Faltam mestres na sala de aula
No Brasil, professores da educação básica não têm pós-graduação stricto sensu. Mestrado profissional é apontado como opção.
Ao contrário do que ocorre em países desenvolvidos considerados modelo em educação básica, como a Finlândia, o Brasil não tem mestres em sala de aula, segundo dados da Prova Brasil 2011. Isso se dá não só pela falta de condições dos docentes em investir em um nível mais avançado de educação, como pela forma como os programas de pós-graduação stricto sensu estão estruturados. A consequência é, principalmente, a defasagem cultural dos professores.
Atualmente, a educação continuada tem sido a opção mais recorrida para a capacitação de docentes, que participam de cursos de extensão – muitas vezes promovidos pela própria escola – e especializações. Com isso, o foco é ampliar o conhecimento prático, que discuta estratégias para melhorar o desempenho em sala de aula.
Uma agulha no palheiro
O resultado da Prova Brasil não é uma regra. O professor de Geografia Adalberto Scortegagna (foto) é uma exceção entre os docentes da educação básica. Além de duas graduações – a outra é em Geologia –, ele tem mestrado e doutorado. Embora também atue no ensino superior, não abriu mão de continuar com as aulas do ensino médio. Inclusive, encontrou nele seu objeto de estudo. “Onde dou aula existe um centro de estudos sobre o assunto. Então me senti motivado a continuar com as aulas”, conta. Para ele, a diferença da sua atuação em sala depois da pós-graduação é visível. Além de notar que aumentou o respeito e a admiração dos alunos, acredita que, por causa do volume de leitura que fez, o desempenho melhorou. “O discurso é outro. A gente consegue mostrar aos alunos – e discutir com eles sobre a teoria – com mais propriedade.”
Mestrado Profissional em Educação
As inscrições na UFPR estão abertas até a próxima sexta-feira. São 21 vagas para a área de Teoria e Prática de Ensino. O processo seletivo é destinado a candidatos que sejam professores ou pedagogos em exercício da educação básica. Mais informações no sitewww.educacao.ufpr.br.
Dê a sua opinião
Você considera importante o professor de seu filho ter mestrado ou doutorado? Por que?
Diante desse cenário, especialistas discutem a importância de um educador do ensino básico ter melhor formação intelectual, que não necessariamente tenha resultado prático, mas que ensine a pensar. “Levar pensadores para as escolas também é fundamental. A tendência é melhorar o desempenho em geral”, diz a professora da Escola de Educação e Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Joana Romanowski.
Segundo ela, o mestrado é relevante a todos e muito importante na formação de gestores, cargo que pode ser ocupado por qualquer professor na rede pública, já que diretores são escolhidos por votação. Conforme dados da Prova Brasil, o número de diretores com mestrado também é pífio. Apenas 2% têm essa formação no país – mesmo número no Paraná.
A falta de mestres e doutores em sala de aula é reflexo, em grande parte, da estrutura dos programas de pós-graduação. Hoje, os cursos são mais voltados à formação de pesquisadores que queiram seguir carreira acadêmica. Portanto, o interesse não atinge a maioria dos profissionais que estão em contato direto com os alunos.
Para o consultor educacional Renato Casagrande, essa também é uma questão de falta de aptidão, pois esses programas exigem um nível aprofundado de investigação e conhecimento no qual nem todos estão dispostos a investir. “Sem contar que há poucas vagas no país. Não daria nem de perto para formar a maioria dos professores da educação básica. É algo bem restrito mesmo.”
Fora isso, a grande maioria dos professores teria pouca condição de investir nesse tipo de pós-graduação devido à falta de tempo e dinheiro.
Formação deficiente
Difícil pensar em professores com mestrado quando nem a graduação é eficiente. Além da baixa qualidade dos cursos superiores, o número de bons alunos interessados em seguir a docência é pequeno. “Nos países desenvolvidos essa questão está resolvida. A carreira lá é valorizada e também os bons alunos se interessam por ela”, comenta Casagrande.
Alternativa
Mestrado profissional é apontado como opção para a educação básica
Mestrado profissional é apontado como opção para a educação básica
Existe uma opção de mestrado recente no Brasil que tem sido apontada por especialistas em Educação como um caminho para levar formação de qualidade às escolas da educação básica: as modalidades profissionais.
Em menos de três anos, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) lançou dois programas de mestrado profissional: em Matemática (Profemat) e em Letras (Profletras). A proposta é, em dois anos, formar mestres para atuar especificamente na educação básica. As aulas são semipresenciais para permitir que o profissional concilie trabalho e estudo.
A exigência para o preenchimento de 80% das vagas é que o candidato seja professor do ensino fundamental ou médio da rede pública e que, após a conclusão da pós-graduação, permaneça nela por pelo menos cinco anos. Para esses mestrandos existe ainda uma bolsa da Capes, no valor de R$ 1,5 mil.
UFPR
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma das primeiras a implantar o programa no país, o resultado é muito positivo, de acordo com o coordenador do curso, Luiz Antônio Ribeiro de Santana. Além de grande procura – são em média 400 candidatos para 30 vagas –, o formato tem permitido que os professores se dediquem aos estudos sem abandonar ou atrapalhar o trabalho. “É o tipo do mestrado que prepara para a sala de aula. Sem contar que, por causa do regulamento, essa formação vai necessariamente se reverter para a educação básica. Nesse caso da rede pública”, diz Santana.
Segundo dados da Capes, em 2012 foram 2,8 mil matrículas no Profmat. As inscrições para o Profletras foram encerradas no fim de maio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário