Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Para Paola e Rodrigo Fiorin – na foto com os filhos, Ana Luisa e Rodrigo Júnior – existe um meio-termo saudável entre a rigidez e a negligênciaPai super protetor, filho inseguro
Pais erram ao assumir tarefas que os filhos já teriam condições de fazer, impedindo o seu desenvolvimento emocional e social.
Na medida certa
Confira dicas de especialistas para incentivar a autonomia e independência dos filhos:
- Observe o comportamento de seu filho ao liberá-lo para novas experiências, mesmo que isso signifique acompanhá-lo a distância nas primeiras iniciativas – como, por exemplo, quando que ele for à panificadora sozinho.
- Não exija da criança um comportamento exemplar nas primeiras tentativas. Ao aparecerem os erros, oriente, apoie e incentive.
- Se perceber que seu filho ficará triste se permanecer na reserva durante um jogo, não o impeça de participar e o estimule a treinar mais.
- Pergunte ao seu cônjuge, familiares e amigos se eles o consideram protetor demais. Reflita a respeito e converse com o seu filho sobre suas preocupações, mostrando que confia nele.
- Avalie se as preocupações com o seu filho o afastam do seu parceiro e atrapalham seu sono ou trabalho. Se a resposta for positiva, repensar suas prioridades trará benefícios não só para o seu filho, mas para toda a família.
Exame de consciência
Veja algumas características dos personagens das famílias nas quais reina a superproteção:
O pai superprotetor
- Costuma justificar seus atos com frases como: “Meu filho não precisa passar por isso” ou “Ninguém cuida dele tão bem quanto eu”.
- Não considera a opinião das crianças, dirige suas escolhas e tem medo de que elas errem e sofram por causa disso.
- Prefere que o filho não se exponha a situações que possam feri-lo, como uma competição esportiva. Ao ver o filho em atividades físicas, dá orientações excessivas para que ele não se machuque.
- Geralmente se enquadra no perfil de pessoas que foram pais mais velhos, que adota ou que tiveram um filho único ou prematuro, assim como os que sentem culpa por trabalhar muito.
Os filhos superprotegidos
- Podem crescer ansiosos, perfeccionistas, competitivos, dependentes e indecisos.
- Na adolescência costumam ser mais desafiadores e irresponsáveis, acham que todos têm de satisfazer suas vontades.
- Demoram mais tempo para sair da casa dos pais, têm problemas de relacionamento em casa e no trabalho. A falta de capacidade de lidar com problemas faz com que se sintam incompreendidos e injustiçados.
1,8 filho
é a quantidade média por família no Brasil, segundo o IBGE. Pais com poucos filhos costumam ser mais superprotetores.
Apesar de terem conceitos opostos, negligência e superproteção se igualam se considerados seus riscos para o desenvolvimento emocional, social e até físico dos pequenos. Pais superprotetores não só limitam as experiências do filho na tentativa de proibir tudo que possa pôr em risco sua integridade como prejudicam a sua autonomia ao assumir tarefas que o filho já teria condições de desempenhar.
O fato de que há cada vez mais famílias com filhos únicos e pais tardios piora esse quadro. Nessas circunstâncias, em muitos casos as crianças são aguardadas ansiosamente e vistas como um projeto no qual se exige demais que elas sejam bem preparadas e mais bem sucedidas para enfrentar o dia a dia de uma sociedade altamente competitiva. Ao mesmo tempo, o medo de que o filho sofra algum tipo de violência agrava a tendência paternal de impedi-lo de arriscar-se em situações normais da vida.
Para evitar esses exageros, é preciso buscar o bom senso, explica a psicóloga Graziela Sapienza, professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Os pais devem proteger os filhos de situações estressantes e perigosas, porém é importante que os filhos passem por situações frustrantes e as superem com o apoio dos pais”, afirma.
Curso natural
A aprendizagem ao longo da vida ocorre por “tentativa e erro”, por meio de experiências e também de regras e limites externos. Nesse cenário, os pais que utilizam exclusivamente a terceira forma para ensinar os filhos devem ter em conta que, se seguir os conselhos ou ordens de outras pessoas pode diminuir a probabilidade de algo dar errado, este comportamento limita ao mesmo tempo as possibilidades de ação e criatividade. “Regras são importantes e devem fazer parte da educação, mas pais superprotetores tendem a usar apenas essa forma de ‘ensinar’, não permitindo que os filhos entrem em contato com as contingências ou aprendam na prática como se relacionar com o mundo”, diz a psicóloga Silvia Aparecida Fornazari, do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Os prejuízos dessa maneira de educar também atingem os pais. Próximo de uma criança superprotegida há geralmente um pai sobrecarregado e frustrado. “Se minha autoestima não está bem, arranjo uma desculpa não consciente para estar sempre de olho em meu filho e assim não prestar atenção às minhas necessidades e inseguranças”, exemplifica a psicóloga e terapeuta de família Carla Cramer. Confira nos quadros ao lado as consequências que uma educação superprotetora sobre as crianças e dicas das especialistas para reverter essa situação.
Sem desligar das crianças
Na casa de Ana Luiza, 7 anos, internet só com restrição de conteúdo. O celular terá de esperar a adolescência e, por enquanto, nada de dormir na casa de colegas ou tomar refrigerante. Como a menina nasceu prematura, os pais, Rodrigo e Paola Fiorin, contam que o cuidado redobrado nos primeiros meses de vida acabou gerando o comportamento considerado por alguns como superprotetor.
“Dizem que somos muito rígidos, mas achamos que os outros é que são desligados com as crianças”, diz Rodrigo, que tem 31 anos e é professor universitário. O casal também tem Rodrigo, 1 ano e meio, mas conta que com ele não está tão fácil ficar de marcação cerrada. “Não sei se é porque ele é menino ou se é porque estamos no segundo filho”, conta.
Outra superprotetora assumida, a fisioterapeuta Josele Ribas conta que até esquece que a filha, Maria Caroline, 6 anos, já não é mais bebê. “Faço tudo para ela, dou banho e às vezes dou até comida na boca. As raríssimas vezes em que ela saiu sem mim, fiquei ligando toda hora”, conta. À medida que a filha cresce, contudo, acaba mostrando para a mãe que pode se virar sozinha. “Quando ela foi para a escolinha pela primeira vez e depois quando começou a ir de van ela ficou numa boa, feliz da vida. Eu é que fiquei frustrada por ela nem sentir minha falta”, diz.
2 comentários:
SABER disso a maioria sabe. O Problema e fazer. E cade a coragem de largar os moleques...
Obrigado pelo comentário.
Na verdade não devemos "largar totalmente", pois no mundo em que vivemos atualmente é ainda mais difícil. No entanto devemos dosar momentos, sempre com muito atenção. E isso depende da realidade de cada família e o lugar onde mora. é realmente um assunto complicado...
Postar um comentário