Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Astridt e Ivo perderam um filho assassinado, em Curitiba: desejo de reativar o Conseg do bairroSensação de insegurança cresce, um ano depois
Em 2011, 56% dos paranaenses consideraram a falta de segurança o principal problema do estado. Agora, esse índice subiu para 61%.
Dona de casa transforma luto em esperança
O medo do crime provocou um efeito diferente na vida da dona de casa Astridt Elizabeth Laidens, 62 anos. Em vez de se fechar em casa, a proximidade com a violência fez com que a moradora do bairro Capão Raso, em Curitiba, saísse em busca de ações para melhorar a segurança no bairro.
De um ano para cá, Astridt vinha percebendo o aumento da criminalidade no bairro, principalmente por causa de assaltos ao comércio e residências. No dia 21 de junho, porém, ela presenciou uma das situações mais traumáticas. O filho foi assassinado às 7h15 da manhã, quando chegava à casa da mãe para deixar a filha de 5 anos com a avó. Um ladrão se aproximou para roubar o carro do filho, que reagiu ao assalto e foi baleado.
Tão logo aconteceu o crime, a família foi em busca do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do bairro para pensar em ações contra a violência. A surpresa foi descobrir que o conselho estava desativado desde 2006. “Com o conselho, muitas coisas poderiam ser evitadas”, diz Astridt, que pretende reativar a entidade. “Vou participar do conselho. Não vai trazer meu filho de volta, mas, pelo menos, outras famílias não vão ficar sofrendo como a gente sofre.”
Participação
A coordenadora estadual dos Consegs, Michelle Lourenço Cabral, destaca a atitude de Astridt e reforça o convite para que a população participe mais das entidades. “Acredito que a população não busca se envolver. Temos dificuldades em articular as comunidades”, diz.
O Paraná tem hoje 231 conselhos comunitários de segurança. O número é cerca de 30% maior que há um ano. E a expectativa é que essa quantidade cresça ainda mais. “Nada melhor do que as comunidades trazerem seus problemas para serem resolvidos”, afirma Michelle. “A maioria acredita que cabe ao poder público resolver todos os problemas e que a comunidade não tem responsabilidade nenhuma. É responsabilidade, sim, do Estado, mas também de cada comunidade. Cada um tem que fazer a sua parte.”
Reduzir homicídios é meta do governo
A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) afirma compartilhar da visão da população de que “um dos grandes problemas sociais da atualidade é a violência e a criminalidade”. Entre as prioridades da Sesp para reverter o quadro estão a recomposição do efetivo policial, a modernização do sistema de segurança pública e uma polícia próxima à sociedade com módulos e delegacias cidadãs. A meta é reduzir até 2014 a taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes dos atuais 29,5 para 21,5.
Para a Sesp, um avanço já foi verificado: a taxa de homicídios na Região Metropolitana de Curitiba caiu 10% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2011. Outra ação destacada pelo órgão é a implantação das Unidades Paraná Seguro (UPS) nos bairros Parolin e Uberaba, em Curitiba, onde, segundo o órgão, a “criminalidade diminuiu sensivelmente”.
Sobre a corrupção policial, a Sesp informa que reforçou as corregedorias das polícias e “estimula o cidadão a denunciar qualquer ato que não seja condizente com o serviço policial”.
A maioria dos paranaenses (71%) também se sente menos segura do que há cinco anos e acredita que é necessário investir no treinamento dos policiais, melhorar a remuneração deles e contratar mais homens para mudar a realidade. Para especialistas, no entanto, é preciso paciência, pois a mudança acontece a longo prazo e não depende apenas da área de segurança.
Para o delegado Cláudio Marques, membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos e pesquisador na área, existe uma incapacidade das pessoas em solucionar conflitos. Segundo ele, é preciso investir em trabalhos sociais, no maior diálogo e na melhoria da estrutura familiar, além de ações na segurança pública que garantam o atendimento ao cidadão.
“A partir do momento que a população perceber que pode ligar para o setor de emergência da polícia que consegue atendimento rápido, que tem policiais nas ruas, a tendência é diminuir [a sensação de insegurança]”, diz Silva, citando como exemplo o trabalho das Unidades Paraná Seguro (UPS).
Apesar de 69% dos entrevistados acharem que existe muita corrupção policial, as vítimas de crimes têm denunciado mais. De um ano para cá, o índice de paranaenses que acionaram a polícia em caso de residência roubada ou furtada, por exemplo, aumentou seis pontos porcentuais. Também cresceu de 39% para 46% o índice dos que acreditam que denunciando crimes irão colaborar mais com a segurança. “Mas não é pelo fato de estar denunciando mais que os paranaenses estão com menos medo. Estão acreditando que a polícia vai dar mais respostas para esse problema”, diz o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo.
O sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná, considera preocupante o fato de 44% dos entrevistados consultados terem dito que deixam de fazer alguma coisa devido ao medo – eram 42,5% em 2011. Segundo Bodê, isso afeta a qualidade de vida e os próprios princípios democráticos de uma sociedade.
Soluções
Para aumentar a sensação de segurança, Bodê defende investimentos na área de proteção social, com acesso à Justiça, educação, emprego, saúde, entre outros. Também são necessárias melhorias nos sistemas judiciário e policial, modernizando a polícia, tornando o sistema mais atuante e confiável, deixando a Justiça menos morosa, entre outros.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Almir de Oliveira Júnior, que coordenou um estudo sobre o assunto, afirma que a sensação de insegurança não está diretamente associada à atuação dos órgãos de segurança pública. “Nas regiões onde há investimentos mais maciços, a sensação de segurança não é necessariamente maior”, diz. Segundo ele, a população percebe que é preciso investir em um conjunto de fatores para produzir maior bem-estar e não somente em ações de polícia. “A sensação de insegurança só muda de forma mais substantiva a longo prazo”, conclui.
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