O antirretroviral Truvada reduz riscos de infecção pelo HIV
SAÚDEEUA aprovam pílula para prevenir aids
Antirretroviral Truvada, que reduz em até 78% a transmissão do HIV, poderá ser usado por pessoas não infectadas pelo vírus,.
A FDA – agência americana que regulamenta remédios e alimentos – aprovou ontem a indicação do antirretroviral Truvada como forma de prevenir a infecção pelo HIV. Apesar disso, o Departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde afirmou que não vai mudar a estratégia de prevenção à doença no Brasil.
A indicação da droga como forma de profilaxia antes da exposição ao vírus vem exatamente um ano depois de dois grandes estudos americanos demonstrarem que o consumo diário de uma dose oral do Truvada pode reduzir em até 78% a transmissão do vírus para pessoas saudáveis que mantêm relações com parceiros de alto risco, entre elas casais sorodiscordantes (em que apenas um deles tem o vírus) e homens que fazem sexo com homens.
Cuidados
Uso do medicamento deve ser restrito, dizem infectologistas
Kamila Mendes Martins
O Truvada como forma de reduzir as chances de contaminação pelo HIV não deve ser utilizado de forma indiscriminada por qualquer pessoa como forma de evitar o contágio. Seu uso deve ser restrito a casais em que os parceiros sejam sorodiscordantes, ou seja, nos casos em que um é portador do vírus e o outro, não. É o que defendem médicos infectologistas.
“Claro que esse medicamento é bem-vindo, pois vai trazer mais tranquilidade aos soro discordantes, quando um é negativo e outro positivo. Mas a utilização de forma irracional do remédio é desaconselhada até porque ele tem efeitos colaterais. E um deles é o comprometimento do rim”, explica o professor de infectologia da UFPR e da PUCPR e membro do Comitê Consultor da Aids do Ministério da Saúde, José Luiz de Andrade Neto.
Além disso, o remédio não é 100% eficaz e, portanto, as pessoas não podem deixar de tomar os mesmos cuidados que tomavam antes, como o uso da camisinha, mesmo que estejam no grupo de risco para o qual a medicação é indicada.
“[A autorização] Não deve mudar em nada o comportamento sexual das pessoas. Cada caso deve ser discutido individualmente com o médico no caso de casal discordante. Além da medicação, há outras medidas necessárias, como, por exemplo, o uso de preservativo”, explica o infectologista do Laboratório Frischmann Aisengart Jaime Rocha. “Não é para manter relação sexual com qualquer um e usar a medicação sem saber se a pessoa é [soro] positiva ou não”, ressalta.
Andrade Neto afirma ainda que o medicamento não é completamente eficaz: “Mais estudos são necessários para dizer que o Truvada pode impedir [o contágio] em 100% das vezes. Sabe-se que diminui o risco, mas ainda não é 100% seguro. É só o vírus do outro parceiro ter resistência ao Truvada, que a infecção pode ocorrer”.
Os dois médicos ressaltam que a melhor maneira de prevenção é a camisinha, que, além de proteger contra o HIV, evita o contágio com outras doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis. “O sexo seguro ainda é a melhor forma de prevenção da doença”, diz Andrade Neto.
O Truvada é a combinação de dois antirretrovirais: tenofovir com emtricitabina. A droga é produzida pelo laboratório Gilead e conseguiu o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em maio deste ano. “O Truvada é para ser utilizado na profilaxia prévia à exposição em combinação com práticas de sexo seguro para prevenir as infecções do HIV adquiridas por via sexual em adultos de alto risco”, afirmou a FDA em nota.
Otimismo
A pesquisadora Valdilea Veloso, diretora do Instituto de Pesquisas Clínicas Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), diz que o Truvada é uma potencial arma de prevenção da doença, especialmente entre homens que fazem sexo com homens – grupo de alto risco de contaminação. Valdilea diz ver com otimismo a indicação do uso do Truvada como mais uma forma de combate à doença de maneira complementar ao que já existe – como fazer sexo seguro – e não como um substitutivo.
Apesar do otimismo em torno da indicação do uso do Truvada como prevenção, Ronaldo Hallal, coordenador de cuidado e qualidade do programa de DST/Aids do Ministério da Saúde afirmou que o grupo técnico do Ministério se reuniu recentemente para atualizar as diretrizes, discutiu esse assunto, mas decidiu manter tudo como está, com foco no incentivo ao sexo protegido, no diagnóstico e tratamento e na oferta da profilaxia pós-exposição (para pessoas que fizeram sexo desprotegido com parceiro de risco). “Os estudos demonstram que, se a pessoa doente for tratada corretamente, há uma redução de até 95% na transmissão do vírus. Esse é um resultado bem mais eficaz que os 75% alcançados com a profilaxia pré-exposição”, afirmou Hallal.
Para OMS, arsenal de remédios pode eliminar a aids
AFP
Trinta anos depois da epidemia de aids, ainda não foi encontrada uma cura para a doença, mas um crescente arsenal de remédios poderá, algum dia, ajudar a por fim a novas infecções, afirmou o diretor do Departamento de HIV/Aids da Organização Mundial da Saúde (OMS), Gottfried Hirnschall.
A chave é encontrar a maneira de administrar melhor os últimos avanços, disse Hirnschall durante visita a Washington, antes da Conferência Internacional sobre a Aids, que começa nesta cidade no próximo domingo, 22 de julho.
Os remédios antirretrovirais podem reduzir o risco de que as pessoas infectadas transmitam o vírus e evitar que as pessoas saudáveis sejam infectadas através de relações sexuais com parceiros com HIV, apesar dessas novas possibilidades gerarem controvérsia. Esses medicamentos salvaram cerca de 700 mil vidas em todo o mundo só em 2010, algo extraordinário segundo os especialistas.
As conquistas nas pesquisas e o progresso em alguns países “demonstram que é possível avançar muito significativamente na ampliação da resposta e inclui começar a pensar na eliminação das novas infecções”, disse Hirnschall.
O mundo tem agora 26 antirretrovirais (conhecidos como ARV) no mercado e mais em desenvolvimento para o tratamento de pessoas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), que infectou 60 milhões de pessoas e matou 25 milhões desde o início da epidemia.
“Temos um arsenal bem grande de drogas disponíveis”, observou Hirnschall, considerando que os medicamentos são melhores agora do que costumavam ser – menos tóxicos, mais robustos, menos propensos a desencadear resistência e mais toleráveis –, mas ainda não são perfeitos.
Os efeitos colaterais continuam sendo uma preocupação e as autoridades estão vigiando cuidadosamente o surgimento de resistências.
A OMS se prepara para lançar esta semana seu primeiro relatório global sobre resistência aos medicamentos em países de renda baixa e média. Estudos recentes demonstraram os benefícios potenciais de iniciar o tratamento mais cedo, antes que a carga viral seja muito alta, como uma forma de proteger a saúde de uma pessoa infetada e diminuir o risco de transmitir a enfermidade ao parceiro.
Antirretrovirais
Muitas pessoas estão preocupadas com a ética da prescrição de medicamentos contra o HIV a pessoas saudáveis, quando um grande número de pessoas infectadas em todo o mundo ainda não tem acesso a tratamentos que salvam vidas. Alguns grupos de alto risco continuam sendo difíceis de alcançar, como os trabalhadores sexuais e os usuários de drogas injetáveis, muitas vezes excluídos do tratamento devido a leis restritivas.
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