Páginas

Quem sou eu

Minha foto
Professor de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino - Governo do Paraná

terça-feira, 17 de julho de 2012

Uma pílula para perder a memória



 /
NEUROCIÊNCIA

Versão avançada de substância que bloqueia proteína pode fazer com que os cientistas consigam apagar lembranças específicas armazenadas no cérebro humano.

Quem já passou por alguma situação traumática, como a perda de uma pessoa próxima, um acidente grave ou um assalto, sabe que não é fácil enfrentar a situação, tampouco se lembrar dela. Mas uma pesquisa realizada pelo neurologista da Universidade de Columbia (EUA) Todd Sacktor, juntamente com cientistas do Instituto de Ciência Weizmann, em Israel, pode ser o primeiro passo para que a medicina consiga tirar as lembranças ruins da memória humana.
O estudo teve início ainda na década de 1980, quando Sacktor descobriu que a proteína PKMzeta, uma substância fortalecedora das sinapses (estímulos responsáveis pela troca de informações entre os neurônios), também era importante para a manutenção das lembranças. Com a descoberta, o cientista concluiu que uma breve interrupção da atividade dessa proteína poderia interromper a manutenção de recordações.
Processo
Para memorizar, precisamos passar por quatro etapas:
Fase 1 – Atenção: aqui, audição, tato, paladar, visão e olfato entram em ação para captar as informações que achamos necessárias. Este primeiro momento é importante porque é onde se inicia todo o processo.
Fase 2 – Compreensão: é quando entendemos a lógica, o verdadeiro sentido daquilo que captamos. É mais fácil memorizar um assunto quando o entendemos.
Fase 3 – Armazenamento: muitas das informações que adquirimos são sedimentadas em nosso cérebro enquanto dormirmos, daí a importância de respeitarmos os limites do nosso sono. Geralmente, temos acesso a muito mais informações do que o nosso cérebro é capaz de guardar.
Fase 4 – Evocação: significa localizar e resgatar a informação guardada e mantida no cérebro. Depende diretamente do armazenamento. O “branco” que temos, quando não conseguimos nos lembrar de algo, é um problema desta etapa.
Remédio em teste
O Departamento de Medicina da UFPR está selecionando pessoas para participar de testes relacionados a um novo medicamento para auxiliar a memória antes que algum tipo de demência seja diagnosticado. Podem fazer parte da seleção pessoas acima de 45 e abaixo de 85 anos que já tenham percebido algum declínio da memória, mas que sejam produtivos, que não tenham doenças neurológicas e sejam saudáveis. Contato pelo email: graciele@ig.com.br.
Cheiro enjoativo
Para colocar em prática o conceito, os pesquisadores treinaram alguns ratos a associarem o cheiro de um doce a algo enjoativo e, então, evitar o alimento. Depois de adestrados, os animais receberam doses de um inibidor da proteína PKMzeta, chamado de zeta-interactin-protein, ou ZIP, e foram aos poucos esquecendo da repulsa pelo doce até voltar a comê-lo normalmente.
Sônia Brucki, vice-coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, afirma que ainda é difícil pensar em resultados concretos para essa pesquisa. “O processo de apagar totalmente uma lembrança seria um procedimento muito complicado, pois há vários mecanismos envolvidos, como a força emocional do evento, as várias memórias onde foram guardadas cada parte do fato. São múltiplas as formas de gravar um episódio, e é difícil mexer em todos os fatores ao mesmo tempo.”
Por enquanto, os tratamentos realizados com o inibidor de PKMzeta são hipotéticos e limitados apenas a ratos de laboratórios. Porém, segundo os pesquisadores, futuramente uma versão avançada da substância pode fazer com que os cientistas consigam apagar memórias específicas armazenadas no cérebro humano.
De acordo com a neurologista e professora adjunta da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Viviane Zétola, ainda que essa droga por enquanto não tenha uma resposta para o uso em pessoas, quando for possível, será aproveitável: “Quando se trata desse tipo avanço, sempre tudo é útil, provavelmente porque o efeito do remédio seria acabar com os nossos piores traumas”.
Cuidados
Remédios não reforçam concentração
Se por um lado existe muita gente que gostaria de não se lembrar de certas situações, outras apelam para várias maneiras de manter a memória o mais ativa possível. Para isso, abusam de chás, café e até mesmo de drogas estimulantes que supostamente dariam ao cérebro mais habilidade. É o caso do metilfenidato, comercialmente conhecido como Ritalina, e usado de forma ilegal por muitos estudantes e pessoas com rotinas que demandam alta concentração.
A substância é indicada apenas para quem sofre do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e age como estimulante do sistema nervoso central. Isso não significa que aqueles que não convivem com o TDAH são beneficiados intelectualmente pela utilização do remédio, conforme alerta Sônia Brucki, vice-coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. “A Ritalina produz efeito em pessoas que têm déficit de atenção. Não há qualquer outra indicação do medicamento fora isso.”
Alzheimer
Para a neurologista e professora adjunta da UFPR Viviane Zétola, os únicos medicamentos que efetivamente melhoram o desempenho da memória são aqueles usados para tratar a doença de Alzheimer, demência neurodegenerativa que acomete pessoas de idade. Ela explica que nesse caso o remédio não acaba definitivamente com o mal, mas prolonga a qualidade de vida dos portadores.
O uso de café e outros estimulantes naturais, como chás e guaraná em pó, também é largamente adotado para aperfeiçoar os trabalhos do dia a dia, mas eles atuam apenas como estimulantes, sem poder algum de turbinar o cérebro.
Ainda que a ciência seja clara ao afirmar que até agora nenhum remédio tenha sido criado exclusivamente para fazer com que nosso cérebro atinja um nível de inteligência invejável, nem por isso ela deixa de considerar que existe sim uma maneira de aprimorar o cérebro. “Não há nada que se possa fazer para melhorar a memória, a não ser exercício físico. E isso é cientificamente comprovado. Se o físico é melhor, a mente é melhor, pois mente e corpo trabalham juntos”, finaliza Viviane.

Nenhum comentário: