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terça-feira, 25 de junho de 2013

Brasileiros conhecem a experiência finlandesa

Divulgação / Cenas do Brasil: 42 milhões de estudantes. Na Finlândia são 885 mil alunosCenas do Brasil: 42 milhões de estudantes. Na Finlândia são 885 mil alunos
EDUCAÇÃO

Brasileiros conhecem a experiência finlandesa

Dilvo Ristoff, professor do Mestrado em Administração Universitária e do Mestrado em Gestão e Métodos de Avaliação da UFSC.
A Finlândia está sempre no topo em rankings internacionais que avaliam o desempenho de estudantes, enquanto o Brasil amarga uma das últimas colocações. Em um momento em que estava iniciando a construção de uma política nacional de formação de professores para a educação básica, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entendeu que o Brasil deveria conhecer a bem-sucedida experiência educacional finlandesa.
Para isso, em 2008 foi feita uma visita oficial de cinco dias ao país, com o objetivo de conhecer o sistema de ensino, as escolas, universidades e os seus cursos de formação de professores, bem como trocar experiências com os responsáveis pela condução do sistema educacional finlandês.
À frente da comitiva estava o então diretor de Educação Básica da Capes Dilvo Ristoff, que também é ex-diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e hoje atua como professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ristoff conversou com a reportagem sobre a visita oficial.
Com que objetivo foi feita a viagem à Finlândia?
Fomos às escolas, conversamos com autoridades do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação, falamos com pais de alunos e com professores das universidades que formam os professores da educação básica. Buscamos entender por que eles conseguem e nós não. A extensa programação girou em torno da política educacional; das características do sistema de ensino finlandês (ensino fundamental de 6 a 14 anos e ensino médio de 15 a 17 anos), do financiamento, da gestão escolar, da formação e valorização de professores e das diretrizes que orientam as atividades didático-pedagógicas com as quais operam os professores, as escolas e a sociedade finlandesa.
Diante da realidade de ensino finlandesa, o que mais chamou a atenção durante a comitiva e o que poderia ser “importado” para o Brasil?
Em primeiro lugar há que se ter em mente que a Finlândia é um país pequeno, com pouco mais de 5,3 milhões de habitantes, o que por si só torna a organização do sistema educacional bastante distinta do brasileiro. O ensino fundamental abriga 596 mil alunos, o ensino médio geral 129 mil e o ensino médio vocacional 160 mil. Ao todo, estão, portanto, matriculados na educação básica finlandesa 885 mil alunos. No Brasil, em contraste, temos 42 milhões de estudantes matriculados, ou seja, quase 50 vezes mais. Esta diferença de escala precisa sempre ser considerada. É preferível que vejamos como eles respondem a perguntas que nós temos e que então nos inspiremos nas respostas que eles dão e nas ações que desempenham, sem nos preocuparmos em simplesmente pensar em copiar ou transpor experiências.
No Brasil temos um currículo nacional comum e uma busca por certa autonomia das escolas relacionada à diversidade. Como é a organização curricular na Finlândia?
O currículo da educação básica finlandesa, os seus objetivos, conteúdos e métodos de aferição de resultados, em todos os seus níveis, é definido pelo Board of Education (BE). Este currículo mínimo é efetivamente complementado pelas escolas, com disciplinas adicionais e a carga didática semanal para cada uma das disciplinas.
E quanto à formação e contratação dos professores?
A contratação dos professores, o pagamento de salários e a supervisão administrativa da educação básica é responsabilidade do município. Os professores que atuam nas primeiras seis séries da educação básica são conhecidos como class teachers ou generalists (professores de classe) e os das três séries finais como subject teachers (professores de disciplinas). A exigência de formação para o primeiro grupo é que eles tenham mestrado em Educação e os demais devem ter mestrado nas disciplinas que ministram, combinado com estudos pedagógicos.
Há incentivo do governo para que os professores tenham este nível de formação?
Os professores são formados por universidades públicas em cursos de graduação específicos, de três anos de duração, em combinação com mestrados articulados com o Centro de Treinamento de Professores, com dois anos de duração. Os professores para a educação infantil ou se formam em curso de Pedagogia na universidade ou em faculdades politécnicas. Estes professores podem também receber apoio de profissionais formados em escolas do ensino médio vocacional/profissional.
Quais foram as conclusões que a comitiva trouxe para o Brasil?
Penso que aprendemos muitas coisas, coisas que fazem que olhemos para nós mesmos com olhos mais críticos e que nos fazem crer que as coisas poderiam ser diferentes por aqui. Toda a educação finlandesa é pública e gratuita, da educação infantil à pós-graduação, mesmo nos raros casos experimentais em que o estado financia o estudo dos estudantes em instituições privadas. Isto cria um contraste impressionante com a graduação brasileira: enquanto cerca de 70% de nossos professores são formados em instituições de ensino privadas, na Finlândia 100% dos professores são formados em universidades públicas e já saem para a sala de aula com o título de mestre. A escola finlandesa é de turno integral, com início de suas atividades às 8 horas da manhã e encerramento às 15h.
Em que pontos o Brasil ainda precisa avançar pra ter um resultado próximo ao da Finlândia?
Eles têm uma combinação de fatores favoráveis à aprendizagem e ao ensino. Na comparação, acho que podemos dizer algo assim: os professores deles têm boas condições de trabalho e boa carreira (os nossos não); as escolas deles são confortáveis e limpas (as nossas, com exceções, são sujas e descuidadas); as escolas deles são bem equipadas (as nossas são péssimas e, raramente, têm os laboratórios didáticos básicos); as escolas deles funcionam em tempo integral (a nossa em tempo parcial); os professores finlandeses, selecionados em rigorosa competição, são formados para serem professores (os nossos se perdem em bacharelados travestidos de licenciaturas); os professores finlandeses recebem de suas universidades apoio em Centros de Educação Aplicada, junto aos quais funcionam mestrados que trabalham questões práticas da educação finlandesa; o sistema finlandês de educação tem o que chamam de “core curriculum” (currículo cerne), que precisa ser seguido por todos (nós inventamos os nossos currículos e, só recentemente, através de exames, tentamos criar alguma ordem nos parâmetros curriculares dos nossos cerca de 5.570 sistemas); o professor finlandês foi capacitado para lecionar o que leciona, os nossos, em 50% dos casos, são improvisados, isto é, não têm formação específica para ensinar o que ensinam. Enfim, o professor finlandês se sente seguro, importante e valorizado (o nosso tem medo, se sente desautorizado, diminuído e desprestigiado).
E o que foi e o que vai ser implantado no Brasil a partir do que foi visto na Finlândia?
As metas e estratégias para o próximo Plano Nacional de Educação (PNE) não são exatamente modestas. Só para citar algumas, há a previsão de formação específica de nível superior aos professores da educação básica e a formação de 50% deles em nível de pós-graduação lato e stricto sensu. A meta 17 é valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de 11 anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente. Esperemos que este plano não seja para inglês ver e que o recurso esteja ao lado do discurso.

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