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sábado, 16 de junho de 2012

O Egito, a Polônia e o poder, segundo Prus

Ilustração: Osvalter Urbinati Filho
Ilustração: Osvalter Urbinati Filho /
literatura polonesa

O Egito, a Polônia e o poder, segundo Prus

Um dos principais nomes da literatura de seu país, o jornalista Boleslaw Prus captou em sua obra literária um dilatado espectro de matizes da vida social polonesa de seu tempo
Quando Schulz nasceu, achava-se no auge de sua carreira outro representante ilustre da literatura polonesa, Boleslaw Prus, que acaba de ter uma de suas obras mais notáveis publicada no Brasil. É uma feliz coincidência: tem-se assim oportunidade de apreciar, lado a lado, os experimentos de vanguarda da prosa poética schulziana e um tanto da robusta escola que a precedeu e cujo legado constitui os alicerces de toda a ficção criada mais tarde na Polônia.
Prus – cujo nome de batismo era Aleksander Glowacki – viveu de 1847 a 1912. Dificuldades financeiras obrigaram-no a interromper os estudos, e a buscar sustento trabalhando na imprensa. Arregimentavam-se nesse meio, em Varsóvia e noutras cidades, os jovens talentos positivistas, imbuídos de um amálgama de ideias eclético e pouco original, sem dúvida, mas de teor progressista no contexto. Recorde-se que desde o fim do século 18 a Polônia deixara de existir como nação independente, tendo então seu território repartido e anexado às três potências limítrofes: a Prússia, a Áustria e a Rússia. Na esteira do fracasso das insurreições contra tal estado de coisas – em 1830 e 1863 –, ambas atreladas ao movimento romântico, as diretrizes que o positivismo polonês depreendia de Darwin, Comte e Spencer ensinavam uma atitude menos dada a excessos ou rompantes, e mais ciosa da ponderação e da análise, um olhar menos propenso a ímpetos idealizadores ou místicos, e mais rente à matéria do real. Conhecida, esta talvez se deixasse, aos poucos, modificar. O que não puderam fazer, envoltos em devaneio e sonho, os partidários do romantismo.
O Faraó
Boleslaw Prus
Tradução de Tomasz Barcinski. Record, 896 págs., R$ 89,90.
Das lendas do antigo Egito
Confira uma tradução inédita da narrativa “Das Lendas do Antigo Egito”, de Boleslaw Prus, feita por Marcelo Paiva de Souza
Leia o conto completo
O pincel da palavra de Bruno Schulz
Nascido em 1892 e morto com apenas 50 anos de idade, o polonês Bruno Schulz deixou como legado uma obra que, apesar de pequena, é suficiente para colocá-lo entre os maiores vultos da literatura do século 20
Leia a matéria completa aqui
É fato, portanto, que se profissionalizando como escritor junto aos órgãos da imprensa Prus tem de lidar com adversidades – a rotina desgastante, os limites impostos pela censura e pela própria lógica de mercado inerente a jornais e revistas. Mas o corre-corre das redações será um proveitoso aprendizado, proporcionando ao autor não apenas uma plataforma privilegiada de observação, como também uma arena para o confronto de opiniões e uma oficina para testar e adestrar a sua pena. A par dos contos, da atuação de Prus nesse âmbito vão resultar, por exemplo, suas Crônicas Semanais, textos de uma fascinante variedade de temas e de registros de linguagem, permeados de um humor irônico que às vezes recorda o estilo do cronista Machado de Assis. A agudeza de vistas do jornalismo de Prus capta um dilatado espectro de matizes da vida social polonesa do tempo, a qual se faz presente ainda, em ampla escala panorâmica e na microscopia da psique individual, nos romances da maturidade, sobretudo em A Boneca (1890).
Dito isso, O Faraó – recém-publicado pela Record, em tradução de Tomasz Barcinski, na coleção Fanfarrões, Libertinas & Outros Heróis, organizada por Marcelo Backes (que assina o posfácio do volume) – pode causar a princípio alguma estranheza. O pano de fundo egípcio, a forma do romance histórico não destoa em um escritor com o perfil de Prus? Como Henryk Sienkiewicz, em sua Trilogia (disponível em edição da Record), teria Prus se decidido a romancear o passado, desfiando tramas coloridas, cheias de amor e de aventura, para conforto do leitor? Ou teria ele encontrado no Vale do Nilo um polígono em que foi possível se debruçar, com as ferramentas da ficção, sobre a problemática do poder? O conto “Das Lendas do Antigo Egito”, anterior de alguns anos a O Faraó, oferecerá uma (ou duas?) resposta(s) aos curiosos.

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