Raul Seixas – O Começo, o Fim e o Meio não vai decepcionar os fervorosos fãs do cantor e compositor baiano, um dos maiores ícones do rock nacional. Mas, ironicamente, o grande acerto do documentário de Walter Carvalho é o de não ter sido feito para eles. O diretor preferiu contrariar a frase de um dos principais, e mais polêmicos, entrevistados do filme, o escritor Paulo Coelho, para quem uma figura das dimensões do roqueiro não teria uma história, e sim uma lenda.
A opção de Carvalho é por problematizar o mito, buscando sua essência mais humana, não para necessariamente desconstrui-lo, mas para dar-lhe complexidade.
Lançado em 23 de março, Raul Seixas – O Começo, o Fim e o Meio já pode ser considerado um sucesso de bilheteria: depois de ter levado 26 mil espectadores aos cinemas no primeiro fim de semana de exibição, vem mantendo ótima média de público, um feito e tanto para um documentário. Esse êxito é mais do que merecido.
Para construir sua narrativa, Carvalho ouviu em torno de 70 fontes, de amigos de infância de Raul na Bahia ao porteiro do edifício onde o cantor deu seu último suspiro no dia 21 de agosto de 1989, aos 44 anos. Também estão no filme suas mulheres, filhas, o único irmão, a mãe, parceiros, amigos e fãs, além de críticos e jornalistas que o entrevistaram.
O diretor e sua equipe incorporaram ao documentário fotos, registros de shows, apresentações em programas de tevê, videoclipes, filmes, entrevistas, além de fotos e documentação em áudio. Ouvimos, por exemplo, a voz de Raulzito, ainda menino, cantando em inglês, já anunciando, em textos rabiscados nos cadernos escolares, que queria ser artista, brilhar no mundo.
Mas essa apuração detalhada não tem como meta uma precisão biográfica científica, mas a costura de um retrato multidimensional, que confirma a genialidade do artista e também a fragilidade do homem por trás de sua excêntrica e provocativa persona pública. O resultado, memorável, comove, faz rir, emociona e encanta em vários momentos. É uma aula de História Cultural do Brasil.
O documentário Raul Seixas - O Início,o Fim e o Meio permanece inédito em Curitiba.
Curitiba continua no prejuízo quando o assunto é a variedade de filmes em cartaz nas salas de exibição da cidade. Mesmo com a abertura, em 30 de março, do Espaço Itaú de Cinema, que colocou em cartaz obras há muito aguardadas pelos cinéfilos locais, a programação segue em defasagem em relação a outras cidades brasileiras.
Dois títulos nacionais, que mereceram destaque na imprensa nacional nas últimas semanas, permanecem inéditos na capital paranaense. Curiosamente, ambos os filmes falam de personagens importantes da história do país: Heleno, de José Henrique Fonseca, sobre o jogador de futebol Heleno de Freitas; e Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho, que busca desvendar a trajetória do roqueiro baiano.
Atormentado
Estrelado por Rodrigo Santoro, Heleno conta, em preto e branco, a trágica história do atacante Heleno de Freitas, craque do Botafogo e do Vasco que tinha o apelido de “Gilda”, por conta de seu temperamento instável, semelhante ao da personagem da atriz norte-americana Rita Hayworth no filme clássico de Charles Vidor, realizado em 1946.
O longa de Fonseca, em cartaz no país desde 30 de março, em 60 salas, acompanha a vida do atacante nos anos 1940 e 1950, quando ele sonhava defender o Brasil em uma Copa do Mundo. No entanto, a Segunda Guerra Mundial fez com que os campeonatos de 1942 e 1946 fossem cancelados. No Campeonato Mundial de 1950, realizado no Brasil, Heleno estava em declínio e não foi convocado.
Mulherengo e boêmio, Heleno de Freitas ficou conhecido por ser irascível e pela falta de espírito de equipe. Em 1948, foi vendido para o time argentino Boca Juniors, na maior transação do futebol brasileiro registrada até então. Na década seguinte, foi internado como louco em um sanatório em Barbacena (MG), em decorrência de uma sífilis que não havia sido curada, e lá morreu.
A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato, por telefone, com a assessoria de imprensa da produção de Heleno, no Rio de Janeiro, e foi informada que o filme deve ser lançado em Curitiba, mas ainda não foi definida a data de estreia na cidade.
Há alguns indícios fortes que sustentam a hipótese de que esse atraso tem a ver com o fato de a capital do Paraná ser considerada um mercado ruim para produções brasileiras. A partir de dados coletados entre 1.º de janeiro e 31 de setembro de 2011 em dez cidades brasileiras, o site Filme B, o mais completo portal sobre o mercado cinematográfico do país, constatou que filmes nacionais respondem por apenas 8,9% da audiência curitibana, a menor média entre as praças analisadas, e nenhum dos longas-metragens brasileiros ficou entre os dez mais vistos na capital paranaense.
Esperança
Mas nem todas as notícias são ruins. O documentário Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, que fez 83 mil espectadores até o fim de semana passado no país, um ótimo público para o gênero, deve estrear em Curitiba nos dias 20 ou 27 de abril, segundo previsões de sua assessoria.
O filme de Walter Carvalho, que estreou em 23 de março, é considerado um sucesso: em exibição em apenas 36 salas no país, manteve uma ótima média de 421 espectadores por sessão, superior à de Xingu (393), superprodução de Cao Hamburguer que estreou em 6 de abril, com um total de 77 mil ingressos vendidos, número bem abaixo do esperado.
Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, premiado na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, desvenda diversas facetas de Raul, como as parcerias com Paulo Coelho, seus casamentos, a fase do sucesso e o impacto de suas composições sobre gerações de fãs.
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