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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Henry Milleo/Agência de Notícias Gazeta do Povo / Segundo a PM, muitas casas já haviam sido desocupadas antes da operação de reintegraçãoSegundo a PM, muitas casas já haviam sido desocupadas antes da operação de reintegração
RMC

Reintegração de posse em terreno em Araucária mobiliza quase 500 PMs

Residências em situação irregular são desocupadas pela Polícia Militar, que cumpre decisão judicial obtida por donos de terreno na divisa entre a cidade da RMC e Curitiba.
Uma reintegração de posse em Araucária, região metropolitana de Curitiba, retira moradores de 350 casas construídas irregularmente no local. A ação policial ocorre em um terreno da Rua Presidente Costa e Silva, próximo à divisa com a capital paranaense na região da Caximba.
A estimativa inicial da Polícia Militar - que cumpre a ordem - era de que 1.290 pessoas moravam no local. Ao chegar na área, no entanto, o coordenador operacional da PM do Paraná, Péricles de Matos, relata que a situação encontrada foi de muitas casas sem moradores.
"Eu diria que 80% das casas tem a característica de ter apenas o cercado e a construção improvisada, mas sem nenhum móvel ou pessoas morando no local. O fato demonstra que em vários lugares a intenção era uma especulação para, quem sabe, obter um terreno no futuro", diz Matos.
São 465 policiais militares e cinco oficiais de justiça que começaram a ação por volta das 8h30. Parte dos policiais deve permanecer no local por pelo menos duas semanas para evitar que os moradores voltem à area. O terreno é uma propriedade particular e teve a ordem de despejo concedida a pedido dos donos da área.
Segundo Matos, a reintegração de posse ocorre sem confrontos entre policiais e moradores devido a um trabalho feito anteriormente pela justiça. "A ordem saiu no fim do ano passado e desde então ocorre orientação aos moradores. Trouxemos para o local um aparato de apoio, como a Assistência Social, o Conselho Tutelar, Bombeiros, e Polícia Ambiental", conta.
O coordenador operacional disse que quem não tem para onde ir será encaminhado à Assistência Social. Já aqueles que possuem outra residência ou a casa de algum familiar para levar seus pertences têm à disposição um caminhão da prefeitura.
A maioria das casas é de madeira e parte dos moradores desmonta as construções para aproveitar o material. As casas menos estruturadas são esvaziadas e queimadas pelos próprios moradores.
O terreno começou a ter casas construídas há cerca de um ano. A área total é de 1,2 mil metros quadrados. A polícia não divulgou o nome do proprietário.
Batalhões da região metropolitana, de Curitiba, membros da cavalaria da PM e um helicóptero estão empregados na ação. A Guarda Municipal de Araucária fornece apoio no controle do trânsito na região.
Prefeitura
A prefeitura de Araucária, em nota divulgada via site oficial, relatou que o terreno é particular e que a reintegração de posse saiu no último dia 5 de novembro. Segundo o posicionamento, a prefeitura “não pode interferir nesta situação, já que trata-se de uma decisão de justiça”.
O órgão esclarece também que mesmo sem ter “envolvimento com o caso, tem conhecimento da situação”. De acordo com a prefeitura, a Companhia de Habitação (Cohab) do município “avalia a inclusão destas famílias de Araucária em programas sociais de habitação, desde que se enquadrem nas exigências.”
Relatos
Um dos moradores da ocupação, Noel Moreira, de 53 anos, disse que foi pego de surpresa com a presença da polícia para cumprir a reintegração de posse. “Ninguém avisou a gente, não temos casa para onde ir, não temos dinheiro para pagar um aluguel. Tinham que dar um prazo para a gente sair”, diz. Moreira construiu uma casa – que tem inclusive água encanada e energia elétrica – no bairro há três meses, quando veio de Paranaguá, onde a antiga moradia pegou fogo. No local, ele mora com a mulher, de 29 anos, e duas filhas, de 3 e 5 anos. “Os policiais cercaram o bairro todinho e disseram que é para a gente sair até as 20h, desmanchar casa, arrumar mudança. Como é que dá tempo de fazer isso? Quem tem casa para onde ir é mais fácil, mas não ofereceram nenhum abrigo para a gente”, conta. Sem parentes no Paraná, a família não sabe para onde ir. Moreira veio de Belém do Pará há quatro anos, para morar em Paranaguá, cidade onde vive a sogra. A mulher, que sofre com problemas do coração, mora em uma pequena casa alugada, onde não há espaço para a família de Moreira. “Eu fabrico e vendo canetas para identificar dinheiro falso. Agora eu que tava começando a crescer, com esperança de fazer uma casa boa, já acabou”, lamenta.
Outra família, ouvida pela Gazeta do Povo, é a de Lucilene Antunes França, 38 anos, que já estava com tudo encaixotado para a mudança que ocorreria nesta sexta-feira (22). Nos últimos meses, o marido, Hilário de Jesus Patrício, 50 anos, vendeu o carro, juntou as economias e comprou dois terrenos na área de ocupação por R$ 20 mil. A construção da residência de madeira terminou e o casal, junto com os três meninos – 4, 11 e 12 anos – passaria a morar na casa própria. O sonho do casal foi interrompido na manhã desta quinta, quando foram pegos de surpresa. “Não sabemos nem o que fazer. Meu marido é construtor e está sem trabalho agora e eu sou auxiliar de limpeza, mas estou doente e também não estou conseguindo trabalhar. Foi uma surpresa, não fomos avisados, meu marido gastou tudo o que tinha e estamos sem saída”, conta. O casal e os filhos pagam aluguel na casa de uma cunhada.
Lucilene diz que, por hora, eles continuarão no antigo endereço e agora resta a eles torcer para que as coisas melhorem. “Estamos aproveitando o que podemos da casa e só por Deus agora, meu marido já não consegue nem falar por causa disso”, desabafa.

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