Edoardo Boncinelli, geneticista e professor na Università Vita-Salute San Raffaele, na Itália.
Após 40 anos estudando Genética, o italiano Edoardo Boncinelli, 70 anos, decidiu escrever livros para explicar aos leigos o que acontece no campo da biomedicina. Na sua mais recente publicação, Carta a um menino que viverá 100 anos – como a ciência nos fará (quase) imortais, o professor fala sobre o envelhecimento.
Boncinelli afirma que os jovens poderão, sim, chegar aos 100 anos. Ele baseia sua afirmação na resposta dada por ele mesmo a duas perguntas: por que envelhecemos e como envelhecemos. Segundo ele, depois que passamos da idade reprodutiva, a natureza “se esquece de nós”, pois ela só está preocupada com a procriação.
O envelhecimento acontece porque o corpo humano funciona como uma máquina e, como tal, nela ocorrem erros. Para consertá-los, existe um mecanismo de autorreparação que vai perdendo sua eficiência. “Portanto, depois de uma certa idade, 30 ou 40 anos, nosso corpo se enche de falhas. Envelhecimento é uma acumulação progressiva de grandes e pequenos erros em todas as partes do corpo”, falou o geneticista a uma plateia de estudantes na PUCPR, em Curitiba, em 20 de abril.
De acordo com ele, a chave da vida longa estaria na manipulação genética e na melhoria dos tratamentos para as pessoas da terceira idade. Isso porque o mecanismo de autorregulação é controlado pelos genes e já se sabe como eles funcionam. “Nós hoje, estudando moscas e vermes, podemos modificar esses genes. Alongando a vida deles em quatro, cinco e até dez vezes”, explica. Ele conta que no homem isso ainda não foi feito porque, em 1975, os cientistas responsáveis pelos experimentos decidiram não fazê-lo. “Porém o tempo passou, as técnicas melhoraram e, provavelmente, alguma coisa do gênero acontecerá num futuro próximo. Os jovens quase certamente vão vivenciar uma época em que os genes vão ser modificados.”
Além disso, ele aborda temas polêmicos, como a manipulação de embriões para verificar se há doenças genéticas. Quando perguntado se a prática de selecionar esses embriões não poderia ser considerada como eugenia, o professor prefere se esquivar. “Alguns dirão que sim. Outros que não.”
Nos últimos 100 anos, a vida média tem aumentado. Até que idade o senhor acredita que o corpo humano é capaz de chegar?
É difícil responder a essa questão. Porém, se relacionarmos nossa espécie a outras, podemos calcular que 120 anos é um objetivo razoável. Antes não era possível porque a vida nos fazia cair sempre em armadilhas. Mas agora que aprendemos a lidar com a maioria delas, eu diria que 120 anos é o limite biológico.
Se as pessoas poderão viver até os 120 anos com o aprimoramento genético, como seria o processo de envelhecimento? Há como reverter o processo de perda de capacidades motoras e mentais?
Se modificarmos os genes, tudo muda. A vida muda, mas também a juventude. Não sei se faremos, mas, se fizermos, abrimos esse horizonte. Hoje não. Hoje temos esse alongamento, mas não é mudada a relação entre juventude e velhice. Então, temos de trabalhar com aquilo que a natureza nos oferece. Substituindo as partes do corpo, regenerando tudo o que é possível. E, naturalmente, tentando manter o cérebro jovem. O cérebro não envelhece precocemente. Isso quando não existem patologias, que realmente são uma desgraça.
Mas como usar o cérebro adequadamente?
Com interesse e paixão por toda a vida. Não começar aos 80 anos. Aqueles que usam o cérebro desde criança têm um cérebro mais fresco. E, por um motivo que não conhecemos, o corpo fica mais saudável. Mesmo quando existe uma patologia como o Alzheimer, aqueles que utilizaram o cérebro por toda a vida estão comparativamente melhor. Na população, em geral, é preciso estimular o uso do cérebro por toda a vida. Mudando as formas de trabalho, que devem ser sempre de formas mais intelectuais do que de esforço físico. Isso é um sonho, mas é um sonho que precisa ser realizado.
O senhor fala em seu livro sobre o diagnóstico pré-implante embrionário para selecionar os que não apresentam doenças. Isso não é uma forma de eugenia?
Isso depende de opinião. Alguns dirão que sim. Outros que não. Eu não me meto nesse tema. E como é feito antes da implantação no útero, não pode ser considerado um aborto.
O que as pessoas podem fazer para viver melhor?
Ser contentes. Comer de tudo, mas não muito. Fazer exercícios, mas não muito. E usar o cérebro sem medo de usar muito.
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