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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Eles se envolvem com política


Antônio More/ Gazeta do Povo / Alunos do ensino médio do Colégio Medianeira buscaram o contato direto com vereadores e deputados para questionar sobre a atuação pública dos parlamentaresAlunos do ensino médio do Colégio Medianeira buscaram o contato direto com vereadores e deputados para questionar sobre a atuação pública dos parlamentares
EM SALA DE AULA

Eles se envolvem com política

Simulação de eleições ou contato direto com parlamentares são formas de estimular quem ainda não vota a valorizar a democracia.
Se motivar universitários a se envolverem em temas políticos já é difícil, na educação básica os professores precisam de doses ainda mais intensas de criatividade para tornar interessantes assuntos como eleições ou democracia. Com esse desafio, alguns docentes aproveitaram o ano eleitoral para implantar projetos que fazem os próprios alunos experimentarem o que é uma candidatura ou conhecerem de perto o trabalho de deputados e vereadores, fazendo contato direto com os políticos, indo além da mera exposição dos temas durante as aulas.
Na iniciativa tomada pela professora Andressa Oliveira de Souza Kryminice, regente da turma do 5.º ano no Colégio Dom Bosco, a introdução do tema começou com a discussão sobre grandes momentos da política nacional, como a campanha das Diretas Já e o impeachment do presidente Fernando Collor. Em seguida, a partir de sugestões dos próprios alunos, a professora organizou uma verdadeira campanha eleitoral. “A ideia partiu das crianças porque eles começaram a falar de melhorias que poderiam fazer na escola, então pedi que apresentassem suas propostas”, conta Andressa.
Dom Bosco/ Divulgação
Dom Bosco/ Divulgação / No Dom Bosco, alunos fazem campanha eleitoral para defender melhorias para a escolaAmpliar imagem
No Dom Bosco, alunos fazem campanha eleitoral para defender melhorias para a escola
Experiência
Grêmios estudantis estimulam a vivência democrática
Os grêmios estudantis são outra forma de se estimular a vivência democrática dentro da escola, mas no Paraná a experiência não alcança nem metade das escolas estaduais. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação (Seed), apenas 40% dos colégios da rede têm um grêmio estruturado. Segundo Adir Simão de Souza, responsável por grêmios estudantis na Coordenação de Gestão Escolar da Seed, o problema na implantação dessas entidades depende muito da mobilização da própria comunidade escolar. “Existe a intenção de estender o grêmio a todas as escolas, mas não há como fazer isso por decreto. Nosso trabalho é sensibilizar as escolas por uma gestão democrática”, explica Souza.
Assim como as associações de pais, mestres e funcionários ou os conselhos escolares, os grêmios são instâncias colegiadas autônomas. Funcionam de modo semelhante aos centros acadêmicos universitários e geralmente fazem a ponte entre alunos e direção escolar de forma mais sistemática, encaminhando reivindicações ou promovendo eventos, como torneios esportivos. No site Dia a Dia Educação (www.diaadia.pr.gov.br), da Seed, há material de subsídio para download destinado a alunos e escolas que pretendam começar um grêmio.
Política nas escolas
Como fazer com que os estudantes se interessem mais por temas como cidadania e democracia?

Foram definidas cinco duplas como candidatas. Cada uma delas teve a missão de tornar suas ideias conhecidas e convencer os demais a confiar em seus projetos. Cartazes com as propostas foram colocados nas paredes e o ponto alto da atividade foi o debate promovido nos moldes daqueles que as crianças veem na tevê. Segundo a professora, houve sorteio de temas e espaço para que uns perguntassem para os outros. Além disso, os demais estudantes cobraram os candidatos sobre como fariam para viabilizar suas ideias. A campanha segue movimentada, com votação marcada para esta semana. Como é difícil pegar emprestado urnas eletrônicas, os votos serão computados do jeito antigo, com cédulas de papel.
Relatório
No Colégio Medianeira os alunos do primeiro e do segundo ano do ensino médio receberam uma tarefa árdua. Colher informações sobre vereadores e deputados estaduais e fazer perguntas diretamente a eles. Para frustração da maioria dos estudantes, apenas 20% dos políticos procurados deram algum retorno.
O professor de Filosofia e Sociologia Jerson Darif, idealizador do projeto, explica que a intenção da tarefa foi mostrar aos estudantes que o poder público não está, nem pode estar, distante de suas vidas. No entanto, a frustração de vários grupos pela falta de retorno serviu também a outro propósito. “O parlamento está desmoralizado, e eles estão tomando consciência de que somente limpando o parlamento é que a nossa democracia fica mais estável.”
No desenvolvimento do projeto, que já dura três meses, os alunos do primeiro ano ficaram responsáveis por elaborar um relatório sobre os vereadores e o segundo ano fez o mesmo com os deputados. Vasculharam a internet em busca de dados sobre fidelidade partidária, frequência às sessões, propostas e a formação acadêmica de cada um. Os sites da Câmara dos Vereadores e da Assembleia Legislativa foram os mais usados, mas eles também recorreram a notícias publicadas pela imprensa.
O grupo da aluna Bárbara Nogueira do Nascimento, do primeiro ano, foi um dos poucos que obteve sucesso no contato com os vereadores que procuraram. “Fizemos contato pelo Facebook e depois agendamos uma entrevista com eles na Câmara”, conta. Ela se solidariza com os colegas que não obtiveram resposta alguma, mas diz que a experiência de seu grupo foi gratificante. “Gostamos muito, a gente se sente participando da vida pública” diz.
Tema deve estar sempre presente em sala de aula
Para analistas ouvidos pela reportagem, atividades que destaquem o período eleitoral em sala de aula são importantes, mas temas como política e democracia não podem se restringir a um breve período a cada dois anos. Segundo o professor de Sociologia Política da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cezar Bueno Lima, o melhor modo de aproximar jovens da política, mesmo que ainda não votem, é mostrando a eles como as decisões políticas têm efeitos na vida cotidiana. “Acabamos reduzindo a política a mera representação partidária, mas praticamente tudo passa por decisão política, desde o preço da água até a situação da escola”, diz.
Uma dica para envolver as crianças em temas de cidadania, segundo Lima, seria levá-las a identificar e defender os interesses de seu bairro, como a necessidade de um posto de saúde.
Segundo a professora do curso de Pedagogia da Uni­ver­sidade Positivo Ivana Cris­ti­na Lima de Al­­mei­da, é possível trabalhar valores democráticos desde a educação infantil, ao estimular as crianças a tomar decisões e participar de escolhas que influenciem a turma.
No dia 11 de setembro, a Comissão de Educação do Senado aprovou em caráter terminativo a inclusão da disciplina Ética Social e Política no ensino médio. O projeto tam­­bém deter­mina que o en­­sino fundamental passe a ter aulas de Cidadania Moral e Ética. A proposta será analisada agora pela Câmara dos Deputados.
De acordo com Ivana, porém, não é necessário limitar a abordagem do tema a uma disciplina. “Noções de cidadania que envolvem a relação de uma criança com as outras, ou com os professores, podem ser trabalhadas em várias áreas”.

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