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sábado, 15 de setembro de 2012

Curitiba diminui ritmo de favelização


Henry Milleo/Gazeta do Povo / O casal de aposentados Laurentino Silva e Irene dos Passos da Silva está na fila por uma casa da CohabO casal de aposentados Laurentino Silva e Irene dos Passos da Silva está na fila por uma casa da Cohab
HABITAÇÃO

Curitiba diminui ritmo de favelização

Segundo dados do Censo de 2010 recentemente divulgados, 49.706 famílias vivem nas chamadas aglomerações subnormais na capital.
A auxiliar de serviços gerais Jorgina Vidal dos Santos Alves, 33 anos, deu à luz o último dos seus quatro filhos há sete anos, exatamente no momento em que chegava à Vila Icaraí, um dos locais mais violentos do bolsão Audi-União, no Uberaba. Ali, ela é apenas uma das dezenas de pessoas que esperam o reassentamento realizado pela Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) no bairro com o objetivo de reduzir o número atual de 49.706 domicílios em aglomerados subnormais de Curitiba.
Comportamento
Cuidado com as novas casas varia no Uberaba
Em meio a ruas pavimentadas, com escola e creche já entregues, e a promessa da formação de uma cooperativa no local, os moradores das casas entregues pela Cohab há cerca de três anos já convivem com imóveis depredados ou mal cuidados. Muitas vezes, porém, isso ocorre por falta de opção ou pela própria desestruturação familiar.
O catador Gerson Alves de Oliveira, por exemplo, mudou-se para as novas casas da Cohab há três anos, após viver cinco anos em um casebre de madeira no Uberaba. Na antiga moradia, a filha, então com 23 anos, entregou-se às promessas de traficantes e hoje é dependente de crack. “Toda semana o Centro de Referência em Assistência Social vem aqui ou eu vou lá, mas não tem jeito”, conta Oliveira, 58, cuja casa está sem janelas e rodeada de material reciclado.
Já Liversina Rodrigues, 66, recebeu há três anos uma casa da Cohab. O imóvel tem fachada pintada de roxo, horta e cerâmica em todos os cômodos. Tudo feito com o dinheiro que ela recebe da aposentadoria.
Na fila
Da madeira à alvenaria: o sonho da Vila Icaraí
Entre placas de madeiras encaixadas e sobre ripas frouxas e encharcadas pela água dos córregos que correm sob suas casas, os moradores da Vila Icaraí olham todos os dias para a numeração nas fachadas de suas casas que corresponde ao cadastro que mantêm na Cohab.
Esse é o caso do casal de aposentados Irene dos Passos da Silva, 69, e Laurentino Souza da Silva, 66, que vivem há dez anos em uma casa de madeira pintada de cor-de-rosa no Uberaba e ostentam o número 23 na fachada do imóvel. “Nossa casa está caindo, como a maioria aqui. Mas deveríamos ter prioridade, pois já faz tempo que fizemos o cadastro”, reclama Irene.
O protesto se dava enquanto ela observava Silva cozinhando doce de banana no improvisado fogão à lenha. Baiano de nascimento, ele troca material reciclado por verduras em um posto da prefeitura e, assim, alimenta suas receitas.
191 aglomerados
No Paraná, 13 municípios contam com 191 aglomerados subnormais, sendo Curitiba (126), Ponta Grossa (19), Foz do Iguaçu e Almirante Tamandaré, com dez cada, as cidades que mais concentram áreas nessas condições.
Subnormal
O conceito de aglomerado subnormal leva em conta áreas com mais de 50 domicílios, que estejam ocupadas de forma ilegal e que possuam urbanização fora dos padrões, definida por vias estreitas e de alinhamento irregular ou pela precariedade de serviços públicos essenciais, como abastecimento de água, esgoto, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica.
Essa quantidade foi levantada em 2010 pelos técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mostrou que a capital paranaense ganhou, na década passada, 21.467 domicílios em áreas irregulares e sem infraestrutura básica. A conta leva em consideração apenas áreas com mais de 50 casas.
Apesar desse crescimento, os números do IBGE mostram que o ritmo anual vem diminuindo à medida que os programas de urbanização de favelas e reassentamentos avançam. Em 1991, Curitiba tinha 28.239 domicílios em aglomerados subnormais, número que pulou para 32.196 em 1996 (alta de 2,97% por ano), depois para 37.752 no início dos anos 2000 (3,67%), para chegar em 2010 às 49.706 mil famílias vivendo nessas condições (2,79%).
O bairro em que Jorgina vive, o Uberaba, é um dos que tiveram o maior crescimento no número de domicílios em aglomerados subnormais. Se em 1991, pouco mais de cem famílias viviam ali nessas condições, o último Censo mostrou que esse número pulou para 2.680.
Parentes e amigos
Segundo Teresa Elvira Gomes de Oliveira, diretora técnica da Cohab, essa movimentação pode estar ligada ao adensamento das próprias áreas. “Essas regiões não são ocupações tão recentes e as pessoas acabam trazendo parentes e amigos”, justifica.
Outra explicação pode estar na saturação de outros bairros da capital. Apesar de reunirem em números absolutos as maiores concentrações de domicílios, a Cidade Industrial, o Cajuru e o Sítio Cercado já não apresentam a mesma velocidade de crescimento. “São áreas que já se consolidaram como zonas de ocupação ou de habitação de interesse social. Além disso, são bairros sem grande impacto do investimento imobiliário”, afirma Teresa, que admite, porém, que essa situação pode mudar com projetos do Minha Casa Minha Vida.
É justamente a especulação do mercado que molda a movimentação das ocupações em aglomerados urbanos, segundo Zulma Schüssel, professora de Planejamento Urbano e Regional da Pon­tifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Nas áreas em que o valor [do metro quadrado] não é tão alto geralmente há ocupação desordenada”, diz a arquiteta.
População
Crescimento de famílias em favelas também vem diminuindo em 20 anos
O ritmo de crescimento de aglomerados subnormais está diminuindo e o de habitantes nessas situações mais ainda – seguindo o ritmo de crescimento da população brasileira.
De acordo com os dados do IBGE, em 1991 havia 112.956 moradores de casas em aglomerados subnormais e cinco anos depois esse número saltou para 131.354 – crescimento de 3,06%. Já na comparação do início da década passada e com o final, o aumento foi de apenas 1,18% (145.242 habitantes em 2000 ante 163.301 dez anos depois).
Segundo Lourival Peyerl, supervisor de informações do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, esses números revelam a preocupação das pessoas com o planejamento familiar. “Com o acesso a métodos contraceptivos, a decisão de ter ou não ter filhos é mais pensada, mesmo em áreas de menor renda”, argumenta.
No país, existem 3,2 milhões de domicílios particulares ocupados em aglomerados subnormais, abrigando 11,4 milhões de habitantes – média de 3,54 pessoas por imóvel. No Paraná, são 61.817 casas nessa condição com 217.223 moradores (3,51).
Casas novas
Promessa da Cohab é reassentar mais 2.644 famílias até 2013
Segundo a Cohab, mais 208 casas serão construídas até abril de 2013 no Uberaba para realocar a população que vive em barracos à beira da obra do futuro Parque da Imigração Japonesa. Essas obras fazem parte de um pacote de 2.644 imóveis que serão construídos até o fim de 2013 visando o reassentamento de famílias que vivem em situação de risco em Curitiba.
De acordo com a Cohab, 5,5 mil famílias foram reassentadas entre 2009 e agosto de 2012. “Nosso trabalho começou em 2005, mas ganhou ímpeto em 2007, quando apresentamos para o Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal, um projeto de urbanização de favelas em 43 vilas”, diz Teresa Gomes de Oliveira, diretora técnica da Cohab.
Com a nova ação, a prefeitura espera retirar 6.453 da beira de rios. “Distribuímos o projeto a partir de bacias hidrográficas, onde está a maior parte das ocupações. Com isso, recuperaremos também essas bacias”, afirma Teresa, que explica as três linhas de ação da pasta: urbanizar com infraestrutura, legalizar e reassentar, priorizando as áreas públicas e ocupações antigas.

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