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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

EM SALA DA AULA Com aparelhos, mas sem técnica


Antônio More / Gazeta do Povo / “Na hora de fazer trabalhos, em vez de usar os recursos que permitem uma pesquisa mais aprofundada, eles se limitam a buscas que exijam menos esforço.” -<b> Fernando Santana Júnior, professor de informática</b>“Na hora de fazer trabalhos, em vez de usar os recursos que permitem uma pesquisa mais aprofundada, eles se limitam a buscas que exijam menos esforço.” - Fernando Santana Júnior, professor de informática
EM SALA DA AULA

Com aparelhos, mas sem técnica

Educação digital esbarra na falta de conhecimento dos professores, que alegam falhas na formação acadêmica para lidar com novas ferramentas.
A maior parte das escolas brasileiras conta com computadores, e o anúncio de investimentos em tecnologia para as salas de aula já virou um hábito do governo. Mesmo assim, estudiosos afirmam que o Brasil está atrasado no aproveitamento de novas tecnologias na educação. A simples compra de aparelhos parece não estar contribuindo efetivamente para a aprendizagem. Além disso, a habilidade dos professores com as novidades tecnológicas tende a ser inferior à dos alunos, a quem deviam ensinar.
Boa parte dos docentes admite que a formação acadêmica que receberam não os preparou suficientemente para lidar com tecnologias. Uma pesquisa realizada pelo Movimento Família Mais Segura na Internet, que coletou dados de mil escolas públicas e privadas espalhadas pelo país, mostrou que somente 16% dos professores consultados afirmam que a faculdade os capacitou o bastante para trabalhar com tecnologia da informação em sala de aula.
Recursos disponíveis
Confira algumas dicas dadas por especialistas para que os pais acompanhem o desenvolvimento da educação digital do filho:
• Aprenda. Mesmo que o uso de algumas ferramentas digitais não faça parte da sua rotina profissional, reserve algum tempo para entender como determinado recurso funciona. A qualidade dos trabalhos escolares de seu filho pode ser muito beneficiada pelo domínio desses recursos. Se você os conhece, poderá ajudá-lo;
• Faça parte da vida digital de seu filho. Se ele tem perfil nas redes sociais, mantenha-o adicionado aos seus contatos e acompanhe suas postagens;
• No caso de crianças, libere o uso de equipamentos somente em locais onde há circulação de membros da família. Isso ajuda a garantir o uso mais seguro da internet, e você pode observar a evolução da criança no domínio da ferramenta;
• Ajude-o a identificar sites de qualidade na hora de fazer pesquisas escolares. Nem sempre os primeiros resultados de uma busca são os mais adequados para serem citados como fonte.
600 mil tablets devem ser comprados pelo Ministério da Educação. Até o fim do ano passado, apenas 5 mil aparelhos haviam chegado ao destino. Recentemente, também o governo estadual anunciou a intenção de adquirir 32 mil tablets para os professores do ensino médio.
Participe
Como é possível capacitar os professores para o uso de novas tecnologias em sala de aula? Esse é o caminho?
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
O desequilíbrio entre o potencial dos instrumentos e o conhecimento dos professores a respeito desses recursos acaba levando a um
subaproveitamento da tecnologia que pode até atrapalhar. “Fornecer um computador é parecido com dar um carro. Não adianta entregá-lo, é preciso que a pessoa que o recebe saiba dirigir”, diz a advogada e especialista em Direito Digital Sandra Tomazi, que participa do movimento.
Segundo ela, no decorrer da pesquisa, vários professores revelaram ter dúvidas sobre como fazer uma busca avançada no Google, como citar o crédito de um vídeo ou mesmo que desconheciam o alcance de uma publicação nas redes sociais.
Exemplo
A coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Fabiana Andreoli, concorda que o problema do Brasil já não é tanto a falta de equipamento. “Nós temos tecnologia de ponta, mas estamos atrasados em metodologias de aprendizagem mais significativas”, diz.
Em setembro de 2012, Fabiana recebeu o Prêmio de Excelência da As­sociação Brasileira de Educação a Distância, graças à tese de doutorado, aplicada numa das disciplinas do curso de Engenharia Ambiental. Os alunos cumpriam várias atividades em ambientes virtuais, escolhendo a opção digital com que mais se identificavam (como listas de discussão, vídeos etc), e chegavam para as aulas presenciais com boa parte do conteúdo já dominado.
“Os alunos de hoje são multimídia, habituados a conversar pelo Skype enquanto acompanham o Twitter e checam novidades do Facebook com o Google aberto para concluir uma pesquisa”, define.
Computador vira fonte de diversão
A falta de estímulo para usar a tecnologia como fonte de aprendizagem leva os estudantes a verem no computador apenas um instrumento de diversão. Segundo o professor de informática Fernando Santana Júnior, a maioria dos alunos só explora todo o potencial da máquina em atividades de entretenimento, como jogos e interatividade nas redes sociais.
“Na hora de fazer trabalhos, em vez de usar os recursos que permitem uma pesquisa mais aprofundada, eles se limitam a buscas que exijam menos esforço”, diz Santana, que já trabalhou na rede estadual, em um Liceu dos Ofícios e hoje ministra aulas de informática na ONG Rede Esperança.
O professor concorda com a necessidade de mais treinamento para os docentes, mas faz a ressalva de que vários recursos digitais ainda não estão disponíveis no ensino público. “Seria ótimo poder contar com softwares como o Google Earth para estudo de história e geografia, por exemplo”.
A especialista em Direito Digital Sandra Tomazi diz que o hábito dos alunos de tratar pesquisas na internet como uma banalidade acaba colocando as próprias escolas em risco. Em alguns casos de desrespeito a direitos autorais, a instituição que aceita um trabalho plagiado também pode ser punida.

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