Mais da metade dos alunos não aprende o que deveria
Estudantes do 2º e 3º ano não compreendem o conteúdo em disciplinas básicas. Desigualdade no ensino entre as regiões do país ainda é grande.
O resultado da Prova ABC, divulgado ontem pelo movimento Todos pela Educação mostra que mais da metade dos alunos brasileiros não aprende o que se espera em matemática, leitura e escrita até os 8 anos de idade. A pesquisa também põe em evidência a discrepância entre a aprendizagem dos alunos de diferentes regiões do país.
Entre os estudantes do 3.º ano do ensino fundamental, por exemplo, somente 23,4% dos alunos da rede pública na Região Norte superou a faixa do que se considera o nível de habilidade adequado na leitura de textos. No Sudeste, esse número salta para 52,8%. Outros dados também mostram desigualdade semelhante em habilidades matemáticas e de escrita. Em comparação com o resto do país, o Paraná alcançou índices medianos.
Boletim
Paraná tira nota vermelha em leitura e escrita
Com base na redação feita pelos estudantes, a habilidade em escrita foi avaliada pela Prova ABC. No Paraná, apenas 35,8% dos alunos das redes pública e privada tiveram desempenho satisfatório, acima dos 75 pontos. O índice cai para 32,1% quando se trata apenas da rede pública.
Os estados que apresentaram mais alunos com acima dos 75 pontos foram Goiás (42%), Minas Gerais (41,6%) e São Paulo (39,3%) e os estados com menor porcentual foram Pará (11,6%), Maranhão (13%) e Piauí (16%).
Em leitura, o porcentual de alunos que atingiram 175 pontos ou mais no 3º ano foi de 44,5%, considerando redes pública e privada. A Região Norte apresentou o menor porcentual, 27,3%, e a Região Sudeste o maior, 56,5%.
Na comparação por estados, as diferenças são ainda maiores: São Paulo (60,1%), Minas Gerais (59,1%) e Distrito Federal (55%) apresentam os melhores resultados, enquanto Alagoas (21,7%), Pará (22,2%) e Amapá (22,8%), apresentam os menores porcentuais. O Paraná alcançou uma posição intermediária, registrando o índice 48,4% quando se consideram as duas redes, e 43,4% quando se trata apenas do ensino público.
A avaliação é promovida por uma parceria entre o Todos Pela Educação, a Fundação Cesgranrio, o Instituto Paulo Montenegro/Ibope e o Inep. Aplicado no final de 2012, foram avaliados 54 mil alunos de 1,2 mil escolas públicas e privadas distribuídas em 600 municípios brasileiros. Metade da amostra é de alunos do 2.º ano e a outra metade do 3.º ano, ano considerado limite para a alfabetização de acordo com o recém-lançado Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic).
São usadas como referência as escalas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A partir dessa escala, a Prova ABC considera como nível de proficiência adequado o nível 175, tanto na escala de leitura como de matemática. Como o Saeb não avalia a habilidade de escrita, foi utilizada uma escala própria, de 0 a 100, dentro da qual o índice de aprendizagem considerado adequado partiria dos 75 pontos.
Matemática
Em relação ao nível de proficiência dos alunos em matemática, 60% dos estudantes paranaenses da rede pública chegaram apenas à faixa mais básica de domínio. Outros 33,6% alcançaram um desempenho intermediário e apenas 6,4% aprenderam o esperado. Esse último índice é o mais baixo da Região Sul, mas superior aos resultados de outros dez estados. A média nacional da rede pública foi de 12% dos alunos com índice superior a 175 pontos.
Considerando os alunos do 3.º ano, o porcentual de alunos com proficiência adequado é expressivamente maior. No Paraná, 31,4% ultrapassaram os 175 pontos.
Prova ABC expõe carências do sistema brasileiro
Desigualdades sociais e pouca atenção à educação infantil são causas do índice baixo, dizem analistas. Para Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação, o resultado comprova, mais uma vez, a dificuldade do sistema educacional brasileiro em proporcionar um nível de aprendizagem adequado a, pelo menos, a maior parte dos estudantes. “Temos menos da metade das crianças com essas três competências consolidadas, e elas são muito importantes para que a criança continue a aprender nos anos seguintes”, diz Priscila, referindo-se às habilidades de leitura, escrita e matemática.
Para a professora do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), Meire Donata Balder, os números também não surpreendem, já que reforçam o que outros exames do MEC ou o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) têm mostrado há anos.
Para ela, uma das causas que mais influenciam os baixos índices da educação básica é pouca atenção dada à Educação Infantil até alguns anos atrás. “A educação infantil ainda é vista mais como um direito à mãe que trabalha do que um direito da criança, que precisa de acompanhamento escolar para se desenvolver. Isso precisa mudar”, diz.
“Iniciativa acertada”
O consultor educacional Renato Casagrande concorda com a importância da educação infantil no processo de alfabetização e considera o Pnaic uma iniciativa acertada do governo, mas cujos resultados só devem aparecer dentro de pelo menos três anos.
Sobre a diferença nos índices educacionais dos estados, Casagrande diz que se trata de um problema diretamente atrelado à desigualdade social. “É muito difícil fazer gestão da educação num país tão grande como o nosso, principalmente contando com regiões como o Norte e o Nordeste, que apresentam indicadores ruins em praticamente todas as áreas”, diz.
A respeito do desempenho do Paraná, o educador lamenta a falta de destaque do estado, com desempenho inferior ao de seus vizinhos no Sul.
Para ele, embora Curitiba sempre alcance boas posições no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o restante do estado não acompanha a capital. Segundo o consultor educacional, a solução passa por uma melhoria contínua na formação de professores e gestores escolares.
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