Rosa Santos
O Parlamento, em Ottawa, e o monumento que comemora a unificação do Canadá: vários países em umCanadá multiuso
Capitais canadenses em momentos distintos, Toronto, Ottawa, Montreal e Quebec são destinos imperdíveis.
Paisagem colorida é outra coisa. Depois de mergulhar em um cenário branco de neve por cinco meses, os canadenses celebram o verão, em qualquer intensidade. O menor raio de sol é comemorado com camisa sem mangas, chinelos de dedo, vestidos e bermudas, mesmo que o vento gelado sopre forte à beira do Lago Ontário, em Toronto, ou o clima não seja 100% estável. No começo da estação, a temperatura ainda oscila entre 13 e 27ºC e não dá para confiar que o dia que começa sorridente e ensolarado não vá acabar um pouco mais cinza. Mas, é verão no calendário.
Quem mora onde o termômetro não conhece limites negativos na coluna de mercúrio, não pode dar-se ao luxo de colocar o nariz na rua somente quando o tempo permite. Ainda que os canadenses tenham recursos para evitar a exposição ao frio: em Toronto e Montreal, mais de 30 quilômetros de galerias subterrâneas poupam os cidadãos de andar na chuva e no frio durante o inverno. Por baixo da terra é possível sair de casa, chegar ao trabalho, almoçar, acessar serviços e fazer compras sem colocar o pé na calçada a céu aberto. No verão, elas também podem ser úteis, além de imperdíveis pela estrutura arquitetônica e urbanística que proporcionam ao turista. Dá para escapar de chuvas inapropriadas durante alguns passeios, por exemplo. São 1.200 estabelecimentos, entre hotéis, shoppings e lojas de departamento que têm ligação com o PATH e o sistema de metrô, em Toronto. A fórmula se repete no RES, em Montreal. E, mesmo com um bom e caro sistema de transporte – a passagem integrada em Toronto pode sair por CAD$ 10 por dia (quase R$ 20) –, o grande barato do turismo do Canadá é curtir as principais cidades a pé ou de bicicleta. Por cima ou por baixo, o cenário vale cada passo ou pedalada.
Essencial
O que você precisa saber para planejar a sua viagem
• Visto
O Canadá exige visto para turistas. O documento pode demorar até 30 dias para ficar pronto, mas pode ser feito pela internet (www.csc-cvac.com). Custa CAD$ 75 para uma entrada (um ano de validade) e CAD$ 150, para múltiplas entradas (até três anos de validade).
• Moeda
O dólar canadense tem cotação equivalente ao dólar americano (em torno de R$ 2,05). Em Toronto, as compras podem ser feitas em qualquer dólar, na maior parte das vezes sem ágio. Na parte francesa, tem comerciante que despreza o dinheiro americano. Há lojas, como The Bay, que dão desconto para o turista. Basta apresentar o passaporte.
• Como chegar
Passagem de São Paulo a Toronto pela Air Canada a partir de CAD$ 1.200 (para saídas em agosto).
• Pacotes
Toronto a Toronto: Oito noites de hospedagem. A partir de US$ 1.399 por pessoa em quarto quádrulo, somente a parte terrestre. Na Talk Tour. Informações no site www.takstour.com.br.
Canadá de Costa a Costa: 19 dias e 17 noites, a partir de US$ 3.659 por pessoa, somente parte terrestre. Saídas de São Paulo em agosto. Informações no site www.flytourviagens.com.br.
• Sites
Tourism Toronto - www.seetorontonow.com
Visit Ottawa - www.ottawatourism.ca
Tourisme Montreal - www.tourisme-montreal.org
Quebec City Tourism - www.quebecregion.com
St. Lawrence Market - www.stlawrence.com.br
CN Tower - www.cntower.ca
Parque Montmorency -www.sepaq.com/chutemontmorency
Verão nas capitais do Canadá
A estação do calor é aguardada com ansiedade pelos canadenses, que saem da toca para festivais de rua e atividades ao ar livre
As principais cidades da Costa Leste do Canadá, a primeira a ser ocupada pelos colonizadores franceses, no fim do século 16, mantêm sua importância histórica, cada uma com uma referência distinta. Toronto, porta de entrada para os brasileiros, é a antiga York, capital do Canadá de baixo e hoje o centro financeiro do país. Ottawa é a capital nacional e da província de Ontário, concentra as decisões políticas. Montreal já ocupou o posto de principal cidade canadense, também como capital, em 1840, na unificação da nação. Hoje é polo do conhecimento, com quatro universidades. Quebec City, onde o país começou, no estreito do Rio São Lourenço, mantém o título de capital da província do mesmo nome, e foi a capital do Canadá de cima em 1791.
Conhecer essa região é viver a experiência de visitar diferentes países em um só. A colonização europeia – primeiro francesa, depois inglesa –, a influência da cultura aborígene e a proximidade com os Estados Unidos fazem do Canadá um caldeirão de influências. O idioma é o mais evidente. O inglês é dominante em Toronto, mas divide os falantes em Ottawa, onde o rio de mesmo nome marca a separação entre as províncias de Ontário e Quebec, a parte franco-canadense. Separação não é exagero, mesmo que os habitantes locais insistam em amenizar a diferença entre colonizações. Do outro lado do rio, a França é a referência. Até a sinalização urbana da vizinha Gatineau é primeiro em francês, depois em inglês. O que pode ser uma vantagem para o turista que não domina plenamente a língua inglesa. O pouco uso e a aversão ao idioma fazem com que moradores, comerciantes e guias no lado francês se esforcem para conversar na língua do visitante. Se for impossível e o inglês for a única forma de comunicação, a fala é mais lenta, o que ajuda na compreensão.
O deslocamento entre as capitais é uma diversão à parte. Pelas rodovias com bom pavimento ou de trem, a paisagem se alterna entre casas à beira dos lagos e pequenas fazendas.
Montreal
Capital cultural
Capital cultural
Cidade concentra os mais variados festivais
AFP
O título de capital cultural justifica-se pelas quatro universidades e quase uma centena de museus, galerias de arte e centros de cultura. Ainda que a febre de festivais de rua tome conta do país durante o verão, Montreal parece ter inventado esse modelo de manifestação cultural. São centenas realizados a cada temporada. O resultado são ruas lotadas de pedestres e trânsito mais complicado por causa dos bloqueios para acomodação de palcos, barracas de arte, artesanato e comida, em especial na região do Quartier des Spectacles, onde são concentrados os eventos culturais. Também é a cidade-sede do Cirque du Soleil, onde as apresentações fixas custam a partir de CAD$ 80.
Montreal consegue aliar o aspecto histórico da sua colonização franco-inglesa com o desenvolvimento. A cidade velha, onde está a catedral de Notre Dame de Montreal – visita imperdível por CAD$ 5 – , tem também a região portuária e centenas de prédios antigos agora ocupados por escritórios de design e empresas de tecnologia. A fórmula se repete em outros pontos da cidade: bancos históricos e igrejas centenárias desativadas se tornaram caros condomínios residenciais.
As bicicletas são meio de transporte comum e podem ser alugadas no mesmo sistema usado em Toronto, o Bixi. Ciclovias cortam desde o charmoso bairro universitário de Mile End até o Mont Royal, parque urbano que deu nome à cidade localizada às margens do Rio São Lourenço. A colina é o parâmetro para o crescimento vertical de Montreal: nenhum edifício pode ultrapassar sua altitude, de 234 metros acima do nível do mar. Também palco de festivais, caminhadas, corridas, piqueniques no verão, proporciona uma bela vista panorâmica e vira um parque de diversões na neve durante o inverno, com esqui e trakking no meio das árvores.
Se o objetivo for comprar, a Sainte Catherine Street, no centro da cidade, concentra shoppings centers, lojas de marcas de todos os segmentos (de roupa a eletrônicos) e um variado comércio local de rua. A área é cortada por galerias subterrâneas, que interligam os grandes shoppings a estações de metrôs, hotéis e edifícios comerciais, como ocorre em Toronto.
Quebec
Capital histórica
Capital histórica
Ruas medievais de contos de fadas
AFP
Do estreito do Rio São Lourenço, por onde os colonizadores franceses chegaram e fundaram Quebec, o visual do Chateau Frontenac é imponente. O hotel, inaugurado em 1893, tem 618 quartos e é símbolo da cidade. A obra marca a divisão entre a parte baixa, onde estão o porto, as ruelas e construções medievais, hoje ocupadas por lojas, restaurantes e cafés, e a cidade alta, parte mais moderna de Quebec, acessada por íngremes escadarias ou um funicular (CAD$ 2 por trecho).
É pela água também que dá para apreciar outros dois belos cenários. O cruzeiro de uma hora e meia no barco Louis Jolliet vai até a ponte entre o continente e a Ile d’Orleans, território de veraneio dos locais, com casas de campo, pequenos criadores, produtores de cassis e frutas silvestres. Perto dalí, dá para ver a queda de Montmorency, com 83 metros de altura, formada pela barragem da usina de energia elétrica que abastecia a indústria de algodão na colonização. Ver de longe, porém, não dispensa a visita. Além do funicular que leva até o restaurante montado em uma casa de 1781, é possível contornar a queda d’água, em uma caminhada entre escadarias e pontes, com paradas estratégicas nos mirantes.
Na volta à cidade, vale andar pelas ruas, em especial a Saint Jean, que começa em um bairro gay e concentra lojas sofisticadas de objetos, roupas e móveis. Tem até uma de temática medieval, do vestuário à decoração. Não faltam barracas de artesanato e cafés com mesas na calçada. Em direção à parte baixa, a Rue du Trésor é uma travessa estreita com as paredes forradas de gravuras e quadros de artistas locais.
Do outro lado, pela Saint Louis, a dica é um passeio pelo Parque do Campo de Batalhas, uma das áreas verdes ocupadas por festivais de verão. De lá é possível chegar ao Terrasse Dufferin, uma larga passarela de madeira entre a parte alta e a parte baixa, que proporciona outro belo panorama do rio e a cidade de Lévis, na margem oposta.
Ottawa
Capital política
Capital política
Rio divide povo franco-inglês
AFP
A capital política do Canadá tem um clima mais descontraído. Adolescentes circulam nos arredores do Byward Market, região com lojas e cafés, além de produtores locais de ervas, flores e hortifruti orgânicos e alta concentração de pubs, lojas de suvenires, móveis, objetos e moda. A área é cheia de artistas de rua e barraquinhas de bugigangas nas calçadas.
Perto dali, um tour guiado gratuito no Parlamento, edifício de estilo gótico, leva visitantes à sua biblioteca original, única estrutura que não sucumbiu ao incêndio que destruiu o prédio, em 1916. Da torre do relógio, a vista panorâmica do Rio Ottawa convida para cruzar a ponte Alexandra ou pegar um táxi aquático – CAD$ 5 pela travessia em 15 minutos – e conhecer o Museu da Civilização, na vizinha Gatineau, já na província de Quebec. O museu merece um dia inteiro de visitação: a área dos aborígenes – com totens originais –, as mostras permanentes sobre a colonização, com instalações cenográficas e réplicas perfeitas, ajudam a comprender a diversidade canadense.
O relevo acidentado de Ottawa desencoraja os passeios de bicicleta e exige bom fôlego para o sobe e desce a pé. Mas os jardins e ciclovias do Rideau Canal, considerado Patrimônio Mundial da Unesco, convidam às pedaladas. Construído em 1832, conecta o Lago Ontário e o Rio São Lourenço a Ottawa. Usado no inverno (para hóquei e patinação) e no verão (para canoagem e esportes aquáticos), é um dos recintos dos festivais ao ar livre realizados nos dias mais quentes.
Toronto
Capital financeira
Capital financeira
Paisagem de aço e concreto
Anna Paula Franco e Karlos Kolbach
O verão não chega a colorir Toronto. Sem o branco-neve, a cidade fica cinza-prédio, com muitas obras nas ruas e reflexos nas fachadas espelhadas. Porta de entrada para os brasileiros (voos diretos para o Canadá são via Toronto), a capital financeira do país impressiona pela arquitetura. A CN Tower, com 533 metros de altura, é o símbolo da cidade, localizada às margens do Lago Ontário. A torre pode ser explorada por dentro e por fora: o restaurante gira 360º e o visitante ainda pode fazer uma volta panorâmica pelo lado de fora.
A orla do Lago Ontário é a praia dos locais. Além da faixa de areia, há passeios de barco com almoço e bar a bordo. As bicicletas do sistema Bixi, alugadas em estações espalhadas pela cidade por CAD$ 5 a partir de 30 minutos, são boa alternativa para explorar toda sua extensão. Também dá para ir de bike até o Destilary History District, área industrial que foi totalmente revitalizada e hoje concentra lojas de objetos, moda, restaurantes, livrarias, cafés e obras de arte.
Com 2,5 milhões de habitantes e 200 etnias diferentes, o turista pode ter um pouco de dificuldade para escolher qual cozinha internacional experimentar. A cidade tem pontos étnicos (chineses, italianos, gregos, indianos), onde a culinária é um dos referenciais mais marcantes. Se o sabor brasileiro estiver fazendo falta ao paladar, a dica é provar o Cajú, restaurante do mineiro Mario Cassini, instalado há dez anos na Queen Street West, região de bares e lojas descoladas.
St. Lawrence
Mas festa de sabores mesmo é no St. Lawrence Market, o mercado municipal de Toronto, eleito em 2012 o melhor do mundo no setor de alimentos, pela revista National Geographic.
O lugar conta a história da cidade, em dois edifícios distintos. O prédio da ala norte foi construído em 1803 e reformado depois de um incêndio. Ali ficam os hortifrutigranjeitos, onde donos de restaurantes locais também buscam especiarias raras, temperos e ingredientes para compor seus cardápios. O prédio da ala sul é de 1845. Até 1899, foi sede da prefeitura de Toronto. No subsolo, funcionava a prisão da cidade. É nesta área que estão os restaurantes, uma grande variedade de produtos alimentícios, lojas de suvenires e uma galeria de arte.
Entre as lanchonetes, destaque para a Carousel Bakery, padaria instalada no local há mais de 30 anos e dona da receita do sanduíche mais tradicional de Toronto, o imperdível peameal bacon, um bacon tipicamente canadense misturado ao fubá servido num pão português. Custa CAD$ 5,75 e vale uma refeição. Atenção às mostardas para acompanhamento: a mais picante faz arder os olhos e descongestiona todas as vias áreas.
Cada um dos 50 estandes do St. Lawence oferece um novo sabor. O Rube`s Rice Shop, por exemplo, é uma loja especializada em arroz. São mais de 50 tipos. Há estandes com vinhos canadenses e o icewine, produzido por uvas que são colhidas congeladas durante o inverno, na região de Niagara. O preço médio de uma garrafa é de CAD$ 100.
A proximidade do país com o Alasca garante frutos do mar gigantes e de alta qualidade. Camarões com mais de 15cm, enormes lagostas e lulas ficam expostos, provocando os paladares. O mercado também tem uma grande variedade de carnes de caça, queijos e condimentos, como a mostarda, cuja produção é referência no Canadá.
Os jornalistas viajaram a convite do Turismo de Toronto e da Comissão Canadense de Turismo.
Veja o Canadáampliar
Vista panorâmica de Montreal, do mirante do Parque Mont Royal: altura da colina limita o crescimento vertical da cidadeAnna Paula Franco/ Gazeta do Povo
1 / 29
ESTILO DE VIDA | 3:20
Canadá: emoção e frio na barriga a 533 metros do chão
O repórter Karlos Kolbach encarou o desafio de dar uma volta panorâmica pelo lado de fora da CN Tower, em Toronto. A aventura exige coragem, mas a recompensa é uma vista inigualável da cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário