/responsáveis
total responsabilidade pelo mau desempenho do discente na escola. Complica-se
tal situação quando os alunos são oriundos de famílias de classes populares –
entre as quais se encontram os maiores percentuais de vítimas do chamado
fracasso escolares – visto que, em sua maioria, não se enquadram no modelo de
família considerado parâmetro pelos professores: o nuclear, composto de mãe,
pai e filho ou filhos residentes num mesmo domicílio, o que, na demografia,
denomina-se de grupo doméstico. Sem considerar a dinâmica das famílias de
classes populares – como se constituem, organizam-se, como vivem com os parcos
recursos econômicos provenientes de uma má e desigual distribuição de renda –
os profissionais da educação acreditam, de modo geral, que existem, entre
outras questões, duas fortes razões que levam os alunos a um mau rendimento
escolar: a primeira, é porque as famílias encontram-se “desestruturadas”; e a
segunda, deve-se ao fato de seus genitores/responsáveis não se envolverem, de
forma comprometida com a vida escolar de seus filhos. É frequente ouvir de professores
(as): “Os pais não se interessam pela vida escolar de seus filhos, por isso,
não os acompanham nas atividades escolares, não comparecem às reuniões e nem
procuram saber como estão no processo de aprendizagem na escola”. Não se pode
refletir sobre esta problemática, de forma reducionista. É preciso saber,
também, o que os pais/mães de famílias e/ou responsáveis pelas crianças têm a
dizer sobre sua aparente falta de compromisso com o acompanhamento dos respectivos
filhos na escola.
Assim, algumas questões devem ser consideradas
para o melhor entendimento dessa relação conflituosa: Quais os motivos que
levam os pais/mães ou responsáveis a não atenderem às solicitações da escola?
Que cuidados os pais/mães ou responsáveis tomam em relação à educação dos seus
filhos no cotidiano e, mais especificamente, nas suas vidas escolares? Eles
concordam com o que as professoras e professores afirmam sobre o rendimento
escolar de seus filhos ou tutelados? Teriam os pais/ mães ou responsáveis
condições efetivas de orientar as atividades de seus filhos? Em suas condições
materiais de existência, teriam os pais/mães ou responsáveis tempo para
acompanhá-los nas atividades escolares e comparecer às reuniões da escola? A
análise minuciosa das dificuldades de aprendizagem dos alunos, em suas
múltiplas dimensões, irá demonstrar que a situação de aprendizagem escolar é
complexa e não se esgota peremptoriamente com a acusação de que os
pais/responsáveis não cumprem o seu papel. É preciso considerar, portanto, os
diversos elementos que poderão ajudar na explicação de tal fenômeno. Mesmo
atentando para a situação num contexto mais abrangente, é preciso ter
consciência de que todas as análises apenas se aproximarão da complexidade da realidade
de forma parcial, não exaurindo, portanto, as possibilidades de ampliação e
compreensão da relação que se estabelece entre a família e a escola. A
compreensão dessa relação deve considerar onde se processa a dinâmica dessa
relação. Por isso requer uma análise a partir das diversas tipologias
familiares encontradas na rede pública de ensino, através da qual pode ser
verificada uma grande incidência de alunos das classes populares que são,
segundo os professores e professoras, desassistidos pelas famílias, em relação
ao processo educacional que vivenciam na escola. São diversas as tipologias
familiares encontradas nas redes municipal e estadual de ensino. Dentre essas
tipologias, podemos citar algumas: nucleares (pai, mãe, filho ou filhos),
reconstituídas (casais separados que contraem novas núpcias, muitas vezes
juntando filhos do casal anterior e gerando outros), monoparentais (chefiadas
por mulheres ou homens), casais gays que vêm reivindicando o direito de
constituir uma família do tipo nuclear (pai e pai ou mãe e mãe), com filhos
adotivos ou naturais, entre outras. Essa multiplicidade de tipologias
familiares vem sendo diluída, pelo menos no que se refere às intenções da
escola, num único modelo – a família nuclear.
Entendemos que as soluções para os
problemas devidos ao encontro escola e família poderão ocorrer quando as
problemáticas vivenciadas por essas duas instituições forem devidamente
elucidadas ou, pelo menos, compreendidas. Pretendemos, portanto, no presente
trabalho, cujo título é: Escola e família: um encontro de relações
conflituosas, refletir sobre a origem dos conflitos existentes entre a escola e
a família e que influência têm os conceitos que os professores constroem sobre
família, na relação entre essas duas instituições. A problemática em foco tem
nos inquietado em nossa trajetória de professor e, principalmente, nos últimos
cinco anos, nos quais temos nos dedicado ao trabalho realizado num Curso de
Licenciatura em Ensino Fundamental, da Universidade Estadual de Feira de
Santana, que atende a professoras e professores da rede pública de ensino
(estadual e municipal), cujas práticas docentes se realizam nas séries iniciais
do ensino fundamental. A convivência estabelecida desde o ano 2000, com
professoras(es) em formação e ao mesmo tempo em exercício no magistério, tem
nos enriquecido, possibilitando-nos uma aproximação razoável das questões
vivenciadas por essas(es) professoras(es) do ensino fundamental, das séries
iniciais, que, no geral, têm atribuído as responsabilidades do insucesso
escolar, entre outros motivos, às famílias dos seus alunos. O presente texto,
conforme já afirmamos, é resultante de um projeto, de nossa autoria
desenvolvida em parceria com outros colegas docentes ligados à Universidade
Estadual de Feira de Santana (UEFS) e à Universidade do Estado da Bahia (UNEB),
intitulado: Transformações das Famílias e Processo de Socialização: a dinâmica
das relações educativas nas famílias recompostas. No momento em que a educação
brasileira tem tomado novos rumos, sobretudo, a partir da busca de
aprofundamento da relação entre família e escola, acredita-se que a reflexão
aqui proposta poderá contribuir, significativamente, na indicação de pistas e
caminhos para a construção de uma educação mais eficaz, na qual, tanto a
família quanto a escola deverão ter uma maior clareza de seus papéis, em
relação à formação de cidadãos mais atuantes e mais capazes de transformar a
realidade na qual estão inseridos. Através da leitura dos vários autores que
vêm pesquisando sobre temas que tratam da relação entre escola e família:
D’Ávila (1998), Cunha (2000), Marini (2000) entre outros, percebe-se que
existem muitas lacunas a serem preenchidas nesse campo de investigação, entre
as quais, detectamos a ausência de trabalhos que se preocupem com a forma como
os professores estabelecem relações com as famílias de seus alunos, a partir
dos conceitos que constroem ou carregam no seu imaginário, sobre o que é
família. Assim, com a finalidade de contribuir com elementos que ajudem no
preenchimento dessas lacunas, buscaremos refletir sobre a seguinte questão:
Qual a origem dos conflitos existentes entre a escola e a família e que
influência têm os conceitos que os professores constroem sobre família, na
relação entre essas duas instituições.
2.2
A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A FAMÍLIA E A TRAJETÓRIA ESCOLAR DAS CRIANÇAS
Neste capítulo, abordaremos a
importância da família em acompanhar o desenvolvimento escolar da criança e
como o docente pode ajudar nesta relação. Como vimos anteriormente, as
formações familiares mudaram com o passar do tempo e nos dias atuais não é mais
considerado família somente aquele modelo nuclear com pai, mãe e filhos. Também
observamos que a importância referente à participação da família no âmbito
escolar, se constitui como um fator primordial para o sucesso da criança e a
efetivação da escola em ensinar os conhecimentos produzidos historicamente pela
humanidade. Assim, se os familiares demonstram se importar com o bom rendimento
escolar dos seus filhos, se fazendo presente e auxiliando no processo de
aquisição de conhecimentos, a trajetória escolar poderá ter novo significado. A
importância dos pais na vida escolar dos filhos É importante destacar que
quando nos referimos ao termo “pais”, estamos falando de todos os responsáveis
pelas crianças, seja pais naturais e biológicos ou pais adotivos, assim como,
todos aqueles responsáveis que se enquadram nas novas formações familiares que
se apresentam no contexto da sociedade em que vivemos e que foram abordados no
capítulo anterior. Assim sendo, observamos que as escolas e instituições
educacionais, por sua vez, também necessitam estar “abertas” a estas novas
formações familiares para que a relação escola família se estabeleça, ou seja,
uma boa relação, onde o respeito e o não preconceito estejam sempre presentes,
para que os estudantes e futuros cidadãos sejam acompanhados e orientados na
sua formação. Haja vista que, uma relação entre duas instituições tão
importantes como a escolar e a familiar não pode ser estabelecida na forma de
autoritarismo em que somente uma das partes está sempre certa e/ou fechada para
qualquer diálogo.
Segundo a autora Zagury (2002), em
sua obra “Escola sem conflito: parceria com os pais”, as relações entre pais e
escola sofreram e sofrem transformações com o passar dos tempos. Portanto, de
acordo com a autora: Durante cerca de dois séculos, a família e a escola
viveram uma verdadeira lua de mel. O que a escola pensava era o que os pais
pensavam. O que a escola determinava ou afirmava, fosse em termos de tarefas,
atribuições e até mesmo de sanções, era endossado e confirmado pela família.
(ZAGURY, 2002, p.11).
Assim, mesmo que houvesse
desigualdade nas relações de poder entre professores, diretores e alunos,
devido ao sistema “bancário” de ensino em que os educadores sempre eram o
centro do saber e os alunos depósitos de conhecimento, os pais sempre endossavam
as atitudes provenientes dos professores e da escola em geral, sem
questionamentos. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, a delegação da
educação dos filhos a terceiros e a perda de autoridade do adulto perante a
criança (KRAMER, 2000), a relação entre escola e família sofreu abalos. Por não
dar conta de toda a demanda advinda de uma educação que seria responsabilidade
dos pais, muitas vezes a escola culpabiliza a família pelo fracasso, insucesso
e indisciplina do aluno. Por outro lado, por cobrar da escola maior
comprometimento na educação, pais culpabilizam escolas, professores e diretores
pelos acontecimentos indesejados com seus filhos. Assim, mesmo com objetivos
comuns, nos dias atuais a relação família escola tem enfrentado diversos confrontos
e até a perda da confiança que outrora existiu em relação ao seu trabalho e
importância. Isso ocorre principalmente, por vários motivos distintos, ou seja,
em relação à família, podemos identificar dois extremos: um é aquela família
que discorda de tudo, pois desconfia de professores e profissionais da educação
em quase tudo e outro aspecto é aquela família totalmente ausente, a qual
atribui à escola de forma integral a responsabilidade da educação dos filhos.
Com relação à escola o assoberbamento de funções e atribuições, muitas vezes em
variadas instituições de ensino que muitos professores têm nos dias de hoje,
além de uma formação docente precária, que deixa muito a desejar em diversas
áreas do conhecimento, colabora para que os pais, hoje mais letrados, passem a
desconfiar da escola e do ensino que a mesma oferece. (ZAGURY, 2002).
Além de muitos outros fatores que
podem contribuir para prejudicar a relação família/escola, os quais não vamos
citá-los, pois o nosso objetivo não é nos deter nas causas do confronto e sim
discutir a importância desta relação na vida das nossas crianças e como
enfrentar sem preconceitos mútuos qualquer dos problemas que possa inviabilizar
esta relação. Já que, Se as duas maiores agências educacionais encontram-se em campos
opostos, dicotomizados, o perigo de novas gerações ficarem no meio de uma
disputa sem o menor sentido é real. E mais: é sério. Urge, portanto, [...] que
nossos filhos lucrem com esta visão esclarecida e tranquila, que é como deve
ser o olhar dos pais sobre a escola: um olhar que desvele uma parceria
necessária. (ZAGURY, 2002, p.16). Sendo que, “[...] educação é a permissão para
o que se pode e o que não se pode fazer” (MARTINS, 2007, p.79). Assim, como
determinar estas regras e quem determina as mesmas, se baseia na discussão
sobre quais conceitos culturais, psicológicos e familiares estão sendo
colocados numa sociedade em que segundo o pediatra José Martins Filho, a
criança está cada vez mais terceirizada. Já que, vivemos numa sociedade que
tende a perpetuar muito mais o ter do que o ser e onde em muitos casos a mulher
é o chefe da família e mesmo que ela queira, a necessidade de manter as
provisões necessárias para a própria subsistência, a coloca o dia todo longe de
seus filhos, que se pertencem a classe média ou alta, muitas vezes são
sobrecarregados de atividades como: ir à escola de inglês, tênis, judô,
futebol, e outras tantas atividades que os ocupem o dia todo. E se pertencem a
classes economicamente desfavorecidas, o problema pode se agravar, pois em
muitos casos, as crianças ficam em total abandono ou nas ruas, entregues a
própria sorte. Assim, ocorre também “[...] a terceirização da educação,
conferida às escolas que, por sua vez, não querem essa função e nem sempre
estão preparadas para exercê-la”. (MARTINS, 2007, p.92). Numa sociedade que não
podemos dizer se é patriarcal ou matriarcal e que o que prevalece é uma
ausência de definição de papéis, de quem vai assumir o que em relação à família
ou aos filhos, e que, segundo o psicanalista e professor Raymundo de Lima (
MARTINS, 2007), é culpa da sociedade capitalista que vivemos hoje, quando
afirma que: “A sociedade capitalista corroeu, por um lado, a autoridade do pai
e por outro lado, sequestrou a mãe para o trabalho, impedindo-a de dar o necessário
colo ao filho”. (MARTINS, 2007, p.95). Esta visão da sociedade pode explicar as
causas da difícil relação escola família, no entanto, não se pode esperar que a
escola seja a única responsável por toda a educação de uma criança, pois toda
escola tem como “[...] especificidade, a obrigação de ensinar bem conteúdos
específicos de áreas do saber, escolhidos como sendo fundamentais para a
instrução de novas gerações”. (SZYMANSKI, 2010, p.99). E que por sua vez, devem
ser ministrado com responsabilidade, respeito e confiança, pelos professores. O
que é diferente de carinho maternal, acolhimento e acompanhamento, o qual deve
ser dado pelas famílias. Seja ela pertencente a qual formação contemporânea
for, ou tenha menos ou mais tempo disponível para exercê-la. Sendo que, “[...]
não repetiremos suficientemente jamais que sem uma estreita colaboração entre
os professores e pais as aprendizagens não se darão facilmente para todos”.
(CHARMEUX, 2000, p.114).
Assim, pais e professores são
partes complementares do sistema educativo, e desta forma não podem ser
divergentes, conflitantes ou então trabalharem de forma isolada. Nesse sentido,
os pais interagindo com a escola e com os professores auxiliam seus filhos na
elaboração de suas aprendizagens, não fazendo o papel dos professores sendo
meros repetidores do trabalho escolar, mas sim colaborando para que a educação
escolar possa ter continuidade no espaço familiar. Já a escola necessita ser
uma instituição responsável pelo ensino dos conhecimentos, atentando-se para o
fato de que a constituição da subjetividade da criança se faz tanto na
interação com a família quanto na interação com a escola. Portanto, a relação
que une os pais à escola não pode ser de concorrência, mas também não pode ser
de dependência, ou seja, o professor não pode substituir os pais, desempenhando
o seu papel e em contrapartida os pais não devem assumir o que é de
responsabilidade da escola, mas sim auxiliar naquilo que se refere a
continuidade da aprendizagem escolar no espaço familiar, já que a função dos
pais é essencial e insubstituível, mesmo antes da escola e independente desta.
De acordo com Szymanski (2010, p.99) “[...] as famílias têm de dar acolhimento
a seus filhos: um ambiente estável, provedor, amoroso”. E também ser um exemplo
de superação das dificuldades, no sentido de orientar os filhos para as
vivências que terão fora de casa, sem violência, mas sim considerando o diálogo
como forma de educação. No entanto, sabemos que muitas famílias não conseguem
fazer isso devido a questões pessoais, sociais e até por questões econômicas,
pois a miséria é cruel e traz com ela muitos empecilhos para que as famílias
possam ter o equilíbrio necessário para apoiar seus filhos. Para isso existem
muitos serviços de atenção às famílias carentes, como o CRAS (Centro de
Referência em Assistência Social), em muitos municípios e serviços de saúde que
em muito podem ajudar as famílias com dificuldades. (SZYMANSKI, 2010).
Entretanto, sabemos que muitos pais, principalmente os pertencentes à classe
economicamente e culturalmente desfavorecida enfrentam dificuldades para buscar
estas instituições que oferecem ajuda em virtude de seu baixo nível de
instrução e escolaridade. Assim, os conflitos entre famílias e escolas podem
advir das diferenças de classes sociais, valores, crenças, hábitos de interação
e comunicação subjacentes aos modelos educativos. Tanto crianças como pais
podem comportar-se segundo modelos que não são os da escola. (SZYMANSKI, 2010,
p.103).
Porém, as relações familiares dos
alunos provenientes das classes socialmente favorecidas também podem apresentar
problemas, pois muitas vezes os pais se ausentam de suas responsabilidades,
compensando-as pelo excesso de presentes e bens materiais. Nesse sentido, a
escola precisa buscar mudar o olhar em relação aos alunos, provenientes de
famílias `desestruturadas e ao invés de simplesmente rotulá-los de forma
preconceituosa, a mesma deve buscar encontros que resultem em busca de novos
caminhos e soluções. (SZYMANSKI, 2010). E o papel dos pais na aquisição da
leitura e da escrita como já dissemos anteriormente, é de suma importância que
haja a participação da família no contexto escolar dos filhos, de forma
complementar ao trabalho realizado na escola. Um trabalho conjunto, em que a
participação dos pais é essencial e insubstituível. No entanto, esta
participação dos pais no processo de aprendizado de seus filhos, se dá muito
antes da criança entrar na escola. Sendo que, o meio que cerca esta criança
influenciará diretamente no seu aprendizado na escola, pois no que concerne ao
aprendizado da leitura, por exemplo, a criança terá um maior interesse em
aprender a ler, se em seu meio familiar a mesma está acostumada a ver seus pais
lendo e se estes momentos de leitura estiverem relacionados com lembranças de
prazer e situações de vida cotidiana, ou seja, “[...] a maneira através da qual
a “coisa escrita” é recebida em casa determina em grande parte o modo pelo qual
a criança vai recebê-la. (CHARMEUX, 2000, p.115).
Porém, é a escola que tem a função
de ensinar as crianças a ler e a escrever, adensando os conhecimentos que
trazem de suas experiências familiares com a leitura. Assim, podemos dizer que
a presença de amostras escritas em casa e a variedade de materiais escritos já
é o início da ajuda que os pais podem oferecer a seus filhos. A diversidade de
situações em que é demonstrada à criança a funcionalidade da escrita, em que os
filhos vêm seus pais fazerem uso da escrita em diversas tarefas como: a escrita
de uma receita culinária, a leitura de uma receita que será feita conjuntamente
com a criança, a leitura das instruções de como utilizar um produto de limpeza
ou a validade de um alimento, as placas indicativas de um caminho e até manuais
explicativos que acompanham diversas 33 máquinas que adquirimos como eletrodomésticos,
são situações constitutivas da aprendizagem das crianças e que favorecem o
trabalho do professor em sala de aula. Portanto, nesses momentos tão comuns da
vida de qualquer pessoa, se encontram preciosos momentos dos pais demonstrarem
as várias funções da escrita e da leitura e com isso despertarem a curiosidade
da criança em querer também aprender. Há tempos “[...] os especialistas
insistem na necessidade de ler livros às crianças bem cedo” (CHARMEUX, 2000,
p.118). Estes momentos de leitura devem estar relacionados com momentos de
prazer. Ao ouvir diversas histórias que podem também proporcionar momentos de
conversação, troca de confidências, finais alternativos e improvisados, a ponto
da criança ter o desejo de ela própria se dar este prazer, aprendendo a ler, é
um caminho interessante para que a criança desde cedo perceba a função social
da escrita. Um exercício válido que pode ser feito pelos pais é o
enriquecimento de um filme com a confrontação do livro que o originou. Esta
atividade é uma forma de se demonstrar a criança que uma mesma história pode
ser reescrita com mais de uma adaptação e um ponto de vista. Assim, futuramente
pode ser que a criança não vá enfrentar dificuldades em reescrever histórias ou
falar das diferenças pessoais que cada versão de uma mesma história pode
apresentar. “Ter lembranças que associem prazer e cultura na mais tenra idade
significa uma possibilidade maior de sucesso escolar”. (CHARMEUX, 2000, p.119).
Outra possibilidade está em tornar momentos familiares em momentos de prazer e
descoberta relacionados à leitura, indo visitar bibliotecas, livrarias, bancas
de jornal e revistas etc. Já que, [...] ensinar as crianças, assim, a alimentar
suas opiniões de leituras, e de leituras diferentes, ensiná-las a nunca se contentar
com uma única visão dos problemas, uma única abordagem das questões. Trata-se
de formar o espírito na busca incansável da informação, na desconfiança em
relação às evidências, na busca de opiniões diferentes para formar uma idéia
das coisas; de fazer a criança desprezar o que é apressado, dogmático, mais ou
menos os lugares-comuns, as afirmações sem provas, os princípios absolutos.
[...] Ter “o espírito livre” implica tudo isso. (CHARMEUX, 2000, p.122). O
conhecimento e a boa relação com os livros geram inclusive a preservação do
mesmo, quando utilizado em comum com outros principalmente, já que se o mesmo
lhe dá prazer à tendência é não estragá-lo, respeitando o seu valor e
importância. Quanto à ajuda que os pais podem oferecer aos filhos que já frequentam
a escola, podemos dizer que interessar-se por ela já é um bom começo. No
entanto, interessar não quer dizer vigiar. Já que vigiar está relacionado
diretamente com desconfianças e com ameaças.
Ajudar uma criança no trabalho escolar, instruindo, fornecendo pistas e
prestando atenção em seus avanços e retrocessos pode se configurar numa boa
relação com a escola, com o conhecimento e com aquilo que a professora ensina
em sala de aula. Na verdade, a criança tem necessidade de que a tranqüilizemos,
de que lhe provemos que ela tem os meios de fazer o que lhe é proposto, de que
lhe provemos que ela fez bem o que o professor lhe pediu para fazer, não de que
lhe compliquemos a vida já bastante complicada. (CHARMEUX, 2000, p.127). Além
disso, quando os pais se aproximam da escola e do professor, acompanhando
diariamente os cadernos e as anotações de seus filhos, a parceria com a escola
tende a dar certo. Participar de eventos, festas e exposições que a escola
elabora também é uma atitude interessante, pois é inteiramente necessário para
o equilíbrio e o sucesso da criança que as “[...] duas partes educativas
encarregadas de seu futuro trabalhem em colaboração”. (CHARMEUX, 2000, p. 126).
De forma que, cada parte responsável pela criança, ou seja, família e escola busquem
juntas as soluções necessárias para que a trajetória escolar da criança seja
tranquila e enriquecedora. Nesse sentido, é interessante que a escola na
parceira com a família mostre a importância da aprendizagem dos conhecimentos
do mundo pela criança para que, mesmo os pais que por várias situações de vida
não tiveram a oportunidade de estudar, tenham a visão da importância que os
estudos podem fazer por seus filhos, até para interromper muitas vezes um
círculo vicioso, o qual afasta a criança da escola e perpetua o analfabetismo
no nosso país.
CAPÍTULO
3
REFLETINDO
SOBRE A FAMÍLIA E SUA HISTORICIDADE
A ideia de que tudo quanto existe
na sociedade resulta de elementos naturalmente dados está presente no
imaginário social, desconsiderando, portanto, a dinâmica histórica, fazendo
parecer que as transformações da estrutura social não podem se realizar por via
da luta dos sujeitos históricos, e sim através do velho lema “ordem e
progresso”, defendido pelo positivismo clássico. Tal posição pode ser considerada,
em primeiro lugar, como resultante de uma certa ingenuidade, no caso do senso
comum; e em segundo lugar, poderá ser vista como mecanismo ideológico, que tem
como intenção deliberada a manutenção do status quo da sociedade, ou seja,
interessa a quem está no poder que as pessoas menos avisadas pensem que desde
“o início as coisas sempre foram assim” e não poderão mudar.
Neste contexto, as instituições
sociais configuram-se, aparentemente, como imutáveis, ingeridas e, portanto,
eternas. Entidades que parecem ser inalteráveis no transcorrer do tempo. Assim,
a família ocidental, instituição que vem sofrendo profundas transformações e
conotações, a depender da formação social e do contexto histórico, parece ter
uma única definição. Aquela ligada ao sentido de núcleo: família nuclear
formada por pai, mãe e seu respectivo filho ou filhos, residentes num mesmo
domicílio. Tal concepção mascara, ignora ou esconde outros arranjos familiares
que vêm sendo forjados no decurso da história da humanidade, além de levar a
uma tendência à naturalização, como afirma Bruschini (1993, p. 50): A tendência
à naturalização da família, tanto no nível do senso comum quanto da própria
reflexão científica, que leva à identificação do grupo conjugal como forma
básica e elementar de toda família e à percepção do parentesco e da divisão de
papéis como fenômenos naturais, criou, durante muito tempo, obstáculos de
difícil transposição para sua análise. Felizmente, alguns estudos vêm buscando
romper com a concepção de naturalização da família.
Para Ariés (1981), o modelo de
família nuclear, como socializador das crianças, só passou a ser constituído a
partir do século XVIII, o que rompe com o mito de que a instituição familiar
nuclear é algo que sempre existiu na sociedade ocidental. Para explicar a sua
afirmação, Ariès (1981, p. 226) lança mão do modelo de família vivido na
Inglaterra do século XV, como se pode ver a seguir: A falta de afeição dos
ingleses manifesta-se particularmente em sua atitude com relação às suas
crianças. Após conservá-las em casa até a idade de sete ou nove anos (em nossos
autores antigos, sete anos era a idade em que os meninos deixavam as mulheres
para ingressar na escola ou no mundo dos adultos), eles as colocam, tanto os
meninos como as meninas, nas casas de outras pessoas, para aí fazerem o serviço
pesado, e as crianças aí permanecem por um período de sete a nove anos
(portanto, até entre cerca de 13 e 18 anos). Ariès (1981) ressalta, também, que
até a metade do século XV, as representações de família e de infância eram
ausentes na cotidianidade. A criança era vista como um “adulto em miniatura”,
havendo um único mundo, para adultos e para crianças, sendo a aprendizagem
processada através da interação direta. No Brasil, pelo menos a partir da
colonização portuguesa no Século XVI, a família constitui-se através de um
caráter patriarcal e escravocrata, cujas características principais
constituíam-se no encontro não tão amistoso das três principais raças (etnias):
indígena, negra e branca, com seus costumes e contradições, conforme é
esclarecido num trecho do livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre
(1933, p. 369): Primeiramente eu estou persuadido, escrevia em 1837 no seu
jornal O Carapuceiro o padre-mestre Miguel do Sacramento Lopes Gama, ‘que
escravaria que desgraçadamente se introduziu entre nós, é a causa primordial da
nossa péssima educação e em verdade quais os nossos primeiros mestres? São sem
dúvida a africana, que nos amamentou, que nos pensou, e nos subministrou as
primeiras noções, e quantos escravos existiam na casa paterna em a tudo nos
inocula essa gente safara, e brutal, que à rusticidade da selvageria une a
indolência, o despejo, o servilismo próprio da escravidão.
Em outra passagem, Freyre (1933, p. 371)
continua a descrição da vida cotidiana da família patriarcal: À mesa patriarcal
das casas-grandes sentavam-se como se fossem da família numerosos mulatinhos.
Crias. Malungos. Moleques de estimação. Alguns saíam de carro com os senhores,
acompanhando-os aos passeios como se fossem filhos.[E às vezes o eram mesmo]
[...]. Quantas mães pretas, referem as tradições o lugar verdadeiramente de
honra que ficavam ocupando no seio das famílias patriarcais. Alforriadas,
arredondavam-se quase sempre em pretalhonas enormes. Eis alguns traços da
origem da família brasileira, que não se constituíram como únicos, mas, pelo
menos como integrantes de um modelo hegemônico, visto que essas raízes
impregnaram, e muito, a formação dessa família. Contudo, como qualquer
instituição social, a família brasileira foi se modificando com o passar do
tempo. Tornando-se uma categoria bastante heterogênea, no que tange a sua
composição.
Conforme nos esclarece Bruschini
(1993, p.76): As famílias foram conceituadas como unidades de reprodução
social, incluindo a reprodução biológica, a produção de valores de uso e
consumo -, inseridas em determinado ponto da estrutura social, definido a
partir da inserção de seus provedores na produção. Foram definidas também como
unidades de relações sociais, no interior das quais os hábitos, valores e
padrões de comportamento são transmitidos a seus novos membros, configurando
assim unidades de socialização e de reprodução ideológica. São espaços de
convivência nos quais se dá a troca de informações entre os membros e onde
decisões coletivas a respeito do consumo, do lazer e de outros itens são
tomadas. Nesse sentido, são também unidades nas quais os indivíduos maduros se
ressocializem a cada momento, revendo e rediscutindo seus valores e
comportamentos na dinâmica do cotidiano [...]. É também um grupo social
composto de indivíduos diferenciados por sexo e por idade, que se relacionam
cotidianamente, gerando uma complexa e dinâmica trama de emoções [...].
Bruschini (1993) chama a atenção
sobre o conceito de família, que, segundo ela, não cabe apenas numa forma
simplista de definição, por isso opta, como se vê, por buscar formular um
conceito das diversas formas de ser da família, com suas complexidades e
contradições inerentes à sociedade atual. Até pouco tempo, conceituava-se
família utilizando-se como parâmetro o modelo dominante: nuclear e burguês, mas
outros conceitos foram surgindo conforme vimos, posto que, numa determinada
sociedade os modelos de família não são e nem podem ser homogêneos. A esse
respeito, Fonseca (1989) afirma ser a ideologia liberal como um dos elementos
responsáveis pelo desenvolvimento da família, que traz em seu seio a imagem de
infância despreocupada, como fase privilegiada da vida, durante a qual adultos,
por amor materno ou paterno, e não por interesse pessoal, assumem a
responsabilidade pelo sustento e educação das crianças.
Macedo (2001, p.37) é da opinião
que: Temos uma representação social comum do que é uma família e desta como
condição não apenas para a produção mas para a reprodução dos seres humanos – o
que implica a formação de uma ideia acerca de um ambiente harmônico, repleto
das condições ‘ideais’ ao desenvolvimento de seres saudáveis e equilibrados. No
entanto, este é um modelo familiar que pouco tem a ver com a realidade
vivenciada pela maior parte da população. Assim, a família de classes populares
cria uma dinâmica social peculiar, cujas práticas são bem diferentes da lógica
difundida pelo modelo dominante.
Segundo Fonseca (1989), as mães de
classes populares, tendo que trabalhar fora para ajudar no sustento da família,
raramente tinham a oportunidade de se dedicar inteiramente aos seus filhos.
Além disso, havia uma fluidez dos limites da unidade doméstica, com extensa
rede de parentesco, instabilidade conjugal e a circulação de crianças em
famílias adotivas (visando seu sustento, ao mesmo tempo em que prestava e
aprendia serviços domésticos). Com isto, nas primeiras duas décadas do século
XX, diferentemente do que acontecia no seio das famílias abastadas, as
condições socioeconômicas da população trabalhadora dificultaram a formação de
uma família nuclear como unidade doméstica, considerada como principal grupo
socializador de crianças. Atualmente, as condições de vida dos grupos populares
continuam não facilitando o estabelecimento de uma família nuclear, estável e
íntima, tal como está impregnado na mentalidade e no ideal das classes
dominantes, e até mesmo no imaginário das classes populares, o que faz com que
aquele modelo de família nuclear apresente-se como entidade natural, e que deve
ser colocado como o único possível. Tal postura, tão praticada, nega elementos
importantes das identidades históricas de diferentes grupos e suas respectivas
organizações familiares. Sendo assim, as noções do “eu” e do “outro”, base das
relações sociais (a relação família e escola aqui se insere), encontram-se
extremamente limitadas pela ideologia dominante. Esse comportamento ampara-se
na justificativa de que existe um padrão de superioridade (modelo de família)
que se sobrepõe a outros tantos. Dessa maneira, menosprezam-se os padrões
advindos de outros grupos, que são considerados como desviantes, como errados
e, em alguns casos, até imorais. Atitudes estas preconceituosas e excludentes.
Preconceitos, na perspectiva de
Heller (1992), são juízos permanentes, por meio dos quais os indivíduos são
rotulados e estereotipados e têm suas características ignoradas, por não
estarem de acordo com a idealização, com o estereótipo atribuído àqueles
sujeitos. A maior produtora de preconceitos é, sem dúvidas, a classe dominante,
que pretende, com isso, manter a coesão de uma estrutura social, da qual ela
mesma se beneficia. Além de querer enquadrar as famílias num único padrão
hegemônico, as diversas instituições (religiosas, escolares, entre outras)
acabam por ignorar outras estruturas surgidas com o advento das profundas
transformações da sociedade brasileira. Isso faz com que, no caso da escola,
queira-se homogeneizar os comportamentos dos seus alunos, que são oriundos das
mais diversas situações. No meio dessa complexidade social que vem sofrendo
transformações vertiginosas, configuram-se os vários tipos de famílias,
conforme anunciamos anteriormente: nucleares, reconstituídas, mono parentais
(chefiadas por mulheres ou homens) e casais gays entre outros modelos
emergentes. Essas multiplicidades de tipologias familiares vêm sendo
desconsideradas e/ou desprezadas pela escola em favor de um único modelo – a
família nuclear.
3.1 FAMÍLIA IMAGINADA E FAMÍLIA REAL –
LOCALIZANDO O CONFLITO
Acreditar que o modelo de família
nuclear, concebido pela escola, é o único viável interfere, decisivamente, nas
relações dos professores com seus alunos e com os familiares destes, uma vez
que esta é uma forma de ser e de estar segundo a ideologia dominante, e não
corresponde, necessariamente, às realidades vivenciadas pelas diversas
tipologias familiares. É preciso buscar compreender que essas famílias são
oriundas de diversas categorias sociais, necessariamente articuladas a um
contexto histórico específico. Assim, há que se considerar fatores, como,
gênero, classe, raça, dando-se destaque para a questão de gênero, considerando
essa categoria, na perspectiva de Scott (1990, p. 14), como a que vem responder
a uma necessidade de desnaturalizar a desigualdade entre mulheres e homens,
revelando sua dimensão de constructo social, conforme esclarece a clássica
definição: gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre
as diferenças percebidas entre os sexos, e [...] é um primeiro modo de dar
significado às relações de poder.
Nesse conceito, Scott (1990)
ressalta a importância da percepção e representação das diferenças (da
linguagem, dos símbolos, das doutrinas, etc.) e da significação do gênero como
campo de articulação de poder. É neste sentido que ressaltamos a importância de
se considerar as famílias de classes populares, procurando verificar como essas
têm sido percebidas pelos professores – se é que há essa procura de percepção,
e a partir dos resultados, procurar entender a luta acirrada vivida atualmente
entre a escola e a família. Quanto à contenda entre as duas instituições, Cunha
(2000, p. 447) afirma que elas encontram-se em profundo conflito: [...] Se
perguntarmos aos pais, possivelmente obteremos uma extensa lista de
insatisfações quanto à escola que cuida de seus filhos. Se fizermos a
interrogação aos professores, é provável que estes apontem inúmeros aspectos em
que as famílias deixam a desejar. No momento, vemos intensificado esse
confronto por causa dos inúmeros fatos que compõem o lamentável quadro de
violência que atinge as instituições e a todos preocupa. Mesmo diante desse
conflito vivido entre escola e família, os pais ainda confiam na escola como
instituição que não só deverá instruir seus filhos, como também deverá
educá-los. Tal atitude pode suscitar a crença de que a família quer se ausentar
de suas responsabilidades. Não obstante, o que pode estar acontecendo é que a
falta de interlocução entre a escola e os diversos tipos de composições
familiares tem dificultado a relação entre as partes. Frente a essa problemática,
por que então as famílias continuam confiando a educação de seus filhos às
escolas, mantendo-os nestas instituições?
Segundo estudos de Gusmão (1995) e
o de D’Ávila (1998), a escolaridade é vista em famílias de classes populares,
como fator de melhoria de condições de vida para os descendentes, levando,
portanto, ao investimento na sua escolaridade, mesmo quando estes resultados
apontam para um caminho do chamado fracasso escolar. Há, portanto, indícios de
que as famílias guardam sempre uma esperança de ascensão social mediante a
educação formal. Um outro elemento que dificulta a relação família e escola
caracteriza-se pelas dificuldades existentes nas relações de gênero entre mães
e educadoras. Estes dois lados vivem em constante disputa em relação ao mando
da criança. Nesse sentido, a maternagem, o trabalho doméstico e o trabalho
assalariado estariam sempre em pauta, entre as atribuições da mãe e as
responsabilidades das educadoras, mais do que a própria criança, pois a mãe é
que seria avaliada em sua maternagem pelas educadoras, que sentem a necessidade
de desqualificar o tipo de educação proveniente da mãe e reafirmam o papel
profissional que desempenham. A despeito das acusações provenientes da escola,
a respeito da negligência das famílias de classes populares, em relação aos
seus filhos.
Marini (2000, p. 4) diz:
Fragilizando a lógica da escola, sobre uma das causas do fracasso escolar ser a
indiferença das famílias para com os estudos das crianças, aspecto a destacar
da investigação, é que as mães, embora não comparecessem às reuniões, não
deixavam de acompanhar os estudos de seus filhos. Mesmo encontrando-se na
condição de analfabetas, as mães criavam formas próprias de acompanhar seus
filhos na escola, como por exemplo, olhar a quantidade diária produzida no
caderno e observar a leitura da criança na televisão. A ajuda dos irmãos mais
velhos nas atividades escolares das crianças apresentava-se como principal
recurso das mães para apoio dos filhos em questão. Estudos têm apontado que, ao
contrário do que acusa a escola, os pais/responsáveis pelos alunos têm se
ausentado da escola, não por desinteresse, mas, porque se sentem inferiorizados
por estarem, muitas vezes, na condição de analfabetos e, também, pela vergonha
que experimentam quando são expostos juntamente com seus filhos nas reuniões da
escola, além de estarem, quase sempre, envolvidos na luta pela sobrevivência.
Mesmo vivenciando essas dificuldades, muitos pais/responsáveis acabam por
assumir que o fracasso escolar dos filhos passa pela “ignorância” deles, em
relação ao mundo das letras. É aquela antiga justificativa que “fulano não tem
cabeça, não aprende, não tem jeito, é como o pai/mãe”. Atributos forjados, na
maioria das vezes, pela inabilidade da escola em lidar com seus alunos e suas famílias,
oriundos de diversas camadas da sociedade, entre as quais, as classes de baixa
renda. Esta atitude, segundo Brandão (1995), é oriunda de uma ideologia que
forma o discurso do sujeito ao mesmo tempo em que o faz acreditar que o seu
discurso é próprio de si mesmo.
CAPÍTULO
4
FAMÍLIA E ESCOLA
A família: Uma breve abordagem A família
corresponde a uma sociedade que existe há muito tempo, para ser mais claro,
desde a pré-história. Durante esse período os homens já eram considerados os
líderes da família. Por serem mais fortes e serem o símbolo de proteção entre
as mulheres, os homens sempre tomavam as decisões e ficavam com os trabalhos
mais pesados. Neste período não existia o conceito de família e sim de bando,
nome que antes eram dados às pessoas que faziam parte de um mesmo grupo.
Durante esse período os homens viam que era necessário fazer algo que os
mantivessem vivos, foi assim que homens e mulheres se uniram para que esse
propósito pudesse ser mantido. O homem é um animal, e precisa de cuidados para
manter-se vivo. É frágil e com o passar do tempo desenvolveu um sistema
complexo de comunicação ao mesmo tempo em que se deu o desenvolvimento
psíquico. Movido pelas necessidades básicas de sobrevivência e segurança, foi
criando meios de organização e de defesa para sobreviver na natureza. À medida
que ia se organizando, ia criando também um jeito todo especial de articulação
e hierarquia entre os membros daquela sociedade.
(MIGUEL, BRAGA, 1111.p. 03) A
família entre esses povos não tinha esta estrutura que existe hoje, antes todo
o bando faziam parte de uma mesma família, ou seja, existiam vários povos e
cada povo era considerado uma instituição familiar, assim como está
representada nos dias atuais. Com a chegada da Família Real no Brasil, a
família passou a ter papel importante na educação e no desenvolvimento do país.
O modelo dos colonizadores europeus se impôs como modelo social de família,
Freitas (2011, p. 18). Para o referido autor, a família pode ser definida como
uma célula social. Por meio de seus valores constroem-se pessoas, e através da
educação ocorre o desenvolvimento social e cultural. De acordo com Bock A
família do ponto de vista do indivíduo e da cultura é um grupo tão importante
que, na sua ausência, dizemos que a criança ou o adolescente precisa de uma
família substituta ou devem ser abrigados em uma instituição que cumpra suas
funções materna e paterna, isto é, as funções de cuidados para a posterior
participação na coletividade. Bock (2004, p. 249).
Segundo Torete (2005) ocorreram
consideráveis mudanças na maneira de educar a partir do século XVII, inicia-se
a partir daí a preocupação com a preservação das crianças. Nesse período as
famílias são instigadas a criar trabalhadores, a mulher se torna "rainha
do lar", cuidando das crianças. Com o advento da revolução industrial a
família passa por transformações profundas. Com a mudança do eixo de produção
do campo para a cidade ocorre um grande processo migratório. Nesse contexto, a
relação entre pais e filhos passa a ocorrer tendo a mãe como principal figura
familiar na tarefa de educar, visto que, o pai passa a se ausentar por muito
tempo na busca do sustento de sua família. Compreendemos que esse contexto
favorece o surgimento dos mais variados problemas tanto relacionados ao
processo educativo e a formação de valores no âmbito familiar, quanto no
desenvolvimento da criança na escola. Todos esses fatores se configuram como
entraves para a interação e inserção do indivíduo no meio social. A escola: Uma
breve abordagem De acordo com Freitas (2011), a escola foi criada para conduzir
a aprendizagem das crianças.
Em 1549 as primeiras escolas foram
criadas pelos jesuítas. No período de dois séculos os jesuítas criaram e
mantiveram todo o ensino desenvolvido em nosso país. A escola, assim como a
família tem passado por muitas modificações, contudo, as mudanças no meio
familiar acontecem muito mais rapidamente, e nesse contexto a escola precisa
buscar meios para acompanhar, aceitar e lidar com tais mudanças. No nosso
entendimento uma das maneiras reside na efetiva construção da relação e
consequentemente parceria família e escola, intermediando o diálogo e
aproximando as duas instituições. No século passado a instituição escolar se
colocava como detentora do saber e de métodos pedagógicos, e o desenvolvimento
do trabalho no seu interior era feito de maneira alheia aos pais e à
comunidade. Na atualidade a nossa sociedade se depara com diversos aspectos
conflituosos, que muita das vezes desvia o olhar dos nossos filhos para outros
horizontes, nesse mundo encontram-se drogas, prostituição e muitos outros
desvios de personalidade que são regidos pelo simples fato da família não
acompanhar seus filhos em todos os momentos. Estes desvios, como denominado
anteriormente, ocorrem por diversos aspectos, entre eles: a falta de tempo dos
pais desculpa esta mencionada dão como um implicado para eles não se manterem
presentes no crescimento dos filhos. O apoio é de extrema importância para que
os filhos saibam qual o melhor caminho a ser seguido, sendo que compete aos
pais apresentar caminhos e horizontes seguros que proporcionem para o futuro de
sua prole um lugar na sociedade repleto de positividade, conquistas e sucesso.
No entanto, esse contexto torna-se possível somente se tutores realmente se
interessarem pela vida do filho, pois a educação que eles começam a receber
parte da convivência com os pais e demais familiares que coexistem diariamente
com eles. Depois disso é que os filhos vão aperfeiçoar esses saberes com a
ajuda de um sujeito que possa a contribuir com a formação de novos
conhecimentos para a construção de sua personalidade. Torna-se importante
mencionar aqui o significado da palavra família e o que ela pode nos
proporcionar.
Segundo Kaloustion (1988); A
família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção
integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou
da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos
e, sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem estar dos seus
componentes.
Gokhale (1980) afirma que: “A
família não é somente o berço da cultura é à base da sociedade futura, mas é
também o centro da vida social”.
De acordo com Gentille (2006, p.
35) A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive em seus membros
são exemplos para a sua vida. Este tipo de temática tem sido pouco estudado em
muitos países, assim a sua importância fica meio que despercebida aos olhos da
sociedade em geral, que acusa outros aspectos por encontrar alguns jovens à
mercê de tanta imprudência. Neste caso, na maior parte das vezes, essa temática
é vista pela sociedade devido à clientela de alunos aos quais as escolas
públicas recebem. Por serem na maior parte das vezes vindas de uma sociedade
que pertencem a uma classe de baixo nível econômico são interpretadas, em
alguns casos, como sujeitos de pouca confiança e que só irão prejudicar as
pessoas que se encontram em um mesmo meio. Todos esses fatores incitam a
construção de preconceito, noviço e equivocado, que tendem em transformar
irredutivelmente a vida das vítimas dessa falta de informação. Diante dessa
problemática, a família deve ser vista como suporte de apoio no decorrer do
processo de aprendizagem dos seus filhos e como mediadora que liga o sujeito à
sociedade. E isso ocorre devido à confiança que as crianças encontram nos seus
pais, já que são eles que iniciam os primeiros saberes delas. Ao longo do seu
crescimento, os educandos vão se moldando às coisas que são encontradas na
sociedade, tais como as leis, direitos e deveres de cada um, o que é certo e o
que é errado, entre outros. Dessa forma é que se vê a grande importância que a
família representa na vida de cada pessoa. A partir disso, pode-se mencionar
que essa parceria da família deveria ser encontrada em vários contextos, mas,
principalmente no contexto da sala de aula, pois se um determinado aluno se
depara com o apoio dos pais e conseguem enxergar o interesse destas na sua
educação, nota-se que este discente vai ter um melhor desempenho educacional.
Esse interesse também é despertado na resolução das atividades destinada para
casa pelos os professores, que vão aproximando consecutivamente os pais aos
filhos. Quando estes alunos passam a frequentar uma instituição de ensino, eis
que vão aprimorar os saberes que já tem consigo e construir outros que serão
pertinentes para a sua participação em meio à sociedade em que vive.
Nacife (2001) afirma que: inserir
a família na escola é uma forma de socializar o ensino e isso ajuda as crianças
a reorganizar o conhecimento delas. Elas ficam mais interessadas, mais atentas
e atribuem muito mais valor à escola. Com isso, estas pessoas (quem?)
facilitarão a consecução de umas aprendizagens globais e, sobretudo, a
aquisição de um maior grau de autonomia intelectual e física dos educandos.
Esse interesse de ter a família na escola surgiu da necessidade e benefícios na
qual os professores encontraram no decorrer do dia a dia nas salas de aula.
Esse percentual é constatado devido aos benefícios que esta iniciativa causa na
aprendizagem dos educandos, tornando-os mais seguros no que fazem e melhores no
que desempenham mediante ao processo de ensino aprendizagem. A escola
concebe-se como uma instituição em que diversas pessoas se inserem nesse âmbito
e que abrange várias pessoas de diferentes raças, personalidades, condições
financeiras e culturas diferenciadas. Ela é fundamental para o desenvolvimento
social de todo e qualquer individuo.
Desta forma (DESSEN & POLONIA,
2007) afirma que: “A escola é uma instituição fundamental na vida de todo
individuo, pois é nesse âmbito que aprendemos a nos relacionar com o outro, a
cumprir regras e desenvolver atividades”. Elementos para favorecer a relação
família e escola Para que uma família tenha uma base de suporte que envolva uma
boa relação entre seus membros torna-se necessário que determinados aspectos
sejam seguidos por todos os membros desta. A família pode ajudar de várias
maneiras os seus filhos na escola, uma dessas maneiras é com relação ao dever
(tarefa de casa), na qual os pais têm por finalidade observar nesse momento quais
os saberes que seus filhos obtiveram e assim fica a par da evolução do filho
com relação à intelectualidade adquirida no contexto da sala de aula; outro
fator é com relação ao currículo que é construído com base no sucesso escolar.
Conforme CARVALHO (2000 p. 64):
por ser considerada natural expressão do amor e do dever dos pais, o apoio da
família ao sucesso escolar ainda permanece mais implícito do que explícito na
pesquisa e política educacional, bem como na prática escolar. Igualmente
implícitas permanecem as relações de classes e, sobretudo, de gênero, que
compõem os modelos de família que conduzem ao sucesso ou fracasso escolar.
Comungando dessa perspectiva, as autoras Castro e Regattieri propõe uma
interação entre pessoa e ambiente em que vive (escola), afirmando que: “A
escola não é somente um espaço de transmissão da cultura e de socialização. É
também um espaço de construção de identidade”. Dessa forma a escola é uma chave
para novos começos tanto no que diz respeito à intelectualidade quanto ao
social de um modo em que promova uma nova perspectiva moral de vida. Muitas
famílias veem a responsabilidade para com seus filhos na parte educativa em
apenas matriculá-los em uma instituição de ensino somente, mas sabe-se que isto
não é o bastante e muito menos a única coisa a ser feita. É dever de todos os
pais matricularem e cuidarem da educação dos seus filhos sempre; é com essa
atitude que tudo se inicia. Os filhos vendo esta atitude conseguem ver a
preocupação e o amor que os seus pais demonstram a eles. Este ato não é apenas
um dever, corresponde a direito de toda e qualquer criança, cabe aos pais por
isto em prática. A relação família e escola e suas implicações no cotidiano da
escola Nos dia de hoje percebemos que a sociedade moderna tem passado por
constantes transformações, acontecimentos esses que têm envolvido diversos
fatores tais como: política, tecnologia, economia dentre outras. E a escola é
vista como uma instituição cuja função é promover aprendizagem aos alunos e
fazer destes cidadãos verdadeiros agentes atuantes na e para a sociedade, mas
esse papel não fica único e exclusivamente sob responsabilidade da escola, cabe
aos pais exercerem esta função da mesma maneira.
Gentille (2006, p. 35) afirma que:
A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive e seus membros são
exemplos para a sua vida. No que diz respeito á Educação, se essas pessoas
demonstrarem curiosidade em relação ao que acontece em sala de aula e
reforçarem a importância do que está sendo aprendido, estarão dando uma enorme
contribuição para o sucesso da aprendizagem. Pode parecer simples, e é. Tanto
que é exatamente o que tem sido pedido aos responsáveis pelos estudantes de
todos os níveis de ensino. Deste modo, tanto a família como a escola tendem dar
suporte na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo dos seus filhos. Isso fica
explicito quando Gokhale apud Gomes e Leite (1980, p. 03) acrescenta: a família
não é somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o
centro da vida social. A educação, bem sucedida da criança na família é que vai
servir de apoio a sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for
adulto. A família e escola devem promover uma parceria, já que ambas tem o
mesmo interesse: educar os sujeitos que nela estão presentes. Essa união é que
vai fazer a diferença enquanto o aluno se adéqua às novas transformações que
estão sendo adquiridas neste meio.
(FURLANETO, MENESES E PEREIRA,
2007. p.64). De um modo cada vez mais significativo, a escola (lugar de lazer)
passa a assumir a responsabilidade, cada vez maior, de ser, na sociedade, o
campo específico da Educação intencional, formal e sistemática. A
responsabilidade da escola compreende de tamanho valor e proporções, muitos
pais atribuem a ela a responsabilidade de “criar” os filhos. Eis um fato que
não pode ser considerado porque, primeiramente, a educação dos filhos começa em
casa junto dos pais, é no seu lar e com seus responsáveis que esta deve
aprender os principais saberes, só depois é que surge a escola, que vai aprimorar
o que essa criança já sabe e aprender ou construir o que ainda não pode
desenvolver. Assim sendo, Carvalho (2004. p.47) em seu pensamento afirma que: A
educação tem um papel fundamental na produção e reprodução cultural e social e
começa no lar/família, lugar da reprodução física e psíquica cotidiana –
cuidado do corpo, higiene, alimentação, descanso, afeto, que constituem as
condições básicas de toda a vida social e produtiva. Carvalho Mielnik,
(1974.p.27), ressalta que: Desde que nasce a criança está praticamente
observando o meio ambiente para começar cedo a sua aprendizagem, suas
tentativas, erros e acertos. Nesse trabalho, árduo e contínuo, a criança é
auxiliada e estimulada pelos pais, que visam facilitar seu desenvolvimento. A
família é, pois o meio social que inicia a educação do indivíduo. A
aprendizagem da criança começa desde os primeiros dias de vida desta. Assim que
nasce ela já observa tudo a sua volta e sempre está sujeita a responder aos
estímulos que estão a sua volta. Durante este período tudo que esta a volta da
criança é motivacional como, por exemplo: as vozes, a visão, distinção de
determinados objetos e formas, noções de tamanhos e distância entre muitas
outras coisas. Esse aprendizado inicia-se por parte dos pais, em seguida a criança
aprende com o ambiente e demais pessoas que estão presentes na vida e criação
dela. Depois o aprendizado vem por responsabilidade da escola, que vai preparar
a criança intelectualmente na aquisição de conhecimentos que irão torná-la
sujeitos ativos e críticos na sociedade.
4.1
AS NOVAS FORMAÇÕES FAMILIARES E A SUA IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Como vimos no capítulo anterior,
as formações familiares desde os primórdios são diferentes na sua constituição,
dependendo principalmente da cultura e da sociedade na qual está inserida. No
entanto, na maioria das culturas, a constituição denominada de “nuclear”, ou
seja, constituída de pai, mãe e filhos, foi e ainda é predominante em muitas
culturas, principalmente nas ocidentais. Também, podemos observar que dentro da
formação familiar nuclear, encontramos o regime patriarcal, em que o pai assume
a direção desta família, ou então, o regime matriarcal, onde as
responsabilidades são atribuídas à mãe. Entretanto, como diversos aspectos
dentro de uma sociedade, a constituição familiar, evolui e se transforma com o
passar do tempo criando novas formas de se constituir. Como veremos no tópico a
seguir. As formações familiares da
atualidade No Brasil, as regras estabelecidas que regem as uniões matrimoniais,
estão contidas no Código Civil Brasileiro. Regras estas, que envolvem temas
referentes aos papéis atribuídos ao marido e a mulher na sociedade conjugal,
como: sistema de filiação, adoção, herança, parentesco, regime no qual o
casamento está baseado, ou seja, comunhão parcial ou universal de bens e até
separação de bens. Além das proibições, como o casamento entre parentes ou
quando os cônjuges forem menores de idade, e neste caso só sendo permitido o
enlace com a autorização e a emancipação dos pais ou responsáveis. Assim, em
nossa sociedade, a qual foi alicerçada desde a sua colonização pelos preceitos
dogmáticos de origem católica, a família modelo e almejada, está relacionada a
formação nuclear, onde cabia a esta família diversas funções, entre as quais,
ser fonte de estabilidade econômica, base religiosa, moral, profissional e
principalmente educacional. No entanto, este ideal familiar e as leis contidas
no Código Civil Brasileiro, não garantem que na sociedade brasileira haja uma
harmonia constante, idealizada e permanente. No geral, o que vemos hoje na
nossa sociedade é o contrário, pois principalmente nos tópicos onde a lei e as
normas de Direito atingem a família, as mudanças vão se ajustando à medida que
os costumes se modificam. (PRADO, 1988) Com o advento do divórcio, surgem
também novos consensos em relação aos deveres e direitos dos pais em relação
aos filhos e novas formações familiares surgiram e estão cada vez mais
diversificadas. No entanto, estas novas formações não querem dizer que por
serem diferentes as famílias são desestruturadas, pensar assim pode ser um
grande engano, principalmente nos espaços escolares em que a diversidade
aparece com maior frequência. Nas novas configurações familiares, o objetivo
principal é sempre o mesmo, ou seja, criar um espaço de amor e apoio ao
desenvolvimento das crianças ali inseridas. Lembrando que a diversidade, em
muitos aspectos pode ser algo positivo. Portanto, “desde que a criança saiba
qual o lugar dela dentro desse novo núcleo familiar e sinta – se segura para
solicitar o que precisa e o mais importante tenha a sua individualidade
respeitada” (PIRES, 2009, p.12), a formação familiar específica e tradicional,
deixa de ser o mais importante. Hoje, encontramos casais que após o divórcio do
primeiro casamento, se desmembram em novas famílias, ou seja, quando um casal
que se divorcia tem filhos, e os pais com o passar do tempo formam novas
famílias com pessoas, também divorciadas e com filhos e destas novas uniões
nascem mais filhos. Então temos os filhos do primeiro casamento, que passarão a
conviver com os filhos do novo companheiro ou companheira do pai ou mãe e
também os novos filhos que virão destas novas uniões. O mais importante nestes
casos, como já dissemos acima, é que embora o número de filhos possa aumentar
com as novas relações, cada um seja respeitado e encontre o seu espaço dentro
desta nova família, onde o bom senso deve ser um fator que garanta o bom
relacionamento entre todos. (PIRES, 2009). Nesse sentido: Filhos adotivos,
gerados por inseminação artificial ou criados por casais homossexuais não
modificam o principal objetivo da família: ser um espaço que proporciona a
convivência, o amor e a segurança entre seus integrantes. (PIRES, 2009, p.14).
Assim, de acordo com a citação acima, nos dias atuais, encontramos na nossa
sociedade formações familiares diferenciadas da constituição nuclear. São
formações que embora percorram caminhos diferentes do tradicional matrimônio,
apresentam os mesmos objetivos, ou seja, constituir uma família cercada de
afeto, união e respeito, em que seus integrantes, principalmente as crianças
devam se sentir protegidas e amadas. A instituição família é tão importante na
nossa sociedade, que a mesma é foco de atenção da Constituição Federativa do
Brasil.
Observamos que hoje não é mais
considerada família apenas o grupo formado por pai, mãe e filhos, mas sim
qualquer grupo de pessoas que se juntam e se agregam por afinidades e afeto. E
que, no caso da presença de crianças e adolescentes, o mais importante é ver que
seus direitos são respeitados e existem amor e proteção nesta fase tão
importante da vida. Também observamos que é cada vez maior o número de famílias
em que a responsabilidade de direção da família está centrada na figura da
mulher, mãe ou avó. No entanto, embora o pai possa não fazer parte da
convivência familiar, diariamente, é garantido por lei a divisão da
responsabilidade na criação dos filhos, tanto na Constituição Federativa do
Brasil, como no Estatuto da Criança e do Adolescente. E mesmo que na maioria
dos livros didáticos utilizados nas escolas, a formação nuclear de família seja
a mais comum em suas ilustrações, cabe ao professor respeitar e dialogar com os
seus alunos a respeito da importância familiar na vida de todos, independentes
da sua formação e respeitadas as diversidades de famílias que encontramos na
atualidade. Assim, é importante ser valorizado junto à criança a importância de
nos sentirmos parte de um grupo social, onde encontramos apoio, carinho, amor e
proteção.
Segundo Knobel, “a família é um
dos grupos primários e naturais de nossa sociedade, nos quais o ser humano vive
e consegue se desenvolver”. (KNOBEL, 1996, p. 19).
Assim, a importância da família na
vida de todo ser humano, está atrelada automaticamente ao bom desenvolvimento e
ao indivíduo que no futuro irá também constituir uma família alicerçado na sua
própria experiência de vida. Nesse sentido: Na interação familiar, que é prévia
e social (porém determinada pelo meio ambiente), que configura – se bem
precocemente a personalidade, determinando – se aí as características sociais,
éticas, morais e cívicas dos integrantes da comunidade adulta. (KNOBEL, 1996,
p.19). Enfim, a família e as relações estabelecidas dentro da mesma, em muito
influenciará na vida adulta de um indivíduo. E a presença desta família no
desenvolvimento de uma criança é de suma importância. A qual pode fazer muita
diferença desde a mais tenra idade, principalmente no período escolar. Assunto
este, que abordaremos no tópico a seguir. A importância da família no
desenvolvimento da criança A maioria das pessoas reconhece a importância da
família no que diz respeito aos cuidados primários que se deve ter com uma
criança, ou seja, alimentação, higienização, proteção, vacinação, afeto, entre
outros cuidados que um filho necessita para a sua própria subsistência humana.
E para que a vida de uma criança fosse preservada no decorrer do movimento
histórico da sociedade brasileira, foram criados mecanismos que viessem a
garantir que esses direitos fossem respeitados. Como no Artigo 227 da
Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988 e mais recentemente no
Estatuto da Criança e do Adolescente, no Capítulo III, Seção I, no seu Artigo
19, quando afirma que: Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e
educado no seio da família e, excepcionalmente, em família substituta,
assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença
de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. (BRASIL, 1990, p.26).
Apesar das leis existirem e de inúmeras formas de divulgação das mesmas,
infelizmente ainda hoje encontramos, quase que diariamente nos noticiários,
relatos de descasos e violências praticadas contra crianças, principalmente
pelos responsáveis diretos das mesmas. Ainda que, haja diversos programas
voltados para a divulgação de informações que contribuam com o bem estar das
crianças, como projetos desenvolvidos pelas Políticas Públicas, através dos
diferentes poderes, variadas Organizações Não Governamentais, diferentes
Instituições Religiosas e Mídias em geral, a incidência de casos de violências
contra a criança, acontece em todas as classes sociais, nos mais diversificados
ambientes e nas diferentes formações familiares. Entretanto, não são só de
necessidades básicas como a alimentação, ou a falta dela, que um indivíduo vai
precisar para se desenvolver. Ou ainda, que vão determinar que tipo de adulto,
este mesmo indivíduo vai se transformar. Sendo que, se buscarmos uma definição
científica do que é ser criança, podemos dizer que, [...] pode-se definir a
criança como a unidade genética, histórica e social da humanidade, que possui
um particular e especial sistema bio psico dinâmico individualizante, que
responde a um processo evolutivo de determinada base biológica, historicamente
determinada e não poucas vezes circunstancial.
(KNOBEL, 1996, p.80). Assim,
devemos entender que nesta fase de vida, é de suma importância que os pais ou
responsáveis, reflitam na complexidade que a infância representa, pois atitudes
impensadas hoje, podem se refletir na fase da infância ou nos anos vindouros,
de forma comprometedora e negativa. São muitos os fatores que estão
relacionados à formação e desenvolvimento de um indivíduo e da sociedade que
este mesmo indivíduo vai viver e formar. Lembrando que, uma sociedade evolui de
acordo com a evolução das pessoas que a constituem. Fatos ocorridos durante a
infância de um sujeito e o meio ambiente que o cerca, influencia e muitas vezes
até determina as características e alguns comportamentos que o mesmo vai
apresentar na sua vida adulta. Inclusive condicionando-o a fazer escolhas que
poderão definir toda a sua vida e os aspectos que a envolve como sua escolha
profissional, sua companheira, entre tantas outras circunstâncias, presentes na
vida de qualquer um.
(WEIL, 2000). Como podemos
observar na citação a seguir, quando o autor postula que, Os fracassos na vida
social e na vida íntima do adulto têm muitas vezes origem em erros de educação,
pais excessivamente rígidos podem levar os filhos à timidez e à eterna
rebeldia, pais que brigam entre si, em presença da criança, podem gerar
instabilidade e incapacidade para um matrimônio feliz. (WEIL, 2000, p.158).
Assim sendo, não basta um pai ou uma mãe se preocupar com a alimentação, saúde
e outros aspectos materiais, se não oferecerem um ambiente de respeito mútuo e
atitudes éticas no seu cotidiano. No capítulo anterior, quando abordamos a
historicidade do surgimento da infância, segundo o autor francês Philippe Ariès
observou que a criança, durante o seu desenvolvimento, aprende e imita os
adultos que a cercam, principalmente as pessoas mais próximas que constituem a
célula familiar, sejam qual for a sua constituição. Portanto, os responsáveis
pelo desenvolvimento de uma criança devem se preocupar com suas atitudes e
ações, pois podem criar problemas futuros. Por este motivo, “o bem estar e o
aprimoramento das relações entre pais e filhos são assuntos constantes de
psicólogos, sociólogos, psicanalistas, enfim, de especialistas” (PRIORE, 2004,
p.07), os quais se preocupam em buscar soluções para diversos problemas
enfrentados na relação familiar, veiculando estudos que podem apresentar novos
caminhos, inclusive propondo uma nova ética para a infância. Recentes pesquisas
de Psicanálise e de Psicologia Social colocaram em destaque o fato de a conduta
dos filhos na escola e em casa ser, em grande parte, uma reação ao
comportamento dos pais para com os filhos. (WEIL, 2000, p.45).
Assim, o que determina o futuro de
uma pessoa não é a inteligência apenas, como muitos pensavam. Já que uma pessoa
pode ter sido o primeiro aluno da classe, no entanto, ter fracassado na vida,
por agir com insubordinação, por exemplo. Ter êxito na vida, portanto, não
depende só da inteligência, mas das condições sociais que foram e são
constitutivas da personalidade de cada um. É desde muito pequena que as
crianças apresentam grande capacidade de compreender os fatos e acontecimentos
ao seu redor, e também tem uma grande capacidade “de ir construindo o mundo de
segurança e bem-estar em que irá firmar-se sua vida futura e sabe que só poderá
fazê-lo através dos adultos que o rodeiam”. (KNOBEL, 1996, p.77). Assim, se os
pais não forem atentos e ainda apresentarem atitudes depreciativas,
menosprezando a capacidade de seus filhos em compreender os sentimentos que o
cercam, pode contribuir para que apareçam confusões e conflitos, que muitas
vezes vão resultar em neuroses, enfermidades ou transtornos de conduta no decorrer
do desenvolvimento destas crianças.
(KNOBEL, 1996). Entretanto, isso
não quer dizer que pais, professores e demais profissionais que atuam com
populações infantis e juvenis devem atender todas as vontades das crianças, a
qualquer custo, com medo de causar algum trauma ou problema futuro. Lembrando
que antigamente, os nossos avós e até os nossos pais, acreditavam que criança
não tinha que querer, bastava um olhar e éramos reprimidos não havendo a
possibilidade de questionar algo. Com as mudanças que ocorreram nas relações
humanas e na educação, no século XX, os pais foram aprendendo a respeitar as
crianças. Com isso, muita coisa mudou, sem dúvida melhorou a vida da criança, e
“[...] o relacionamento entre pais e filhos ganhou mais autenticidade, menos
autoritarismo. O poder absoluto dos pais sobre os filhos foi substituído por
uma relação mais democrática. E o entendimento cresceu.” (ZAGURY, 2002, p.14).
Entretanto, ocorreram muitos enganos e distorções em relação a este novo modelo
de relacionamento familiar. Muitos pais apresentam sérias dificuldades para pôr
em prática essa nova forma de educar, e esta insegurança de alguns pais em
saber a hora certa de dizer sim ou não, deixa em muitos casos os filhos
aflitos, inseguros e sem limites preestabelecidos, parece até que dizer um não
ao filho virou um crime, um ato de autoritarismo, um modo antigo de educar.
Muitos livros falam do que não se deve fazer, entretanto poucas publicações
realmente indicam e oferecem uma diretriz para ajudar os pais neste caminho,
sendo que, muitos pais apresentam boas intenções e se preocupam em estabelecer
uma forma de se relacionar com filhos, que seja no mínimo diferente daquela na
qual, o mesmo, foi educado. No entanto, se não for estabelecido um limite,
ficará difícil para que seu filho respeite o seu semelhante. “É necessário que
a criança interiorize a ideia de que poderá fazer muitas, milhares, a maioria
das coisas que deseja, mas nem tudo e nem sempre”.
(ZAGURY, 2002, p. 17). Assim, o
diálogo e o equilíbrio se fazem necessários para que as crianças aprendam com
os adultos que a cercam. A partir do surgimento da noção de infância, sabemos
que uma criança, durante a infância, constrói-se social e historicamente.
Dependendo da organização que uma sociedade tiver, a criança nela inserida terá
papéis que variam e se diferenciam de outras sociedades. (KRAMER, 2000).
Portanto, sabemos que a ideia de infância muda conforme a sociedade e o tempo
histórico em que a criança está inserida. Na sociedade capitalista, o que se
visa é o lucro e para que o lucro seja maior, menos se paga para os operários,
fazendo surgir diferentes classes sociais, onde o poder de dominação está
centrado nas mãos daqueles que possuem maior capital surgindo, portanto, uma
sociedade desigual, onde a criança desempenha seu papel de diferentes formas.
Diante desse novo cenário, pensadores acreditam e denunciam o desaparecimento
da infância em algumas comunidades, “[...] uma vez que a violência contra as
crianças e entre 26 elas se tornou constante. Imagens de pobreza de crianças e
trabalho infantil retratam uma situação em que o reino encantado da infância
teria chegado ao fim”. (KRAMER, 2000, p.17). Na atualidade, o acesso a mídia e
a internet é comum, principalmente pelo fato de que em muitos casos passaram a
ser substituto das brincadeiras, que eram características da infância. Nesse
sentido, Kramer (2000) assinala que essa mudança teria terminado por expulsar
as crianças da infância, para aproximá-las da vida adulta. [...] a
indisponibilidade do adulto que parece impregnar a vida contemporânea, marcada
pelo individualismo e pela mercantilização das relações. Com a perda da
capacidade do diálogo na modernidade, as pessoas só conversam sobre o preço das
coisas, sem diálogo, sem a narrativa, ficam impossibilitadas de dar ou de ouvir
um conselho [...]. (KRAMER, 2000, p.21).
Enfim, com as mudanças na
sociedade capitalista, o ter passou a ser mais importante que o ser. E em
virtude deste pensamento, a mulher que antes ficava no lar com a
responsabilidade, quase que total, de educar os filhos nos valores, condutas e
práticas, também passou a trabalhar fora e como substitutivo da ausência de
ambos os pais, estes procuram reparar a ausência comprando coisas ou não
impondo limites aos filhos. Só que, os pequenos só vão aprender valores e
demais condutas se iniciadas pelo adulto. E se sozinhas “[...] as crianças
enfrentam situações além de seu nível de compreensão, convivem com problemas
além do que seu conhecimento e experiência permitem entender”. (KRAMER, 2000,
p.21).
Assim, se faz necessário que as
crianças possam ser entendidas nas suas necessidades, ou seja, brincar e também
aprender, acompanhados por adultos. Nesse sentido, os pais e professores não
podem perder a autoridade, que hoje já é vista como um dos mais graves
problemas sociais do cenário contemporâneo. (KRAMER, 2000). E quando dizemos
autoridade, não estamos falando em autoritarismo. O que dizemos é que é
necessário restabelecer o diálogo entre os adultos e as crianças em que o
sentido de solidariedade e os laços de caráter afetivo, ético e social devem
ser tratados com respeito e equilíbrio. Muitas vezes vemos na sociedade
contemporânea, em nome dos direitos da criança como sujeito, e da infância como
construção social, a abdicação de muitos adultos, pais e professores, de seus
papéis. Assim, usam destes conceitos para não estabelecerem regras, não
expressarem o seu ponto de vista, não se posicionarem frente a algumas atitudes
da criança e também do adolescente. (KRAMER, 2000). Nesse sentido, os pais agem
ora controlando e regulando as ações dos mesmos, ora não intervindos e ora
liberando e deixando as crianças e jovens sem sanções após uma transgressão,
sem respostas a muitas perguntas e sem o apoio e a confiança, para que ocorram
relatos da vida cotidiana dos mesmos. Assim, “[...] as crianças são
negligenciadas e vão ficando também perdidas e confusas. Muitos adultos parecem
indiferentes e não mais as iniciam. A indiferença ocupa o lugar das
diferenças”. (KRAMER, 2000, p.21). Lembrando que muitos pais hoje, enquanto
adultos, também agem desta forma confusa e sem autoridade, pois na sua própria
infância e juventude não tiveram também suas perguntas e dúvidas respondidas. E
também em virtude de muitas vezes se verem partes de uma comunidade onde, não
há nenhuma garantia de terem respeitados seus direitos e onde a desigualdade e
injustiças sociais, são fatores que favorecem a difícil tarefa de educar uma
criança e transformá-la num cidadão solidário, que respeite as diferenças e
lute pelas desigualdades.
Portanto, Ao considerarmos os
paradoxos dos tempos em que vivemos e os valores de solidariedade e
generosidade que queremos transmitir, num contexto de intenso e visível
individualismo, cinismo, pragmatismo, e conformismo, são necessárias condições
concretas de trabalho com qualidade e ação coletiva que viabilizem formas de
enfrentar os desafios e mudar o futuro. (KRAMER, 2000, p.23). No próximo
capítulo abordaremos a relação existente entre a família e o âmbito escolar da
criança, destacando como o professor pode contribuir na aproximação da família
ao universo escolar de seus filhos.
Por mais que se tenta resolver
“problemas” entre as relações existentes de Família, Alunos e Escola sempre vão
acontecer algo que ultrapassará todas as alternativas já concebidas e
trabalhadas no contexto escolar, ficando claro o árduo trabalho da Gestão e o
famoso jargão entrará em cena: “nada melhor que o jogo de cintura para
contornar as mais diversas situações no convívio Escola/Família/Estudante.”
CONCLUSÃO
Ao término desse artigo podemos
constatar o quanto foi envolvente a pesquisa. A escolha do tema deu-se em
função de conviver com muitas crianças que não têm o acompanhamento familiar na
escola e podemos afirmar que é preciso buscar o envolvimento da família na
aprendizagem dos seus filhos, valorizar e orientar os pais no sentido de
incentivar as boas relações com a escola e com todos que fazem parte desse
contexto, incentivando os pais a comparecerem nas reuniões pedagógicas não só
para cobrar notas e sim para avaliar como o filho está se saindo no ano letivo
e se tiver alguma dificuldade orientar esses pais como fazer para ajudá-lo.
Desse modo observamos no final da
pesquisa que a separação dos pais é um dos maiores motivos da ausência da
família na escola, tornando–se um dos grandes desafios do professor se
aproximar desse aluno de uma forma afetiva, não deixando que ele abandone a
escola. Por outro lado quando há participação ativa, esse aluno que antes era
ruim passa a ser bom, seu interesse aumenta cada vez mais, pois ele se sentir,
acolhido e protegido por essa família.
A escola está diante de um grande
desafio necessita da real interação da família para o benefício do desempenho
escolar de suas crianças e só assim poderá fazer uma educação de qualidade e
que possa promover o bem estar de todos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Bertrand, L.A. (org). Cidadania e
Educação: Rumo a uma prática significativa. Capinas Papirus, 1999.
BOECHAT, Ivone. A família no
Século XXI.2ª ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 2003.
BRASIL, Estatuto da Criança e do
Adolescente. Lei nº 8069 de Julho de 1996.
Freire, Paulo – Pedagogia da
indignação Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo; UNESP, 200 (pág30)
Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia:
Saberes necessários a prática educativa 11 ed. Rio de Janeiro; Paz e terra,
1999
GOKHALE, S. D. A família
desaparecerá? In Revista Debates Sociais nº 30, ano XVI. Rio de Janeiro,
CBSSIS, 1980.
HÜlsendecer, Margarete I.V.C
Revista Espaço Acadêmico nº67 Dezembro 2006 – Mensal Ano VI
KALOUSTIAN, S. M. (org) Família
Brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:
LDB - 9394/96 Plano Nacional de
Educação ( aprovado pela lei nº 10172/2007).
PEREIRA, P. A. Desafios
Contemporâneos para sociedade e a família. In Revista Serviço Social e
Sociedade. nº 48, Ano XVI. São Paulo: Cortez, 1995.
Paro, Vitor Henrique. Qualidade de
ensino, a contribuição dos pais; Xamã, 126 p.
PIAGET’I. Para onde vai a
educação. José OlympisEd.15ª edição. Rio de Janeiro, 1972/2000
Tiba, Içami. Disciplina; limite na
medida certa41ª Ed. São Paulo; Gente, 1996 240p.
Tiba, Içami Disciplina na medida
certa, São Paulo: Gente 1999.
UNICEF, 1988.
VYGOTSKI
L.SA Formação social da mente São Paulo: Martins Fontes, 1998