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quarta-feira, 6 de março de 2013

Quando a casa vira o escritório



Marcelo Elias/ Gazeta do Povo / Patrícia Bem, 30 anos. Voltou à empresa só depois de o filho, Leonardo, ficar maior

Apesar da flexibilidade dos horários, trabalhar em casa também exige rotina para evitar distrações e manter a produtividade em altaQuem, em algum momento da vida profissional, já não desejou trabalhar no aconchego de casa, longe da rotina estressante que começa no trânsito e se estende ao longo do dia com reuniões intermináveis e atividades pouco produtivas. Para muitos profissionais e empresas, o home office (termo em inglês que significa trabalho em casa) já é uma realidade, repleta de vantagens e desafios.
Home office
Programa para mães permitiu tempo extra com o filho
Funcionária da Volvo desde 2010, a engenheira mecânica Patrícia Bem, de 30 anos, teve uma regalia que muitas profissionais mães gostariam de ter e não têm. Além da licença maternidade, Patrícia emendou mais seis meses trabalhando meio período de casa, por meio de um programa de home office oferecido pela empresa às mães, para que elas possam passar mais tempo ao lado dos seus filhos.”Eu ficava em casa de manhã, almoçava em casa e voltava para o trabalho à tarde”, conta ela, que desde o início contou com a ajuda de uma babá para conseguir manter a rotina de trabalho.
“A principal vantagem foi o retorno ao trabalho em doses homeopáticas, sem interromper bruscamente o meu contato com ele. Quando voltei ao horário normal, ele já estava maior eu tinha construído uma relação de confiança com a babá”, ressalta. Segundo Patrícia, a qualquer momento o home office poderia ter sido interrompido por ela ou pelo seu gestor, mas a adaptação foi bastante positiva, tanto que ela pensa em repetir a experiência quando o segundo filho vier. “Se tivesse a opção de escolher home office, eu escolheria”. Na Volvo, o programa é aplicado por tempo determinado apenas às mães da área corporativa. Depois de encerrar o período de licença maternidade, a mulher pode escolher trabalhar em casa um período do dia (manhã ou tarde) até o filho completar um ano.
Tome nota
O home office não combina com improviso e falta de rotina. Confira algumas dicas para aproveitar o conforto do lar com profissionalismo
• Invista no ambiente
Trabalhar em casa não significa improvisar um escritório em qualquer canto. É preciso ter um lugar compatível com as necessidades do profissional. Invista em móveis e tecnologias adequadas. Priorize o silêncio e a boa iluminação. Quanto mais isolado o escritório estiver dos espaços comuns da casa, melhor. O ideal seria ter um espaço com uma entrada independente, como uma edícula, por exemplo.
• Crie uma rotina
Nada de dormir até tarde e passar o dia trabalhando de pijama. Vista-se confortavelmente para um dia de trabalho e defina horários para compromissos pessoais e profissionais. Embora a flexibilidade de tempo seja a grande vantagem do home office, é fundamental criar uma rotina para fugir das distrações e evitar o adiamento das atividades. Estabeleça metas e trabalhe firme para cumpri-las.
• Mantenha seus contatos
Trabalhar em casa não significa se isolar da empresa, dos colegas ou do mundo. Ao contrário, a recomendação é para que os contatos sejam mantidos e fortalecidos. A comunicação entre profissional e empresa precisa ser organizada e eficaz para eliminar o medo de não ser visto e ressaltar a confiança entre gestão e funcionário.
Leitura
Casal escreveu livro sobre a rotina de trabalho em casa
Com a experiência de quem levou o escritório para dentro de casa há 10 anos, o casal Marina e André Brik lançou em 2011 o livro As 100 Dicas do Home Office: Um Guia Básico para Montar e Manter seu Escritório em Casa. Em 11 capítulos e 64 páginas, o livro aborda temas diversos – como a presença dos filhos e a questão da produtividade – e traz cases e dicas de profissionais que escolheram o home office.
Um levantamento do Grupo Regus, especializado em soluções de espaços para escritórios, listou os principais desafios à prática do home office. Crianças e familiares que exigem atenção (64%); dificuldade de concentração (44%); e familiares e bichos de estimação que atrapalham as ligações telefônicas (44%) foram os três principais obstáculos à produtividade citados pelos profissionais brasileiros ouvidos pela pesquisa.
A falta de estrutura para desenvolver o trabalho em casa também entrou na lista dos empecilhos: conexões de internet instáveis, falta de equipamentos de escritório, má postura gerada por móveis improvisados e até mesmo dificuldades para lidar com animais de estimação – que disputam com o trabalho a atenção dos home-officers brasileiros.
Quem superou os obstáculos do home office, afirma que as vantagens compensam o esforço inicial. Há cerca de 10 anos o casal André e Marina Brik (ele designer e ela jornalista) aderiu à prática. Em casa, dos escritórios devidamente separados, ele comanda a Brik mkt+design e ela, a Jornalismo Corporativo. Segundo Marina, todos os desafios são perfeitamente contornáveis com disciplina e organização familiar. “As pessoas que trabalham remotamente tem a vantagem dos horários flexíveis, mas precisam aprender a administrar isso”.
Para o casal, os ganhos para profissionais e empresas vão além da economia de dinheiro e tempo. Segundo André, quando a pessoa trabalha em casa o rendimento é até 30% maior que na empresa, onde, em média, 45% do tempo são gastos em interrupções e reuniões pouco produtivas. “O trabalho não é um lugar que você vai, mas aquilo que você faz”, afirma o designer.
Perfil
Embora o home office esteja se tornando uma tendência nas empresas, é um engano pensar que todos os profissionais têm perfil para trabalhar em casa, destaca André. “Existe um estudo que mostra que 20% das pessoas não se adaptam e pedem para voltar a trabalhar na empresa”.
“Para trabalhar em casa, o profissional precisa de capacidade de concentração, pois o ambiente doméstico pode facilmente distraí-lo. E deve ter sempre em mente que, mesmo estando em casa, está trabalhando”, afirma o vice-presidente da Regus para a América Latina, Michael Turner. Para o casal de home-officers, proatividade, autogerenciamento e orientação para metas são competências imprescindíveis. Não podem ser dependentes do chefe.
Exemplo
HSBC usa home office como aliado para atrair e reter talentos
O aumento da capacidade de atração e retenção de talentos. Essa foi uma das principais vantagens percebidas pelo HSBC com o programa de home office, que já funciona nas áreas comerciais e de suporte. No setor de atendimento à pessoa jurídica (comercial banking), por exemplo, um grupo de 30 colaboradores, baseado em São Paulo, trabalha em casa até quatro dias por semana há mais de três anos. Todos os equipamentos necessários para que o funcionário possa desenvolver suas atividades em casa são fornecidos pelo HSBC, que pretende expandir a prática para todas as demais áreas da companhia cuja atividade seja compatível com esse modelo de trabalho.

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