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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Quando o "mais-que-perfeito" acaba


Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo /
ESPECIAL

Quando o "mais-que-perfeito" acaba

Especialistas são unânimes: é preciso respeitar o luto e sentir todas as dores para superar o fim de um relacionamento.
O chão parece sumir sob seus pés. Um turbilhão de sentimentos tão fortes quase impede a respiração. Angústia, tristeza, raiva, medo, culpa. Tudo o que você mais quer é que pare de doer. Mas a dor continua lá, implacável, lembrando a cada instante que seus sonhos desmoronaram, seus planos precisam mudar, que o “nós” virou “eu”.
Não há fórmula mágica para “sobreviver” ao fim de um relacionamento amoroso. O ponto em que os psicólogos são unânimes é que o luto precisa ser vivido, seja qual for sua intensidade. E há diferenças, dependendo do modo como acaba.
Depoimento
“Parei de detestar casaizinhos”
Leonardo*, 32 anos
“Eu tinha 26 anos quando um namoro de três anos e meio acabou. Virou uma confusão, ficávamos indo e voltando. Eu era imaturo, não conseguia resistir e ficava com outras meninas. Me sentia culpado em fazer aquilo com ela e fui tentando me afastar.
A gente passou a se encontrar, não era mais um namoro oficial. Ela também começou a ficar com outros. Um dia nos encontramos em um bar e estávamos os dois acompanhados.
Quando me arrependi e fui atrás dela para reatar, ela já estava namorando. Me deprimi, não sabia o que fazer, tinha crises de choro. Fiquei triste profundamente. O que me deprimiu tanto foi o sentimento de culpa. Me culpava por ações que foram determinantes para o fim da relação.
Não conseguia ficar sozinho, então me internei em treinos de artes marciais. Por três anos, cheguei a treinar quatro horas por dia. Foi o tempo que demorei para entender que era passado, que podia continuar minha vida sozinho. Acabei escondendo que estava deprimido. Quatro anos depois tive um surto de pânico que teve origem na diferença de produção hormonal que a depressão causou.
Só aí procurei ajuda. Deveria ter procurado antes. Mas antes do ataque eu já tinha entendido que aquilo era passado e que não havia como voltar atrás. Me consolava pensar que era para ter sido assim mesmo.
Até hoje, sete anos depois, eu fujo de relacionamentos mais sérios. Essa é a última parte, ainda estou trabalhando nela, tentando ver como as pessoas são felizes juntas. Parei de detestar casaizinhos.
O que faço hoje é não pensar em arrependimento. É mais saudável para mim não ficar pensando se estou certo ou errado.
Tenho deixado a vida ir acontecendo.”
Photoxpress
Photoxpress / Ampliar imagem
Conforme a psicóloga e terapeuta de casais Solange Maria Rosset, quando os envolvidos compreendem e concordam que a relação chegou ao fim, existe a sensação de perder algo bom, mas também a de levar algo, do aprendizado. Nesse caso, o rompimento é mais tranquilo. “É só uma questão de tempo, de lidar com o luto da perda da relação”, afirma a psicóloga.
Quando a relação não foi boa ou vivida de maneira adequada, são duas dores: da perda e da frustração. “Além de viver o luto, é necessário avaliar o que eu fiz, ou não fiz, que me impediu de ter uma história plena. Essa análise é importante para aprender a lidar com o próximo relacionamento”, diz Solange, que é autora do livro O Casal Nosso de Cada Dia.
Ainda há uma terceira situação, quando uma das partes se sente rejeitada. “Isso decorre de dificuldades pessoais, são indivíduos carentes, dependentes. O sofrimento se torna ainda mais acentua­do”, compara Solange. Nessa circunstância, é preciso que a pessoa procure ajuda “para curar essa dor que é dela e que essa perda reativou”. Um sintoma claro desse desequilíbrio é quando, a cada relação que acaba, a pessoa fica deprimida.
Triângulo
Além dessas possibilidades, há um agravante que eleva o nível do sofrimento às alturas. “A traição é a maior dor de um relacionamento”, sustenta a terapeuta. A profusão de sentimentos tem aí mais dois componentes: a própria infidelidade e a deslealdade da mentira. “Às vezes, a falta de lealdade se torna mais séria que a traição. Desculpas esfarrapadas desqualificam a percepção e a inteligência do outro, que se sente ainda mais ferido”, explica a psicoterapeuta Janete Farion.
O drama protagonizado após o rompimento, segundo Janete, não é proporcional ao tempo de relação, mas à sua intensidade. “Quanto mais você se envolve, mais se entrega e mais leal é, maior o sofrimento”, acredita.
Elaborar é preciso
A primeira grande dificuldade é aceitar que acabou. “A única forma é enxergar a realidade, ler todos os sinais. A gente precisa aprender a perder também”, diz Janete. Encarar a relação como algo com começo, meio e, eventualmente, fim, pode ajudar.
“É um processo de elaboração bastante difícil”, afirma a psicóloga. E, como processo, é crônico, vagaroso. “Carece de muita lágrima, muito sentimento, muita dor de cotovelo”, sustenta o psicólogo Dionisio Banaszewski. Sentir e lidar com a perda são posturas imprescindíveis para resolvê-la internamente. “Quando não se consegue dar conta sozinho, é preciso procurar ajuda, seja profissional, de amigos ou da família”, recomenda Banaszewski.
“O luto é extremamente necessário. É preciso entender o que está acontecendo e deixar acontecer. Não dá para virar a página e fazer de conta que nada aconteceu”, adverte Janete. Embora a dor seja algo fora de moda em uma sociedade que supervaloriza a felicidade a qualquer preço, a negação pode ser muito mais perigosa do que a crise. “De algum jeito, em algum momento isso vai aparecer”, assegura a psicóloga.
Pode ser por meio de uma doença física ou emocional, como a depressão. “Queira ou não, você está doente da alma nesse momento, é preciso se tratar com muito respeito, ter compaixão por si mesmo. Não é se fazer de vítima, é se cuidar, se dar esse tempo.”
Quem ignora o processo de luto leva os problemas de um relacionamento para o outro. “Aquela pessoa que mantém o mesmo padrão de relação, fica vítima da mesma história. E costuma dizer que não dá sorte no amor. Não, ela não resolveu suas questões”, assegura Banaszewski.
O balanço passa por avaliar suas atitudes, perceber qual sua contribuição para o fim do romance e mudar o que for preciso. Até o próximo – e, de preferência, mais feliz – relacionamento.
Depoimento
“Por dois anos sofri pelo amor que ainda sentia por ele”
Sara*, 41 anos
“Conheci o Roberto quando estava retomando as rédeas da minha vida cinco anos após a separação do meu primeiro marido. Meu filho tinha 8 anos então. Mal sabia eu que ali começava uma epopeia com reflexos estrondosos na minha vida e na de minha família. Descobri que ele era casado, tinha dois filhos, mas ele disse que estava se separando e acreditei. Ele chegou a me propor ser sua amante, com a anuência da mulher. Não aceitei e terminei. Esse foi o primeiro rompimento dos vários que se seguiriam.
Terminei e voltei várias vezes. E ele sempre me prometendo e jurando de joelhos que já estava com o pé para fora de casa. Quando me submeti a uma cirurgia, me acompanhou nas consultas e na cirurgia, me levou pra casa e cuidou de mim. Tudo apontava, com o tempo que ele ficava comigo, que realmente estava se separando, pois não havia sobra pra ficar com a ex.
Quando engravidei, algo me dizia que ele iria me deixar. Um mês depois voltou com a mulher novamente. Eu passei a gravidez mais longa da história da humanidade, pelo menos para mim. Sofri como jamais imaginei sofrer.
Depois que minha filha nasceu, ele pediu para voltar. Resisti por muito tempo, mas passamos a nos encontrar. Ele me dominava, eu não conseguia ficar sem ele, era uma dependência quase que química. Ele então se separou da mulher. Quando tudo parecia bem, descobri que ele não havia se desligado dela, que, na verdade ele só havia trocados os papéis. Eu era a oficial e ela havia se tornado a amante. Mas era tarde, eu não conseguia mais me separar dele. Decidi iniciar uma terapia. Depois de muito sofrimento, muitas lágrimas e muita insistência dele, me separei em definitivo. Foi preciso uma ajuda psicológica para eu me livrar de seu domínio sobre mim.
Ele tentou tirar minha filha de mim e gastei todas as economias com advogados para conseguir regulamentar a guarda. Por dois anos, por incrível que pareça, sofria pelo amor que ainda sentia por ele. Sofria porque sentia falta dele e porque não admitia ainda gostar de uma pessoa tão sem caráter.
Quando minha mãe ficou curada de um câncer, fiz, a pé, o Caminho da Fé. Uma peregrinação de mais de 400 quilômetros até Aparecida do Norte. Lá conheci pessoas maravilhosas, que me fizeram acreditar novamente no ser humano. Descobri o quanto eu era forte e persistente, o quanto a gente pode se superar em tudo nesta vida.
Hoje estou sozinha. Troquei de casa, comprei um lindo apartamento que estou decorando, troquei de carro e fui promovida no meu emprego. Minha filha é uma criança maravilhosa, feliz e cheia de vida. Meu filho é um moço, lindo, bem educado. Somos, nós três, uma família feliz. Me sinto realizada e vitoriosa. Acredito que ele tinha um propósito na minha vida: me dar minha filha e me fazer uma pessoa melhor, que sou hoje.”

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