Na semana do dia internacional da mulher, uma reflexão sobre o resgate da feminilidade após elas terem conquistado sua independência e se firmado no mercado de trabalho
O que é ser feminina? Faça essa pergunta para homens e mulheres e receberá as mais diversas respostas. Mas quase todos concordam que é muito mais uma questão de atitude que de aparência. No mínimo, um mix das duas coisas.
E, embora esteja no DNA da mulher,
não é assim tão simples. A vida atribulada, em que precisamos nos
equilibrar entre os diversos papéis, e a exigência de uma postura
profissional mais séria muitas vezes atropelam o lado mais sensível e
intuitivo da natureza feminina.
Semana da Mulher
Na Semana da Mulher, o Viver Bem se propôs a entender melhor a curitibana. O que ela faz, com quem mora, como anda a sua relação com a feminilidade, sua autoestima, enfim, quem é. Com essas perguntas em mente, encomendamos ao instituto Paraná Pesquisas um levantamento sobre seus hábitos, rotina e comportamento. De segunda a quinta-feira, mostramos no site para você os resultados desta pesquisa, que contou com 410 entrevistas entre os dias 21 a 24 de fevereiro, em Curitiba.
A entrada no mercado de trabalho foi um
momento decisivo de mudança de comportamento. Para competir em um mundo
até então totalmente dominado pelos homens e fazer frente ao
preconceito, elas foram obrigadas a abrir mão de sua essência. Até mesmo
a moda refletiu esse movimento. “Nos anos 1980, o uso de ombreiras, a moda yuppie, refletiram essa masculinização”, analisa Priscila Sottomaior, professora de História da Moda do Centro Europeu e do Senac.
No século 21, lembra Priscila, a postura mudou e as mulheres conseguiram se impor. Vestidos, saias e
acessórios para lá de femininos estão aí para provar. “Hoje a mulher
pode ser feminina até mesmo no trabalho. Já está inserida no mercado,
não precisa provar mais nada para ninguém.”
A empresária Fernanda Pauliv, que dá cursos de
sensualidade para mulheres, percebe uma mudança de perfil. “Elas tinham
medo de serem julgadas, desvalorizadas pelos seus atributos físicos. Eu via muitas mulheres realizadas profissionalmente, mas tolhidas na sua vida pessoal”, diz a sócia do site Joanah Pink.
“Hoje elas estão mais exigentes com sua sexualidade, em seus
relacionamentos, voltaram a usar salto, saia, um vestuário mais leve.
Tudo parece convergir para o resgate do feminino.”
A publicitária Ana Carolina Barreto, 37 anos,
começou essa “operação” pouco antes de se separar. “Minha geração ficou
em um buraco, sofreu com relação às nossas mães, que passaram pela
liberação, mas não sabiam o que fazer com isso. Eu saí da casa dos meus
pais para casar. Hoje eu falo para a minha filha (de 12 anos) que se
valorize e pense sempre no que ela gosta.”
Encontro
Não é à toa que cursos como o de Fernanda e aulas de danças sensuais
estão sendo cada vez mais procurados. “Há cinco anos, meu público era de
jovens atrás de uma coisa exótica. Hoje mudou esse
perfil. São mulheres buscando resgatar a feminilidade perdida por causa
da vida corrida”, conta a professora de dança do ventre Suzi Ribeiro, proprietária do Estúdio Flor de Lótus.
Foi o caso da hoje também professora de dança do ventre Ellen Hadiyah, 44 anos. Casada, com duas filhas, ela entrou em depressão após
o nascimento da mais nova. Na época, Ellen era esteticista e
depiladora. Encontrou-se tanto nas aulas de dança do ventre que mudou de
profissão. “O primeiro ponto que a dança toca é a
autoestima. É uma massagem no ego. Me sinto bem, mais feminina, mais
viva.” A transformação de Ellen fez bem também ao seu casamento. “Meu marido é o meu maior incentivador. Ele sentia minha alegria quando chegava em casa depois das aulas, minha empolgação.”
Aparência
O que a dança obriga a fazer é olhar para si mesma. Só assim alguém
pode se encontrar, entender seus sentimentos e encontrar a sua essência.
“A mulher se torna feminina quando está bem consigo mesma, quando não
passa por cima das suas emoções”, afirma a psicóloga e filósofa Alba Regina Bonotto. Mais uma vez, questão de comportamento.
Mas é impossível falar de feminilidade sem tocar na
questão da aparência. “Não sei se faz parte do feminino ou da cultura.
Mas é bem fácil associar mulheres que se cuidam ao bem-estar e as
descuidadas à depressão”, diz a psicóloga. Não que não adoremos os
momentos de preguiça, largadas no sofá com aquela roupa larga e cabelos
desalinhados. “É um hobbie das mulheres. Mas por uma escolha, por um
momento. O tempo todo, é depressão”, alerta.
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora do livro O Corpo como Capital,
as brasileiras pensam na aparência o tempo todo. “No Brasil o corpo é
riqueza, é capital. É onde a mulher mais investe”, diz, lembrando do
grande mercado de beleza que há no país. “E ai da mulher que não
investir. É acusada de ser desleixada, pouco feminina. É como se a
aparência falasse de outras coisas que não são só aparência.”
Para ela, a mulher brasileira é muito feminina. “Mesmo quando acha
que não é. Está muito no nosso movimento do corpo, no jeito de andar, de
sorrir.”
Ponto para as mulheres? Nem tanto. O culto ao corpo causa sofrimento. “A não aceitação do envelhecimento,
das imperfeições, é uma cultura que gera muita infelicidade”, afirma a
antropóloga. A libertação vem tarde. “Quanto mais velhas, as mulheres
são mais felizes, porque deixam de se preocupar com a aparência. Começam
aos 50 anos. Aos 60 estão ótimas. Aos 75, maravilhosas. E todas acham
uma pena, que poderiam ter descoberto isso mais cedo.”
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