Jorge Magno Lima, 75 anos: diagnosticado depois que o banco começou a devolver seus cheques
EU SUPEREIA doença é degenerativa e progressiva, compromete os movimentos e muda a rotina do portador. Desde amarrar o cadarço do tênis ou abrir um pote de margarina até dirigir ou contar cédulas de dinheiro, há tarefas que ficam mais complicadas para quem tem Parkinson. Mas se engana quem pensa que isso impediu o comerciante aposentado Jorge Magno Lima, 75 anos, diagnosticado com o problema há 25 anos, de viver da melhor forma possível. Pode parecer exagero, mas ele garante: a vida ficou melhor depois do Parkinson.
“Faço tudo o que sempre fiz. Claro que com certa dificuldade, mas os sintomas não inviabilizaram uma vida normal. Às vezes, tenho crises em que minha musculatura fica rígida e não consigo me mover direito. Espero passar e volto às minhas atividades. Não é o Parkinson que vai me impedir de ser feliz.”
Doença de Parkinson
É uma doença degenerativa causada pela falta de algumas substâncias no cérebro, principalmente a dopamina, um neurotransmissor que facilita a comunicação dos neurônios. Sem ela, os movimentos do corpo deixam de ser harmônicos. O problema não tem cura e não há formas de prevenção. Em média, aparece a partir dos 60 anos, mas há casos inclusive em adolescentes.
Sintomas
São três: tremor, rigidez e lentidão de movimento. Para ser diagnosticada com Parkinson, a pessoa precisa ter dois deles. Com a evolução da doença, o paciente passa a ter perda de equilíbrio.
Causas
Cogita-se que apareça por causa de predisposição genética e uma combinação de fatores ambientais (como exposição a toxinas nocivas durante a vida).
Fonte: Renato Puppi Munhoz, médico neurologista da Associação Paranaense dos Portadores de Parkinsonismo.
E não demora para Lima abrir um sorriso quando começa a enumerar as mudanças em sua vida após o diagnóstico. “Virei poeta, passei a estudar música e perdi o medo de usar o computador. Antes, fugia o quanto podia do mouse.”
Lima lembra que descobriu a doença por acaso. “O banco devolveu uma série de cheques meus alegando problemas na assinatura. Quando fui comparar, vi que minha letra estava modificada. Um médico me diagnosticou com a Síndrome do Escrivão, problema de pessoas que passam o dia escrevendo. Depois de dois anos, conseguimos identificar o Parkinson.”
Sobre o diagnóstico, ele diz que o primeiro passo é aceitar o problema. “Não adianta ficar revoltado. É comum questionar ‘por que eu?’, mas o sofrimento é dispensável e não leva a nada. A pessoa precisa parar de se queixar, levantar a cabeça e se adaptar à nova realidade.”
Um dos problemas para os portadores, segundo Lima, é que, como a doença ainda é envolta em uma série de mitos, acaba gerando preconceito. “Nas ruas, as pessoas nos olham assustadas e acham nosso comportamento estranho, pensam que estamos bêbados ou drogados e se afastam. Há quem tenha até receio de colocar as mãos, por achar que é contagioso. Hoje, o portador de Parkinson não luta somente contra a doença, mas enfrenta uma batalha ainda mais dura contra o preconceito.”
Morando em Curitiba há 12 anos, Lima explica que desde que chegou à cidade percebeu que os próprios portadores desconheciam a doença. Por isso, decidiu criar um grupo de apoio, que deu origem à Associação Paranaense de Portadores de Parkinsonismo (APPP), da qual ele é o presidente. “Hoje temos uma lista grande de atendimentos oferecidos, como neurologia, acupuntura, nutrição e musicoterapia, além de atividades, como coral e grupo de dança. Não poderia prever tanto sucesso.”
Além dos sintomas do Parkinson, como tremores e rigidez no corpo, a doença desencadeia outros problemas, como depressão. Como lidar com isso?
Como ainda há muito preconceito com os portadores de Parkinson, são grandes as chances de a pessoa com a doença se isolar, as saídas de casa serem cada vez menos frequentes e ela perder a vontade de fazer coisas das quais antes não abria mão. Com isso, o portador pode ter até uma depressão profunda, porque a autoestima dela vai sendo minada por esses acontecimentos. Até por isso nós valorizamos o trabalho da APPP, porque ela promove convívio, a pessoa pode fazer novas amizades, bater papo, fazer aulas de dança e canto e não ficar restrita a um dia a dia limitado em casa.
E quanto às adaptações do dia a dia, é preciso mudar a rotina?
Sim e não. As adaptações no dia a dia fazem toda a diferença na vida de quem tem Parkinson e são até uma forma de reforçar sua autoestima, porque mostram que ele ainda é capaz de fazer tudo o que tem vontade, mas elas não significam uma quebra da rotina e não inviabilizam uma vida comum. Tênis, por exemplo, só sem cadarço, e é bom evitar as camisas com botões. Também temos uma técnica peculiar para facilitar na hora de abrir o pote de margarina ou outros produtos que tenham lacre ou pressão. Mas é tudo tão tranquilo quando você se acostuma que logo nem lembra como eram as coisas antes dessas mudanças.
Um ponto importante é a relação da família com o portador. Como as pessoas próximas podem tornar esse processo de aceitação da doença menos desgastante?
Quem tem a doença precisa de muita atenção e carinho e sei que não é fácil para a família, mas ela precisa dar apoio. Às vezes, os familiares não acreditam no portador, porque os sintomas não são constantes. A pessoa pode ter uma crise agora e, daqui duas horas, estar fazendo as coisas normalmente. Para quem está em volta, é confuso, mas é preciso sempre oferecer apoio e compreensão.
Serviço:
A APPP fica na Avenida Silva Jardim, 3180. Informações nos telefones (41) 3014-5617 e (41) 3014-5618 e no site www.appp.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário