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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Enquanto você se diverte, nós...


Enquanto você se diverte, nós...

Conheça as histórias de quem mantém tudo funcionando naquela hora em que você está fazendo a contagem regressiva para o novo ano.
Quem não se lembra da fábula da cigarra e da formiga? Uma cantarolava e dançava e a outra trabalhava sem cessar para garantir seu bem-estar. Dá para exercitar essa comparação agora, em plena virada do ano-novo. Enquanto a grande maioria das pessoas comemora a passagem para o novo ano que se inicia, outras tantas precisam trabalhar para garantir, justamente, o bem-estar geral. São médicos, enfermeiros, garçons, motoristas, lixeiros, porteiros, bombeiros, entre outras profissões que se mantêm a postos para fazer tudo funcionar direitinho.
E quando questionados, observa-se uma característica comum a todas essas profissões: a doação, um gosto natural de cuidar das outras pessoas. “Escolhi ser enfermeira principalmente por considerar o contato com pacientes contagiante”, conta a enfermeira do Hospital Nossa Senhora das Graças Andréia Colombo, 35 anos, com a experiência de quem está há 15 anos na área. Para o gerente do Lellis Trattoria Curitiba, Heitor Ramos Sousa, 36 anos, o amor e a dedicação aos clientes são fatores importantes para tudo sair perfeito.
Mas engana-se quem pensa que trabalhar torna-se um sinônimo perfeito de não-comemoração. Muitos, na realidade, comemoram, sim. Porém, da maneira que lhes é possível, perdendo as contas das vezes em que fizeram plantão na virada e colecionando histórias de dar inveja a qualquer escritor mediano que se preze.
Eles não escondem a saudade que sentem da família, a vontade de estar em uma festa com os amigos. Contudo, lembram-se de que vale a pena a doação e que, no primeiro momento de escolha da profissão, todos sabiam que enfrentariam essas situações. É o caso do comissário de bordo da Gol Leandro Lima, 28 anos, que, desde a infância, esteve acostumado a comemorar a data rodeado de familiares e amigos. “Mas, de repente, me vi em uma cidade diferente, com pessoas que havia conhecido apenas 30 minutos antes do voo, no aeroporto. Mas a tripulação era muito unida. Jantamos juntos e depois acompanhamos a queima de fogos. Quando marcou a meia-noite, nos abraçávamos como velhos amigos”, confidencia Lima.
Entre folhas e bitucas, uma visita inesperada
Letícia Akemi/Gazeta do Povo

O varredor Landoir Gomes de Freitas, 46 anos, foi surpreendido com a solidariedade alheia em uma virada de ano
Era o último dia do ano, porém mais um como outro qualquer para o varredor Landoir Gomes de Freitas, 46 anos, bastante acostumado a dar cabo de folhas secas e a lidar com os calores súbitos da cidade que adotou como sua há 12 anos. Mas o dia ganhou novos ares com uma visita inesperada. “Enquanto eu varria a Rua José Loureiro, no centro de Curitiba, um carrão parou, abaixou o vidro e alguém perguntou: ‘Quantos filhos você tem?’ Eu respondi: ‘Três’. A pessoa desceu do carro, abriu o porta-malas e me deu três cestas com brinquedos e alimentos. Naquele dia, voltei para casa com o carrinho estufado e uma alegria grande, com orgulho do que eu faço”, conta com um sorriso largo estampado no rosto. Ele diz que, enquanto as pessoas mal o cumprimentam no dia a dia, durante o fim de ano é diferente. “As saudações são mais frequentes. Isso me deixa feliz. É gostoso quando alguém age assim, de verdade, com a gente”, completa.
Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Ano-novo em família

Uma casa próxima ao Quartel Central do Corpo de Bombeiros está ardendo em chamas. Em seus trajes típicos, os bombeiros correm de um lado para o outro, com mangueiras e extintores. Mas, enquanto lutam contra o incêndio, as primeiras explosões de fogos de artifício iluminam o céu e fazem o bombeiro Max se lembrar de um detalhe importante há pouco esquecido: é ano-novo. Essa é uma das muitas histórias que o bombeiro José Max Fagundes, 45 anos, um apaixonado por seu ofício, coleciona. “Nos 25 anos de corporação, a gente sente uma pontinha de saudades da família nessa hora, mas olho ao redor e vejo que estou com minha segunda família: meus colegas de serviço”, destaca Fagundes. “Por isso, durante a virada, fazemos uma pequena festa com pratos que alguns de nós trazem e, quando não há ocorrência, colocamos as viaturas para fora do quartel, ligamos as sirenes por alguns minutos, para comemorar a chegada do novo ano com barulho, e subimos até o terraço para ver a queima de fogos. É bem emocionante!”.

Sabor, confetes e muita dedicação
Andre Rodrigues/Gazeta do Povo

O gerente do Lellis Trattoria Curitiba, Heitor Ramos Sousa, ao centro, supervisiona a equipe até na hora da festa
3, 2, 1! São só confetes voando, pessoas se abraçando e dançando. E, na comemoração da virada do ano no Lellis Trattoria Curitiba, não é raro quando o gerente do restaurante, o baiano Heitor Ramos Sousa, 36 anos, que começou como garçom em São Paulo há mais de 10 anos, entra na roda. “Nesse dia especial, fazemos nosso trabalho com tanto amor e dedicação para que tudo saia perfeito, que o tempo passa rápido”, afirma Sousa, que gerencia aproximadamente 25 pessoas e leva dias planejando o atendimento das quase 500 pessoas atendidas no dia todo da virada. “Muitos clientes nos cumprimentam e nos abraçam. O reconhecimento por nossa doação é grande”, confidencia Sousa, mostrando alguns dos presentes que já recebeu, como camisas e gravatas.

Guardiões da arte de curar
Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O médico Renato Raad já perdeu as contas das vezes em que trabalhou durante a virada de ano-novo
Andre Rodrigues/Gazeta do Povo
“Prometo que, ao exercer a arte de curar, me mostrarei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência.” Essa é uma das frases do juramento de Hipócrates, feito pelos médicos na ocasião de sua formatura, e um mote que cai como uma luva para o médico ortopedista do Hospital Nossa Senhora das Graças Renato Raad, 41 anos. “Perdi as contas das vezes em que trabalhei durante a virada de ano-novo nesses 22 anos”, confidencia Raad, que lembra de uma história que, para ele, resume os plantões de fim de ano. “Uma pessoa estava a caminho de uma festa muito importante na qual toda a família o esperava para uma homenagem. Ao subir as escadas do local, ele tropeçou, caiu e fez uma luxação no ombro. Quando chegou ao pronto-socorro, ele falou que não poderia perder a tal festa. Eu disse ao rapaz que ele tinha duas opções: eu colocaria o ombro dele no lugar sem anestesia e ele iria para a festa, ou tomava anestesia, mas perderia a comemoração. O pobre coitado olhou para os lados, viu a noiva e o sogro, e, com uma expressão de coragem, me disse: sem anestesia. Coloquei o ombro dele no lugar e ele seguiu feliz”, conta o médico. Segundo Raad, até a meia-noite impera uma atmosfera de comemoração e alegria no hospital. Depois, contudo, a situação costuma ficar um pouco caótica com tantos casos de queimadura por causa dos costumeiros fogos de artifício. A enfermeira Andréia Colombo, 35 anos, é outra profissional de serviço indispensável. “Sempre gostei da área da saúde. Acho o contato com pacientes contagiante”, afirma com paixão pelo trabalho. “No réveillon, depois de uma pequena confraternização entre os funcionários do hospital, nós damos os parabéns para cada um dos pacientes e transmitimos esperança. Não há recompensa para isso”.

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