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sexta-feira, 30 de março de 2012

Economia se aprende em casa


Hugo Harada / Gazeta do Povo /

Semanada e mesada são bons recursos para ensinar os filhos a ter responsabilidade com o dinheiro. Eficiência depende do compromisso dos pais.
Há quem passe a vida toda sem aprender a lidar com finanças. E não é preciso se tornar adulto pa­­ra compreender conceitos co­­­­mo empréstimo, juro e poupança. Desde cedo, crianças po­­dem entrar em contato com o pla­­nejamento financeiro, tendo a mesada como aliada.
Segundo a especialista em educação financeira Celina Ma­ce­­do, pós-doutora em Psi­­cologia Cognitiva pela Uni­­versidade Li­­vre de Bruxelas (ULB), é possível ter maior controle sobre o dinheiro e compreender melhor os gastos quando se convive com alguns conceitos desde a infância. “A criança aprende que deve guardar uma parte para fazer o que quiser no futuro. Aprende também que, se não cuidar, chega a um momento em que o dinheiro acaba e os pais não de­­vem dar mais para que ela aprenda justamente isso: a se controlar e a fazer escolhas.”

Uma regra para todos
Se mais da metade da população brasileira está endividada, conforme a Pesquisa de Endi­vidamento e Inadim­­plência do Consumidor (Peic) divulgada em fevereiro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), é importante que se aprenda e se ensine em casa como ter um bom relacionamento com o dinheiro. Veja nesta página algumas dicas de especialistas que devem garantir a educação financeira de seu filho.
Três filhos, três cartões de débito, três mesadas. O casal de bancários Sueli e Marco Aurélio Camargo adotou a mesada há anos. A ideia inicial foi do marido, que criou uma conta poupança para cada filho e passou a depositar, por mês, R$ 1 por idade a cada um. Pedro Henrique, 17 anos, tinha 6 quando recebeu as primeiras notas. Luís Fernando e Matheus, 14 e 8 anos, respectivamente, vão pelo mesmo caminho. Mas R$ 14 por mês são suficientes a um adolescente? “Não, mas é um valor simbólico. Se você dá R$ 100, eles querem R$ 200. Nossa intenção é provocar, de forma lúdica, o planejamento financeiro deles”, afirma Camargo. Sueli conta que a prática tem dado certo e até se surpreende com o desempenho dos filhos. Com as economias, o caçula já comprou uma guitarra e o mais velho, um laptop. “Às vezes, eles se arrependem de alguma coisa que compram, mas, com dor no coração, não saio do combinado dando mais dinheiro. Necessidades e vontades vão muito além do orçamento”, considera Camargo.
ABC da educação financeira
Confira as dicas dadas pelas especialistas em educação financeira Ana Paula Mussi Cherobim, da UFPR, e Celina Macedo e pela psicanalista Shirley Rialto Sesarino, da PUCPR:
Atribuições
A contribuição do jovem com as tarefas domésticas não deve estar atrelada à mesada. Arrumar a cama, ajudar na cozinha ou manter o quarto em ordem não são motivos para receber dinheiro. Se o adolescente não está fazendo a parte dele, o ideal é manter a mesada, mas cortar as saídas ou o cinema com os amigos. Caso contrário, corre-se o risco de o filho não ajudar quando estiver disposto a abrir mão daquele dinheiro.
Birras
Não dê mais dinheiro por causa de manha. “O filho vai protestar, mas essa posição firme não o desorienta. Pelo contrário, ele vai ficar descontente, mas orientado”, diz Shirley. Ela comenta que os pais têm de se convencer de que estão fazendo o correto. “Cara feia não quer dizer que o filho deixou de gostar dele [do pai] ou que não o ame”, afirma.
Compromisso
O exercício é para os filhos, mas o sucesso depende dos pais. Se o acordo foi de tantos reais por semana, é preciso cumprir o combinado, sem atrasar ou dar valor diferente. Diante dos erros e arrependimentos das crianças, é preciso paciência. O processo de aprendizagem é longo e é preciso lidar com as frustrações. Cada tropeço é uma oportunidade para uma nova orientação e incentivo.
Empréstimo
Assim como os adultos, há casos em que as crianças gastam mais do que devem. Para que o filho assimile a lição, pais não devem repor valores usados de forma impulsiva para que o jovem não se acostume a ser socorrido em situações de apuros. Pode não ser fácil, mas Celina lembra que os pais educam com carinho, enquanto no mundo real ninguém se comove com devedores.

Primeiros contatos
Os mais novos têm dificuldade para perceber que as notas têm valores diferentes. A dica é marcar em um caderno risquinhos correspondentes às quantidades recebidas e gastas pelo pequeno. “Assim, a criança pode pegar o hábito de anotar os gastos e fica mais fácil planejá-los”, explica Celina. Também vale mostrar o que são as notas, moedas, cartões e talões de cheque, além de explicar o funcionamento da relação entre cliente e banco.
Responsabilidade
Administrar o dinheiro requer disciplina e ajuda a exercitar a responsabilidade. Diante da decisão de gastar e como gastar, as crianças vão adquirindo a capacidade de fazer escolhas responsáveis. Essa noção também pode ser desenvolvida na relação do jovem com os deveres de casa, os estudos, a devolução de um empréstimo e o cuidado com animais de estimação.
Transparência
Quando a família passa por dificuldade financeira, os filhos devem saber. Ao abordar o assunto, seja prático e evite ser pessimista ou demonstrar descontrole. Elas devem entrar na dança e acabar com desperdícios, mas não devem ficar angustiadas com os problemas dos adultos. Essa é uma boa hora de aprenderem a pesquisar preços e diferenciar o consumo necessário do consumismo.
Valor ideal
A partir dos 6 anos, o recomendado é oferecer, por semana, R$ 1 para cada ano de idade. Quinzenada ou mesada são indicadas para maiores de 12 anos. Com adolescentes, o ideal é que pais calculem junto com os filhos um valor comum para gastos prédefinidos. “Não pode ser muito pouco, ou o jovem não será capaz de bancar o que precisa e isso será uma incongruência”, diz Shirley.

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