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Professor de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino - Governo do Paraná

terça-feira, 24 de abril de 2012

É difícil aprender inglês na escola


Antônio Costa / Gazeta do Povo / A engenheira ambiental Ana Paula Tebaldi, 28 anos, com o filho Artur, de 6 anosA engenheira ambiental Ana Paula Tebaldi, 28 anos, com o filho Artur, de 6 anos
METODOLOGIA

Número de alunos por sala, método de ensino ineficiente e professores sem fluência no idioma dificultam o aprendizado.

Disciplina obrigatória a partir do 6.º ano do ensino fundamental, o “inglês de colégio” – como é pejorativamente chamado o ensino da língua inglesa nas escolas regulares – virou sinônimo de conhecimento superficial e insuficiente para se comunicar. Para especialistas, o ensino de língua estrangeira ainda é desvalorizado nas discussões sobre educação, as condições de trabalho dos profissionais são precárias e os métodos de ensino são meramente burocráticos.
O problema é mais evidente na rede pública, mas um grande número de instituições privadas segue os mesmos padrões, tornando quase obrigatória a matrícula de crianças e adolescentes em cursos de idiomas no contraturno para que dominem uma segunda língua.
Aposta fora do ensino regular
A engenheira ambiental Ana Paula Tebaldi, 28 anos, estudou em colégio público e sentiu a necessidade de fazer um curso particular de inglês antes de entrar na faculdade. Ciente da importância do idioma e sem acreditar que o ensino regular daria conta de fazer com que o filho aprendesse inglês, ela já matriculou Artur, 6 anos, em uma escola privada de inglês. “Quando a instituição trata exclusivamente do ensino de línguas, o aprendizado é melhor”, considera.
Capacitação
Faculdade de Letras não é suficiente para formar bons professores
Embora uma boa estrutura e um sistema de ensino eficaz sejam essenciais para a aprendizagem, a qualidade da aula depende em grande parte da formação do professor. De acordo com o professor Luiz Fernando Schibelbain, para ensinar alguém a falar inglês não basta ter apenas faculdade de Letras. “Quando eu era aluno aprendi teorias sobre a língua, mas não a dar aula de forma comunicativa”, conta. Para ele, as universidades deviam se preocupar em capacitar os acadêmicos a ensinar idiomas de modo menos burocrático.
A fraca capacitação dos professores é confirmada por Marila Hanech, coordenadora do curso de inglês do Centro Europeu. Ela relata que recebe frequentemente na instituição professores de língua estrangeira da rede pública que se matriculam no nível básico, com um conhecimento do idioma muito abaixo do esperado para um profissional da área.
Certificados
Para a professora Claudia Motti Bach, os certificados de proficiência emitidos por instituições internacionais, como os das universidades de Cambridge e Michigan, são os melhores atestados de domínio do idioma e têm grande relevância para profissionais que buscam uma colocação nos melhores centros de línguas. (JDL)
Defasagem
Comparação com cursos de idiomas realça deficiência
A professora e doutora Clarissa Jordão, do curso de Letras da UFPR, reconhece os problemas do ensino de inglês em escolas regulares, mas ressalva que a situação é semelhante em outras disciplinas, embora não existam muitas referências de comparação.
“Há vários alunos da rede pública tendo aulas de método Kumon porque não aprendem bem Matemática, mas não se crucifica o professor dessa matéria, só o de Inglês”, diz. Para Clarissa, é a visibilidade dos cursos de idiomas que acaba colocando em evidência a deficiência do ensino de língua estrangeira nas escolas.
Segundo a professora, a escola como um todo não modernizou seus métodos, o que faz o conteúdo parecer irrelevante para os alunos. “Hoje, os jovens aprendem muito de inglês nos games e na internet, por exemplo, e isso não é explorado em sala de aula”, lamenta. (JDL)
Dê a sua opinião
O que é preciso mudar para que seja viável ensinar e aprender idiomas em escolas regulares?
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
No início do mês, o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, disse que interessados em participar do programa Ciência Sem-Fronteiras, que concede bolsas de estudo no exterior a estudantes de nível superior, devem agilizar o aprendizado do inglês para facilitar o ingresso nas universidades internacionais. A cobrança contrasta com as condições oferecidas pelo próprio Estado.
Número de alunos
“Quando se pretende ensinar um aluno a se comunicar, você pratica fala, compreensão, leitura e escrita. Isso se faz em duplas ou grupos pequenos. Em uma turma de 40 alunos é inviável”, diz o professor Luiz Fernando Schibelbain, diretor do Centro de Línguas Positivo. Segundo o professor norte-americano Philip Michael Young, diretor da rede de cursos de idiomas Phil Young’s, o ensino de língua estrangeira não segue a mesma lógica de outras disciplinas. “Em turmas com tantos alunos é até possível obter bons resultados em História ou Ciências, mas a aprendizagem de uma segundo idioma requer muita interação”, diz.
Segundo Schibelbain, o excesso de alunos induz muitos professores a escolherem métodos com os quais se sintam mais seguros para controlar a turma. Assim, por temer que as conversações levem à indisciplina, o ensino de gramática é priorizado.
A estudante Carla Carolina Freitas, 13 anos, aluna do 9.º ano do ensino fundamental em uma escola da rede pública, reclama da falta de atividades mais próximas do cotidiano. “No colégio, nós só fazemos tradução de textos”, conta a garota, que há um mês passou a frequentar a escola de inglês Wise Up, fora do período escolar.
Horas de aula
A necessidade de interação constante também esbarra na reduzida carga horária de língua estrangeira nas escolas regulares. No Paraná, os professores da disciplina têm somente 80 horas por ano com os estudantes. “Em geral, são apenas duas aulas por semana e muitos professores não usam o inglês em tempo integral com a turma, o que torna muito superficial o contato com o idioma”, afirma a professora Claudia Motti Bach, do curso de Letras na FAE Centro Universitário.
Por sentir a necessidade de contato mais intenso com o idioma, a técnica bancária Michele Ernst Stumm, 30 anos, que estudou em escola pública, fez durante três anos um curso de inglês particular e afirma que a experiência fez diferença para encontrar um bom emprego. Ela lembra que a baixa qualidade do ensino de inglês nas escolas gera desigualdade. “Sai caro e quem não tem condições de investir acaba saindo em desvantagem no mercado de trabalho”, diz.
Outras realidades
Necessidade de saber outra língua influencia o ensino no exterior
A capacitação dos professores e as condições de aprendizagem em países desenvolvidos são superiores às oferecidas no Brasil, mas, para os especialistas entrevistados, é a necessidade de falar uma segunda língua que aprimora o domínio de idiomas de uma população.
Segundo o diretor da Câmara de Indústria e Comércio Brasil–Alemanha, Andreas Hoffrichter, as crianças alemãs aprendem inglês na escola desde os oito anos de idade, com uma carga horária que varia de três a quatro horas por semana. Francês, italiano e espanhol também estão entre as opções nas escolas germânicas. Desde 1974, os países membros da União Europeia mantêm um acordo de ensino obrigatório de duas ou três línguas nas escolas públicas.
Em uma região do Canadá em que o inglês é a língua dominante, a professora Clarissa Jordão, do curso de Letras da UFPR, observou escolas em comunidades indígenas onde o francês era ensinado em turmas que tinham até 15 alunos. Um cenário bem diferente do encontrado em escolas públicas no Brasil, onde as turmas chegam a ter 40 estudantes.
Nos Estados Unidos, apesar da boa estrutura, a fluência em um segundo idioma parece não ser buscada com tanta intensidade. O professor norte-americano Philip Young afirma que todo aluno estuda uma língua estrangeira durante a vida escolar, mas quase ninguém a fala. “Fiz um curso universitário de Português antes de ir para o Brasil e, quando cheguei, percebi que não sabia patavinas”, conta, por e-mail.

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