Segundo secretário da Cultura do país, propostas podem ser feitas até dezembro deste ano
02 de março de 2012 | 22h 59
LISBOA - No primeiro ano em que o acordo ortográfico da
língua portuguesa começa a ser aplicado em Portugal, o secretário de
Estado da Cultura do país, o escritor Francisco José Viegas, quer
mudanças. Para as modificações, seria preciso reunir representantes dos
oito países de língua portuguesa.
Só neste ano os alunos portugueses começaram a aprender a nova
ortografia e apenas em janeiro os serviços públicos passaram a ter de
usar o acordo nas as comunicações escritas.
A questão foi levantada por Viegas numa entrevista televisiva. Ao Estado, Viegas disse que o problema é o caso da ortografia dupla que passou a existir.
Aplicando a regra de que as consoantes não pronunciadas devem ser
eliminadas, se por um lado em vez de “acto” os portugueses passaram a
escrever “ato” ou “Egipto” virou “Egito”, surgiram novas divergências
entre os dois lados do Atlântico: com a nova ortografia, em Portugal
“espectador” passou a ser “espetador”, “recepção” ganhou a forma
“receção” e “cacto” se tornou “cato”. Também foram mantidas diferenças
em acentos, como em “Antônio” e “António” e “gênero” e “género”.
“Não mencionei a necessidade de alterar o acordo ortográfico.
Mencionei incorporar pequenas alterações pontuais, que têm a ver com
aquilo que o próprio acordo dispõe, sobre o que é pronúncia culta,
pronúncia corrente e a sua correspondente ortografia”, explicou Viegas.
Viegas, formado em linguística, não quis indicar quais as mudanças no
acordo seriam necessárias. “Isso não depende do poder político, mas dos
especialistas e acadêmicos. Não pode ser o poder político a alterar,
são as academias (Brasileira de Letras e das Ciências, de Portugal) que
têm de fazer esse trabalho.”
Na entrevista, ele afirmou que a possibilidade de alterar o acordo
estava prevista. “Temos um quadro que nos impõe que até 2015 o acordo
esteja completamente implementado. Até dezembro de 2012 podem ser feitas
algumas sugestões de alterações. Aquilo que eu fiz foi simplesmente
abrir uma porta.”
Viegas diz ser a favor do acordo. “A partir de 1.º de janeiro de
2010, eu tinha uma coluna diária no Correio da Manhã que era escrita
segundo o acordo ortográfico. Eu fui o primeiro colunista a ter uma
coluna diária seguindo o acordo.”
A polêmica atual a respeito do acordo começou depois que o poeta
Vasco Graça Moura assumiu o cargo de diretor de uma das mais importantes
instituições culturais do país, o Centro Cultural de Belém, em
fevereiro. Sua primeira medida foi uma norma suspendendo a aplicação do
acordo ortográfico nos serviços sob sua tutela.
Na sequência, surgiu uma petição na internet para que o Parlamento
vote o fim do acordo. E o professor Ivo Barroso, da Faculdade de Direito
de Lisboa, entrou com um processo pedindo a inconstitucionalidade do
acordo ortográfico.
Estranheza. O romancista e presidente da Comissão de
Língua Portuguesa do Ministério da Educação (Colip-MEC), Godofredo de
Oliveira Neto, encarou com estranheza as declarações de Viegas. “O
acordo já foi discutido nas instâncias acadêmicas e políticas
competentes. Não faz sentido discutir tudo de novo.” Ele recorda que o
Brasil também poderia ter críticas a aspectos pontuais do acordo - como a
abolição do trema -, mas decidiu ceder para garantir a adoção da
proposta.
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