Entretanto, nos últimos anos, a capacidade de projetar o novo se perdeu ou se desvirtuou. Para estimular novamente o espírito criativo da cidade, a Gazeta do Povo ouviu especialistas de cinco áreas e selecionou dez projetos que, se adotados, poderiam transformar a realidade da capital paranaense. Afinal, a inovação impulsiona os curitibanos desde 1693.
1 - Conectada
Seguir o exemplo de Seul, na Coreia do Sul, onde a prefeitura instalou antenas de wi-fi em 360 parques, 3,2 mil cruzamentos e 2,2 mil ruas em torno de centros comerciais seria uma das inovações mais radicais que a cidade poderia fazer, segundo a blogueira Bia Kunze, autora do blog Garota Sem Fio. Na opinião dela, além de ser uma enorme contribuição para a educação, a internet gratuita e sem fio resolveria muitos problemas de serviço. “Tudo pode ser feito pela internet, da retirada de documentos a boletins de ocorrência. Isso diminuiria as filas”, diz.
Ela defende que a prefeitura comece oferecendo a conexão livre em espaços estratégicos. “A inovação poderia começar pelas bibliotecas públicas, escolas municipais, praças e parques”, diz.
2 - Talentosa
Criar um conceito de educação facilitaria o descobrimento e o desenvolvimento de novos talentos. Para o consultor educacional Renato Casagrande, um projeto que descobrisse alunos talentosos e suas habilidades, oferecendo a eles acompanhamento de mentores de diferentes áreas do conhecimento seria um projeto e tanto para a cidade. A iniciativa deveria envolver o poder público, empresas e a sociedade civil e teria como foco o ensino infantil em escolas públicas. Para desenvolver e ampliar as habilidades, o aluno seria submetido a treinamentos. “Além das disciplinas escolares, ele teria contato com cultura geral, curso de línguas e lógica. Ele ampliaria a visão de mundo”, conta. “No futuro, seriam eles quem iriam desenvolver as inovações para Curitiba”, garante.
3 - Saudável
Trocar o pé de moleque por maçã, cerveja por suco de mamão, coxinha por salada. A ideia da coordenadora de Nutrição da Universidade Tuiuti do Paraná, Priscila Dabaghi Barbosa, para tornar a cidade mais saudável é proibir a comercialização de doces, frituras e álcool em espaços públicos, como parques e terminais de transporte coletivo. Ela também defende a proibição do consumo de cigarros nesses locais. Para a professora, Curitiba seria pioneira ao adotar tais medidas. “Em vez de beber cerveja, as pessoas beberiam suco nos parques. Com incentivo, seriam criados quiosques com frutas no centro, nos parques e nas ruas”, diz.
4 - Descentralizada
Apontada por urbanistas como uma das possíveis soluções para o problema de trânsito da capital brasileira mais motorizada do país, a descentralização é uma alternativa viável para evitar que os moradores do Cabral, Xaxim e Jardim Social tenham de se deslocar todos os dias, ao mesmo tempo, para o centro da cidade.
Com a formação de pequenos centros em diversas regiões de Curitiba, que ofereçam um conjunto de serviços e oportunidades (comerciais, culturais, de lazer, de trabalho, de saúde, serviços públicos), os grandes deslocamentos de carro tornariam-se desnecessários. Para André Caon, que também é presidente da Sociedad Peatonal – uma ONG de defesa dos pedestres –, a criação de uma Curitiba polinuclear favoreceria a caminhabilidade.
5 - Integrada
Implantado em 2003, o sistema de bilhetagem eletrônica de Curitiba poderia ser muito mais inovador do que apenas um cartão eletrônico que armazena créditos de passagens a serem usados na Rede Integrada de Transporte. Ele poderia ser usado para a integração temporal. De acordo com engenheiro eletricista André Caon, coordenador do Fórum de Mobilidade Urbana de Curitiba, após pagar a passagem, o cartão-transporte de Curitiba poderia ficar habilitado por 120 minutos. “Nesse período, o usuário poderia viajar sem precisar ir aos terminais de ônibus, encurtando a viagem, reduzindo a superlotação de ônibus e terminais e gerando economia ao sistema”, diz. Atualmente, a integração temporal beneficia apenas 600 pessoas, no Santa Quitéria e Vila São Pedro, na Linha Verde.
6 - Pontual
Fazer com que os doentes crônicos se conscientizem de tomar os medicamentos todos os dias tem efeitos tanto na saúde desses pacientes quanto nos gastos públicos. Segundo o médico infectologista José Luís Andrade Neto, professor da UFPR e da PUCPR, a busca ativa poderia ajudar a resolver esse problema. Equipes técnicas monitorariam todos os doentes crônicos e identificariam quem toma ou não o remédio. Na busca ativa, os suspeitos de não estar tomando os medicamentos direito seriam visitados por técnicos. “O profissional verificaria a cartela e assistiria a tomada do remédio”, diz.
7 - Monitorada
Para atingir a paz no trânsito, uma ideia seria colocar em uso um equipamento já utilizado em algumas cidades brasileiras, a ViaPK – um veículo com tecnologias de fiscalização e monitoramento eletrônico. Essa pode ser uma solução para evitar mortes e vítimas de acidentes na capital paranaense. O equipamento tem um sistema de leitura automática das placas de veículos em movimento, que permite identificar carros com débitos de IPVA, licenciamento e multas, além daqueles roubados e clonados. De acordo com o analista de sistemas e gestor de produtos da Perkons, Ricardo Simões, esse sistema permite realizar blitze abordando apenas os carros com aqueles problemas. “Fiscalização rápida e eficaz”, diz.
8 - Segura
Inovação não implica apenas a utilização de tecnologias avançadas e ideias futuristas. Muitas vezes o mais eficaz é algo simples e criativo. Em Curitiba, 15 ruas em sete bairros têm sirenes, que são acionadas, por controle remoto, quando há a suspeita de um delito. A iniciativa derrubou os índices de criminalidade nesses locais. De acordo com o delegado Rafael Vianna, autor do livro Diálogos Sobre Segurança Pública, iniciativas como a instalação de sirenes são inovadoras, e podem resolver o problema da segurança. “Esses projetos estimulam as pessoas a pensarem sobre segurança, a descobrirem as fragilidades do seu bairro e rua. E nada pode ser feito se não houver a união da vizinhança”, explica.
9 - Econômica
Embora seja notoriamente conhecida por seu tempo nublado, Curitiba poderia ser a primeira do Brasil, e uma das poucas do mundo, a ter a maioria das residências, prédios públicos, praças, estações-tubo, abastecidos por energia solar. A iniciativa já foi adotada no Parque Barigui. De acordo com Hewerton Martins, presidente da Solar Energy, empresa que desenvolve projetos e produtos vinculados aos sistemas solares fotovoltaicos, energia solar é o futuro, e a cidade seria inovadora se adotasse um modelo mais “limpo” e renovável e que, segundo ele, está cada vez mais barato.
10 - Preservada
Reservar espaços urbanos para o meio ambiente e criar um corredor de biodiversidade, integrando parques e reservas ambientais. Com o avanço do mercado imobiliário, as áreas verdes de Curitiba, aos poucos, têm sido reduzidas. Para a capital inovar, diz Terezinha Vareschi, vice-presidente da Associação dos Protetores de Áreas Verdes de Curitiba, é necessário criar Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNMs). Ela diz que os proprietários das áreas verdes têm pouco conhecimento sobre o assunto e a contrapartida do poder público não é suficiente. “Só o potencial construtivo não vai convencer os proprietários a criarem reservas”, diz. Segundo Terezinha, Curitiba tem 700 áreas verdes que poderiam ser transformadas em RPPNMs.