O conclave marca o estágio final de um misterioso processo eleitoral que começou discretamente há algumas semanas, meses ou mesmo anos.
Alguns dos 115 cardeais que se reúnem a partir de terça-feira na Capela Sistina há anos são vistos como "papáveis". Outros nomes só ganharam força depois que Bento 16 anunciou em 11 de fevereiro que iria renunciar.
Há cardeais que buscam o cargo ativamente, e outros que se apresentam com menos entusiasmo, mas todos eles estarão sujeitos à mesma dinâmica imprevisível que coloca os conclaves entre os processos eleitorais menos transparentes do mundo.
O arcebispo Piero Marini, mestre de cerimônias do conclave de 2005, notou que desta vez o processo pré-eleitoral começou para valer em 28 de fevereiro, quando ele viu cardeais conversando em pequenos grupos depois de se despedirem do papa Bento 16 no Vaticano.
"Foi então que os preparativos para o novo papa começaram", disse ele a jornalistas, explicando na semana passada os rituais do conclave.
O teólogo italiano Massimo Faggioli disse que um dos principais candidatos, o arcebispo de Milão, Angelo Scola, se prepara há anos para a disputa. Ele citou o Oásis, rede de diálogo entre cristãos e muçulmanos lançada em 2004 pelo religioso, como uma plataforma que reforça suas chances.
"Scola é muito inteligente e construiu muito cuidadosamente sua campanha para esse conclave", disse ele. "Agora ele está muito mais conhecido internacionalmente do que os outros italianos."
Mas todos os cardeais negam estar em campanha para uma eleição que eles dizem ser guiada pelo Espírito Santo. Cabalar votos ostensivamente é a forma mais eficaz de afastar os cardeais-eleitores de um candidato.
O que um cardeal com ambições faz é participar de sínodos do Vaticano para conviver com outros prelados, visitar colegas regularmente e proferir conferências que revelem sua sabedoria e seus dotes linguísticos. Publicar livros regularmente também é aconselhável.
Quando um papa morre ou se aposenta, os "grandes eleitores" surgem para discretamente promover candidatos durante as reuniões preliminares ao conclave, chamadas "congregações gerais", nas quais os cardeais se reúnem para discutir o futuro da Igreja e traçar o perfil do novo pontífice.
Geralmente, candidatos que não estão no páreo promovem seus preferidos durante conversas informais paralelas a essas reuniões, em jantares nos restaurantes de Roma e em intervalos do próprio conclave.
Em 1978, após a repentina morte de João Paulo 1º, o então arcebispo de Viena, Franz Koenig, mobilizou os cardeais germanófonos em torno do polonês Karol Wojtyla, enquanto o polonês-americano John Krol mobilizava os prelados os EUA em torno do mesmo nome. Wojtyla se tornaria o papa João Paulo 2º..
Em 2005, Joseph Ratzinger chegou ao conclave já com o apoio dos cardeais da Cúria (a burocracia do Vaticano), e reforçou sua candidatura ao comandar com habilidade os debates da congregação geral e ao denunciar a "ditadura do relativismo" durante um sermão logo antes do início do conclave.
ELEIÇÃO DE RATZINGER
Uma vez dentro da Capela Sistina, os cardeais rezam, votam e aguardam os resultados eleitorais. Nenhuma consulta é permitida dentro da Capela, mas os prelados podem discutir as opções durante as refeições no alojamento que fica atrás da basílica de São Pedro.
A primeira rodada de votação, na tarde em que o conclave começa, é como uma eleição primária, na qual os votos são dispersos entre vários candidatos. Alguns desses votos são uma espécie de homenagem a cardeais amigos antes que a disputa se torne mais séria, no dia seguinte.
Os cardeais juram segredo, mas uma reportagem da revista italiana Limes depois do conclave de 2005 afirmou que Ratzinger obteve sólidos 47 votos na primeira votação, com Jorge Bergoglio, de Buenos Aires, somando 10 apoios e os votos restantes distribuídos entre outros nomes.
Os votos começaram a ser transferidos a partir da segunda votação, levando Ratzinger a 65 apoios contra 35 de Bergoglio. A revista Limes afirmou que o argentino era apoiado por vários cardeais moderais da Alemanha, EUA e América Latina.
A terceira votação deu 72 votos a Ratzinger e 40 a Bergoglio, segundo a Limes, e o cardeal alemão foi eleito na quarta votação com 84 votos.
Entre os ditados populares romanos sobre os papas um diz que "quem entra no conclave como papa, sai como cardeal". Isso, porém, nem sempre se mostra verdadeiro.
Em 1939, o cardeal Eugenio Pacelli entrou no conclave como o grande favorito. Na terceira votação foi eleito, para se tornar Pio 12
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