Amor além da vida
Carinhosa, bondosa e gentil, eram as
características da Glaci. Nunca ficava quieta, sempre fazia alguma coisa, como
lavar roupas, limpar a casa ou capinar o quintal. Nunca vou esquecer, que todas
as noites nós jogávamos baralho, se não era jogo, eram histórias de antigamente,
sempre com meus outros primos: Diego, Kaluf, Stephani, Carolina e Junior. Meus
primos, também gostavam de jogar baralho com a nossa avó, mas era para decidir
quem iria lavar a louça, arrumar a cama, varrer o chão, tirar o pó, enfim, tudo
sempre era decidido de uma forma divertida. Glaci, não ganhava muito com sua
aposentadoria, mas mesmo assim, quando algum de seus netos precisava de algo,
ela sempre dava um jeitinho. Ela
era mais que uma avó para mim, era uma segunda mãe. Meus pais viviam
trabalhando e a única que me aguentava era avó. Quando eu era pequena, avó foi
a que mais me ajudava com a lição de casa, apesar de não lembrar muito do seu
tempo de escola, mesmo assim não importava como, ela sempre me ajudava.
Quando
a perdemos foi um choque para todos. Eu lembro como se fosse hoje o dia que ela
teve um AVC, foi em uma quinta-feira, eu estava na escola, quando cheguei em
casa, vi tudo fechado, a princípio achei que ela tinha saído, vi a porta entre
aberta, achei estranho. Quando entrei em casa, encontrei-a desmaiada no chão,
com meus pais ausentes, logo lembrei que poderia ligar para o serviço da minha
mãe, sem pensar duas vezes, pulei a janela da minha casa, que fica ao lado,
porém não sabia como explicar o que estava acontecendo. Eu estava tão assustada
de presenciar minha avó no chão, desacordada. Minha mãe me orientou a pedir
ajuda da minha madrinha, nossa vizinha. Corri até lá para me ajudarem. Logo ao
voltar, vi meu tio Sanderson, irmão de minha mãe, tirando-a do chão e conduzindo-a
rapidamente até o hospital. Ao chegarem lá, as enfermeiras foram tão egoístas
que deixaram minha avó em uma maca qualquer e simplesmente disseram que não
tinha vaga para ela, e saíram. Meu tio ficou muito brabo e foi falar com o médico
responsável, ele falou que iria tentar transferi-la, também disse que ligaria
para vir buscá-la, mas ao invés disso, foi tomar café. Meu tio novamente se
revoltou e ele mesmo ligou para a ambulância e passou o telefone para o médico
dizer as informações necessárias para a transferência.
Minha
avó ficou lutando por dois dias, mas eles disseram que se ela acordasse ficaria
em estado vegetativo. Quando meu pai veio me buscar na casa da minha madrinha,
ele disse que no momento ela estava nas mãos de Deus, por um fio de ir embora.
Naquele momento, senti o mundo desabar em cima de mim, que eu nunca mais teria
uma companheira para jogar comigo a noite, não mais iria ouvir as histórias que
ela contava. Culpei-me por tê-la deixada sozinha naquele dia, pois estava
chovendo muito e eu insisti para ir à aula, mesmo assim, na época eu não
compreendia bem o que acontecera, mas agora eu consigo compreender tudo o que
aconteceu.
Em
nossas infinitas conversas, eu vivia dizendo que ela cuidaria de mim, e quando
eu tivesse idade, eu cuidaria dela.
Infelizmente
ela não vai ter a chance de me ver crescer. Agora só nos resta passar adiante
todos os ensinamentos que ela deixou a seus filhos, a mim e aos meus primos.
Teremos sempre a presença dela em nossos corações e enquanto nós seguirmos o
seu legado ela viverá para sempre conosco.
Col. Est. Ambrósio Bini 9 B 2016
Um comentário:
Lindo, e emocionante crônica!
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