Tempestade causada pelo furacão em Southampton, Nova York
ALERTAFuracão Sandy já castiga Costa Leste dos Estados Unidos
O furacão reduziu ligeiramente seus ventos máximos sustentados, até os 140 km/h, e espera-se que toque terra em menos de uma hora no litoral de Nova Jersey.
Depoimento: Os sobreviventes de Nova York
Por Simone Delgado, jornalista curitibana
O dia amanheceu silencioso nesta segunda-feira (29) em Nova York. Devido ao fechamento do sistema de transporte coletivo na cidade, as ruas ficaram desertas. Moro no meio de Times Square, umas das vizinhanças mais movimentadas e caóticas da cidade. Hoje, no entanto, silencio total. Turistas, comerciantes e moradores estavam em casa ou algum lugar seguro, bem longe de Sandy, o furacão com nome de moça gentil que promete consequências devastadoras para a cidade, segundo previsão de analistas e meteorologistas.
Meu plano inicial seria ficar no meu apartamento em Times Square, quando descobri que antenas enormes de telefones celulares instaladas no telhado do prédio onde moro com o meu marido poderiam cair e arrebentar o teto do apartamento--devido à força dos ventos. Resolvi deixar o apartamento. Foi correria total. Não sabia se deveria caminhar 40 quadras até o West Village ou pegar um táxi, o que parecia missão impossível. Tive sorte! peguei um táxi e seguimos para o apartamento de uma amiga no West Village, onde ficarei por dois dias.
No caminho, cenas de um filme surrealista. Cidade fantasma. Estava chovendo e ventando muito. Comércio todo fechado. As pessoas garantiram as compras no dia anterior. Poucas pessoas andando nas ruas normalmente cheias em uma segunda normal de trabalho. Vi algumas pessoas correndo, outras tirando fotos, outras caminhando rapidamente com malas rumo à lugar mais seguro.
O taxista de Bangladesh chegou a parar algumas vezes para eu tirar fotos. "Não tenho medo, mas dizem que esse furacão sera pior que Irene (o anterior) e por isso precisamos tomar cuidado", disse ele.
O cenário tem sido uma mistura de tensão e descaso no ar -- típico de quem é nova-iorquino e ja passou pelos ataques de 11 de setembro, blecaute e furacão Irene. Afinal, somos nova-iorquinos. Somos sobreviventes.
Guarda costeira resgata corpo no mar
AFP
A guarda costeira americana resgatou nesta segunda-feira (29) o "corpo inanimado" de um dos dois tripulantes desaparecidos do veleiro canadense "HSM Bounty" que naufragou na costa da Carolina do Norte, durante a passagem do furacão Sandy. O corpo "inanimado" de Claudene Christian, 42 anos, foi encontrado no Atlântico 150 km a sudeste do Cabo Hatteras, informou a guarda costeira, precisando que a mulher foi levada ao hospital Albemarle de Elizabeth City. "As buscas prosseguem para localizar" o capitão do barco, Robin Walbridge, 63 anos.
Quatorze dos 16 tripulantes do veleiro foram resgatados pela guarda costeira e "seguem para a base aérea de Elizabeth City, onde serão atendidos pelo pessoal médico de emergência". Os tripulantes do veleiro foram socorridos por dois helicópteros Jayhawk, precisou a guarda costeira.
O veleiro canadense de três mastros "HMS Bounty", réplica de um famoso barco do século XVIII, foi atingido pelo furacão Sandy a 144 km a sudeste do Cabo Hatteras, na Carolina do Norte. Após receber um pedido de socorro do proprietário do barco, a guarda costeira em Elizabeth City enviou um Hércules HC-1340 que localizou o "HMS Bounty" e fez contato com a tripulação, quando o navio estava a 257 km a oeste do olho do furacão.
O furacão reduziu ligeiramente seus ventos máximos sustentados, até os 140 km/h, e espera-se que toque terra em menos de uma hora no litoral de Nova Jersey, segundo o Centro Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês). Em um boletim especial emitido às 21 horas de Brasília, esse organismo detalhou que "Sandy" perdeu suas características tropicais (derivadas de sua origem geográfica e de sua estrutura interna) e por isso agora é considerado um ciclone pós-tropical.
A frente se encontra a 50 quilômetros a leste-nordeste de Cape May e cerca de 35 quilômetros ao sul de Atlantic City, ambas em Nova Jersey e avança rumo ao oeste-noroeste (300 graus) a 44 km/h. Esta frente está provocando uma forte ressaca que alcançou os 3,7 metros em Kings Point (Nova York) e 2,3 metros em Sandy Hook (Nova Jersey). "Os níveis de água serão inclusive mais elevados quando subir a maré", passadas as 20h locais (0h de Brasília), advertiu o NHC.
Os ventos de "Sandy" se notam cerca de 280 quilômetros de seu centro e os equivalentes aos de uma tempestade tropical podem ser registrados inclusive a 780 quilômetros de distância, o que explica que grande parte do litoral do nordeste dos EUA esteja notando a passagem deste furacão.
Efeitos
As bolsas de valores do país fecharam pela primeira vez desde os atentados de 11 de setembro de 2001 e continuarão sem funcionar na terça-feira. Órgãos públicos fecharam em Washington e aulas foram canceladas em toda a Costa Leste.
Quase 700 mil moradias e empresas estavam sem luz ao meio-dia, e o apagão pode se ampliar até milhões de consumidores. Uma empresa de prevenção de desastres estimou que os prejuízos podem chegar a 20 bilhões de dólares, sendo metade do valor coberto por seguro.
"Essa será uma tempestade grande e poderosa e acredito que todos ao longo do litoral leste estão se preparando de forma apropriada", disse o presidente norte-americano, Barack Obama, na Casa Branca. Governadores estaduais de Virgínia a Massachusetts alertaram para o grave perigo decorrente da tempestade para 60 milhões de moradores na sua rota. Dez Estados declararam situação de emergência.
"Sem dúvida haverá algumas mortes causadas pela intensidade dessa tempestade, pelas inundações, pela ressaca, pelas ondas. Quanto mais responsavelmente os cidadãos agirem, menos pessoas irão morrer", disse a jornalistas o governador de Maryland, Martin O'Malley.
Meteorologistas dizem que o Sandy pode ser a maior tempestade já registrada no território continental dos Estados Unidos. Na costa da Carolina do Norte, a Guarda Costeira resgatou 14 de 16 tripulantes de uma réplica do navio histórico HMS Bounty. O grupo foi salvo de helicóptero, após abandonar o barco em botes. Dois tripulantes continuam sendo procurados.
Em Nova York, um guindaste no topo de um prédio na rua 57, em Manhattan, desmoronou parcialmente e ficou pendurado sobre a rua. A polícia interditou a área para pedestres.
A oito dias da eleição presidencial, Obama cancelou um compromisso de campanha na Flórida, nesta segunda-feira, e voltou a Washington para monitorar a reação governamental à tempestade. O candidato republicano a presidente, Mitt Romney, cancelou eventos na noite de segunda-feira e na terça-feira.
Na tarde desta segunda-feira, o furacão avançava para noroeste, na direção da costa norte-americana, a 45 quilômetros por hora, com ventos regulares de até 150 quilômetros por hora, segundo o Centro Nacional de Furacões (CNF).
O Sandy se movia rapidamente em direção a Nova Jersey e Delaware. Às 19h (horário de Brasília), ele estava 45 quilômetros a leste-sudeste de Cape May e 65 quilômetros ao sul de Atlantic City, em Nova Jersey, segundo o mais recente boletim do CNF.
O furacão ganhou velocidade ao se mover para noroeste em direção à costa a 45 quilômetros por hora, com ventos máximos sustentados de 150 quilômetros por hora.
Segundo meteorologistas, essa é uma rara "supertempestade híbrida", criada por uma massa de ar polar que acabou por envolver uma tempestade tropical. Só isso já seria bastante ruim, mas há ainda uma terceira tempestade em ação, um sistema que desce do Canadá, e que vai acabar por barrar o furacão principal, mantendo-o parado. Além disso, a tempestade deve chegar em terra num horário de maré alta, reforçada pela lua cheia.
Embora não tenha a força do Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005, o Sandy vem se fortalecendo. Ele matou 66 pessoas na semana passada no Caribe, e nos últimos dias seus efeitos já puderam ser sentidos nos Estados Unidos.
Na praia de Rehoboth, em Delaware, as ruas já estão inundadas, e a polícia vai de casa em casa ordenando que as pessoas saiam. Quem não aceita tem seu nome anotado e é autorizado a permanecer por sua conta e risco.
Katrina
Em Fairfield, Connecticut, a população também está sendo orientada a sair. "As pessoas definitivamente não estão levando isso suficientemente a sério", disse a policial Tiffany Barrett, de 38 anos. "Nosso maior temor é algo como o Katrina, e não podermos chegar até as pessoas."
Além das chuvas, a tempestade pode causar a precipitação de até 1 metro de neve nos montes Apalaches, de Virgínia Ocidental até o Kentucky. Algumas pessoas dessas regiões foram dispensadas do trabalho e aproveitaram para votar.
As seções que recebem votos antecipados continuaram funcionando, e o movimento foi considerado excepcional pelos mesários em algumas seções.
Nova York e outras cidades importantes paralisaram seus sistemas de transportes e cancelaram aulas, além de ordenarem a retirada de moradores de áreas suscetíveis à inundação por uma ressaca que deve atingir até 3,4 metros.
Na manhã desta segunda-feira, a água já batia na amurada do Battery Park, em Manhattan, uma das áreas que a prefeitura determinou que sejam desocupadas.
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, recomendou que 375 mil moradores da cidade deixem suas casas. "As condições estão se deteriorando rapidamente, e o prazo para que vocês saiam com segurança está se encerrando."
A empresa elétrica Con Edison, que atende Nova York, previu "apagões de tamanho recorde", atingindo quase 35 mil usuários em Manhattan e Brooklyn. Queda de árvores e inundações são os maiores problemas para as redes elétricas.
Em toda a Costa Leste, moradores lotavam supermercados atrás de geradores, lanternas, pilhas, comida e outros suprimentos.
O dono da loja Best Buy Wines and Liquors, Johnny Lopez, no Brooklyn, planejava permanecer aberto na segunda e terça-feira. "Foi uma loucura ontem. Era que nem Ação de Graças. Deus nos ajude!"
O transporte parou na costa nordeste dos Estados Unidos por causa da aproximação do furacão, afetando viagens ferroviárias, navais e aéreas até na Europa e Ásia, enquanto o tráfego de cargas também foi prejudicado.
Veja os estragos causados pelo furacão Sandyampliar
Carro passa por área alagada em Southampton, Nova YorkREUTERS/Lucas Jackson
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