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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Um olho no aluno e outro no colégio


Ensino

Quinta-feira, 13/12/2012
André Rodrigues/ Gazeta do Povo
André Rodrigues/ Gazeta do Povo / Sílvio Duda, chefe dos monitores do Colégio Marista Paranaense, diz que o estereótipo de “general” não combina mais com o papel do inspetor, que está na escola para ajudar os alunosSílvio Duda, chefe dos monitores do Colégio Marista Paranaense, diz que o estereótipo de “general” não combina mais com o papel do inspetor, que está na escola para ajudar os alunos
MONITOR

Guardião da disciplina, inspetor escolar quase sempre se afeiçoa aos estudantes e faz muito mais do que fiscalizar.

Cleusa Bueno de Freitas, de 63 anos, fala com orgulho dos 29 em que trabalha no Colégio Estadual Homero Batista de Barros, no bairro Capão Raso. A inspetora, que começou como auxiliar de limpeza e morou 14 anos no local como caseira, está perto de se aposentar, mas o que seria aguardado com ansiedade por muitos traz à “Tia Cleusa” outro tipo de sentimento. “Eu amo essa escola. É difícil me afastar.”
O apego pelos alunos e o afeto declarado pela instituição de ensino parecem ser comuns entre os inspetores escolares.
Antônio More/ Gazeta do Povo
Antônio More/ Gazeta do Povo / Perto da aposentadoria, Cleuza não consegue se ver longe do Colégio Estadual Homero Batista de BarrosAmpliar imagem
Perto da aposentadoria, Cleuza não consegue se ver longe do Colégio Estadual Homero Batista de Barros
Influência e poder
No século 19, os inspetores eram figuras mais poderosas do que muitos professores e diretores. O que parece não fazer o menor sentido hoje é constatado pela pesquisa de Etienne Baldez Louzada Barbosa, doutoranda em Educação pela UFPR. Sua dissertação de mestrado tratou da inspetoria escolar no Paraná de duzentos anos atrás, quando esses profissionais trabalhavam diretamente para os governantes da província, e fiscalizavam as práticas tanto de alunos como de docentes. “Eles inspecionavam os livros e métodos usados, se os alunos estavam bem vestidos e se havia ordem na escola”, conta.
Embora eles raramente sejam citados nos grandes debates sobre educação, poucos profissionais se fazem presentes de modo tão constante na vida dos alunos.
A estudante de Geografia Josilaine Alberton é neta de Ernestino Gomes, falecido em 2002, e que foi inspetor no mesmo Colégio Homero Batista por 31 anos. Ela guarda na memória várias histórias que o tornaram uma lenda na escola. “Meu avô colocava graxa em cima do muro para que os alunos não fugissem”, conta.
Mediação
Embora os discursos pedagógicos atuais optem por não enfatizar o aspecto disciplinador da função, situações que exigem uma chamada de atenção continuam a fazer parte da inspetoria. “Normalmente os meninos brigam por causa de menina, por ciúmes”, conta Marcos Antônio Augusto, que já trabalhou em várias unidades da rede Bom Jesus e hoje comanda uma equipe de 27 inspetores na unidade Nossa Senhora de Lourdes.
Embora a função fiscalizadora seja inevitável, alguns profissionais conquistam a colaboração dos estudantes colocando-se na função de conselheiros. É o caso de Solange Aureliano Gonçalves, inspetora do Colégio Decisivo há 23 anos. Ela conta que muitos alunos a procuram para contar confidências e, mesmo depois que deixam a escola, lembram-se das conversas que mantinham nos intervalos.
Papel semelhante já foi desempenhado por Jefferson Vinícius Pinheiro, responsável pela inspetoria no Colégio Acesso e cupido nas horas vagas. “Eu me lembro de um aluno que estava interessado numa menina, mas não tinha coragem de pedir o telefone. Eu pedi, entreguei para ele e agora os dois são noivos”, conta Pinheiro, emocionado. Mesmo sendo alvo de vários apelidos criados pelos alunos por sua falta de cabelo – Dalai-Lama e Pouca-Telha são alguns deles – ele não hesita ao responder se gosta do trabalho. “Não me imagino longe dos alunos.”
Enfoque disciplinador da função é evitado
Pode não fazer diferença para os estudantes, mas algumas instituições optaram por deixar para trás o estereótipo de “general” criado em torno do cargo de inspetor, mudando, inclusive, o nome da função. No Colégio Medianeira, por exemplo, teoricamente não há inspetores, mas sim um Serviço de Orientação e Convivência Escolar. Nos colégios Marista há monitores, e até mesmo a rede municipal extinguiu o cargo, criando no lugar a função de auxiliar de serviços escolares.
“Nós trabalhamos a autonomia dos alunos, não pretendemos vigiá-los”, conta Olindo Carlos Baggio, do Medianeira. Ele faz parte da equipe de orientação do colégio, um grupo de professores e funcionários que se revezam para estar presentes no recreio dos alunos. O próprio Baggio é professor de Química do ensino médio.
Há 19 anos trabalhando no Colégio Marista Paranaense, o supervisor de apoio educacional Sílvio Duda é o chefe dos monitores e acompanhou a mudança no modo de ver a função de inspetoria. “Não é mais aquela coisa de só olhar o que o estudante faz de errado, o monitor está ali para ajudar os alunos”, diz. Para os pais que o procuram, no entanto, saber sobre o comportamento dos filhos no intervalo das aulas continua a ser interesse frequente.

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