Avaliações globais feitas desde 2000 com estudantes de 15 anos realçam a diferença de aprendizado entre os sexos
Publicado em 24/01/2012 | Denise Drechsel
As
habilidades em leitura de garotas de 15 anos ultrapassam de longe a dos
rapazes nessa mesma faixa etária em 74 países do mundo. Esse resultado
tem sido confirmado em todas as edições do Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa), um estudo da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que analisa a cada três
anos a qualidade e a eficiência de sistemas escolares em países que
representam 90% da economia mundial.
As jovens superam os garotos nos testes de leitura desde 2000, sendo que na média geral a diferença a favor delas em 2009, últimos dados do Pisa, foi de 39 pontos. Eles, por outro lado, vencem em Matemática e Ciências, com 15 e 4 pontos a mais, nessa ordem. Participaram da pesquisa 470 mil estudantes, dos quais 20 mil eram brasileiros.
As jovens superam os garotos nos testes de leitura desde 2000, sendo que na média geral a diferença a favor delas em 2009, últimos dados do Pisa, foi de 39 pontos. Eles, por outro lado, vencem em Matemática e Ciências, com 15 e 4 pontos a mais, nessa ordem. Participaram da pesquisa 470 mil estudantes, dos quais 20 mil eram brasileiros.
Análise
Mais qualidade
Com avanços, Brasil se mantém atrásO Brasil foi um dos países com os melhores índices de crescimento em qualidade nas últimas versões do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Em 2009, o país subiu 16 pontos em leitura, 30 em Matemática e 15 em Ciências, comparado a edições anteriores. Apesar desses acréscimos, no entanto, o país continua abaixo da média global.
Apesar da seriedade do levantamento do Pisa, os dados relativos ao Brasil devem ser vistos com prudência, alerta Rose Meri Trojan, coordenadora de extensão da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora na área de Educação Comparada. Isso porque a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cruza dados de países com políticas de educação muito diferentes. “Toda pesquisa de larga escala é apenas um indicador que deve levar os especialistas de cada um dos países envolvidos a aprofundar esse estudo de forma local”, alerta.
Qualidade a desejar
No caso do Brasil, ainda que 98% das pessoas entre 7 e 14 anos estejam matriculadas no ensino fundamental, existe o consenso de que a qualidade do que se ensina ainda deixa muito a desejar. “O Brasil não pode se contentar por ter todo mundo na sala de aula. A realidade é que grande parte dos alunos ainda sai da escola sem ter o conhecimento esperado naquela faixa etária”, lamenta Paolo Fontani, coordenador de Educação da Unesco no Brasil. Fontani, no entanto, é otimista. “Se atingirmos as metas de investimentos previstas e melhorarmos a capacitação dos professores, acredito que em 20 anos o Brasil pode atingir a média da OCDE”, acrescenta.
Os resultados do Pisa se unem a outros levantamentos que
comprovam a existência de diferenças de aprendizagem entre meninos e
meninas. Ainda que se tente explicar o fato a partir de peculiaridades
biológicas e psicológicas de cada um dos sexos, especialistas admitem
que ainda é preciso pesquisar mais para saber porque isso ocorre.
“A vantagem das meninas em leitura é o mais evidente. Há estudos que
procuram entender esse resultado baseados em características biológicas,
outros em fatores psicológicas e outros ainda indicam que talvez
existam áreas de linguagem no cérebro que se desenvolvem mais cedo nas
meninas. Existem ainda ensaios que estudam possíveis causas sociais, que
perdem cada vez mais força”, afirma David Chadwell, consultor de
escolas públicas nos Estados Unidos que separam meninos e meninas em
algumas aulas.
As pesquisas costumam reiterar, no entanto, a grande interferência
das diferenças biológicas entre os dois sexos. Elas são tão grandes que
para Neide Noffs, diretora da faculdade de Educação da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), os resultados do Pisa devem
ser analisados com muita cautela. “Não dá para fazer uma comparação
exata de meninos e meninas aos 15 anos, já que existem muitas diferenças
orgânicas entre eles.” Ela exemplifica que, aos 13 anos, as garotas já
estão mudando de corpo de forma marcante, enquanto os rapazes vivem
diferentes fases hormonais.
“Isso faz com que as meninas sintam antes uma mudança de
responsabilidade, com a maior necessidade de compreensão do mundo,
enquanto que os meninos ainda não estão pensando nisso”, explica. “Por
isso é importante perceber que não existe melhor ou pior, os dois sexos
são diferentes e vivem experiências diferentes o que, com certeza,
influenciam no seu desempenho nessas áreas”, insiste.
Educação segmentada pelo sexo
A constatação de altos índices de aprendizagem alcançados por meninos
e meninas de 8 a 15 anos que estudam em escolas com turmas exclusivas
para um sexo provocou o renascimento desse tipo de ensino em vários
países. Como as diferenças significativas mostram-se próprias dessa
faixa etária, as escolas voltam a ser mistas nos últimos anos do ensino
médio. E, ao contrário do que se vê normalmente no Brasil, muitas das
escolas estrangeiras não têm nenhuma motivação ideológica.
De acordo com David Chadwell, responsável por coordenar a abertura
de mais de 100 escolas públicas não mistas na Carolina do Sul, nos
Estados Unidos, o objetivo é puramente pragmático. “Depois de atestar as
vantagens do ensino para um só gênero, optamos por oferecer também essa
opção para os pais interessados nesse tipo de educação. Em escolas
mistas, a pedido dos pais e com a coordenação e apoio dos professores,
implementamos algumas aulas só para meninos ou só para meninas”,
explicou Chadwell, em entrevista por e-mail.
Na Europa, entidades favoráveis à educação separada, como a Easse
(Associação Europeia de Educação para um Gênero, da sigla em inglês),
reúnem escolas desse tipo em diversos países e publicam a cada ano novos
levantamentos de desempenho e pesquisas de comportamento. Outras
entidades começam a se preocupar com o fenômeno, como a Oidel
(Organização Internacional para o Desenvolvimento da Educação Livre),
que concluiu em um estudo que entre as 50 melhores escolas do Reino
Unido, 36 são de educação separada.
Evandro Faustino, presidente da Isep Consultoria Educacional em São
Paulo, favorável ao que ele chama de “educação personalizada”, defende
que existem muitas vantagens na separação dos sexos na sala de aula. “A
educação por sexo [dos 8 aos 15 anos] ajuda a aproveitar melhor as
etapas de desenvolvimento de cada um”, analisa.
Para o educador, os adolescentes não perdem nesse tipo de ensino. “Se
houvesse uma separação efetiva em todos os ambientes, isso seria
doentio, mas não é o que acontece. Na vida há muitas outras
oportunidades de estar com o outro sexo e o custo-benefício para ambos
na aprendizagem dessa forma é inegável”, continua. Entre as vantagens, o
educador lista a possibilidade de trabalhar com métodos mais adequados a
cada sexo.
"Pesquisas mostram que há certas áreas do conhecimento, como línguas,
em que os meninos, na presença das meninas não gostam de fazer e
vice-versa", acrescenta o educador.
Outros especialistas, no entanto, como Neide Noffs, diretora da
faculdade de Educação da PUCSP, não acreditam que, a longo prazo, a
educação separada seja a melhor.“A relação entre os gêneros ajuda a
potencializar o que é bom de cada um e superar as diferenças”, afirma.
“Mas não existe um certo ou errado. O importante é que os pais escolham o
que acharem melhor para os seus filhos e, ao mesmo tempo, saibam
proporcionar a eles experiências diferentes. Se os filhos estudam em uma
escola mista, que possam estar algum tempo em atividades só com pessoas
do mesmo sexo e vice-versa”, finaliza.
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