Livro de Euclides da Cunha reúne história, literatura e jornalismo
Oscar D'Ambrosio*
Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, em trajes militares
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"Para mim, foi uma das grandes experiências da minha vida de leitor.
Foi realmente o encontro com um livro muito importante, com uma
experiência fundamental. Um deslumbramento, realmente, um dos grandes
livros que já se escreveram na América Latina". As palavras do
consagrado escritor peruano Mario Vargas Llosa sobre "Os Sertões" (1902), de Euclides da Cunha, mostram bem a importância do livro para a própria discussão do que significa ser brasileiro.
Em 1981, a partir da leitura da obra euclidiana e das próprias pesquisas, Vargas Llosa publicou "A Guerra do Fim do Mundo", na qual, assim como Euclides, aborda o fato histórico conhecido como Guerra de Canudos. Ocorrido entre 1893 e 1897 no sertão baiano, o episódio resultou, após quatro expedições militares, na destruição do arraial dos rebeldes e na morte de seu líder religioso, Antônio Conselheiro.
Escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador e engenheiro carioca, Euclides da Cunha (1866 - 1909) dividiu seu livro em três partes: "A Terra", "O Homem" e "A Luta". Inicialmente, descreve o sertão baiano, o relevo do Planalto Central brasileiro e a paisagem da região, com sua aridez, dias quentes, noites frias e árvores sem folhas e espinhentas.
Em 1981, a partir da leitura da obra euclidiana e das próprias pesquisas, Vargas Llosa publicou "A Guerra do Fim do Mundo", na qual, assim como Euclides, aborda o fato histórico conhecido como Guerra de Canudos. Ocorrido entre 1893 e 1897 no sertão baiano, o episódio resultou, após quatro expedições militares, na destruição do arraial dos rebeldes e na morte de seu líder religioso, Antônio Conselheiro.
Escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador e engenheiro carioca, Euclides da Cunha (1866 - 1909) dividiu seu livro em três partes: "A Terra", "O Homem" e "A Luta". Inicialmente, descreve o sertão baiano, o relevo do Planalto Central brasileiro e a paisagem da região, com sua aridez, dias quentes, noites frias e árvores sem folhas e espinhentas.
Antônio Conselheiro
Na
segunda parte, o foco é lançado especificamente sobre os sertanejos e a
figura carismática de Antônio Conselheiro, líder religioso que se
instalou numa fazenda chamada Canudos com seus seguidores. Na terceira,
concentra-se na batalha entre as forças governamentais, preocupadas com a
repercussão daquela comunidade monárquica num país já republicano, e os
seguidores do místico pregador.
O maior mérito de Euclides foi o de trabalhar simultaneamente com ciências como sociologia, geografia e história. Considerado um trabalho pré-modernista, cruza dados de diversas origens para construir a sua visão do homem brasileiro. Para isso, informações sobre relevo, solo, fauna, flora e clima são importantes para ele construir uma descrição do ambiente (sertão nordestino) e uma análise da psicologia e dos costumes dos sertanejos.
A revolta é vista como fruto da grave crise econômica e social da região, marcada por secas cíclicas, latifúndios improdutivos, desemprego e fé numa salvação milagrosa que pouparia os habitantes da região do sofrimento. Essa crença, como mostra Euclides, começou a ser explorada pela imprensa e pelo clero como uma tentativa de retomar a monarquia, jogando a opinião pública contra os seguidores da revolta.
O maior mérito de Euclides foi o de trabalhar simultaneamente com ciências como sociologia, geografia e história. Considerado um trabalho pré-modernista, cruza dados de diversas origens para construir a sua visão do homem brasileiro. Para isso, informações sobre relevo, solo, fauna, flora e clima são importantes para ele construir uma descrição do ambiente (sertão nordestino) e uma análise da psicologia e dos costumes dos sertanejos.
A revolta é vista como fruto da grave crise econômica e social da região, marcada por secas cíclicas, latifúndios improdutivos, desemprego e fé numa salvação milagrosa que pouparia os habitantes da região do sofrimento. Essa crença, como mostra Euclides, começou a ser explorada pela imprensa e pelo clero como uma tentativa de retomar a monarquia, jogando a opinião pública contra os seguidores da revolta.
Descrição rigorosa
Euclides,
que testemunhou os fatos como repórter do jornal "O Estado de São
Paulo", escreveu trechos impressionantes no seu poder descritivo, como o
tratamento dado pelos soldados às vítimas: "Agarravam-nas pelos
cabelos, dobrando-lhes a cabeça, esgargalhando-lhes o pescoço e
francamente exposta a garganta, degolavam-nas".
Hábil escritor ao traçar, nas duas partes iniciais, uma rigorosa descrição do cenário do conflito e, na parte final, apresentar a fome, a peste, a miséria, a violência e a insanidade da guerra, Euclides verifica como Antônio Conselheiro e seus seguidores passaram por um massacre desnecessário, no qual os dois lados radicalizaram.
Como bem aponta o escritor, na narrativa que cativou Vargas Llosa, "Canudos não se rendeu", mas resistiu até seus últimos defensores: um velho, dois adultos e uma criança, vencidos por uma força muito maior e mais violenta.
Hábil escritor ao traçar, nas duas partes iniciais, uma rigorosa descrição do cenário do conflito e, na parte final, apresentar a fome, a peste, a miséria, a violência e a insanidade da guerra, Euclides verifica como Antônio Conselheiro e seus seguidores passaram por um massacre desnecessário, no qual os dois lados radicalizaram.
Como bem aponta o escritor, na narrativa que cativou Vargas Llosa, "Canudos não se rendeu", mas resistiu até seus últimos defensores: um velho, dois adultos e uma criança, vencidos por uma força muito maior e mais violenta.
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