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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sono e metabolismo em sincronia com o dia a dia


Felipe Rosa / Gazeta do Povo / O estudante de Medicina Felipe Fernandes tem melhor desempenho quando se dedica aos livros e faz plantões à noiteO estudante de Medicina Felipe Fernandes tem melhor desempenho quando se dedica aos livros e faz plantões à noite
RELÓGIO BIOLÓGICO

Sono e metabolismo em sincronia com o dia a dia

Pesquisadores dos EUA deixaram a ciência mais perto da criação de novas drogas para tratar problemas para dormir e desordens do funcionamento do organismo.
Uma boa noite de sono é o desejo de muita gente que mal consegue colocar a cabeça no travesseiro no fim do dia. No Brasil, segundo um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aproximadamente 66% da população apresenta alguma dificuldade para dormir. Contudo, o problema já está na mira de vários cientistas e há chances de que, daqui a não muito tempo, todos esses impedimentos não passem de um sonho. Pesquisadores do Instituto Salk de Estudos Biológicos (EUA) deixaram a ciência mais perto da criação de novas drogas para tratar problemas de sono e desordens do metabolismo.
Em um estudo publicado na revista norte-americana Nature eles revelaram que dois comutadores celulares conhecidos como REV-ERB-α; e REV-ERB-ß, encontrados no núcleo das células de ratos, são essenciais para manter normais os ciclos de sono e alimentação. Durante a pesquisa, ratos que tiveram os comutadores retirados tinham altos níveis de gordura e açúcar no sangue, problemas comuns em pessoas com distúrbios metabólicos.
Declínio cognitivo
Não respeitar o ritmo pessoal aumenta predisposição a doenças
O sistema de temporização e o estilo de vida precisam estar em equilíbrio para que nosso metabolismo não sofra as consequências. Entretanto, nem sempre é possível respeitar os nossos ritmos biológicos, o que pode desorganizá-los. Aí, os problemas são inevitáveis. “Hoje, vários estudos mostram que não respeitar o relógio biológico aumenta a predisposição a uma série de doenças, inclusive certos tipos de câncer”, afirma o coordenador do laboratório de cronobiologia da UFPR, Fernando Mazzilli Louzada.
Desrespeitar o sono é uma agressão ao metabolismo. Estudos apresentados em julho no encontro anual da Associação de Alzheimer, em Vancouver, no Canadá, relacionaram dificuldades em dormir com problemas de deterioração mental. Um deles mostrou que dormir pouco ou demais pode ser comparado com um ganho de dois anos na idade do cérebro. Outro revelou que pessoas com apneia do sono (desordem caracterizada pela interrupção do respiro durante a noite) eram duas vezes mais propensas a desenvolver leves problemas de raciocínio ou demência comparado com pessoas sem problemas para dormir. Um terceiro sugeriu que sonolência durante o dia pode reduzir a capacidade da memória e habilidades de raciocínio, conhecido como declínio cognitivo, em pessoas mais velhas.
A professora do departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Carolina Virgínia Macedo de Azevedo acrescenta que a desorganização dos ritmos causada pela falta de uma boa noite de sono atrapalha o desempenho da pessoa ao longo do dia, causa mal-estar e fadiga, além de que, em situações extremas, pode desencadear doenças como diabete e problemas cardiovasculares.
No entanto, a falta de sono em determinados momentos nem sempre é mau sinal. “As pessoas não são iguais. Umas vão dormir mais cedo, outras, mais tarde. Não ter sono na hora que outros vão dormir pode não ser insônia, mas apenas uma característica própria”, finaliza.
Serviço
Quer saber qual é o seu cronotipo?
No endereço Tempo na Vida você encontra um teste de matutinidade-vespertinidade que vai ajudá-lo a descobrir qual o ritmo do seu corpo.
Participe do chat
A Gazeta do Povo promove amanhã, às 15 horas, um chat com o coordenador do laboratório de cronobiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernando Mazzilli Louzada. Participe!
Acesse www.gazetadopovo.com.br/saude e tire suas dúvidas a respeito do funcionamento do relógio biológico.
Cada pessoa deve se adaptar ao próprio sistema de temporização
O sistema de temporização também é responsável por determinar a produção hormonal e decidir quando é necessário aumentar ou diminuir a dose de hormônios na corrente sanguínea. De acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da instituição, Luiz Silveira Menna Barreto, em todas as glândulas, a produção e a liberação de hormônios podem ser avaliadas do ponto de vista da presença de ritmos biológicos e, embora todos os hormônios tenham ligação com tais ritmos, os exemplos mais conhecidos são a produção noturna de melatonina pela glândula pineal, de cortisol pelas glândulas suprarrenais e do hormônio do crescimento pela hipófise.
O cortisol, responsável por nos manter mais alertas, começa a ser produzido nas primeiras horas da manhã. Ao longo da tarde, sua produção cai e durante a noite reduz mais ainda, explica o chefe do serviço de endocrinologia do Hospital das Clínicas da UFPR, César Boguszewski. “A relação entre a produção e o sistema de temporização é que ela segue o ritmo circadiano, ou seja, a produção se dá ao longo do dia em quantidades diferentes, mas sempre se repetindo”, esclarece.
Embora alguns estudos revelem ainda que, por causa do relógio biológico seja possível adequar determinadas atividades ao longo do dia (como não assistir a uma aula logo depois do almoço, pois é quando ficamos mais suscetíveis ao sono), para Barreto, generalizações como essas são quase sempre equivocadas, já que nem uma pessoa é igual a outra. “Uma recomendação para fazer exercícios físicos pela manhã pode ser muito benéfica para uma pessoa e intolerável para outra. Essas recomendações de hora para isso ou hora para aquilo só cabem nas cabeças que entendem a humanidade como um exército que deve marchar junto, o que é lamentável tanto do ponto de vista social como biológico”, argumenta. (AM)
Com a descoberta, os estudiosos passaram a acreditar ser possível criar uma substância capaz de orientar o REV-ERB-α; e o REV-ERB-ß para tratar problemas de sono e metabolismo. Além disso, o achado evidencia mais uma relevante ligação entre o metabolismo do ser humano e o relógio biológico, cientificamente chamado de sistema de temporização, e que tem um papel central para o nosso bem-estar.
Ao sistema de temporização estão ligadas funções de controle da temperatura corporal, o funcionamento digestivo e a vontade que temos de comer e de dormir, por exemplo. “O sistema de temporização, que designa uma rede de osciladores localizada no sistema nervoso e em outros órgãos do nosso corpo, é responsável pela regulação de praticamente todas as funções do organismo”, explica o professor da USP e membro do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da instituição, Luiz Silveira Menna Barreto.
O coordenador do labora­­tório de cronobiologia da UFPR, Fer­nan­do Maz­­zilli Louzada, acrescenta que o popular relógio biológico ajuda o corpo a se adaptar ao cotidiano. “Na espécie humana ficamos em repouso à noite. Amanhece e despertamos. Para isso serve o relógio biológico, para que possamos ficar sincronizados com o passar do dia.”
No entanto, o sistema – que varia de indivíduo para indivíduo – não trabalha sozinho. Barreto explica que, para conseguir cumprir todas as suas obrigações e fazer com que o nosso metabolismo funcione corretamente, o sistema se baseia no ritmo circadiano: um mecanismo particular de cada pessoa que tem a duração aproximada de 24 horas e é resultante da interação entre o sistema de temporização com alguns sinais cíclicos do ambiente, como compromissos sociais, oferta de alimento, o dia e a noite.
Segundo a professora do departamento de fisiolo­­gia da Uni­­ver­­si­dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Caro­lina Virgínia Ma­­cedo de Azevedo, o sistema de temporização é ligado ao sistema nervoso e, por isso, é sensível à luz. Além disso, dependendo do horário que recebemos luz, ela pode regular nossos ritmos biológicos (que são as variações no nosso comportamento que se repetem regularmente ao longo do tempo reguladas pelo sistema de temporização) de maneiras diferentes. “Se recebemos luz durante a tarde e a noite, atrasamos nosso ritmo. Se, ao contrário, recebemos durante a madrugada, adiantamos o ritmo”, afirma.
“Ideal seria se o dia começasse ao meio dia”
Você acorda cedo pela manhã depois de longas horas de sono e já está disposto. Toma um banho, prepara o café, lê o jornal e sai empolgado para o trabalho, onde sabe que uma série de reuniões e desafios o esperam. No elevador, encontra seu vizinho, que não parece nem um pouco entusiasmado para enfrentar o dia. E não está mesmo. Durante a noite, ele ficou estudando até altas horas – pois sabe que é neste horário que consegue se concentrar melhor – e tudo o que queria era continuar na cama para descansar.
A pequena história acima pode até ser inventada, mas coincide com a vida de muita gente. Algumas pessoas têm mais capacidade para realizar tarefas depois que o sol aparece, outras preferem produzir sob o desvelo da lua, como é o caso do estudante de Medicina Felipe Fernandes Martins.
“Eu sou uma pessoa que funciona melhor à noite. Quando não estou em aula, durante as férias, feriados, prefiro dormir de manhã e fazer minhas coisas à noite. Agora que estamos em greve e estou fazendo plantões voluntários, percebo também que meus plantões à noite rendem mais que os de durante o dia”, revela.
Essas preferências por levantar cedo ou ir dormir mais tarde têm uma justificativa: elas dependem do cronotipo, uma espécie de identificação das pes­­soas que permite classificá-las em matutinas, intermediárias e vespertinas, como define o professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da instituição, Luiz Silveira Menna Barreto. As matutinas são aquelas que preferem acordar e dormir cedo. As vespertinas, por sua vez, são as que se encaixam no perfil de Felipe, com preferências para ficar acordado até mais tarde e prolongar as horas de sono durante a manhã. De acordo com um artigo publicado pelo grupo, os indivíduos vespertinos têm o ciclo vigília/sono mais irregular e com baixa eficiência. Além disso, eles ainda são mais propensos a tirar aquele cochilo ao longo dia, pois são mais privados de sono.
Já os indivíduos considerados intermediários representam a grande maioria da população, revela o artigo e, para eles, é mais fácil se ajustar aos horários impostos que para os matutinos e os vespertinos.
Segundo a professora do departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Carolina Virgínia Macedo de Azevedo, o fato de vivermos em uma sociedade que é muito matutina acaba prejudicando aqueles que gostariam de ficar na cama até mais tarde. “Os horários sociais privilegiam os matutinos e isso acaba sendo ruim para aqueles que vão dormir tarde da noite. Seria interessante que o vespertino tivesse a disponibilidade de dormir até mais tarde, para manter o período de sono adequado e não ter nenhum problema no futuro.”
Felipe concorda. Para ele, ainda que o dia após uma longa noite de estudos não seja tão prejudicial, ele precisa de, pelo menos, algumas horinhas de sono. “Eu não fico tão cansado, mas preciso dormir. Ideal seria mesmo se meu dia começasse ao meio dia”, diz.

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