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terça-feira, 17 de julho de 2012

Curitibano embarca na compra a prazo, mas evita atoleiro


Hugo Harada/Gazeta do Povo / Com renda acima da média, famílias têm mais confiança das instituições financeirasCom renda acima da média, famílias têm mais confiança das instituições financeiras
CONSUMO

Curitibano embarca na compra a prazo, mas evita atoleiro

Pesquisa da Fecomércio-SP mostra que 90% das famílias de Curitiba estavam endividadas em 2011. Por outro lado, contas parceladas consomem 26,5% da renda, proporção considerada baixa.
Curitiba é a cidade com mais famílias endividadas entre as capitais brasileiras, mas isso não significa que os curitibanos estejam com a corda no pescoço. De acordo com a pesquisa “Radiografia do Endividamento das Famílias Brasileiras”, divulgada ontem pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), 90,3% das famílias curitibanas tinham alguma dívida em 2011.
Apesar de ser a capital que mais compra a prazo, Curitiba tinha um dos menores índices de comprometimento de renda: em média, os curitibanos destinavam 26,4% do salário para pagar prestações, índice considerado saudável pelos economistas (veja infográfico). As compras a prazo esfriam o consumo durante 2012, pelo menos para quem prioriza o pagamento das contas antigas (leia texto abaixo).
Compromisso
Dívidas acumuladas reduzem poder de compra de 2012
O endividamento das famílias aponta para um momento de desaquecimento do consumo, à medida que a quitação das contas torna-se prioridade para os brasileiros. De acordo com economistas, os consumidores já acionaram os freios das compras, para colocar seus débidos em dia e postergar novas aquisições.
Gilmar Mendes Lourenço, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), ressalta que há estabilidade econômica, mas o endividamento das famílias faz com que, para o consumidor, as perspectivas deste ano sejam piores que as de 2011, data da pesquisa da FecomercioSP. “Os consumidores estão mais cautelosos e prova disso é que não houve resposta para os estímulos de consumo lançados pelo governo. A situação é mais desfavorável que a do ano passado”, compara.
Para o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) José Guilherme Vieira, o sinal está vermelho para novas compras. “A capacidade de fazer novas aquisições diminuiu e os consumidores estão se afastando dos bens duráveis. O passo agora é pagar as contas. Não é crise de crédito, mas parada de consumo. Esse vai ser um quadro de problemas para os setores menos essenciais, como o de serviços, que encabeçarão a lista de cortes de gastos da população”, prevê o economista.
Ao todo, 526,7 mil famílias curitibanas possuíam algum tipo de dívida no ano passado. Nesse caso, é considerada uma dívida toda despesa tomada por crédito por opção da pessoa, como financiamentos de automóveis e imóveis, carnês de lojas e cartões de crédito. Não entram como dívidas despesas como aluguel, água e luz.
Essas famílias de curitibanos deviam juntas, em 2011, um montante de R$ 841 milhões, valor 35,6% maior que o registrado em 2010: R$ 620 milhões. Apesar do alto grau do endividamento, a média do valor das dívidas da população de Curitiba caiu entre 2011 e 2010, passando de R$ 1.678 para R$ 1.598, na contramão das demais capitais, que viram suas dívidas aumentarem de R$ 1.470 para R$ 1.543.
Outro sinal do comportamento comedido do curitibano: a quantidade de famílias com dívidas em atraso na capital paranaense caiu na comparação entre os dois anos, passando de 31,4% do total para 24,5%.
Reflexos da crise
A situação de Curitiba é considerada saudável pelo economista Altamiro Carvalho, assessor técnico da Fecomércio-SP. A explicação para o aumento no número de famílias endividadas na capital do Paraná é a oferta de crédito maior na Região Sul como um todo.
Diante da crise financeira internacional de 2009, as instituições financeiras passaram a oferecer, a partir de maio de 2010, crédito para localidades mais seguras. É o caso do Sul do país, que apresentava – e ainda apresenta – renda e remunerações em alta, a combinação buscada por bancos e financiadores na hora de conceder empréstimos.
“Esses dados mostram que o crédito está melhor distribuído e disseminado entre as famílias. O Sul era uma região quase inexplorada e recebeu uma grande oferta de crédito, porém, em dois momentos diferentes: um de expansão na oferta, em 2010, e outro na retração. Se os bancos continuam a emprestar, mesmo em um cenário de contração, é porque a inadimplência é baixa – e é isso o que vemos em Curitiba”, analisa Carvalho.
Há outras razões que fazem a crescente multidão de endividados de Curitiba não preocupar tanto. Uma delas é o salário. Enquanto a renda média mensal das famílias brasileiras é de R$ 5.231,53, em Curitiba chega a R$ 6.049,37. A diferença é de 15,6%, mostrando uma capacidade maior de endividamento no Paraná.
Além disso, apesar do nível de endividamento ter subido, a parcela da renda comprometida com o pagamento das dívidas caiu, o que mostra equilíbrio financeiro. “As famílias curitibanas, em média, estão bastante conscientes e mantendo bem o orçamento doméstico”, ressalta o economista da Fecomércio-SP.

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