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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Amantes das letras celebram centenário de instituição literária


Marcelo Andrade / Gazeta do Povo / Biblioteca do Centro de Letras do Paraná abriga 20 mil livros que ajudam a contar histórias regadas ao tradicional chá da tardeBiblioteca do Centro de Letras do Paraná abriga 20 mil livros que ajudam a contar histórias regadas ao tradicional chá da tarde
MEMÓRIA

Amantes das letras celebram centenário de instituição literária

Centro de Letras do Paraná guarda memória de hábitos literários de Curitiba desde o início do século 20.
Dos chorões da Rua Professor Fernando Moreira não se espera menos. Há anos tomaram para si a função de dar nome à rua sem que ninguém possa reclamar o fato. No número 370 da via, no entanto, um pranto sobrevive. Saudosos amantes das letras misturam, há um século, no Centro de Letras do Paraná, versos, estrofes, canções e o que mais permitir a imaginação artística para arrancar suspiros de uma plateia poética.
Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
Marcelo Andrade / Gazeta do Povo / Há 50 anos, Orlando Wocziokoski, presidente de honra da União Brasileira de Trovadores (UBT), escreve trovas sobre saudade que são declamadas por locutores de rádioAmpliar imagem
Há 50 anos, Orlando Wocziokoski, presidente de honra da União Brasileira de Trovadores (UBT), escreve trovas sobre saudade que são declamadas por locutores de rádio
Entidades irmãs
Cinco outras organizações realizam suas atividades no prédio do Centro de Letras do Paraná.
• Academia de Letras José de Alencar
Fundada em 1939, teve como primeiro nome Associação de Cultura José de Alencar. Funcionava no Colégio Partheon, na Rua Comendador Araújo. Seu primeiro presidente foi Luiz Aníbal Calderari. Depois de uma passagem pela Biblioteca Pública, a entidade passou a usar a estrutura do Centro de Letras a partir de 1992.
• Academia Paranaense de Letras
Criada em 26 de setembro de 1936, a instituição foi liderada pelo professor Ulysses Vieira. A entidade substituiu a antiga Academia de Letras do Paraná, de 1922. Sob influência de intelectuais do Rio de Janeiro, Vieira estimulou o resgate de valores acadêmicos.
• Academia Paranaense da Poesia
Foi fundada em abril de 1973 como Sala do Poeta do Paraná, pela poetiza Pompilia Lopes dos Santos. Em 2002 alterou o nome e a atual presidente é Roza de Oliveira. O objetivo da entidade é traçar uma ligação entre poetas, músicos e artistas plásticos do estado. Entre as ações desenvolvidas estão a terça da poesia, na terceira terça-feira de cada mês, no Centro de Letras, e a oficina permanente de poesia às quintas, na Biblioteca Pública.
• Soberana Ordem do Sapo
Confraria inspirada no Jornal O Sapo, de 1898. Fundada para promover a cultura, civismo e comunicação. Emite título de barões e baronesas para pessoas que tiveram ações especiais e que merecem destaque. Os títulos são concedidos em cerimônias de sagração. Foi fundada por Vasco Taborda Ribas e o segundo presidente foi Apollo Taborda França.
• União Brasileira de Trovadores – Seção Curitiba
A entidade nacional surgiu oficialmente em 1979, em São Paulo. Cada seção promove seu próprio concurso de trova chamado Jogos Florais – uma homenagem aos jogos da Roma antiga, feitos em homenagem à deusa Flora. Neste ano acontece a 17ª edição em Curitiba, de 15 a 17 de junho.
Das cerca de 20 poesias declamadas na tarde da última terça-feira, pelo menos 15 retratavam a saudade. A agilidade da memória para poemas nem sempre é a mesma do corpo dos declamadores. Alguns sofrem para subir os três degraus até o palco. De qualquer forma, ninguém, entre os 35 participantes, usa a muleta dos anos para deixar de comparecer aos históricos encontros das 17 horas, às terças-feiras, antecedidos pelo chá das 16h30. O número de associados, no entanto, é bem maior, perto de 300.
Como não poderia ser diferente, o Centro de Letras guarda 20 mil livros – algumas obras raras. Há muito eles deixaram de ter apenas a própria história gravada nas páginas e integram a história dos expoentes associados em suas antíteses, metonímias, paradoxos e tantas outras servidas com chá. “A entidade surgiu para desenvolver o processo mental da sociedade”, revela o atual presidente, Luís Renato Pedroso, de 84 anos. “Hoje nossa intenção aqui é resgatar jovens escritores e promover o centro em escolas”, complementa a diretora artística Kathleen Evelyn Müller, 61 anos.
Embora a fundação do Centro de Letras tenha acontecido em 19 de dezembro de 1912, a sede atual acumula histórias desde 1953. Foi construída para a comemoração dos 100 anos de Emancipação Política do Paraná, pelo então governador Bento Munhoz da Rocha. É da mesma época em que se ergueu o Centro Cívico, o Teatro Guaíra e outras obras importantes em Curitiba.
Antes da sede na Rua dos Chorões, os encontros aconteciam em lugares diferentes, até mesmo na pensão onde morava um dos fundadores, Emiliano Perneta (1866-1921). O primeiro presidente da entidade foi o poeta e escritor Euclides Bandeira (1876-1947). Coincidentemente, no mesmo ano (1912), alguns dos 50 intelectuais que fundaram o Centro de Letras também ajudaram na fundação da Universidade do Paraná – atual Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Dúvida
O presidente Pedroso, fã de Machado de Assis, na prosa, e Olavo Bilac, na poesia, tem dúvida na hora de eleger o melhor dos escritores paranaenses. Ele fez carreira no Direito e chegou à presidência do Tribunal de Justiça do Paraná. Em 1993, se filiou ao Centro de Letras. Sente orgulho de sua trajetória e hoje seu maior sonho mora na entidade. “Estamos batalhando para fazer uma reforma e ampliação da sede, também para ter espaço para as entidades irmãs.”
Entre os associados, há vários gostos, gêneros e opções literárias. O ex-jornaleiro que gritava manchetes na década de 1930, Antonio Alves de Castro, mostra seu prefácio da obra na qual trabalha atualmente, em latim. “Estou escrevendo um poema sobre Santo Antônio de Sant’Ana Galvão [Frei Galvão, 1739-1822]. Quando eu coloquei uma ponte de safena [procedimento médico para quem tem uma artéria do coração obstruída], não tinha muito o que fazer, então comecei a escrever para praticar a língua”, revela.
Integrante do Centro de Letras e presidente de honra da União Brasileira de Trovadores (UBT), Orlando Wocziokoski figura como representante da trova. “Nunca aprendi a fazer trova, tinha como referência, desde antes, as quadrinhas que minha avó declamava quando eu era criança.” Solicitado, declama saudoso os versos “impressos” em sua memória de neto: “Não se troca amores velhos/ Pelos novos que hão de vir/ Os novos se vão embora/ E os velhos voltam servir.”
Comemorações
No ano do centenário, o Centro de Letras do Paraná organiza uma comemoração prevista para acontecer no Passeio Público – mesmo local em que ocorreu a inauguração oficial, em 1912. “A intenção é fazer um evento à moda de 1912, com carros antigos e elementos da época para comemorar e dar visibilidade ao trabalho do Centro de Letras”, planeja Vânia Maria Souza Ennes, primeira-vice-presidente da entidade.
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CULTURA E LAZER | 3:36

Saudosos poetas celebram centenário de centro literário

Entre versos, estrofes e canções, artistas saudosos mantém vivas as suas paixões pelas letras no Centro de Letras do Paraná.

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